“Eu gosto de estar só. Não que goste de solidão. A minha não é vazia. […] É inevitável. A velhice chega, os filhos têm suas vidas, suas casas e suas necessidades. Há uma preocupação de que é preciso dar atenção à famosa terceira idade. É um desassossego para os dois lados. […] Criança sofre muito. É todo um processo de civilização, de coerção e de enquadramento em cima delas. E isso é uma agressão violenta. Quando ouço alguém dizer que a infância foi a parte mais feliz de sua vida, olho com muita desconfiança. Deve ter sido tão terrível que nem se lembra.”
Fernanda Montenegro, “Folha de S.Paulo” – 02/12/2012

“A maioria das pessoas vive perfeitamente bem sem saber diferenciar ciência de pseudociência. Mais cedo ou mais tarde, porém, em alguns momentos da vida esse conhecimento pode ser muito importante. Seja para decidir um tratamento médico, seja para analisar criticamente algum boato, seja para se posicionar frente a alguma decisão importante que certamente influenciará a vida de seus filhos e netos. A sociedade como um todo deve assimilar a cultura científica. É importante a participação de instituições, grupos de interesse e processos coletivos estruturados em torno de sistemas de comunicação e difusão social da ciência, participação dos cidadãos e mecanismos de avaliação social da ciência. Em uma sociedade onde a ciência e a tecnologia são agentes de mudanças econômicas e sociais, o analfabetismo científico, seja de quem for, pode ser um fator crucial para determinar decisões que afetarão nosso bem-estar social. É impossível tomar uma decisão consciente se não se tem um mínimo de entendimento sobre ciência e tecnologia, como funcionam e como podem afetar nossas vidas.”
Marcelo Knobel, “Folha de S.Paulo” – 02/12/2012

“Os focos de corrupção que se disseminam nos porões da administração pública se relacionam a outros fenômenos perversos, dentre os quais a burocracia e a mediocracia. O primeiro se ampara num amontoado de leis e regulamentos, donde se originam veredas e desvios para as negociatas e dribles na Justiça. O segundo leva em conta a influência política para a indicação e ocupação de cargos públicos. Perfis medíocres e quadros despreparados acabam integrando os pelotões de corrupção nas três instâncias federativas. O servilismo emerge, dessa forma, na sombra do favoritismo. Sob a bandeira da injustiça e da indignidade. É mais do que hora de resgatar o brasão dos justos, hoje alvo de escárnio: “Não há nada que pague o preço da honra”.
Gaudêncio Torquato, “O Estado de S.Paulo” – 02/12/2012

“O errado não se torna certo por ser prática de muitos, ou até de quase todos. Mas não apenas quem sai aos seus não degenera como, mais ainda, mesmo quem não é cristão há de ver sabedoria na observação segundo a qual, antes de criticarmos o cisco no olho do próximo, devemos cuidar da trave em nosso próprio olho. […] Os envolvidos em corrupção e crimes correlatos não foram os primeiros, são herdeiros de uma velha tradição nossa. Não são exceções inusitadas. Antes, são a regra, tanto entre antecessores quanto entre contemporâneos. O inusitado são as punições. Mas não achemos que, punindo-os como se o que fizeram não estivesse de acordo com nossos costumes, vamos finalmente viver sob o império da lei e da ética, sem ter mudado nossa relação frouxa com valores básicos, fingindo que não vemos nossa cumplicidade compreensiva e tolerante. Ponhamos a mão na consciência e reconheçamos a verdade. Não podemos atirar a primeira pedra, porque o pecado começa conosco.”
João Ubaldo Ribeiro, “O Estado de S.Paulo” – 02/12/2012

“A pesquisa Nós, Jovens Brasileiros, realizada pelo Portal Educacional, que mapeou o comportamento de 4 mil estudantes de 13 a 17 anos, alunos de 60 escolas particulares de todo o País. E, quando o assunto é internet, as descobertas revelam desde questões mais objetivas – como o tempo de uso, que cresce ano após ano – até temas bem mais delicados, como a disposição a se expor na rede. Um dos dados mais preocupantes é o que mostra que, do total de entrevistados, 6% deles já apareceram nus ou seminus em fotos na rede e o mesmo porcentual já mostrou partes íntimas de seu corpo para desconhecidos por meio de webcam. Além desses, outros 3% já pensaram em se exibir dessa forma, mas não puseram isso em prática. […] Para Carmen Neme, professora do programa de pós-graduação em Psicologia da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), ‘o adolescente acha que nada vai acontecer, porque ele é muito esperto. O problema não é a internet. A questão é que os adolescentes estão sozinhos. Nunca se viveu de maneira tão solitária como agora. Os pais estão longe, e a internet parece suprir a ausência’.
Ocimara Balmant, “O Estado de S.Paulo” – 02/12/2012

“Talvez, seja mais difícil ainda conviver com os filhos por períodos maiores do que os pais estão acostumados. A partir de quando ficar com os filhos em casa transformou-se em um problema? Desde o momento em que ter filhos passou a ser uma ideia diferente da de acompanhar a vida de uma criança, cuidar dela, dedicar-se a ela, ficar disponível para o que possa acontecer; desde que passamos a querer viver com filhos do mesmo modo que vivíamos antes de tê-los. A partir do momento em que nossa vida desobrigada deles parece ser muito mais sedutora. Por que temos filhos?”
Rosely Sayão, “Folha de S.Paulo” – 04/12/2012

