Posts tagged crenças

23ª semana de 2012

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“Pedófilos sempre existiram, existem e existirão, mais do que se imagina, mais do que se sabe. São pessoas com desordem mental, e quem não ouviu falar que em regiões mais atrasadas pais tiveram relações com uma ou mais filhas, tendo até engravidado algumas, que se tornaram mães de suas próprias irmãs. Isso acontece no Brasil profundo e também em países altamente civilizados. A miséria humana não tem limites. […] Cabe às mães e aos pais ficarem atentos, não deixarem suas filhas/filhos em situações de risco, olhar atentamente o que se passa, e desconfiar sempre, sem medo de estar pensando em “maldades”, sabendo que essas coisas acontecem nas melhores famílias. Não vivemos em um mundo ideal. O abuso sexual causa efeito devastador nos que o sofrem, e precisam de apoio profissional, apoio esse que deve ser forte e positivo; só o amor de mãe e pai não é suficiente.”
Danuza Leão – Folha de S.Paulo, 03/06/2012

“O perigo mora próximo do líder carismático que se coloca em pé de igualdade com o sagrado. Mais cedo ou mais tarde, o herói se achará tão potente a ponto de querer tomar o lugar de Deus.”
Gaudêncio Torquato – O Estado de S.Paulo, 03/06/2012

“A música tem um espaço no coração das pessoas. É muito usada como paliativo. Hoje, ouve-se música muito mais com a bunda do que com os ouvidos. Há muito mais preocupação em se divertir do que em parar para pensar.”
Dori Caymmi – O Estado de S.Paulo, 04/06/2012

“O que acontece, com o tempo, e não só na carreira, você sente que um estilo funciona para algumas coisas, mas em outras não é bom. Quando se é jovem e impetuoso, o seu estilo precede qualquer coisa, você é sempre a mesma coisa. Depois, com o autoconhecimento, você começa a exercitar perfis diferentes, mesmo que não seja o seu. Quando você fala em liderança, existem perfis de liderança, você é um líder educador num momento, num outro pode ser um líder meio déspota, porque a situação é de crise e é preciso alguém que bata o bumbo. Tem também o líder inspirador. Na realidade, o líder tem de ser tudo, mas cada perfil desses grita mais em determinados momentos. Quanto mais instrumentalizado você está, quanto mais consciente você está de si, você pula de um perfil para outro sob o seu próprio comando. É o autocontrole em cima daquilo que você sabe o que você é.”
Cesar Marinho – O Estado de S.Paulo, 04/06/2012

“‘Um jovem rabino, angustiado com o destino da sua alma, conversava com seu mestre, mais velho e mais sábio, em algum lugar do Leste Europeu entre os séculos 18 e 19. Pergunta o mais jovem: ‘O senhor não teme que quando morrer será indagado por Deus do porquê de não ter conseguido ser um Moisés ou um Elias? Eu sempre temo esse dia’. O mestre teria respondido algo assim: ‘Quando eu morrer e estiver na presença de Deus, não temo que Ele me pergunte pela razão de não ter conseguido ser um Moisés ou um Elias, temo que Ele me pergunte pela razão de eu não ter conseguido ser eu mesmo’. Trata-se de um dos milhares de contos hassídicos, contos esses que compõem a sabedoria do hassidismo, cultura mística judaica que nasce, ‘oficialmente’, com o Rabi Baal Shem Tov, que teria nascido por volta de 1700 na Polônia. […] São muitas as angústias de quem acredita haver um encontro com Deus após a morte. Mas ninguém precisa acreditar em Deus ou num encontro como esse para entender a força de uma narrativa como esta: o primeiro encontro, em nossa vida, que pode vir a ser terrível, é consigo mesmo. Claro que se Deus existe, isso assume dimensões abissais. […] Enfrentar-se a si mesmo, reconhecer suas mazelas, suas inseguranças e ainda assim assumir-se é atravessar um inferno de silêncio e solidão. […] Ao contrário do que dizia o velho Sartre, o inferno não são os outros, mas sim nós mesmos.”
Luiz Felipe Pondé – Folha de S.Paulo, 04/06/2012

“O condomínio fechado é uma privatização do espaço. Isso, para a cidade, não é bom, porque, a partir do momento em que você diz que aqui só entra quem é dono, está dizendo que milhões de pessoas estão ficando fora. Talvez esse milhão de pessoas não fique muito contente. Teses na USP já evidenciaram que, ao mesmo tempo em que cresceram os condomínios fechados, a violência também cresceu. A segregação, tecnicamente, aumenta a violência. Seja a segregação do rico no condomínio, seja a reprodução disso nas camadas mais pobres. A integração é contra a violência.”
Evandro Spinelli – Folha de S.Paulo, 04/06/2012

“O Brasil tem uma grande escolha diante de si. Quem ele quer impressionar? Quer erguer prédios que digam ao mundo quão incrível o Brasil é ou quer construir prédios que mostrem aos próprios brasileiros a força do Brasil? A Olimpíada fracassou, em vários países, em produzir dividendos econômicos e legados depois dos eventos. […] Um teto melhor e um encanamento que funcione não são suficientes para criar uma boa comunidade. Cresci em uma área pobre da periferia de Londres. Não interessava a qualidade da construção, as ruas viviam vazias, era um lugar inseguro, meu único sonho era sair dali. Dependendo de como essas casas sejam construídas, sem urbanismo, sem transporte público, podem virar as favelas do futuro. Sem falar que ainda há muito trabalho para melhorar as favelas já existentes, formalizá-las.”
Cameron Sinclair – Folha de S.Paulo, 05/06/2012

