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44ª semana de 2013

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“Uma em cada três pessoas com menos de 30 anos ainda não fez sexo no Japão de hoje. Os jovens japoneses enfrentam o que especialistas chamam de “síndrome do celibato”. Uma matéria publicada nesta semana no jornal britânico The Guardian mostra que o fenômeno pode impactar profundamente a estrutura da população nas próximas décadas. (…) Várias pesquisas parecem reforçar a sensação de que tanto sexo quanto relacionamento não são prioridade na vida dos jovens japoneses. Ainda de acordo com o The Guardian, em 2011, 61% dos homens solteiros e 49% das mulheres solteiras de 18 a 34 anos não estavam namorando. Uma pesquisa do Centro de Planejamento Familiar do Japão mostrou que 45% das mulheres e 25% dos homens de 18 a 24 anos não estavam interessados em sexo. (…) Outra pesquisa recente mostra que 90% das jovens japonesas acreditam que ficar solteira é melhor do que casar. Não casar – o que antes seria considerado um grande fracasso pessoal – parece estar se tornando uma opção cada vez mais atraente.”

Jairo Bouer, O Estado de S.Paulo – 27/10/2013

 

“Uma coisa que aprendi e tento praticar diariamente é: o que você faz fala muito mais do que você fala. Todos nós, líderes, temos de liderar dando o exemplo. Você tem de mostrar que uma coisa que você está falando é realmente você o que você acredita e faz. Você é o exemplo.”

Juan de Gaona, O Estado de S.Paulo – 27/10/2013

 

“O grande físico Isidor Rabi, vencedor do prêmio Nobel, costumava dizer que os cientistas são os ‘Peter Pans’ da sociedade, aqueles que não querem crescer, que passam a vida perguntando ‘por quê’. Qualquer pai e mãe sabem bem que criança é explorador nato; botando o dedo aqui e ali, comendo terra, pegando formiga, trepando em árvore, subindo e descendo a mesma escada dez vezes até desenvolver uma melhor percepção da gravidade e melhorar sua habilidade motora. Para uma criança, a vida é um grande experimento, uma grande aventura de descoberta. ‘Não faz isso! Solta! Olha o degrau! Cuidando com a tomada! Você vai cair daí.’ Como pai de cinco, sei que sem o nosso cuidado as crianças correm mesmo risco de se machucar. Mas cuidar não é o mesmo que reprimir o espírito único que têm de experimentar o mundo para poder entendê-lo. O mesmo acontece nas escolas, que acabam sendo fábricas de conformismo onde todos devem fazer a mesma coisa, onde a criança mais curiosa é reprimida e, salvo casos raros, calada. Temos muito a aprender com as crianças.”

Marcelo Gleiser, Folha de S.Paulo – 27/10/2013

 

“A certeza acerca da sua retidão moral é sempre uma mistificação de si mesmo. Mas hoje, como saiu de moda usar os pecados como ferramentas de análise do ser humano e passamos a acreditar em mitos como dialética, povo e outros quebrantos, a vaidade deixou de ser critério para analisarmos os olhos dos vaidosos. Vivemos na época mais vaidosa da história. (…) Que Deus tenha piedade de nós num mundo tomado por pessoas que se julgam retas.”

Luiz Felipe Pondé, Folha de S.Paulo – 28/10/2013

 

“Homens da chamada geração Y estão mais propensos a aceitar um ambiente corporativo feminino, segundo uma pesquisa realizada pela consultoria Mazars. Dos 750 executivos entrevistados, 57% aceitam a liderança feminina. Quando questionados sobre a preferência, 33% optariam por ter homens como chefes, enquanto 10% prefeririam ser gerenciados por profissionais mulheres. O estudo revelou ainda que 70% dos homens estão dispostos, ao menos por um tempo, a abrir mão da carreira para se dedicarem aos filhos. Os números em 60 países são: 68% dos entrevistados não veem diferença em serem chefiados por homens ou mulheres. 52% dos entrevistados nunca se sentiram ameaçados por mulheres em seu ambiente de trabalho. 14% confessaram preferir ter equipes de trabalho eminentemente femininas. 8% preferem ter funcionários homens.”

Maria Cristina Frias, Folha de S.Paulo – 30/10/2013

 

“Atualmente 21 milhões de mulheres brasileiras correm o risco de sofrer um infarto e 39000 morrem todos os anos em decorrência do mal – o triplo das vítimas fatais de câncer de mama.”

Adriana Dias Lopes, Veja – 30/10/2013

 

“Na contemporaneidade a gestão invadiu todas as esferas da vida. A família passou a ser vista como uma pequena empresa capaz de fabricar um indivíduo empregável. Filhos devem fazer inúmeros cursos que no futuro serão úteis à sua empregabilidade. É como se tudo tivesse de ser gerido como se fosse um capital para produzir resultados. Dentro das empresas, é como se nós tivéssemos de ser super-humanos o tempo todo, capazes de realizar e motivar os outros a realizar mais, melhor e mais rápido. Diversos rankings e indicadores são criados para dar a medida se aquilo que fazemos presta ou não. Há, ainda, a exigência da excelência constante, como se fosse possível e humano ser excelente o tempo todo.”

Rafael Alcadipani, Você S/A – outubro de 2013

 

“Não é simples definir a simplicidade. Mas é fácil notar sua ausência. Sem ela, todas as qualidades perdem seu sentido – e, com ela, alguns defeitos podem ser desculpáveis. O simples não é o oposto do complexo – mas– sim, o oposto do falso. Contudo, a falsidade e a duplicidade são companheiras íntimas da nossa espécie.”

José Francisco Botelho, Vida Simples – outubro de 2013

 

“Se o sujeito comete traição, é por alguma razão. Porque naquele momento sentiu necessidade. Ou fraquejou, reavaliou a relação amorosa. Não aconteceu comigo. Que bom. Mas quem sou eu para julgar o adultério? Quem é a pessoa que está nos lendo agora para condenar? E não venham me dizer que Deus castiga. Não ponham Deus no meio. Não usem o nome de Deus em vão, como fazem com tanta facilidade. É como comprar um bilhete de loteria e pedir: ‘Deus, me ajude a ganhar’. Ele não quer saber do seu bilhete de loteria.”

