Contando os dias

23 de novembro de 2010

0

“Educar na atualidade exige um conhecimento crítico e uma compreensão do mundo e da realidade para que os atos educativos possam conter, pelo menos em sua intenção, possibilidades de mudanças para os mais novos. […] as relações com os outros estão “coisificadas”, desumanizadas. Não é qualquer outro que é visto como ser humano. Os que não são reconhecidos como parte do grupo ao qual a pessoa pertence, em geral bem pequeno, são vistos como estorvo, fonte de problemas e geradores de insegurança e, logo, de desconfiança. Isso impede a solidariedade, a colaboração e estimula a xenofobia. […]Enquanto as escolas se preocuparem com a competição nos diversos “rankings” publicados, enquanto as famílias se preocuparem apenas com o futuro pessoal de seus filhos, e enquanto ambas as instituições não apostarem na recuperação da vida coletiva e social, nossos filhos terão poucas chances de uma existência digna.”

Rosely Sayão, psicóloga, Folha de S.Paulo – 23/11/2010

 

“Há certas épocas e situações em que podemos observar o esgotamento de processos históricos que até então pareciam guiar nossa maneira de nos orientarmos na política. Quando isso ocorre, nos vemos diante da dança vertiginosa das inversões. Valores e normas que antes pareciam ter a força de garantir a efetivação de expectativas de liberdade, autorrealização e justiça passam simplesmente a funcionar de maneira contrária. […] Scott Fitzgerald disse que a prova de uma inteligência superior consistia em ter duas ideias contrárias na cabeça e continuar a funcionar.”

 Vladimir Safatle, Folha de S.Paulo – 23/11/2010

 

“Somos todos humanos e compostos das mesmas coisas, em quantidades diferentes, vivendo em circunstâncias diferentes.”

Francisco Daudt, psicanalista, Folha de S.Paulo – 23/11/2010

22 de novembro de 2010

0

“A pergunta feita por Freud no início do século passado – o que quer a mulher? – não só segue sem resposta, como agora vale também para os homens: o que quer o homem? Aliás, se pensarmos que a masculinidade e feminilidade andam com contornos um tanto borrados, a própria afirmação ‘a mulher é o novo homem’ não elucidaria muita coisa, já que ninguém mais sabe ao certo o que é ser homem também. Essas indefinições seriam muito positivas, caso servissem para impulsionar reflexões corajosas, par formular novas indagações e dar voz a outras respostas. A questão é que o (não) debate que se instaura na mídia é cheio de armadilhas perigosas que, no fim das contas, ora propõem uma mera inversão simétrica – homens-frágeis, mulheres-poderosas -, ora perpetuam os mesmos velhos clichês, como aquele que afirma que a nova economia é mais afeita ao talento feminino porque as mulheres são intuitivas e flexíveis, enquanto os homens são agressivos e competitivos e, por isso, não servem mais.”

Denise Gallo, 40, pesquisadora, Revista TPM – novembro de 2010

 

“O Brasil, que votou maciçamente em duas mulheres para a Presidência da República e escolheu uma delas para ocupar o mais alto cargo executivo da nação, ainda não tem representação feminina significativa em nenhum cargo das 500 maiores empresas do país. Este é um dos dados contidos no ‘Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil – 2010’.

O estudo pioneiro, e até o momento único do país, é feito pelo Instituto Ethos e pelo Ibope Inteligência a cada dois anos, desde 2001. Ele avalia, entre outros dados, a composição por cor ou raça e sexo, bem como presença de pessoas com deficiência em todos os níveis hierárquicos das maiores empresas do país. O estudo mostra avanços, mas o ritmo é muito lento, de um ou dois pontos percentuais a cada ano. Hoje, as mulheres, que são 51% da população brasileira (IBGE), têm 31% de representação no quadro funcional, 26,8% na supervisão, 22,1% na gerência e 13,7% no executivo.
Para negros e pardos, que somam 98 milhões de brasileiros, as disparidades são ainda maiores e aumentam à medida que se sobe na hierarquia. Eles são 31,1% no quadro funcional; 25,6% na supervisão, 13,2% na gerência e 5,3% no executivo.