“Você está contente com o seu corpo? Pense bem. Olhe-se bem. Os ingleses não estão. Informa a BBC Brasil que um grupo de deputados auscultou a população nativa a respeito. As conclusões do estudo, intitulado “Reflections on Body Image” (“reflexões sobre a imagem do corpo”), são dramáticas: ninguém gosta da respectiva carcaça. Nas escolas, o cenário é particularmente aterrador: um em cada cinco meninos de 10 anos despreza a própria figura; uma em cada três meninas também. […] Quando existe um horizonte de eternidade pela frente, e quando a eternidade se assume como prolongamento da existência terrena e compensação de suas misérias, é normal que o olhar humano não atribua ao corpo e às suas imperfeições o lugar histérico de hoje. Esse horizonte de eternidade perdeu-se.”
João Pereira Coutinho – Folha de S.Paulo, 05/06/2012

“Emoções existem, sempre existiram, nem a idade nem o controle interior que adquirimos à custa das porradas da vida conseguem riscá-las dentro da gente.”
Carlos Heitor Cony – Folha de S.Paulo, 05/06/2012

“Depois de invadir uma casa e furtar dois envelopes com dinheiro, o ladrão se arrependeu e, além de devolver a maior parte da importância levada, deixou uma carta com pedido de desculpas. O caso, divulgado ontem pela Polícia Civil, aconteceu em Tatuí, a 142 km de São Paulo. […] ‘Te roubei, mas estou devolvendo o dinheiro, pois sou evangélico e conheço as leis de Deus.’ Ele conta como praticou o furto e pede ‘1.000 perdões’. No final, dá um conselho à vítima: ‘Coloque cadeado nas janelas. Abraços.’”
O Estado de S.Paulo, 06/06/2012

“No Dia do Meio Ambiente, os governantes costumam posar para fotos plantando uma árvore. Seria interessante conhecer o destino de todas elas, plantadas em solenidades, talvez abandonadas logo depois. Mas o problema real não é plantar -gesto simbólico positivo-, se não fosse a devastação ambiental que a maioria de seus plantadores pratica nos outros dias do ano. […] Em acelerado retrocesso, vamos à Rio+20. O que se anuncia é um vexame de governos titubeantes diante de uma sociedade mais consciente e exigente. As negociações deixam antever documentos sem metas ou ações efetivas. A opinião pública global reclama por isso, enquanto os governos e seus operadores se empenham para baixar as expectativas. Resta-nos a tarefa de continuar alertando para os graves problemas da perda de biodiversidade, da desertificação e do aquecimento do clima -há 20 anos anunciados como a mais perigosa ameaça ao equilíbrio da Terra. Tudo isso se mantém no mais alto nível de risco à manutenção da vida. Por isso, a cobrança por medidas urgentes, urgentíssimas e efetivas, para enfrentar esses graves problemas, deve permanecer no patamar mais elevado de nossas exigências éticas e políticas.”
Marina Silva – Folha de S.Paulo, 08/06/2012

“Contra todas as advertências, o homem está fazendo o possível para arruinar de vez o burgo que teve a infelicidade de abrigá-lo. É só atentar para certos números revelados há pouco pela ONU. Em 2050, a população mundial (que hoje é de 7 bilhões) chegará a 9 bilhões, dos quais 6,3 bilhões viverão em cidades (quase o dobro dos 3,5 bilhões atuais). Significa que áreas do tamanho de vários países europeus somados serão desmatadas, urbanizadas e tomadas por automóveis, tendo a bordo uma nova e monumental classe média faminta de consumo, produtora de lixo e cega para as consequências de sua fúria predatória.”
Ruy Castro – Folha de S.Paulo, 08/06/2012

“O diálogo entre as religiões não pode ser uma simples comparação de hierarquias de valores. Um diálogo é autêntico quando acolhemos o outro, sem anular as diferenças. Creio que seja este, hoje, o desafio para todas as grandes religiões.”
Mauro Maldonato – Folha de S.Paulo, 09/06/2012

“Os autistas são estrangeiros onde quer que estejam. Nosso mundo para eles é assustador. Mas nós podemos buscá-los. Quem trata esse tipo de alteração precisa gostar muito de gente. É preciso exercitar a solidariedade.”
Ana Beatriz Barbosa – Folha de S.Paulo, 09/06/2012

“Os EUA perdem mais membros do Exército em suicídios do que em combate. O número chegou a 154 nos cinco primeiros meses deste ano, média de aproximadamente um por dia, contra 130 no mesmo período do ano passado.”
O Estado de S.Paulo, 09/06/2012

“No Ocidente, temos vivido desde o século 20 a desconstrução dos valores tradicionais. Ela teve efeitos negativos, mas também formidavelmente positivos, em especial para os homossexuais e as mulheres. Observe que um país como a Suíça, o último cantão a conceder o direito de voto às mulheres o fez, pense bem, em 29 de abril de 1991! Isso quer dizer que, até então, as mulheres ainda eram vistas como crianças. Na França, foi um pouco mais cedo, mas, enfim, foi preciso esperar o fim da 2ª Guerra para que as mulheres tivessem direito de voto. Quanto aos homossexuais, lembre-se que a Organização Mundial de Saúde definia a homossexualidade como doença até 1990! Sim, nosso mundo ocidental mudou mais nos 50 anos da segunda metade do século 20 do que nos 500 anos anteriores! […] O verdadeiro motor da desconstrução dos valores tradicionais foi o capitalismo moderno.”
Luc Ferry – O Estado de S.Paulo, 09/06/2012

09ª semana de 2012

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“O capital financeiro é hoje importante como nunca foi. […] Sou otimista no sentido de que acredito que as pessoas vão reconhecer que há limites sérios no capitalismo e que é preciso considerar modos alternativos.”
David Harvey – Folha de S.Paulo, 26/02/2012