Tony Ramos, 65, ator, casado há 44 anos, Claudia – outubro de 2013

 

“A tentativa equivocada de transformar toda experiência de sofrimento em uma patologia a ser tratada. Mas uma vida na qual todo sofrimento é sintoma a ser extirpado é uma vida dependente de maneira compulsiva da voz segura do especialista, restrita a um padrão de normalidade que não é outra coisa que a internalização desesperada de uma normatividade disciplinar decidida em laboratório. Ou seja, uma vida cada vez mais enfraquecida e incapaz de lidar com conflitos, contradições e reconfigurações necessárias.”

Vladimir Safatle, Cult – outubro de 2013

 

“Meus sobrinhos pequenos melhoram meu humor imediatamente. É tudo tão simples para eles. Se você quer chorar, chora. Se está feliz, sorri.”

Monica Iozzi, 31, Claudia – outubro de 2013

 

“Digo aos mais jovens: conheçam a história, para evitar que seja reescrita. Honrem as realizações das gerações anteriores. Mas não sejam meros “continuadores”, pois a democracia, a economia e os direitos sociais devem ser aperfeiçoados e inseridos num novo modo de desenvolvimento, sustentável, adequado aos tempos presentes e futuros. O passado ensina. O futuro inspira.”

Marina Silva, Folha de S.Paulo – 01/11/2013

 

“Ninguém em sã consciência duvida que a ciência funcione. As provas, ainda que indiretas, estão por todos os lados, dos fornos de micro-ondas aos antibióticos. Se nossas teorias físicas e bioquímicas estivessem muito erradas, não teríamos chegado a esses produtos. Dessa constatação não decorre, é claro, que as atuais práticas dos cientistas sejam as mais adequadas. Numa excelente reportagem publicada na semana passada, a revista ‘The Economist’ faz um apanhado das coisas que não estão dando certo na ciência. Destaca desde a vulnerabilidade dos ‘journals’ a artigos ruins ou errados até a baixa replicabilidade dos principais estudos. É preocupante. Um ponto central da ciência é o de que um experimento qualquer, se repetido em idênticas condições, produzirá os mesmos resultados. É isso que garante sua objetividade e a distingue da bruxaria. E a replicabilidade é baixa mesmo no caso de trabalhos de alto impacto. (…) Seria exagero afirmar que a ciência está em crise, mas já passa da hora de as pessoas e instituições envolvidas tentarem aprimorar o sistema, tornando-o mais racional e eficiente.”

Hélio Schwartsman, Folha de S.Paulo – 02/11/2013

42ª semana de 2013

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“Fazei que não sejamos cristão de vitrine, mas saibamos meter mãos à obra para construir com o teu filho Jesus o seu reino de amor, de alegria e paz.”

Papa Francisco, Folha de S.Paulo – 13/10/2013

 

“Um dos maiores riscos é tentar fornecer uma espécie de solução-padrão que não leva em conta o contexto cultural.”

J. Neil Bearden, professor de ciências da decisão da Insead – Folha de S.Paulo – 13/10/2013

 

“Ter filho te insere, imediatamente, no entusiasmadíssimo clube dos que têm filhos. Um clube que você até sabia que existia, mas para o qual não dava a menor bola.”

Antonio Prata, Folha de S.Paulo – 13/10/2013

 

“A ‘inquisição das ruas’ hoje pensa que nossa sociedade está perdida e precisa ser salva por tais sacerdotes da pureza política. Mas o pior é que a classe intelectual é quase toda o alto clero dessa falácia. (…) Pessoas quebrando coisas na rua não implica em melhoria política.”

Luiz Felipe Pondé, Folha de S.Paulo – 14/10/2013

 

“A vida dos facebookianos pode até parecer uma campanha publicitária de margarina, com seus rostos alegres, bonitos e ensolarados. As melhores fotos são escolhidas a dedo, os sofrimentos são em geral escondidos e as informações que podem servir à imagem, à fama ou à vaidade das pessoas são publicadas ininterruptamente, sem parar.”

Marion Strecker, Folha de S.Paulo – 14/10/2013

 

“ ‘Mais escolas, menos estádios.’ Esta foi uma das frases mais ouvidas nas manifestações de junho. Ela indicava a consciência clara de que as prioridades de desenvolvimento estavam completamente invertidas. Mais do que isso. Que esta frase sido enunciada em um contexto de revolta, eis algo a demonstrar como a população esperava mais ações e menos retórica em relação à educação.”

Vladimir Safatle, Carta Capital – 16/10/2013

 

“A ciência está se tornando uma máquina cara e ineficiente, comumente monitorada por uma burocracia autista. E os cientistas se transformam em operários de uma linha de montagem autocentrada, frequentemente insensível às necessidades da sociedade. (…) Nas últimas décadas, o Brasil multiplicou seu número de cientistas. Há entre eles grandes cérebros, estrelas ascendentes e uma legião de abnegados. Muitos não honram, porém, o título. São pequenos burocratas, acomodados à lerdeza dos campi universitários. Vivem de verbas públicas. Realizam pesquisas de utilidade duvidosa para delas extrair a máxima vantagem.”

Thomaz Wood Jr., Carta Capital – 16/10/2013

 

“O texto literário é aquele que pede esforços de interpretação por aquelas caraterísticas que foram notadas pelos melhores leitores do século 20: por ser ambíguo (William Empson), aberto (Umberto Eco) e repleto de significações secundárias (Roland Barthes).”

Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo – 17/10/2013

 

“O Brasil real é o das ruas com calçadas esburacadas e ônibus sujos e lotados. Da Justiça lenta e improdutiva. O Brasil é conservador. Seu conjunto de valores está em formação. A democracia só tem 25 anos.”

Fernando Rodrigues, Folha de S.Paulo – 19/10/2013

40ª semana de 2013

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“Não é a ciência que cria o bem ou o mal. A ciência cria conhecimento. Quem cria o bem ou o mal somos nós, a partir das escolhas que fazemos.”

Marcelo Gleiser, Folha de S.Paulo – 29/09/2013

  “Se você quiser ser um ser humano verdadeiramente livre – ir aonde você quiser, encontrar quem você quiser -, você precisa de uma estrutura muito rígida de ordem pública, de boas maneiras. Sem isso, nossa liberdade é sem sentido. Liberdade e ordem andam juntas.”

Slavoj Zizek, Folha de S.Paulo – 29/09/2013

  “Um dos méritos da arte moderna e contemporânea foi relativizar e ampliar a ideia de belo. Platão já questionava como era possível, para um escultor, esculpir belamente um homem feio. Seriam belas esculturas. Por que não posso considerar que algo emocionante ou estranho também seja tido como arte? E por que não posso chamar de belo aquilo que me faz revisitar o conceito do que seja belo?”