A mulher negra ou parda -50,1% do total de mulheres na população brasileira- representa 9,3% do quadro funcional, 5,6% da supervisão, 2,1% da gerência e 0,5% da diretoria -são 6 negras entre 119 diretoras.

Pessoas com deficiência têm, no máximo, 1,5% de participação nos cargos. […]

O Brasil caminha para ser a quinta economia global. A promoção da diversidade nas empresas é um passo decisivo para o desenvolvimento econômico andar junto à melhoria efetiva da vida das pessoas.”

Ricardo Young, Folha de S.Paulo – 22/11/2010

 

“Quanto mais confortável uma sociedade se sente com seus distúrbios, piores serão as chances de superá-los. […] De cada dez crianças que entram na primeira série do ensino básico, só três o concluem. E mais: apenas uma em cada dez sabe o que deveria saber para o terceiro ano do ensino médio. E um quinto desses alunos tem, em matemática, nível de quarta série do fundamental. […] Fica difícil decidir o que é mais grave: o cenário da educação ou nossa reação diante dele. […] Precisamos aliar compromisso ético com competência técnica.”

Viviane Senna, Folha de S.Paulo – 22/11/2010

21 de novembro de 2010

0

“Em minhas viagens vejo o que acontece em países disfuncionais onde os ricos simplesmente não ligam para os que estão no porão. O resultado são países sem um tecido social ou um sentimento de unidade nacional. Concentrações imensas de riqueza corroem a alma de qualquer nação.”

Nicholas D. Kristof – The New York Times/O Estado de S.Paulo – 21/11/10

 

“Realizada pelo Portal Educacional, a sexta edição do projeto ‘Este jovem brasileiro’ contou com a participação de mais de 10,5 mil alunos, de 13 a 17 anos, de 75 escolas particulares de todo o Brasil. Os jovens que responderam anonimamente a um questionário online revelaram seus hábitos de uso da internet, incluindo questões como sexo, exposição, violência, entre outros.

O estudo mostra o quanto essa geração de conectados é dependente da rede: 99% têm computador em casa e metade o acessa no próprio quarto; 23% passam noites em claro por causa da internet; 24% já deixaram de fazer outras coisas, como tarefas, trabalhos ou sair com os amigos, para ficar navegando na net, e 21% avaliam que seu uso está acima do normal ou se consideram dependentes da rede. […]

Comentando alguns pontos levantados pela pesquisa, como o exibicionismo, o pedagogo Antonio Carlos Gomes da Costa, autor de vários livros sobre educação e um dos relatores do Estatuto da Criança e do Adolescente, afirma que a exposição pessoal não pode ser vista e entendia fora de um contexto mais amplo, ‘de natureza, antropológica-cultural, sociológica, psicológica e pedagógica’:

– A chamada cultura pós-moderna é fruto de uma série de macrotendências, cujas sementes começaram a germinar nas últimas décadas do século 20, como a revolução técnico-científica, representada no universo juvenil pelas TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação). A cultura pós-moderna, com seu relativismo ético, dá ênfase exacerbada ao hedonismo (culto do corpo e do prazer), hiperindividualismo (a satisfação pessoal como medida de todas as coisas), o relativismo ético e religiosos (tudo é válido) e a negação pura e simples da relação entre a política e a busca do bem comum. Mais do que o neoliberalismo capitalista ou o que restou do ideário socialista, grande parte dos jovens está se deixando contaminar em massa pelo ‘neocinismo’, presente de forma marcante em todas as correntes e tendências ideológicas do nosso tempo. […] O problema é muito mais de educação para valores do que de inclusão digital. Precisamos, mais do que operar e utilizar o aparato tecnológico posto à nossa disposição, responder a questões básicas: que tipo de jovem queremos formar?’”