“Estudos populacionais mostram que a maioria de nós passou ou passará por eventos traumáticos. Quando o indivíduo consegue processar essa notícia negativa de maneira a construir uma aliança de aprendizado, ele desenvolve algo chamado ‘resiliência’. Na física, é o nome que se dá à capacidade de um corpo de voltar à forma natural depois de sofrer uma deformação causada pela força de um agente externo. […] A superação de um trauma anda de mãos dadas com o fortalecimento do caráter e das virtudes, as pessoas se descobrem melhores depois.”
Júlio Peres, Revista Época – 27/02/12

“Existe uma distinção muito grande entre religião e espiritualidade. Religião é uma coisa às vezes perigosa, manipuladora, cheia de ‘não faça isso’, ‘não pode aquilo’. Uma religião pode até conduzir para o sentido contrário da espiritualidade. Respeito todas as religiões, mas acho que só vale o que nos coloca em contato com uma coisa maior. Só a troca nos coloca numa outra dimensão. A troca é o amor, a caridade. Tirar o foco de você e se doar, entrar numa outra sintonia. Como acredito no amor, a imagem que mais me alimenta é a do Cristo. Não me fiz de vítima. Achava que minha jornada seria tão enriquecedora que no final eu acharia tudo uma bênção. Como acho mesmo. Tive a oportunidade de ver como eu podia mudar tanta coisa.”
Reynaldo Gianecchini, Revista Época – 27/02/12

“Passamos a ver as crianças como seres muito frágeis, prestando atenção a tudo o que diz respeito a seu corpo e a seu espírito. O resultado é um estilo de educação que acaba por escravizar os pais.”
Pamela Druckerman, Revista Época – 27/02/12

“Os pais não sabem se delegam para a escola (que já reclama da sobrecarga de responsabilidades) ou se terceirizam a resolução dos problemas para os terapeutas. No baile dos perdidos, os conflitos geracionais ganham escala.”
Jairo Bouer, Revista Época – 27/02/12

“Ambientalista é, hoje, um rótulo muito elástico, diferente do que era há 30 anos. Por isso, o ambientalismo está diante de uma tarefa: se reinventar. Por que, às vezes, a gente enfrenta dificuldades? Porque, muitas vezes, as explicações não são lineares. Você diz que algo vai acontecer, e não acontece. Veja a questão do aquecimento global. O tema é complexo, mas acho que o setor empresarial é outro hoje. Dificilmente uam empresa de nome não está preocupada com a gestão ambiental, é uma questão da comunidade. Avançar nisso exige mais tempo.”
Fabio Feldmann – O Estado de S. Paulo, 27/02/2012

“Os líderes têm de ser mais inovadores, pois o planeta está se tornando cada vez mais complexo e os negócios precisam se adaptar rapidamente. E têm de ser humanos, buscando harmonia no ambiente de trabalho. As pessoas se preocupam cada vez mais com o significado e procuram empresas que preencham sua visão de mundo.”
Peter Rodriguez, diretor da escola de negócios da Universidade da Virgínia, Revista Você S/A – fevereiro de 2012

“Ter sido arrancado de uma porção de coisas sem sair do lugar: eis uma descrição precisa e pungente do estado psíquico do enlutado. A perda de um ser amado não é apenas a perda do objeto, é também a perda do lugar que o sobrevivente ocupava junto ao morto.”
Maria Rita Kehl, psicanalista – Revista Cult – fevereiro de 2012

“A carreira não deve ser pensada ou planejada como um projeto do indivíduo, mas sim como um projeto do casal. […] De nada adiantará acumular riquezas e conquistar a tranquilidade da aposentadoria se, lá na frente, a única coisa a que você terá acostumado seu corpo e sua mente a sentir falta for o trabalho.”
Gustavo Cerbasi – Folha de S.Paulo, 27/02/2012

“Se Freud já dizia que pessoas adultas são uma raridade, hoje ficaria chocado com o fato de que infantilidade se tornou um direito de todo cidadão. A maior desgraça da democracia, dizia Nelson Rodrigues, é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas, que são a maioria da humanidade.”
Luiz Felipe Pondé – Folha de S.Paulo, 27/02/2012

“Na Espanha, o desemprego entre pessoas de 16 a 24 anos se aproxima dos 50%. Essa taxa é de 48% na Grécia, e de 30% em Portugal e na Itália. Aqui no Reino Unido, ela fica em 23,3%. A falta de oportunidades está alimentando uma crescente sensação de alienação e raiva entre os jovens de toda a Europa -um estado de ânimo que ameaça envenenar as aspirações de uma geração, e que já alimentou vários protestos violentos de Londres a Atenas.”
Landon Thomas Jr. – The New York Times/Folha de S.Paulo, 27/02/2012

“A produtividade das empresas aumentaria se o trabalho em casa fosse permitido, pois evitaria estresse e perda de tempo no trânsito, segundo 51% das 1.200 pessoas abordadas pela companhia de recrutamento Monster. Para 44%, o ideal é trabalhar em casa e ir ocasionalmente à empresa. Cerca de 6% responderam que essa modalidade não funcionaria, pois se sentiriam dispersos.”
Maria Cristina Frias – Folha de S.Paulo, 28/02/2012

“As pessoas não acreditam mais no ‘felizes para sempre’. Então, trocam o eterno pelo intenso, querem algo que as deixe muito loucas, como uma droga, ou as leve a estados profundos de desespero. Isso traz outra dificuldade, que é o ideal do amor extraordinário, fora do comum. Não temos, ou não usamos, referências do amor ordinário, que é o amor que temos na vida real, com alguns altos e baixos, mas, na maioria das vezes, com seus platôs.”
Lisa Appignanesi – Folha de S.Paulo, 28/02/2012