Noemi Jaffe, Folha de S.Paulo – 29/09/2013

  “Quando você fica longe do seu lugar, às vezes sua literatura esmorece.”

Milton Hatoum, Folha de S.Paulo – 29/09/2013

  “O mercado espera dos profissionais, além de uma lista sem fim de competências técnicas e comportamentais, muitas vezes incompatíveis com a função que a pessoa desempenha, também certa disposição para enfrentar as situações organizacionais como se estivesse em uma guerra.”

Adriana Gomes, Folha de S.Paulo – 29/09/2013

  “O maior pecado de ‘Cinquenta Tons’ é que ele vende uma fantasia: o homem ideal.”

Luiz Felipe Pondé, Folha de S.Paulo – 30/09/2013

  “É assim a inquietação: ou você nasce com ela ou não. E, se nasceu, vai passar a vida inteira com uma pressão no peito e outra na alma, querendo entender a vida e não entendendo direito, trocando sempre de casa, de objetivo e de analista, sem nunca chegar a uma conclusão. Um inquieto não tem sossego.”

Danuza Leão – Claudia – setembro de 2013

  “Sem a capacidade de não se deixar dominar pela emoção, não há como vencer o medo.”

Suzana Herculano-Houzel, Folha de S.Paulo – 01/10/2013

  “Haverá coisa mais triste do que uma existência inteiramente dedicada ao trabalho? Sobretudo a um trabalho que nos escraviza e desumaniza?”

João Pereira Coutinho, Folha de S.Paulo – 01/10/2013

  “O país merece tratar igualmente bem o pobre e o poderoso.”

Francisco Daudt, Folha de S.Paulo – 02/10/2013

  “A infância se compõe de familiaridade e descoberta. Tudo é novo, mas não há nada mais forte do que a rotina, a sensação de que nada, nunca, irá mudar.”

Marcelo Coelho, Folha de S.Paulo – 02/10/2013

  “O mercado começou a valorizar formações menos ortodoxas e a prestar atenção nessa geração conectada e capaz de aprender por si mesma.”

Becky Cantieri – Veja – 02/10/2013

“Ao mesmo tempo que redes sociais, notadamente o Facebook e o Twitter, são apresentadas como importantes ferramentas para o ativismo social e político, estudiosos apontam para o incremento da sensação de solidão e um aumento de polarização ideológica, com a tendência de os usuários dialogarem com indivíduos de posição política e comportamental similares às suas, e criticam a ideia de que essas plataformas, por sua natureza, exporiam os usuários a uma quantidade anteriormente inimaginável de pontos de vista.”

Eduardo Graça – Carta Capital – 02/10/2013

  “O papa Francisco não quer apenas que se saiba do seu propósito de reformar a Cúria e o Vaticano -cristianizá-los, é isso-, quer também que se saiba por que deseja fazê-lo. E tem a coragem de dizê-lo com franqueza estonteante. ‘A corte é a lepra do papado’ – que irado ateu ousou, nos últimos séculos, uma definição assim dura e crua sobre os ‘cortesãos vaticanocêntiricos’? Estamos, pode-se admitir, diante de um fenômeno, na acepção mais límpida da palavra. Testemunhá-lo será um privilégio histórico.”

Janio de Freitas, Folha de S.Paulo – 03/10/2013

“O papa Francisco, recentemente, lembrou que a Igreja Católica não deve se esquecer que ela tem, antes de mais nada, missões positivas – de obras e de fé.”

Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo – 03/10/2013

52ª semana de 2012

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“O medo, no ambiente de trabalho, possui potenciais consequências negativas ao bem-estar dos colaboradores e para os resultados da empresa. Modelos de gestão baseados no medo devem ser utilizados de acordo com a função biológica desse sentimento: em situações de perigo e emergência, nas quais outras alternativas não são viáveis. Nesses casos, podem ser muito úteis. No entanto, é preciso notar que bem-estar e produtividade são elementos que possuem direta correlação. Colaboradores infelizes e estressados produzem menos e entregam resultados abaixo de seus verdadeiros potenciais.”
Pedro Calabrez Furtado, “O Estado de S.Paulo” – 23/12/2012

“O aumento da escolaridade foi acompanhado de queda da desigualdade de renda no Brasil nos últimos anos. Essas tendências têm uma relação forte de causa e efeito. O maior acesso à educação explica fatia importante da redução na distância entre ricos e pobres no país. […] Embora tenha aumentado nas últimas duas décadas, a escolaridade no Brasil permanece baixa em comparação com a de outros países. Os adultos brasileiros têm, em média, pouco mais de sete anos de estudo, contra mais de nove anos na Argentina, quase dez no Chile e mais de 12 nos EUA. Segundo o economista Ricardo Paes de Barros, o país consegue, somente agora, sua primeira geração de adultos com cerca de 30 anos de idade e aproximadamente nove anos de estudo. No Chile, isso ocorreu em 1982 (com jovens nascidos em 1952). ‘Apesar do progresso que vem acontecendo no Brasil, nosso atraso educacional é enorme’, afirma Paes de Barros, que é secretário de Ações Estratégicas da Presidência da República. ‘É uma ameaça real, não porque o avanço educacional no Brasil seja lento, mas porque a tecnologia anda a uma velocidade ainda mais rápida, ou seja, precisamos acelerar ainda mais os progressos na área de educação’, diz Paes de Barros.”
Érica Fraga, “Folha de S.Paulo” – 23/12/2012

“Provamos, a cada vez que obtemos sucesso, que somos mesmo uma espécie única, capaz de grandes feitos quando trabalhamos juntos, seja por livre e espontânea vontade, e até sob condições violentas. A cada obra concluída o espírito humano se renova, orgulhoso com o que fez. Mas tão importante quanto esse orgulho é a humildade de ver o quanto ainda não foi feito, o quanto ainda continua inacabado ou incompreendido. Se um dos objetivos da ciência é aliviar o sofrimento humano, seria inocente acreditar que tal objetivo será um dia alcançado. Livrar-nos das iniquidades sociais não seria suficiente, mesmo se possível.”
Marcelo Gleiser, “Folha de S.Paulo” – 23/12/2012

“É curioso como nos relacionamos com nossos amigos – com a maioria deles, digamos – estamos sempre tentando contar uma boa novidade ou sendo inteligente ou falando coisas muito interessantes, para que nos tornemos muito interessantes e assim possamos conservá-los. Mais curioso ainda é que não há amigo melhor neste mundo do que aquele em cuja companhia você se sente tão bem, mas tão bem, que pode até ficar calado pois parece que está só.”
Danuza Leão, “Folha de S.Paulo” – 23/12/2012

