Contando os dias
16 de novembro de 2010
0“Uma das ideias mais atuais de Hegel diz respeito ao conceito de liberdade.
Ela consiste em lembrar que toda discussão sobre liberdade é inócua se não começar por responder quais condições sociais são necessárias para que uma vida livre possa ganhar realidade. […]Não é possível ser livre sendo miserável. Livres escolhas são radicalmente limitadas na pobreza e, por consequência, na subserviência social. Posso ter a ilusão de que, mesmo com restrições, continuo a pensar livremente, a deliberar a partir de meu livre-arbítrio individual. No entanto, uma liberdade que se reduziu à condição de puro pensamento é simplesmente inefetiva. Ela determina em muito pouco as motivações para o nosso agir.”
Vladimir Safatle – Folha de S.Paulo, 16/11/2010
“Quase todos já fizemos porcaria quando jovens. É a fase da explosão hormonal e da vitalidade física, dos exageros e da insensatez, dos impulsos para desafiar o perigo, das transgressões e dos ritos de afirmação diante dos (e com os) colegas.
Mas a juventude também é o período em que fixamos os valores que vão nos servir de norte na vida adulta. O que pretendem ser quando crescer os meninos bem nascidos que se divertiam distribuindo pauladas em inocentes em plena Paulista no feriadão escolar?”
Fernando de Barros e Silva – Folha de S.Paulo, 16/11/2010
“Com quem nossos jovens contam – além dos especialistas aos quais são encaminhados – para falar de suas angústias, seus medos, suas insatisfações e até mesmo do tédio que experimentam em suas vidas? Qual é nosso papel e nossa responsabilidade para com eles?”
Rosely Sayão – Folha de S.Paulo, 16/11/2010
15 de novembro de 2010
0“Nós, humanos, somos seres que habitam dois mundos. Um, “espiritual” ou “simbólico”, onde somos livres pra “evoluir” para mundos sem guerras, cheios de amor e pessoas que se respeitam todo o tempo. Enfim, livres pra pensar em nós mesmos de forma ideal. Outro, material, submetido à lei da gravidade e à miséria do tempo, onde sofremos a escravidão da realidade.”
Luiz Felipe Pondé – Folha de S.Paulo, 15/11/2010
“Poucos entenderam que não haverá solução para a crise financeira se não encontrarmos a saída para o modo de produzir e consumir que vigora desde o início da era industrial. Controlar e induzir o capital para a inovação, para a emergência de uma economia verde, inclusiva e responsável. Este é o caminho para a superação das ameaças.
Quanto tempo ainda para nos convencermos?”
Ricardo Young – Folha de S.Paulo, 15/11/2010
14 de novembro de 2010
0“A falta de mão de obra qualificada é um assunto amplamente debatido. Muitas propostas de novos cursos profissionalizantes foram ouvidas nos últimos meses, mas o fato é que as vagas para cursos relacionados às ciências exatas como matemática, física e engenharia não são preenchidas. Além do mais, a taxa de abandono desses cursos é extremamente elevada.
De acordo com o relatório do Observatório Softex, publicado em 2008, a oferta de vagas em cursos superiores de tecnologia da informação era menor que 349 mil, sendo que o total de candidatos que concorreram a essas vagas foi de 568 mil, ou seja, não chegou a dois candidatos por vaga. Mas o problema não para aí, pois apenas 166 mil iniciaram os cursos e o número de formandos nesse mesmo ano foi de pouco mais de 56 mil profissionais.
Essa tendência é generalizada para os outros cursos de exatas. Em contrapartida, o número de candidatos por vaga para os cursos de humanas e biológicas é muito grande.
Vejam o exemplo da Fuvest 2010: enquanto tínhamos mais de 10 mil candidatos disputando as 560 vagas de Direito, ou 11,5 mil concorrendo para as 275 vagas em Medicina, eram apenas 331 disputando as 40 vagas de Informática e 147 para as 40 cadeiras em Informática Biomédica.