“Seja autêntico. Não é possível contar uma história que não seja a sua. É possível enfatizar uma ou outra característica da sua história, mas não faz sentido contar histórias de pessoas, de projetos e de empresas perfeitas ou inventadas. As histórias autênticas e imperfeitas viram excepcionais ao serem contadas exatamente como são. No conjunto dos fatos, ou mesmo com o tempo, as pessoas facilmente percebem histórias que não são autênticas e isso mina a base de toda comunicação eficaz: a confiança. Um dos melhores comunicadores dos nossos tempos, o ex-presidente Lula, talvez seja o melhor exemplo disso. Ao se comunicar, é emotivo, por vezes impulsivo e muito simples e direto. Não construiu um estilo pseudorrebuscado e frio, conta sempre histórias diretas e simples, condizentes com sua personalidade e sua história de vida.”
Julio Vasconcellos – Folha de S.Paulo, 01/03/2012

“Quase 60% das mulheres estão insatisfeitas com o trabalho, segundo pesquisa da empresa de consultoria de gestão e serviços de tecnologia Accenture com mais de mil executivas em 31 países, incluindo o Brasil. O trabalho, que ouviu no total 3.900 executivos, incluindo homens, conclui que mais de 40% dos entrevistados avaliam a falta de oportunidade e de um plano de carreira como obstáculo. Apenas 20% citam as barreiras familiares. Apesar do descontentamento com o trabalho, mais de dois terços disseram que não pretendem deixar os empregos atuais.”
Maria Cristina Frias – Folha de S.Paulo, 02/03/2012

52ª semana de 2011

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“Nesta época é comum ver, além das retrospectivas, os apelos piegas ao tal espírito natalino, abusos de expressões como “renovar esperanças”, previsões furadas de astrólogos, tarólogos e outros loucos, textos que lamentam onde estão os natais d’antanho, mensagens de boas festas com listas de virtudes. Meu impulso é perguntar por que as pessoas não procuram ser assim o ano todo, e não apenas no solstício que foi apropriado pela religião e pelo folclore para se tornar uma data paradoxal em que se discursa sobre bons sentimentos enquanto se consome em ritmo febril. E então me ponho a pensar em como generosidade e respeito, para ficar só nesses dois itens, andam em falta nos tempos atuais, especialmente nas grandes cidades, e em como a tecnologia que deveria nos aproximar nos tem dispersado. Mas lembro os Natais de infância, comparo com o dos meus filhos e as diferenças se tornam irrelevantes, porque os prazeres e as questões são muito parecidos. E os dias deliciosamente desocupados, desacelerados, convidam ao balanço do ano, ainda que tenha tido tantas tristezas em meu caso, e sem balanço não há avanço.
Somos carne e pensamento, um não se dissocia do outro, e do mesmo modo o Natal é ficar feliz em dar e receber presentes, é ver as crianças alegres com o que ganham e pronto, sem místicas nem melancolias.”
Daniel Piza, O Estado de S. Paulo, 25/12/2011

“Natal é festa polissêmica. De certo modo, desconfortável. Para os cristãos, comemoração do nascimento de Jesus. Para o comércio, ocasião de promissoras vendas. Para uns tantos, miniférias de fim de ano. Para o Peru, dia de finados. O desconforto resulta da obrigatoriedade de dar presentes a quem não amamos, mal conhecemos ou fingimos amizade. Transferido o presépio de Belém para o balcão das lojas, a festa perde progressivamente caráter religioso. O Menino da manjedoura, que evoca o sentido da existência, cede lugar ao velho barbudo e barrigudo, que simboliza o fetiche da mercadoria. Proliferam-se novas modalidades de aspirar ao Transcendente, da aeróbica litúrgica às meditações orientais. Nunca houve, na expressão de Rimbaud, tanta ‘gula de Deus’. I Ching, astrologia, búzios, tarô etc., são vias pelas quais se tenta encontrar-se segurança diante do futuro imprevisível. […] Isso é Natal. Uma festa rara no mais profundo de si mesmo, na qual as pessoas se fazem presentes umas às outras e entre as quais o amor refulge como uma estrela. Essa festa não tem data e é celebrada cada vez que há encontro em clima de afeto e sabor de comunhão.”
Frei Betto – Revista Caros Amigos, dezembro de 2011

“Muita gente vive sem crise sem acreditar em coisa nenhuma ‘do outro mundo’. Isso não significa que ela seja sempre feliz (tampouco os religiosos o são), a (in)felicidade depende de inúmeros fatores.”
Luiz Felipe Pondé – Folha de S.Paulo, 26/12/2011

“Queria ficar sozinho para pensar que o mundo está cheio de mortos que ainda não sabem que morreram.”
Carlos Heitor Cony – Folha de S.Paulo, 27/12/2011

“O parlamentar (Jean Wyllys) reconhece que não se pode proibir religiosos de pregar de seus púlpitos contra o homossexualismo e que seria ridículo até mesmo tentar vetar impropérios como “veado” numa partida de futebol. […]Por alguma razão, porém, militantes preferem alocar suas energias na criação de novas leis, em vez de empenhar-se em exigir o cumprimento das normas já existentes. Eles parecem esquecer-se da sábia lição do marquês de Beccaria, que já no século 18 ensinava que multiplicar leis penais significa apenas multiplicar violações à lei, não evitar crimes.”
Hélio Schwartsman – Folha de S.Paulo, 27/12/2011

“Uma pesquisa feita com mil pessoas entre setembro e outubro pela consultoria OThink, de gestão de negócios, apontou que 18% dos entrevistados acreditam que os filhos, netos e bisnetos terão a mesma religião que eles em 2050. Para 27%, os descendentes terão uma religião diferente. E 55% responderam não saber se seus herdeiros seguirão a mesma fé. As mulheres são mais confiantes que os homens de que seus filhos e netos seguirão a religião que elas adotaram: 22%, contra 16% dos homens. A chamada ‘classe A’ é a que menos acredita que a religião de seus descendentes continuará a mesma da deles: 16%, contra 21% da faixa de população definida como ‘classe C’.”
Mônica Bergamo – Folha de S.Paulo, 27/12/2011