“Todos nós, jovens e menos jovens, estamos crescentemente dependentes da plataforma virtual. É fascinante o apelo da web. Investimos muito tempo digitando mensagens de texto, escrevendo nos blogs, postando fotos e comentários no Facebook ou curtindo videogames. […] A nova geração de adolescentes tem mais acesso à informação do que qualquer outra antes dela. Mas isso não se reflete num ganho cultural. Os índices de leitura e de compreensão de texto vêm caindo desde o início dos anos 1990. A conclusão é que, apesar do maior acesso às novas tecnologias, não se vê um ganho expressivo em termos de apreensão de conhecimento. A internet é uma formidável ferramenta. Não deve, contudo, perder o seu caráter instrumental. O excesso de internet termina em compulsão, um tipo de dependência que já começa a preocupar os especialistas em saúde mental. Usemos a internet, mas tenhamos moderação. Precisamos, todos, redescobrir a magia da leitura.”
Carlos Alberto Di Franco, “O Estado de S.Paulo” – 24/12/2012

“Hoje, no presépio de Belém, perto da manjedoura onde o menino Jesus recebeu os reis magos, nos lugares sagrados de Jerusalém, explodem os homens-bomba berrando ‘Feliz Natal, cães infiéis!’. Que estranho destino é esse da humanidade se fechando como uma cobra mordendo o próprio rabo, a morte no mesmo lugar no nascimento, o fim da civilização no mesmo lugar onde começou, ali entre o Tigre e o Eufrates, na Mesopotâmia. […] E hoje, com o futuro cada vez mais ralo, tenho saudades da precariedade de nossa vida antiga, da ingenuidade dos comportamentos, de um mundo com menos gente louca e má. ‘Ah! Você por acaso quer a volta do atraso?’ – dirão alguns. Não; mas sonho com uma vida delicada que sumiu, dos lugares-comuns, dos chorinhos e chorões, de tudo que era baldio, dos valores toscos da classe média.”
Arnaldo Jabor, “O Estado de S.Paulo” – 25/12/2012

““Entendo que haja interpretações diferentes sobre o significado de Jesus Cristo para a humanidade e que não todos concordem com os artigos da fé cristã –que ele é o filho de Deus que se fez homem, que uniu na sua pessoa o homem a Deus, que é o salvador da humanidade e outras afirmações preciosas à fé dos cristãos. Mas dá para duvidar da existência de quem desencadeou fatos tão notórios, que mobilizou multidões ao longo de sua pregação e até estremeceu o poderoso Império Romano. […] Como pode ser que o grande Deus, o todo poderoso, o puro espírito, se torne tão pequeno, frágil, corpóreo, tão humano? A resposta é uma só: unicamente por amor!”
Odilo Pedro Scherer, “Folha de S.Paulo” – 25/12/2012

“Um dos maiores desafios da saúde pública atual é superar a “fome oculta”, que se caracteriza pela deficiência de micronutrientes, vitaminas e minerais essenciais. Sem alarde, a fome oculta prejudica o desenvolvimento de milhões de pessoas no planeta, leva à morte. Muito se investe na capacitação de recursos humanos, mas ainda pouco se faz para conter esse enorme dreno do capital humano global. […] No Brasil, 40% das crianças ainda sofrem de anemia e 20%, de hipovitaminose A. Somadas, essas carências afetam milhões de brasileiros, quase a metade da população de crianças e gestantes. […] Uma dieta saudável e balanceada representa uma aspiração a ser perseguida pela sociedade. A educação de mães e crianças é fundamental nesse esforço de longo prazo. A fortificação de alimentos básicos é uma das estratégias de melhor custo-benefício, preconizada pela OMS e pela Unicef. […] Apesar das conquistas sociais dos últimos anos, ainda não asseguramos o acesso de toda a população aos micronutrientes essenciais. Assim como país rico é país sem pobreza, país saudável é país sem desnutrição e obesidade. Possibilitar o desenvolvimento pleno do potencial de nossas crianças e cidadãos é um desafio de todos nós. Vamos vencer a fome oculta.”
Peiman Milani e Hércia Martino, “Folha de S.Paulo” – 25/12/2012

“Os líderes Prozac fazem discursos delirantes, acreditam em suas próprias palavras e desencorajam visões alternativas e críticas. Alguns são carismáticos e nutrem fiéis seguidores: eles ignoram problemas e tornam suas organizações menos preparadas para enfrentar crises. Quando encontram terreno propício, criam uma ‘cultura positiva’, que pune ou aliena funcionários não praticantes. […] O otimismo excessivo pode estimular o cinismo, erodir a confiança e provocar o afastamento da realidade.”
Thomas Wood Jr., Revista Carta Capital – 25/12/2012

“Em 2011, houve 24.206 estupros notificados na Índia, mas em apenas 26% dos casos os acusados foram condenados, segundo o Escritório Nacional de Registros de Crimes.
O número real de estupros certamente é subestimado. A maioria das vítimas nunca denuncia o crime às autoridades. Mulheres estupradas são alvo de enorme preconceito -e raramente conseguem se casar na Índia. Estudos apontam que apenas 1 em cada 50 casos de estupro são notificados. Quando as vítimas finalmente tomam coragem e denunciam, enfrentam uma polícia misógina. Os policiais indianos afirmam que as vítimas de estupro ‘mereceram, porque provocaram’. Dizem isso, literalmente. A revista indiana ‘Tehelka’ filmou, secretamente, entrevistas com 30 investigadores em delegacias de Déli e arredores, em abril deste ano. Dezessete dos 30 investigadores afirmaram repetidamente que a maioria das acusações de estupro eram falsas, que as mulheres “convidavam” ao estupro ao usar roupas provocantes e que muitas queriam extorquir os acusados. […] Com essa predisposição, não surpreende que a maioria das investigações de estupro sejam falhas. Para muitos, essa visão de mundo sexista não é privilégio dos policiais: está encravada em boa parte da sociedade indiana.”
Patrícia Campos Mello, “Folha de S.Paulo” – 26/12/2012

“O mundo não acabou outro dia, mas vários mundos acabam todos os dias, sempre que morre um escritor -ou um ator, um sambista, um arquiteto, um cientista, um gari, até mesmo um político. Hierarquias são perigosas, mas a morte de um escritor parece atingir fundo as pessoas, inclusive as que nunca o leram. Supõe a perda de um ou mais mundos organizados, que ainda não foram e não serão cristalizados em palavras. Pior ainda quando são escritores populares, porque muitos de seus contemporâneos sentiam-se parte de tais mundos. É como se a morte deles os privasse de seu chão.”
Ruy Castro, “Folha de S.Paulo” – 26/12/2012