“Vida sem água, resistente e brava, espinhosa e árida. É fato noticiado todo ano. Do Maranhão ao norte de Minas Gerais. Sebastião Salgado fotografou os tons marrons e os olhos tristes e famintos de homens e animais. A arte imortaliza o sofrimento, a resiliência e a força do povo sertanejo. Artistas de todos os tipos choraram e cantaram, pintaram e contaram. Mas, novamente, nenhuma solução. É difícil resolver algo a partir de pressupostos equivocados. A principal dificuldade que o País enfrenta está no próprio enunciado, no enfoque de combate à seca. Um fenômeno climático sistemático não é para ser combatido. Alguém imaginaria combater o gelo na Sibéria? Deve-se, sim, criar melhores condições de convivência com ele. O mais importante com relação a esse problema é que existem técnicas adaptadas às condições do Semiárido. O renomado agrônomo cearense Guimarães Duque, por exemplo, desenvolveu um método para a agricultura de sequeiro que foi objeto de muitas homenagens, mas pouca ação para colocá-lo em prática. E também, ao contrário do que se pensa e se divulga, existe água suficiente no Nordeste. Só que, pelo modelo econômico do latifúndio e do capitalismo tropical, a água também é pessimamente distribuída. Concentração de renda, concentração de terras, concentração do controle das águas, eis os pressupostos da tragédia que se renova. Aceitar passivamente a perpetuação de práticas assistencialistas e do clientelismo que assume novas formas. Enquanto a solidariedade pontual e os bálsamos emergenciais continuarem a prevalecer, nada vai mudar de verdade. O sofrimento toma novas formas. Os prejuízos ganham novos critérios de mensuração. É a seca com ares de século XXI.”
Fernando Lyra, Revista Carta Capital – 05/12/2012

“Em tempos de crise, é ainda mais importante demonstrar que você nem sempre saberá tudo – e estará pronto para entender as mudanças constantes e aprender com elas.”
Jim Collis, “Revista Exame” – 05/12/2012

“A maioria dos consumidores não considera crime baixar músicas ou filmes na internet sem pagar por eles. Essa foi uma das conclusões de uma pesquisa da Fecomércio-RJ divulgada ontem. A fatia dos consumidores que consideram baixar músicas pela internet uma prática legal subiu de 48% em 2011 para 59% neste ano, enquanto o número dos que consideram isso um crime diminuiu de 32% para 22%.”
Denise Luna, “Folha de S.Paulo” – 06/12/2012

“Um dos riscos de escrever uma coluna de jornal hoje, ou de opinar em qualquer instância pública, é o oposto: ser ignorado, quando não perseguido e açoitado num pelourinho de grunhidos, relinchos e cacarejos, a despeito da mais cuidadosa argumentação. A maioria está ali para confirmar certezas prévias ou se irritar com quem diz o contrário.”
Michel Laub, “Folha de S.Paulo” – 07/12/2012

“Um hipotético leitor de dois séculos atrás pensaria que os idosos são a perda irreparável: afinal, uma criança, ninguém sabe no que ela vai dar, enquanto um idoso é patrimônio consolidado. Num incêndio, você prefere que queime um caderno quase virgem ou o outro, no qual você anota seu diário há décadas?”
Contardo Calligaris, “Folha de S.Paulo” – 08/12/2012

“O futuro desse universo cada vez mais digital é cheio de riscos. Imagine: colapso na nuvem. ‘Crashes’ de servidores, fibras ópticas rompidas, blecautes em série nos principais polos hi-tech da Terra. Nos primórdios da web, uma situação assim teria uma consequência grave: internet fora do ar. Grave, porém única. Músicas, filmes e demais arquivos baixados pela rede estariam a salvo, guardados nos computadores das casas das pessoas. Mas, hoje, tudo mudou. Um crash gigantesco seria muito mais devastador. Porque cada vez menos gente armazena em casa seus arquivos digitais. Está tudo em servidores poderosos, espalhados pelo mundo. Nessa nuvem, digital e amorfa.”
Álvaro Pereira Júnior, “Folha de S.Paulo” – 08/12/2012

“Seria ótimo se houvesse soluções fáceis e imediatas para os problemas que nos acometem. Mas as coisas não são simples. É por esse motivo que, ao invés de oferecer soluções mágicas ao paciente, o psicoterapeuta se dispõe a ajudá-lo a entender a complexidade de seu próprio psiquismo, sua dimensão inconsciente que abriga fantasias infantis ainda vigentes na atualidade, cujos padrões anacrônicos de funcionamento continuam a influenciar seu comportamento, seus relacionamentos pessoais e decisões sem que ele mesmo disso se aperceba.”
Sérgio Telles, “O Estado de S.Paulo” – 08/12/2012

“O fim do ano se aproxima e, com ele, chegam também aquelas reflexões que costumeiramente fazemos – o balanço de sucessos e objetivos que conseguimos alcançar no ano que termina. Se seu balanço, por acaso, acabar se mostrando pobrezinho ou muito pequeno, é tempo de repensar coisas. […] Você se engajou da maneira como deveria em trabalhos em equipe? Você exercitou seu autocontrole? Tomou medidas que o ajudaram a controlar seu gênio mais explosivo ou seu frequente mau humor? Você conseguiu desenvolver sua habilidade social e conviver melhor? […] Meu ano foi muito bom, apesar de algumas situações mais tristes e de algumas mudanças necessárias e doloridas. Nunca acho que algo é totalmente ruim. Acho que situações difíceis sempre aparecem para testar minha capacidade de lidar com elas ou para me ensinar alguma coisa. Por essas e por outras, já decidi: em 2013, que venham as novidades e tudo aquilo que me fizer questionar minhas certezas. Desejo-lhe o mesmo. Feliz 2013!”
Célia Leão, “Revista VocêS/A” – dezembro de 2012