“A capacidade de comunicar é a base de nossa existência coletiva. Quando ela evolui, tudo evolui. Pela primeira vez na história da humanidade todos temos a capacidade de nos comunicar com todos o tempo todo, de qualquer lugar. O poder dessa comunicação total é total. Vai mudar tudo, está mudando. Olhe para si e veja como sua vida mudou de uns anos para cá. Então sonhe, prepare-se, isso é só o começo. […] O Brasil nunca nos deu tantas oportunidades. O mundo nunca nos deu tantas oportunidades. A tecnologia nunca nos deu tantas oportunidades. A revolução continua.”
Nizan Guanaes – Folha de S.Paulo, 27/12/2011

“A crise das relações modernas está, como o título indica, nas “expectativas extravagantes” que os americanos -e, desconfio, os ocidentais em geral- transportam para o matrimônio. Na conjugalidade, o casal não conhece limites em seus desejos contraditórios. Reclama doses homéricas de paixão e de razão; de aventura permanente mas também de segurança permanente; de estabilidade emocional e de excitação emocional; de beleza física e de intelecto apurado. Haverá relação que aguente o peso dessas expectativas? […]Hoje, os ocidentais desejam que as relações íntimas possam suprir todas as exigências que anteriormente estavam repartidas por várias esferas da sociedade. O casamento não comporta essas exigências múltiplas e contraditórias. A pessoa com quem casamos não consegue reunir as qualidades perfeitas de amante, amigo, confessor, professor, guia turístico, estátua grega e terapeuta. No Ocidente pós-moderno, a taxa de divórcio não para de subir. Brasil incluso. Um cínico diria que o fenômeno tem explicação simples: as pessoas divorciam-se porque podem. Mas é possível oferecer uma explicação alternativa: as pessoas divorciam-se porque casam. E não há casamento que resista quando se exige dele tudo e o seu contrário.”
João Pereira Coutinho – Folha de S.Paulo, 27/12/2011

“Acreditar faz parte da aventura humana na qual nenhum de nós entra por querer.”
Roberto Damatta, O Estado de S. Paulo, 28/12/2011

“ ‘Para o inglês, tudo é permitido, exceto o proibido. Para o alemão, tudo é proibido, exceto o permitido. E, para o italiano, tudo o que é proibido é permitido.’ Ao comentário do matemático John von Neumann (1903-57), poderíamos acrescentar que, para os franceses, o bom talvez seja o proibido e que, para os gregos, permitido e proibido são só palavras que dependem de muitas coisas.”
Fernando Canzian – Folha de S.Paulo, 28/12/2011

“Apesar dos avanços registrados na década passada, mais de 1 milhão de crianças de 10 a 14 anos, ou 6% do total, ainda trabalhavam no Brasil em 2010. Tabulações feitas pela Folha no Censo do IBGE mostram que o problema é mais grave no Norte, onde praticamente uma em cada dez crianças exerce atividade econômica remunerada ou não.
Especialistas afirmam que, para cumprir a meta assumida internacionalmente de erradicar o trabalho infantil do país até 2020, será necessário um esforço adicional. […] A pesquisa revela também que as ocupações mais comuns de crianças estão na agricultura e na pecuária.”
Antônio Gois, Luiza Abndeira e Matheus Magenta – Folha de S.Paulo, 28/12/2011

“Segundo o economista André Gamerman, da Opus Investimentos, é o crescimento menor da renda do que das dívidas. Neste ano, a dívida das famílias cresceu 17%. A renda, 6%. O economista Wermeson França, da LCA Consultores, observa que o crédito também ficou mais caro.”
Folha de S.Paulo, 28/12/2011

50ª semana de 2011

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“O ser humano é um animal acreditador. Talvez esse seja um bom modo de definir nossa espécie. ‘Humanos são primatas com autoconsciência e a habilidade de acreditar.’ Já que ” acreditar” sempre pede um ‘em quê?’, refiro-me aqui a acreditar em poderes que transcendem a percepção do real, algo além da dimensão da vida ordinária, além do que podemos perceber apenas com nossos sentidos. […] Parece que somos incapazes de viver nossas vidas sem acreditar na existência de algo maior do que nós, algo além do ‘meramente’ humano. Bem, nem todos nós, mas a maioria. Isso desde muito tempo.”
Marcelo Gleiser – Folha de S.Paulo, 11/12/2011

“‘Ensinar é uma experiência humana’, disse ao Times Paul Thomas, professor associado de educação na Universidade Furman, na Carolina do Sul. ‘A tecnologia é uma distração quando precisamos de alfabetização, raciocínio matemático e pensamento crítico’.”
Kevin Delaney – Folha de S.Paulo, 12/12/2011

“A melhor forma de manter a dignidade na era do Facebook (se você não resistir a ter um) é não contar para ninguém que você tem um Facebook. Quase tudo é bobagem nas redes sociais porque o ser humano é banal e vive uma vida quase sempre monótona e previsível. E a monotonia é o traje cotidiano do vazio. E a rotina é o modo civilizado de enfrentar o caos, outra face do vazio. […] Sempre se soube que não basta à mulher de Cesar ser honesta, ela tem que parecer honesta, portanto, a imagem de honesta é mais importante do que a honestidade em si. Mas aqui, o foco é diferente: aqui a questão é a hipocrisia como substância da moral pública. Todo mundo sabe que a mentira é a mola essencial do convívio civilizado. […] Resistir ao desejo talvez seja uma das formas mais discretas de amar a vida.”
Luiz Felipe Pondé – Folha de S.Paulo, 12/12/2011