“Em geral, pensamos a literatura a partir de sua função social, seu conteúdo psicológico, questões de estilo. Mas, com essa ênfase em seu aspecto externo, esquecemos o fundamental: a literatura é acima de tudo um diálogo expandido. Um eu-tu apreendido em estado de graça. Oscilação incessante entre intimidade e solidão.”
“Valor Econômico” – 28/12/2012

“Governos vivem de aplausos, já problemas reais dependem de soluções efetivas para ser solucionados.”
Hélio Schwartsman, “Folha de S.Paulo” – 29/12/2012

“Em meio ao caos após a devastação do furacão Sandy, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, disse que a exceção meteorológica está se tornando rotina. Aproveitou o choque da população para fazer as conexões entre a erosão da costa, o nível do oceano e a temperatura. Virou o debate que tem tratado aqui a ciência ambiental como panfletagem ideológica.”
Lúcia Guimarães, “O Estado de S.Paulo” – 31/12/2012

“O Ministério Público de São Paulo iniciou um programa para capacitar professores da rede estadual que atuam como mediadores escolares. O objetivo é, até o fim de 2013, oferecer conhecimentos específicos sobre justiça restaurativa e, assim, auxiliá-los na prevenção e resolução de conflitos. O objetivo da justiça restaurativa – diferentemente da cultura punitiva, que busca um culpado para o conflito – é identificar o que causou o problema e intervir na situação a partir de três princípios: diálogo, reflexão e responsabilização. Só neste primeiro ano, mil professores serão capacitados no Estado. Os docentes são indicados pela direção da escola em que atuam. “Nossa ideia com esta parceria com a Secretaria de Educação é evitar que a violência surja e, nos casos em que ela aparecer, conseguir resolver o caso sem atitudes drásticas, como a expulsão. Pelo contrário: usar essas situações como oportunidades de mudanças e de aprendizagem”, afirma o promotor Antônio Carlos Ozório Nunes, coordenador do programa. […] Com 47 anos de idade e 15 de magistério, o professor Tarsis Campos foi indicado para fazer a capacitação porque atua há três anos como mediador na escola estadual Wilson Ramos Brandão, que tem cerca de 800 alunos e fica na periferia de Sorocaba. Apesar da experiência, ele conta que o curso promovido pelo MP tem ajudado na promoção de consensos. “Minha missão é ensinar aos alunos que entrar em consenso não é pedir perdão, é não partir para a violência”.
Ocimara Balmant, “O Estado de S.Paulo” – 31/12/2012

“O Boko Haram, grupo radical islâmico que atua na Nigéria, degolou ontem 15 cristãos em Musari, nordeste dos país. A região é reduto do grupo islâmico Boko Haram, que luta contra a influência ocidental na Nigéria. De acordo com autoridades locais, as vítimas dormiam na hora do ataque. A maioria delas foi morta com facões. Os alvos, segundo a política, foram escolhidos porque eram cristãos. Muitos deles haviam se mudado para outras partes da cidade justamente em razão de ataques do Boko Haram.”
“O Estado de S.Paulo” – 31/12/2012

49ª semana de 2012

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“Eu gosto de estar só. Não que goste de solidão. A minha não é vazia. […] É inevitável. A velhice chega, os filhos têm suas vidas, suas casas e suas necessidades. Há uma preocupação de que é preciso dar atenção à famosa terceira idade. É um desassossego para os dois lados. […] Criança sofre muito. É todo um processo de civilização, de coerção e de enquadramento em cima delas. E isso é uma agressão violenta. Quando ouço alguém dizer que a infância foi a parte mais feliz de sua vida, olho com muita desconfiança. Deve ter sido tão terrível que nem se lembra.”
Fernanda Montenegro, “Folha de S.Paulo” – 02/12/2012

“A maioria das pessoas vive perfeitamente bem sem saber diferenciar ciência de pseudociência. Mais cedo ou mais tarde, porém, em alguns momentos da vida esse conhecimento pode ser muito importante. Seja para decidir um tratamento médico, seja para analisar criticamente algum boato, seja para se posicionar frente a alguma decisão importante que certamente influenciará a vida de seus filhos e netos. A sociedade como um todo deve assimilar a cultura científica. É importante a participação de instituições, grupos de interesse e processos coletivos estruturados em torno de sistemas de comunicação e difusão social da ciência, participação dos cidadãos e mecanismos de avaliação social da ciência. Em uma sociedade onde a ciência e a tecnologia são agentes de mudanças econômicas e sociais, o analfabetismo científico, seja de quem for, pode ser um fator crucial para determinar decisões que afetarão nosso bem-estar social. É impossível tomar uma decisão consciente se não se tem um mínimo de entendimento sobre ciência e tecnologia, como funcionam e como podem afetar nossas vidas.”
Marcelo Knobel, “Folha de S.Paulo” – 02/12/2012

“Os focos de corrupção que se disseminam nos porões da administração pública se relacionam a outros fenômenos perversos, dentre os quais a burocracia e a mediocracia. O primeiro se ampara num amontoado de leis e regulamentos, donde se originam veredas e desvios para as negociatas e dribles na Justiça. O segundo leva em conta a influência política para a indicação e ocupação de cargos públicos. Perfis medíocres e quadros despreparados acabam integrando os pelotões de corrupção nas três instâncias federativas. O servilismo emerge, dessa forma, na sombra do favoritismo. Sob a bandeira da injustiça e da indignidade. É mais do que hora de resgatar o brasão dos justos, hoje alvo de escárnio: “Não há nada que pague o preço da honra”.
Gaudêncio Torquato, “O Estado de S.Paulo” – 02/12/2012

“O errado não se torna certo por ser prática de muitos, ou até de quase todos. Mas não apenas quem sai aos seus não degenera como, mais ainda, mesmo quem não é cristão há de ver sabedoria na observação segundo a qual, antes de criticarmos o cisco no olho do próximo, devemos cuidar da trave em nosso próprio olho. […] Os envolvidos em corrupção e crimes correlatos não foram os primeiros, são herdeiros de uma velha tradição nossa. Não são exceções inusitadas. Antes, são a regra, tanto entre antecessores quanto entre contemporâneos. O inusitado são as punições. Mas não achemos que, punindo-os como se o que fizeram não estivesse de acordo com nossos costumes, vamos finalmente viver sob o império da lei e da ética, sem ter mudado nossa relação frouxa com valores básicos, fingindo que não vemos nossa cumplicidade compreensiva e tolerante. Ponhamos a mão na consciência e reconheçamos a verdade. Não podemos atirar a primeira pedra, porque o pecado começa conosco.”
João Ubaldo Ribeiro, “O Estado de S.Paulo” – 02/12/2012