Vera Fiori, O Estado de S.Paulo – 21/11/10

 

“Eu escrevo sobre o cristianismo porque fui criado nele. Sou ateu, mas sou um ateu cristão e um ateu protestante, um ateu da Igreja da Inglaterra. Nasci cristão e cresci dentro dessa fé. Adoro as histórias, os hinos e a arte que vieram do cristianismo. Não poderia, portanto, escrever sobre outras religiões, pois não me sentiria em casa se o fizesse. Eu detesto com todas as minhas forças qualquer religião que se considere acimas das críticas.”

Philip Pullman, escritor inglês, O Estado de S.Paulo – 21/11/10

20 de novembro de 2010

0

“O horror humano no Haiti – com corpos de crianças abandonados nas ruas de Cap-Haitien, hospitais apinhados de pacientes com diarreia crônica, e cadáveres desidratados sendo transportados em carrinhos de mão – não terminará enquanto a comunidade internacional mantiver a mesma abordagem no combate à epidemia de cólera que já matou 1.186 e deixou 49.418 mil infectados em um mês. O alerta foi feito ontem ao Estado pelo chefe dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Haiti, o italiano Stefano Zannini, num tom de desabafo e frustração. A ONG diz que respo0nde por 85% de todos os atendimentos de casos de cólera no país. […] Na quarta-feira, o MSF havia lançado um alerta sobre o esgotamento físico e emocional de suas equipes. ‘A carga de trabalho é estressante. Não é fácil trabalhar com o cheiro, o barulho e a pressão de tantos doentes. Estamos trabalhando 24 horas por dia. Estamos sobrecarregados’, disse Zannini.”

João Paulo Charleaux, O Estado de S.Paulo – 20/11/10

 

“Não devíamos tentar impor nada. O melhor caminho para dar nossa opinião é mostrar e expor. Se for de forma artística, melhor. Quando um tema é importante, deve-se deixar que flua. […]

O ser humano pode se tornar um mostro quando o assunto é sobreviver. Mas o fato é que também encontra formas de amar. E esta é a luta deste casal. Porque o amor é necessário. Amar, afinal, também é uma questão de sobrevivência.”

Ricardo Darín, 53, ator argentino, O Estado de S.Paulo – 20/11/10

 

“Am maneira como lidamos com o tempo também tem a ver com respeito pelo outro. Gente sempre cricri com horário é chata. Mas gente que vive atrasada é insuportável. Tudo bem, a vida não é uma Suíça, imprevistos acontecem, mas o equilíbrio faz bem. O que faz alguém pensar que o tempo do outro não é importante? Para muitos, tempo é dinheiro. E, mais que isso, tempo é sinônimo de consideração.”

Tania Menai, Revista TPM – novembro de 2010

19 de novembro de 2010

0

“Os caminhos da liberdade, liberdade que não é cômoda nem prazerosa, mas crispada, um dever do indivíduo para com o indivíduo, nunca um momento existencial avulso, mas um roteiro além da condição humana, mais própria da consciência humana.”

Carlos Heitor Cony,  Folha de S.Paulo – 19/11/2010

 

“A austríaca Eva Schloss, 81, judia sobrevivente dos campos de extermínio nazistas, mergulhou ontem pela manhã no bolsão de miséria do bairro Paraisópolis (segunda maior área favelizada de São Paulo) para falar sobre a experiência de exclusão radical que viveu durante a Segunda Guerra Mundial.

Os 120 manos e minas que a escutavam, alunos do CEU (Centro Educacional Unificado) Paraisópolis, receberam-na ao ritmo do hip hop e, então, se calaram. A voz firme de Eva contou-lhes em inglês histórias de preconceitos, cadáveres em valas comuns, medo de soldados, gente vivendo em esconderijos. Nem a espera pela tradução conseguiu dispersar os meninos. […]

Os meninos fizeram fila para saber: ‘Como era o chuveiro? O chuveiro da câmara de gás.’ ‘A senhora conheceu o grande amor de Anne Frank? [depois da guerra, a mãe de Eva casou-se com o pai de Anne, ambos viúvos]’. ‘Como era o esconderijo onde a senhora ficou até ser presa?’ ‘A senhora não pensou em morrer, em desistir?’ ‘O que inspirou a senhora a continuar viva?’