“Se a ideia, como defendeu o ministro da Saúde, é utilizar o instrumento apenas em situações nas quais há risco de vida imediato para o dependente, a figura jurídica da internação involuntária, prevista na lei n° 10.216/01, é desnecessária. Basta encaminhar o paciente em emergência relacionada a drogas -que, em geral, está inconsciente- para o hospital e, dois ou três dias depois, quando estiver estabilizado e já não houver perigo iminente, oferecer-lhe a oportunidade de tratamento psiquiátrico. Se ele quiser, submete-se a uma internação voluntária e, se não quiser, volta para casa ou para as ruas, como é mais comum. É claro que essa não é uma solução perfeita, pois uma das características da compulsão por drogas é não querer afastar-se delas. É até verossímil que exista um grupo de dependentes que, do ponto de vista sanitário, poderia beneficiar-se de tratamento a contragosto. O problema é que há mais coisas envolvidas aqui do que a saúde deste ou daquele paciente. Em termos institucionais, incentivar o uso de internações involuntárias é perigoso. Trata-se, afinal, do equivalente jurídico de um artefato nuclear, uma ferramenta que permite a um médico qualquer decidir que alguém precisa de tratamento e assim privá-lo de sua liberdade indefinidamente e sem direito a contraditório. Os controles externos são poucos e fracos e, se o sujeito não tem família, não haverá quem represente seus interesses contra o médico.”
Hélio Schwartsman – Folha de S.Paulo, 13/12/2011

“Um estudo demográfico, elaborado pelo Conselho Federal de Medicina e a regional de São Paulo, acaba de ser publicado e expõe a desigualdade na oferta de médicos pelo País. Não existem surpresas, mas há muito para se refletir. O levantamento coordenado pelo pesquisador Mario Scheffer aponta a existência de 371.788 médicos na ativa no Brasil, número que quintuplicou nos últimos 40 anos, enquanto a população brasileira apenas dobrou. A relação médico/habitante dobrou, chegando este ano a 1,95 médico para cada 100 mil habitantes. Nas escolas médicas, as mulheres são maioria. Ainda ssim, por mais 20 anos a profissão continuará sendo exercida por uma maioria de homens, que hoje ocupam 60% do mercado. Os médicos são jovens, em sua maioria, 50% deles têm menos de 40 anos. A média de idade é de 46 anos. Entre os jovens, predominam as mulheres. A idade média é de 42 anos, e quase 70% delas estão na faixa entre 30 e 55 anos. Esses números mostram que o Brasil continua carente de médicos. Além disso, a distribuição desses médicos provoca diferenças alarmantes. Em todo o País, as capitais detêm a maioria deles. Nos estados mais pobres essa diferença é ainda maior. […] Os estados do Norte têm poucos cursos médicos e são os que têm a maior demanda. O problema lá também é a oferta de postos na área de saúde, que está entre as piores da federação. O governo tem a meta de fazer o Brasil ter a mesma proporção de médicos que os países europeus e os Estados Unidos, perto de 2,5 médicos por 100 mil habitantes. O Sudeste já possui 2,6; o Norte tem apenas 0,96. Nas cidades do interior, a carência é ainda maior.”
Rogério Tuma, Revista Carta Capital, 14/12/2011

“Conheço pessoas que souberam lidar bem com as dificuldades naturais de suas existências e conheço outras que se transformaram em vítimas tristes nas mesmas condições. É claro que há situações de extrema dificuldade, e negar a tristeza que vem junto é negar a própria condição humana. […] Encontrei pessoas de bem com a vida nas grandes cidades, trabalhando em imensas corporações. Encontrei-as também em pequenas vilas do interior ou do litoral. Em lugares pobres e em ligares ricos. Em tempos de tranquilidade e em temos de crise. Ou seja, em todos os lugares. E também encontrei pessoas de mal com a vida. Onde? Exatamente nos mesmos lugares. Esse talvez seja um dos grandes mistérios da psicologia humana. O que faz a diferença entre esses dois tipos de indivíduos? Será sua genética ou terá sido sua educação?”
Eugenio Mussak, Revista Vida Simples – dezembro de 2011

49ª semana de 2011

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“A literatura brasileira demonstra que 70% da performance escolar é determinada pelo “background” familiar, pelo tipo de educação do pai e especialmente da mãe, pela renda da família etc.”
Marcelo Neri – Folha de S.Paulo, 04/12/2011

“Com a globalização, nossos maiores problemas passaram a operar em escala global. A mudança climática, o terrorismo, os desequilíbrios comerciais, nada disso afeta apenas um país. O problema é que estamos enfrentando a nova realidade com instituições anacrônicas, de 200 anos atrás.”
Ian Morris, 51, historiador e arqueólogo, Revista Veja – 07/12/2011

“O medo da lei é insuficiente para que ela seja respeitada. É preciso que ela seja acatada por conter no seu bojo o que é eticamente adequado como reflexo do querer social.”
Antônio Cláudio de Oliveira – O Estado de S.Paulo, 07/12/2011

“Os meninos que cresceram em torno do tráfico nas favelas cariocas interpretam papéis parecidos. Seja como usuários, ‘formiguinhas’ (passadores de pequenas quantidades) ou trabalhando na segurança das gangues, só conheceram a realidade da droga. Com a vitoriosa implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), seu modo de vida foi subitamente desarticulado. Eles podem ter abandonado o uso ou a venda de drogas, mas é importante que as UPPs Sociais, encarregadas de reencaminhar esses jovens, não custem a lhes oferecer oportunidades reais de aprendizado e trabalho -em departamentos que não tenham nada a ver com seu antigo universo. Não basta tirar a droga do sistema deles. Há que substituí-la por algo diferente e melhor.”
Ruy Castro – Folha de S.Paulo, 07/12/2011