“A pesquisa Nós, Jovens Brasileiros, realizada pelo Portal Educacional, que mapeou o comportamento de 4 mil estudantes de 13 a 17 anos, alunos de 60 escolas particulares de todo o País. E, quando o assunto é internet, as descobertas revelam desde questões mais objetivas – como o tempo de uso, que cresce ano após ano – até temas bem mais delicados, como a disposição a se expor na rede. Um dos dados mais preocupantes é o que mostra que, do total de entrevistados, 6% deles já apareceram nus ou seminus em fotos na rede e o mesmo porcentual já mostrou partes íntimas de seu corpo para desconhecidos por meio de webcam. Além desses, outros 3% já pensaram em se exibir dessa forma, mas não puseram isso em prática. […] Para Carmen Neme, professora do programa de pós-graduação em Psicologia da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), ‘o adolescente acha que nada vai acontecer, porque ele é muito esperto. O problema não é a internet. A questão é que os adolescentes estão sozinhos. Nunca se viveu de maneira tão solitária como agora. Os pais estão longe, e a internet parece suprir a ausência’.
Ocimara Balmant, “O Estado de S.Paulo” – 02/12/2012

“Talvez, seja mais difícil ainda conviver com os filhos por períodos maiores do que os pais estão acostumados. A partir de quando ficar com os filhos em casa transformou-se em um problema? Desde o momento em que ter filhos passou a ser uma ideia diferente da de acompanhar a vida de uma criança, cuidar dela, dedicar-se a ela, ficar disponível para o que possa acontecer; desde que passamos a querer viver com filhos do mesmo modo que vivíamos antes de tê-los. A partir do momento em que nossa vida desobrigada deles parece ser muito mais sedutora. Por que temos filhos?”
Rosely Sayão, “Folha de S.Paulo” – 04/12/2012

“Vida sem água, resistente e brava, espinhosa e árida. É fato noticiado todo ano. Do Maranhão ao norte de Minas Gerais. Sebastião Salgado fotografou os tons marrons e os olhos tristes e famintos de homens e animais. A arte imortaliza o sofrimento, a resiliência e a força do povo sertanejo. Artistas de todos os tipos choraram e cantaram, pintaram e contaram. Mas, novamente, nenhuma solução. É difícil resolver algo a partir de pressupostos equivocados. A principal dificuldade que o País enfrenta está no próprio enunciado, no enfoque de combate à seca. Um fenômeno climático sistemático não é para ser combatido. Alguém imaginaria combater o gelo na Sibéria? Deve-se, sim, criar melhores condições de convivência com ele. O mais importante com relação a esse problema é que existem técnicas adaptadas às condições do Semiárido. O renomado agrônomo cearense Guimarães Duque, por exemplo, desenvolveu um método para a agricultura de sequeiro que foi objeto de muitas homenagens, mas pouca ação para colocá-lo em prática. E também, ao contrário do que se pensa e se divulga, existe água suficiente no Nordeste. Só que, pelo modelo econômico do latifúndio e do capitalismo tropical, a água também é pessimamente distribuída. Concentração de renda, concentração de terras, concentração do controle das águas, eis os pressupostos da tragédia que se renova. Aceitar passivamente a perpetuação de práticas assistencialistas e do clientelismo que assume novas formas. Enquanto a solidariedade pontual e os bálsamos emergenciais continuarem a prevalecer, nada vai mudar de verdade. O sofrimento toma novas formas. Os prejuízos ganham novos critérios de mensuração. É a seca com ares de século XXI.”
Fernando Lyra, Revista Carta Capital – 05/12/2012

“Em tempos de crise, é ainda mais importante demonstrar que você nem sempre saberá tudo – e estará pronto para entender as mudanças constantes e aprender com elas.”
Jim Collis, “Revista Exame” – 05/12/2012

“A maioria dos consumidores não considera crime baixar músicas ou filmes na internet sem pagar por eles. Essa foi uma das conclusões de uma pesquisa da Fecomércio-RJ divulgada ontem. A fatia dos consumidores que consideram baixar músicas pela internet uma prática legal subiu de 48% em 2011 para 59% neste ano, enquanto o número dos que consideram isso um crime diminuiu de 32% para 22%.”
Denise Luna, “Folha de S.Paulo” – 06/12/2012

“Um dos riscos de escrever uma coluna de jornal hoje, ou de opinar em qualquer instância pública, é o oposto: ser ignorado, quando não perseguido e açoitado num pelourinho de grunhidos, relinchos e cacarejos, a despeito da mais cuidadosa argumentação. A maioria está ali para confirmar certezas prévias ou se irritar com quem diz o contrário.”
Michel Laub, “Folha de S.Paulo” – 07/12/2012

“Um hipotético leitor de dois séculos atrás pensaria que os idosos são a perda irreparável: afinal, uma criança, ninguém sabe no que ela vai dar, enquanto um idoso é patrimônio consolidado. Num incêndio, você prefere que queime um caderno quase virgem ou o outro, no qual você anota seu diário há décadas?”
Contardo Calligaris, “Folha de S.Paulo” – 08/12/2012

“O futuro desse universo cada vez mais digital é cheio de riscos. Imagine: colapso na nuvem. ‘Crashes’ de servidores, fibras ópticas rompidas, blecautes em série nos principais polos hi-tech da Terra. Nos primórdios da web, uma situação assim teria uma consequência grave: internet fora do ar. Grave, porém única. Músicas, filmes e demais arquivos baixados pela rede estariam a salvo, guardados nos computadores das casas das pessoas. Mas, hoje, tudo mudou. Um crash gigantesco seria muito mais devastador. Porque cada vez menos gente armazena em casa seus arquivos digitais. Está tudo em servidores poderosos, espalhados pelo mundo. Nessa nuvem, digital e amorfa.”
Álvaro Pereira Júnior, “Folha de S.Paulo” – 08/12/2012