Eva foi direta: ‘Eu nunca pensei em morrer. Eu nunca desisti. Eu tinha vivido dias muito felizes em Viena [Áustria]. Queria ainda namorar, casar, ter filhos, netos. Isso me manteve viva.’

“Para gente como eu, não é preciso colocar uma estrela amarela na roupa, porque a cor da pele já me identifica. ‘Tição, carniça, macaco, neguinho da macumba’, eu já ouvi isso um milhão de vezes. Eu fico triste. Por isso, gostei de a dona Eva falar sobre não desistir nunca”, disse o menino negro Jonatas, 12, da 6ª série.”

Laura Capriglione, Folha de S.Paulo – 19/11/2010

18 de novembro de 2010

0

“Ser alegre não significa necessariamente ser brincalhão. Nada contra ter a piada pronta, mas a alegria é muito mais do que isso: ser alegre é gostar de viver mesmo quando as coisas não dão certo ou quando a vida nos castiga.”

Contardo Calligaris – Folha de S.Paulo, 18/11/2010

 

“Está no projeto de Orçamento de 2011: dotação de R$ 900 milhões para gastos com a Copa no decorrer apenas do próximo ano. Nada como um país sem necessidades e necessitados. E com a fabricação permanente de mais ou maiores afortunados.”

Janio de Freitas, Folha de S.Paulo – 18/11/2010

 

“Eu mesma já criei tantos e-mails que perdi a conta. Nem lembro mais da maioria. Uso atualmente três: um do trabalho, um pessoal (embora a separação entre pessoal e profissional não seja tão rígida) e um terceiro que serve de arquivo, para onde reencaminho e-mails dos quais vou precisar no futuro e vou querer achar rapidamente.
Esse terceiro não informo a ninguém, pois só quero receber coisas de mim mesma ali e não ter a obrigação de abrir, a não ser em situações muito específicas -por exemplo, para recuperar o número localizador da minha passagem num embarque ou o de uma reserva de hotel.

Sou altamente dependente de e-mail. Mas o e-mail é um dos maiores infernos da minha vida. Recebo às toneladas, num fluxo quase ininterrupto. Desperdiço preciosas horas diárias apagando aquilo que não vou ler ou tentando educar os sistemas antispam (spam = e-mails não solicitados) sobre remetentes que quero que barrem de uma vez por todas. Produtos e serviços que não quero, de comerciantes que desconheço, maldades virtuais que não mereço, remédios de que não preciso.”

Márion Strecker, 50, jornalista – Folha de S.Paulo – 18/11/2010

17 de novembro de 2010

0

“Os artistas devem procurar a inspiração em seu âmago; quanto mais se aprofundarem em seu âmago, mais universais serão.”

Marina Abramovic, 63, artista, performer – Folha de S.Paulo, 17/11/2010

 

“Se crianças são forçadas a agir como adultos e adultos querem cada vez mais se divertir como crianças, há algo de errado.”

Luli Radfahrer – Folha de S.Paulo, 17/11/2010

 

Luli Radfahrer – Folha de S.Paulo, 17/11/2010

“Aproximadamente um mês após o início da epidemia de cólera no Haiti, o número de mortos já atinge 1.034, segundo o balanço mais recente do Ministério da Saúde do país. O número de hospitalizados por causa da doença chega a 16.800.

A Organização Pan-americana da Saúde divulgou ontem estimativa de que o número de infectados pela epidemia deve chegar a 200 mil nos próximos seis meses.

A doença deve se espalhar para a vizinha República Dominicana e para outros países caribenhos próximos.”

Folha de S.Paulo, 17/11/2010

Go to Top