“A expansão do ensino superior no Brasil saltou de 1,945 milhão de matrículas em 1998 para 6.379.299 em 2010. Desse volume de matrículas, 4.736.001, perto de 75%, pertencem às instituições privadas. A pós-graduação cresceu mais de 150% em menos de dez anos. São 173 mil matrículas, sendo 144.911 (95%) em instituições públicas. Titula 50 mil mestres e doutores por ano, com um padrão de qualidade internacional. Mas se o aumento dos pesquisadores no Brasil é comemorado como um bem nacional, o do número de graduados nem tanto. […] No Brasil, a universalidade do acesso ao ensino superior é, de fato, um problema. Temos menos de 16% da população de 18 a 24 anos matriculada em cursos superiores. Perdemos do Paraguai (18%) e da Argentina (48%), passamos longe de Portugal (50%) e não conseguimos divisar a Coreia (78%). […] A dimensão do sistema de ensino superior brasileiro não pode, na direção e na velocidade econômica que o país necessita, representar, apenas, milhões de matriculas.”
Luiz Roberto Liza Curi, sociólogo – Folha de S.Paulo, 09/12/2011

“Dogmas vão contra tudo o que sabemos sobre o mundo. Virgens não costumam dar à luz e pessoas não saem por aí ressuscitando. Em contextos normais, um homem que veste saias e proclama transformar vinho em sangue seria internado. Quando se trata de religião, porém, aceitamos violações à física e à lógica. Por quê? Ou Deus existe e espera de nós atitudes exóticas -e inconsistentes de uma fé para outra-, ou o problema está em nós, mais especificamente em nossos cérebros, que fazem coisas esquisitas no modo religioso. Ateus privilegiam a ciência e a lógica, ao passo que crentes dão mais ênfase a suas intuições, que estão sempre a buscar padrões e a criar agentes. Posta nesses termos, fé e ceticismo se tornam um amálgama de influências genéticas e culturais difícil de destrinchar – e de modificar. Como bom ateu liberal, aplaudo avanços no secularismo, já que contrabalançam o lado exclusivista das religiões, que não raro degenera em violência e obscurantismo. Mas, ao contrário de colegas mais veementes, acho que a religião, a exemplo do que se dá com filatelia, literatura e sexo, pode, se bem usada, ser fonte legítima de bem-estar e prazer.”
Hélio Schwartsman – Folha de S.Paulo, 10/12/2011

“Uma posição totalmente racionalista é irracional. Há um lado da experiência humana que é misterioso. Sou cartesiano com pitada de candomblé.”
Fernando Henrique Cardoso – Folha de S.Paulo, 10/12/2011

“Sua fragmentação gera imprevisibilidade. Uma Europa unida é um ator único com quem é fácil dialogar, onde radicalismos locais são atenuados pela média dos demais membros. Fragmentada, são 27 países com agendas em conflito e onde o protecionismo e nacionalismo de um único país pode forçar os demais a decisões extremas.”
Gustavo Romano – Folha de S.Paulo, 10/12/2011

“O que você deixa de fazer pode feri-lo. Oportunidades perdidas levam a arrependimento mais tarde. […] Não fazer nada é fácil. É, muitas vezes, um erro invisível – um pecado de omissão. Para agir, é preciso coragem. Para inovar, ainda mais coragem. E, hoje, coragem parece um recurso escasso. À espera de que estão nossos líderes? Sem ação ousada e inovação, de que maneira economias em apuros escaparão do declínio? A coragem torna a mudança possível. É preciso coragem intelectual para questionar velhas verdades e imaginar novas possibilidades. […] Faço um apelo para a coragem na liderança: não deixar problema sem solução. Não deixar oportunidade inexplorada. Não deixar ideia definhando.”
Rosabeth Moss Kanter, professora de administração da Harvard Business School, nos EUA – Harvard Business Review – dezembro de 2011

33ª semana de 2011

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“O aumento do número de suicídios entre os jovens não é exclusividade do Brasil, acontece em diversos países. Mas qual seria a explicação? Não há causa única, mas uma série de fatores combinados. Os transtornos psiquiátricos são uma das principais causas, e a depressão é a mais importante delas. Por isso, qualquer alteração significativa do comportamento merece avaliação. Mas não é apenas a depressão que leva o jovem ao suicídio. No Japão, por exemplo, o alto grau de exigência no desempenho escolar, as cobranças excessivas por parte da família, o medo de fracassar e não atender às expectativas sociais e a alta competitividade também são fatores. […] No Brasil, há um risco maior nos jovens de populações indígenas, em pessoas que já tentaram suicídio ou de famílias em que alguém se matou, em jovens que fazem parte de minorias sexuais (adolescentes gays se matam mais do que heterossexuais), vítimas frequentes de bullying e de violência. Em comum, a sensação de que as dificuldades e as barreiras são tão grandes que não vale a pena lutar.”
Jairo Bouer – Folha de S.Paulo, 15/08/2011

“A vida é feita de escolhas. Uma das escolhas mais sérias na vida é o modo como vivemos a vida, se como graça ou como natureza.”
Luiz Felipe Pondé – Folha de S.Paulo, 15/08/2011

“Os periódicos científicos, onde pesquisadores publicam seus estudos, têm ganhado em importância. A tal ponto que, no Brasil, seguindo países como Holanda e EUA, alguns programas de pós-graduação já substituem a obrigação de escrever uma tese por artigos científicos. […] Hoje, o Brasil está em 13º lugar no mundo em quantidade de artigos publicados. […] Quem publicar mais nos melhores periódicos, ganha nota mais alta. E quem tiver as notas mais altas, recebe mais recursos, como bolsas.
A ligação direta entre a publicação de artigos e distribuição do dinheiro público para ciência tem tirado o sono dos pesquisadores, principalmente daqueles cujas revistas correspondentes à sua área não estão no topo.”
Sabine Righetti – Folha de S.Paulo, 15/08/2011