O reflexo dessa equação já pode ser observado na sociedade. Muitos médicos, administradores e advogados não conseguem empregos em suas áreas de especialidade. Por outro lado, faltam engenheiros e especialistas em tecnologia da informação. Há um desequilíbrio entre oferta e demanda de mão de obra nos diversos setores. […]
Qual a necessidade de profissionais em cada setor e em cada região? Será que a oferta de cursos esta adequada às necessidades de crescimento do país? Existirá emprego para todos os formandos? Essas questões são fundamentais para um correto equacionamento do caso. […]
Aparentemente, o nosso jovem se desinteressa por matemática, em algum momento do ensino fundamental, e essa é a disciplina básica para seguir nessas carreiras. Pior do que se desinteressar, ele passa a ‘fugir’ dessa disciplina, ter cada vez mais dificuldade e, consequentemente, buscar cursos que passem longe do tema.
Os professores dos cursos superiores de exatas reclama que recebem os aluno sem condições de acompanhar as disciplinas, o que causa uma evasão de mais de 50% nesses cursos.
Como rever a estrutura do ensino fundamental e gerar um maior interesse por ciências exatas? Como melhorar a qualidade do ensino fundamental e médio? Como orientar o jovem na escolha correta da sua profissão?”
Edson Luiz Pereira, gerente de parcerias educacionais da IBM, – O Estado de S.Paulo – 14/11/2010
“Pesquisa do Sebrae-SP identificou uma tendência no perfil de quem abre um negócio no País. De acordo com o estudo, o novo empreendedor está cada vez mais jovem, com escolaridade mais alta e atuando no setor de serviços.
Cerca de três quartos dos novos empreendedores têm entre 25 e 49 anos. Paralelamente, o porcentual de empresários que cursou, no mínimo, o ensino médio saltou de 64% entre 1995 e 1999 para 79% entre 2003 e 2007. E dentre os setores da economia, o de serviços foi o que mais cresceu nos últimos anos: representava 27% das empresas abertas em 1999 contra 38% iniciadas em 2007.”
O Estado de S.Paulo – 14/11/2010
13 de novembro de 2010
0“Os casamentos entre solteiros nos quais o homem é mais velho que a mulher são majoritários no País, mas têm aumentado os casos em que a situação é inversa. Em 2009, 23% dos casamentos foram de mulheres com homens mais novos. Dez anos antes, essa proporção era de 19, 3%. Trata-se de uma tendência nacional, aponta o IBGE: a evolução foi notada em todos os Estados. O estudo Estatísticas do Registro Civil mostra que a idade média das mulheres no primeiro casamento subiu progressivamente na última década, de 24 para 26 anos. No caso dos homens solteiros que se casaram com solteiras, o aumento foi de 27 para 29 anos no mesmo período.”
O Estado de S.Paulo – 13/11/2010
“Além de casar mais tarde, as mulheres estão adiando a maternidade. Para o IBGE, o padrão de fecundidade das brasileiras, concentrado no grupo etário de 20 a 24 anos, vem apresentando alterações. A proporção de mães com idade de 30 a 39 anos chegou a 24,8% em 2009. Há dez anos, o grupo representava 21,1%. Também houve entre as mulheres com mais de 40 (de 1,9% para 2,3%) e de 25 a 29 (23,3% para 25,2%).
A maior concentração de registros de nascimentos ainda ocorre na faixa de 20 a 24 anos, apesar da queda em dez anos, de 30,8% para 28,3%. Também houve queda do volume de nascimentos entre as mulheres de 15 a 19 anos, de 20,8% em 1999 para 18,2% em 2009. Em São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Distrito Federal, as proporções de nascimentos de mães de 25 a 29 anos já são maiores que no segmento de 20 a 24.”
Felipe Werneck – O Estado de S.Paulo – 13/11/2010
“A humanidade é uma única família e todos estão no mesmo barco, para o bem e para o mal: ou vai para a frente esse barco, com todos dentro, ou afundam todos juntos. O bem de um é o bem de todos, a falta de paz de um é a falta de paz de todos. Quando se levar a sério a consciência dessa responsabilidade de uns pelos outros, de um povo pelo outro, dos fartos pelos famintos, será possível combinar de forma nova as regras da convivência neste condomínio familiar maravilhoso que o Criador pôs à nossa disposição. […] A eliminação da fome e da subalimentação requer a superação das barreiras do egoísmo, da insensibilidade e da indiferença, sinais preocupantes de um subdesenvolvimento humano e moral, e a abertura para uma fecunda gratuidade na relação de pessoas, organizações e povos. A gratuidade é uma das mais nobres disposições humanas e leva a pensar de modo desinteressado no bem do próximo; é expressão de fraternidade verdadeira na família humana.”