“Seria ótimo se houvesse soluções fáceis e imediatas para os problemas que nos acometem. Mas as coisas não são simples. É por esse motivo que, ao invés de oferecer soluções mágicas ao paciente, o psicoterapeuta se dispõe a ajudá-lo a entender a complexidade de seu próprio psiquismo, sua dimensão inconsciente que abriga fantasias infantis ainda vigentes na atualidade, cujos padrões anacrônicos de funcionamento continuam a influenciar seu comportamento, seus relacionamentos pessoais e decisões sem que ele mesmo disso se aperceba.”
Sérgio Telles, “O Estado de S.Paulo” – 08/12/2012

“O fim do ano se aproxima e, com ele, chegam também aquelas reflexões que costumeiramente fazemos – o balanço de sucessos e objetivos que conseguimos alcançar no ano que termina. Se seu balanço, por acaso, acabar se mostrando pobrezinho ou muito pequeno, é tempo de repensar coisas. […] Você se engajou da maneira como deveria em trabalhos em equipe? Você exercitou seu autocontrole? Tomou medidas que o ajudaram a controlar seu gênio mais explosivo ou seu frequente mau humor? Você conseguiu desenvolver sua habilidade social e conviver melhor? […] Meu ano foi muito bom, apesar de algumas situações mais tristes e de algumas mudanças necessárias e doloridas. Nunca acho que algo é totalmente ruim. Acho que situações difíceis sempre aparecem para testar minha capacidade de lidar com elas ou para me ensinar alguma coisa. Por essas e por outras, já decidi: em 2013, que venham as novidades e tudo aquilo que me fizer questionar minhas certezas. Desejo-lhe o mesmo. Feliz 2013!”
Célia Leão, “Revista VocêS/A” – dezembro de 2012

34ª semana de 2012

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“Será que podemos compreender o mundo sem ter alguma espécie de crença? Essa não só é uma das questões centrais da dicotomia entre a ciência e a fé como também informa de que modo um indivíduo se relaciona com o mundo. […] Para avançar em suas teorias, o cientista precisa ter a coragem de arriscar e de estar errada. Só quando nos atrevemos a arriscar e errar é que podemos, talvez, enxergar um pouco mais longe do que os outros.”
Marcelo Gleiser – Folha de S.Paulo, 19/08/2012

“A mulher quer ser possuída em sua abstração, em sua geografia mutante, a mulher quer ser descoberta pelo homem para se conhecer. A mulher é metafísica; homem é engenharia. A mulher é muito mais exilada das certezas da vida que o homem. Ela é mais profunda que nós. A mulher deseja o impossível – esta é sua grande beleza. Ela vive buscando atingir a plenitude.”
Arnaldo Jabor – O Estado de S.Paulo, 21/08/2012

“Não se muda a educação estabelecendo metas, mas a partir de instituições. Não há milagre. Uma vez que não existe investimento nas políticas corretas, não há por que achar que teremos uma situação melhor no futuro.”
João Batista Araujo e Oliveira – Revista Veja – 22/08/2012

“Contrariando os saudosistas, afirmo que a educação no Brasil nunca foi grande coisa, mediocridade percebida apenas por espíritos mais alertas. A diferença é que hoje há mais impaciência com as suas mazelas. Diante dessas críticas, passadas e presentes, nossas doutas autoridades são pressionadas a tomar providências enérgicas. Mas e os custos políticos? E os calos em que se há de pisar? E a truculência dos que não querem perder suas sinecuras e confortos? E as greves? Com espantosa criatividade, nossos líderes encontraram uma saída para esse impasse: criou-se um tipo de reforma que, além de indolor, tem visibilidade na mídia escrita e falada. A ideia é simples: em vez da truculência de remexer pessoas e instituições reformam-se os nomes e títulos de tudo o que acontece na área. Brilhante! Sem trauma!”
Claudio de Moura Castro – Revista Veja – 22/08/2012

18ª semana de 2012

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“Do jeito que a ciência é ensinada nas escolas, não é à toa que a maioria das pessoas acha que o conhecimento científico cresce linearmente, sempre se acumulando. No entanto, uma rápida olhada na história da ciência permite ver que não é bem assim: o caminho que leva ao conhecimento é tortuoso e, às vezes, vai até para trás, quando uma ideia errada persiste por mais tempo do que deveria. […] Apresentar a ciência nas escolas e universidades ou nos meios informais de comunicação como um triunfalismo infalível da civilização esconde um de seus lados mais interessantes: o drama da descoberta, as incertezas da criatividade.”
Marcelo Gleiser – Folha de S.Paulo, 29/04/2012

“Eugenia quer dizer criar jovens belos, bons e perfeitos. […] Na peça filosófica, Sloterdijk dizia que o projeto eugênico ocidental é filho de Platão (‘A República’, por exemplo), e que se ele não deu certo nas engenharias político-sociais utópicas modernas, nem na educação formal propriamente, estava dando certo na biotecnologia e nas tecnologias de otimização da saúde. Alguém duvida que academias de ginástica, consultoras em nutrição, espiritualidades narcísicas ao portador (como a Nova Era e sua salada de budismo, decoração de interiores e física quântica), cirurgias e tratamentos estéticos, checkups anuais, ambulatórios de qualidade de vida, pré-natal genético e interrupção aconselhada da gravidez de fetos indesejáveis sejam eugenia? […] A fuga da agonia humana diante do sofrimento via nossa decisão (silenciosa) de tornar a vida perfeita a qualquer custo, mesmo que esta decisão venha empacotada em conceitos baratos como ‘qualidade de vida’, ‘felicidade interna bruta’ ou ‘direito a autoestima’.”
Luiz Felipe Pondé – Folha de S.Paulo, 30/04/2012

“Casa nova, escola nova, outra empresa, às vezes outra cidade ou até país. Abraçar o novo implica, por um lado, abandonar o familiar, a rotina confortável e as expectativas usuais e, por outro, lançar-se ao desconhecido. Não é à toa que pessoas diferentes têm respostas diversas a mudanças. Para começar, o valor do ambiente que se tornou familiar é extremamente pessoal: depende da sua história particular naquele contexto, das suas experiências, das memórias formadas ali, enfim, do valor associado ao que se está deixando. […] Em algumas pessoas, o sistema que gera angústia frente ao desconhecido é mais forte do que em outras. […] É possível ter sentimentos aparentemente contraditórios em relação a uma mudança para um novo emprego, por exemplo: sentir-se ao mesmo tempo angustiado, empolgado e aliviado, ou destemido, mas saudoso. Toda mudança é, contudo, um estresse.”
Suzana Herculano-Houzel – Revista MenteCérebro – abril de 2012