Dom Odílio P. Scherer, cardeal-arcebispo de São Paulo – O Estado de S.Paulo – 13/11/2010
12 de novembro de 2010
0“A universidade brasileira vive raro momento de inovação e expansão, propício para rever práticas e repensar estruturas. […] Em 2011, mais de 120 mil estudantes estarão matriculados em 26 cursos de graduação de primeiro ciclo, em algumas das melhores universidades brasileiras. A graduação se renova.”
Naomar de Almeida Filho, pesquisador e professor, Folha de S.Paulo – 12/11/2010
“Aceitamos a cultura da estupidez, do adestramento do consumo. Espero que tenhamos energia e coragem para nos rebelar, para evitar a desumanização. Mas, para isso, precisamos aceitar viver sob a tensão das dúvidas, das questões abertas. A literatura não resolve nada, apenas expõe nossos problemas fundamentais.”
Alberto Manguel, escritor argentino (naturalizado canadense), O Estado de S.Paulo – 12/11/2010
“Poesia não pode ser feita de modo a se adequar à religião ou uma ideologia. Ela proporciona conhecimento que é explosivo e surpreendente. […] Todo artista está num exílio dentro da própria linguagem. O Outro é parte do meu ser interior. […] Felicidade e tristeza são duas gotas de orvalho caindo sobre a sua cabeça.”
Adonis (pseudônimo de Ali Ahmad Said Esber), poeta sírio, O Estado de S.Paulo, 12/11/2010
11 de novembro de 2010
1“Empreender é comparável a correr uma maratona na velocidade típica de um tiro de cem metros. Requer toda a sua capacidade de resistência, foco e determinação.”
Julio Vasconcellos, economista, Folha de S.Paulo, 11/11/2010
“Os tempos de solidão, durante a procura frustrada de um parceiro ou de uma parceira, são tão longos quanto os tempos de solidão de parceiros que vivem sem paixão, sem amizade e, às vezes, no rancor. A insatisfação de quem procura um amor é esperançosa, enquanto a vida dos que não conseguem se separar é resignada”.
Contardo Calligaris, psicanalista, Folha de S.Paulo, 11/11/2010
10 de novembro de 2010
110 de novembro
“Um adolescente urbano consome volumes de informação simultânea que parecem assombrosos para os membros de gerações anteriores: ele pode, sem esforço, assistir a três canais de TV enquanto ouve música, fala ao celular, acessa alguns sites, joga algum jogo, conversa com os colegas via comunicadores instantâneos, escreve em blogs e no Twitter… Quando alguém o interrompe nesse ambiente hiperconectado e pergunta o que ele está fazendo, sua resposta natural é: “nada”. Não se pode negar-lhe uma certa razão.
Sempre que nos deparamos com um ambiente novo, em que poucas certezas estão consolidadas, a impressão é que tudo está acontecendo ao mesmo tempo. O excesso de informações sem prioridades confunde e angustia. Na verdade, é o senso de hierarquia e priorização que ainda não foi estabelecido.
Multitarefa é um mito. O indivíduo que faz várias coisas ao mesmo tempo raramente faz alguma delas com precisão. Na maioria das vezes o máximo que faz é perceber, de forma genérica, como deve se comportar, sem ao menos se questionar se esse comportamento faz sentido.
O mundo conectado, com seu acúmulo de informações, se torna cada vez mais contextual e menos específico. Como um jovem índio adaptado à floresta, o nativo digital se movimenta à vontade em seu ambiente. Mas ao contrário do índio na floresta, ele não ganha consciência de seu ecossistema.”
Luli Radfahrer, Folha de S.Paulo, 10/11/2010
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