“Muitas pessoas com síndrome da fadiga crônica tendem a assumir responsabilidades demais, o que as leva a um completo esgotamento, que enfraquece seu sistema imunológico, provocando um ataque de vírus novos e oportunidades, ou reativando um antigo, pré-existente. Esses sintomas da síndrome de burnout são um grande, grande aviso para desacelerar. Os seres humanos não são insuperáveis. Nossos sistemas podem enfraquecer, especialmente quando não dormimos o suficiente; trabalhamos duro demais; assumimos tarefas demais (por exemplo, no trabalho ou na educação de uma criança); ou ainda quando sofremos alguma tragédia familiar ou pessoal, como luto, divórcio, infertilidade, ou até o nascimento de um filho. É importante acrescentar que, na maioria dos casos, as pessoas se recuperam. Algumas poucas, porém, uma minoria desafortunada fica tão abalada que seus organismos lutam para se recuperar e, nesse processo, seus sintomas se tornam crônicos – se não permanentes e piores. Essa é a zona de perigo que exige uma ajuda urgente. Nessas pessoas, os cronicamente Fadigados, como eu os chamo, os próprios mecanismos de cura entram em colapso e seus corpos simplesmente ‘morrem’; não melhoram. Para fazer com que se recuperem precisamos ‘curar os mecanismos de cura’, como o sistema imunológico.”
Kristina Downing-Orr, Revista Psique – abril de 2012

“Para conviver bem em sociedade, precisamos aprender a respeitar certos limites de agressividade no trato com terceiros. O mundo, porém, é um lugar mais complexo e multifacetado do que querem as narrativas de que nos valemos para dar sentido às coisas. […] Precisamos ser honestos para reconhecer que as dinâmicas do relacionamento entre jovens não podem ser resumidas numa luta das vítimas boazinhas contra agressores malvados.”
Hélio Schwartsman – Folha de S.Paulo, 01/05/2012

“A família passou do singular ao plural. Antes, havia ‘a família’. Quando nos referíamos a essa instituição todos compartilhavam da mesma ideia: um homem e uma mulher unidos pelo casamento, seus filhos e mais os parentes ascendentes, descendentes e horizontais. E, como os filhos eram vários, a família era bem grande, constituída por adultos de todas as idades e mais novos também. […] Essa ideia de família só sobreviveu intacta até os anos 60. Daí em diante ‘a família’ se transformou em ‘as famílias’. Os grupos familiares mudaram, as configurações se multiplicaram. Hoje, são tantas as formações que, creio eu, não conseguiríamos elencá-las.”
Rosely Sayão – Folha de S.Paulo, 01/05/2012

“Uma palavra que vive seu tempo de glória é dirupção. Ou ‘disruption’, em inglês, termo que vem sendo mal traduzido por ‘disrupção’ ou ‘disruptura’, já que o verbo em português é ‘diruir’ ou ‘derruir’, que significa ‘desmoronar’. Poderíamos falar em ‘ruptura’, mas outra tradução seria ‘ruína’ ou ‘derrubada’, já que dirupção é uma ruptura feita à força. Traz noção de colapso, de descontinuidade, de desorganização e de deslocamento. A internet causou e ainda causará muita dirupção. Dirupção é aquele momento em que um comportamento é totalmente modificado, e o dinheiro muda de mãos. Começou pelos correios, quando a internet introduziu o e-mail décadas atrás. Avançou na indústria da música e de jogos, alterando profundamente sua forma física, seu sistema de produção, de marketing, de distribuição e de fruição. […] Espera-se que a próxima indústria a ser diruída pela internet seja a da educação, embora o ensino a distância venha do século 20. A dirupção que destruirá escolas tradicionais mal começou. […] ‘A internet é o reino da descontinuidade’, disse o designer Oliver Reichenstein. É o espaço onde perdemos a noção do tempo. Por isso tanta nostalgia. Temos uma continuidade a reconquistar.”
Marion Strecker – Folha de S.Paulo, 03/05/2012

“Aos 40 anos, você pesa dez quilos mais do que aos 20. Aos 60, já acumulou mais uma arroba de gordura, não resiste aos doces nem aos salgadinhos, fuma, bebe um engradado de cerveja de cada vez, é viciado em refrigerante, só sai da mesa quando está prestes a explodir e ainda se dá ao luxo de passar o dia no conforto. Quando se trata do corpo, você se comporta como criança mimada: faz questão absoluta de viver muito, enquanto age como se ele fosse um escravo forçado a suportar desaforos diários e a aturar todos os seus caprichos, calado, sem receber nada em troca. Aí, quando vêm a hipertensão, o diabetes, a artrite, o derrame cerebral ou o ataque cardíaco, maldiz a própria sorte, atribui a culpa à vontade de Deus e reclama do sistema de saúde que não fez por você tudo o que deveria. Desculpe a curiosidade: e você, pobre injustiçado, não tem responsabilidade nenhuma?”
Drauzio Varella – Folha de S.Paulo, 05/05/2012

“Quando se analisa os tais três pilares do desenvolvimento sustentável, o mais frágil é justamente o do meio ambiente. O progresso no combate a pobreza, por exemplo, que tirou milhões de pessoas dessa situação em vários países, notadamente no Brasil, não foi acompanhado da melhoria dos indicadores ambientais. Ao contrário, as convenções sobre mudanças climática, biodiversidade e combate à desertificação que resultaram da Rio-92 não lograram avanços significativos. Suas agendas estão praticamente bloqueadas. Assim, a questão da governança ambiental mundial se tornou fundamental para a implementação dos acordos internacionais já existentes e para a preparação dos que terão de ser definidos no futuro próximo.”
João Paulo Capobianco – Folha de S.Paulo, 05/05/2012

“Só o fato de nós perguntarmos, 20 anos depois da Rio-92, aonde chegamos e para onde queremos ir agora já é muito importante. Por isso, não devemos encarar esta conferência como um evento isolado. Estamos falando de um processo que teve início duas décadas atrás e que não se encerrará em 2012. […]Eu acredito que a participação e a integração de todos em torno da Rio+20 -em especial dos jovens, que estão conectados e fazem parte de uma geração multicultural, sem barreiras linguísticas, culturais ou tecnológicas- é fundamental. A Rio+20 será um ponto de convergência desses jovens em torno do objetivo comum e global da sustentabilidade, reforçando os valores da generosidade, do respeito pela diversidade e das responsabilidades partilhadas quando se enfrentam desafios tão complexos.”
Lidia Brito – Folha de S.Paulo, 05/05/2012

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