“Nos dados sobre religião da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), do IBGE, que pesquisou o tema em 2003 e 2009. No período, só entre evangélicos, a fatia dos que se disseram sem vínculo institucional foi de 4% para 14% -um salto de mais de 4 milhões de pessoas. […] Para especialistas consultados pela Folha, a pesquisa, feita a partir de amostra de 56 mil entrevistas, é suficiente para dar boas pistas do movimento.
O pesquisador Ricardo Mariano, da PUC-RS, reconhece que vem ocorrendo aumento de protestantes e pentecostais sem vínculos institucionais, ainda que ele tenha dúvidas se o crescimento foi mesmo tão intenso quanto o revelado pelo IBGE. […] De acordo com o professor, parte dos evangélicos adota o ‘Believing without belonging’ (crer sem pertencer), expressão cunhada pela socióloga britânica Grace Davie sobre o esvaziamento das igrejas ao mesmo tempo em que se mantêm as crenças religiosas na Europa Ocidental. Para a antropóloga Regina Novaes, uma pergunta que a pesquisa levanta é se este ‘evangélico genérico’ tem semelhanças com o católico não praticante. Para ela, ‘ambos usufruem de rituais e serviços religiosos mas se sentem livres para ir e vir’. […] Outro dado interessante da POF é que aumentou o número dos que declararam uma religião não identificada pelos pesquisadores, o que indica que na década passada mais igrejas surgiram e passaram a disputar o “supermercado da fé”, na expressão depreciativa utilizada pelo papa Bento 16.”
Antônio Gois e Hélio Schwartsman – Folha de S.Paulo, 15/08/2011

“Ferimentos a bala são parte da rotina. As vítimas da guerra civil estão sempre nos nossos corredores. Já vi um mesmo cirurgião atender até dez num único dia.
Crianças em estado de desnutrição extrema, muitos casos de malária, doenças respiratórias. As principais vítimas são as crianças. Elas sofrem com a ignorância dos pais. A falta de educação também é uma epidemia, porque tem um impacto direto na saúde.”
Abdirizak Ali Mohamed, 22, estudante de medicina na Universidade Benadir em entrevista para Marcelo Ninio – Folha de S.Paulo, 16/08/2011

“Um dos sinais de inteligência de um bom líder é a capacidade de perceber antes dos outros o fim e o início de cada um dos estágios de sua carreira. Há muito de emocional nessa capacidade.”
Betania Tanure – Valor, 19/08/2011

“Valores como justiça, liberdade e dignidade não são ocidentais ou orientais, nem dependem de uma religião ou crença, disse minha amiga. São apenas valores humanos, mas a história da humanidade é uma sucessão interminável de calamidades e injustiças. Meus clientes são jovens franceses e imigrantes, todos desempregados. Depois de conhecer a vida deles, tento entender o nosso tempo, que não me orgulha nem um pouco. A maioria das pessoas vê esses desempregados e drogados como seres maléficos à sociedade. Eu os vejo como jovens sem qualquer perspectiva de futuro, derrotados antes mesmo de entrar na dança da vida.”
Milton Hatoum – O Estado de S. Paulo, 19/08/2011

“A matemática continua sendo a disciplina do currículo básico com os índices de aproveitamento mais baixos nas avaliações institucionais. […] O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que avalia o desempenho em leitura, matemática e ciências de jovens de 15 anos, coloca o Brasil nas últimas posições, num ranking de 65 países. Quatro em cada 10 jovens brasileiros nessa faixa etária não sabem multiplicar. […] O problema é antigo e preocupante, pois a má qualidade do ensino de matemática é um dos fatores que vêm limitando a formação de engenheiros em número suficiente para atender às necessidades da economia nacional. Em 2008, os cursos de engenharia ofereceram 239 mil vagas, mas só foram preenchidas 140 mil. Ou seja, não faltam vagas nas universidades – faltam, sim, vestibulandos com conhecimento mínimo de matemática. O País forma cerca de 47 mil engenheiros por ano, ante 650 mil, na China, e 220 mil, na Índia.”
O Estado de S. Paulo, 19/08/2011

“O Facebook, rede social criada por Mark Zuckerberg, atingiu a marca de 25 milhões de usuários no País. Apesar da penetração relativamente baixa em razão da concorrência do Orkut – que ainda é o líder nacional -, o Brasil já é um mercado ‘top 5’ em termos absolutos para o site, afirmou ontem o vice-presidente da empresa para a América Latina, Alexandre Hohagen.”
Alexandre Matias – O Estado de S. Paulo, 19/08/2011

25 de novembro de 2010

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“Olhando para trás, descubro (com certo orgulho) que, ao longo da vida, fiz inúmeras concessões, inclusive na hora de escolhas fundamentais. […] Muitas vezes lamento não ter sabido fazer as concessões necessárias, por exemplo, na hora de ajustar meu desejo ao desejo de pessoas que amava e de quem, portanto, tive que me afastar. […] A coerência é uma virtude só para quem se orienta por princípios. Para o indivíduo moral, que se orienta (e desorienta) por dilemas, a coerência não é uma virtude, ao contrário, é uma fuga (um tanto covarde) da complexidade concreta. Oscar Wilde, que é um grande fustigador de nossas falsas certezas morais, disse que “a coerência é o último refúgio de quem tem pouca fantasia” e, eu acrescentaria, de quem tem pouca coragem.”

Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo – 25/11/2010

 

“O foco da igreja deve ser a humanização da sexualidade, o que significa basicamente que se sexo é barato e amor é caro, o primeiro sem o segundo sempre corre o risco de ser degradante. […] Ninguém quer pensar porque é ‘feio’ dizer que a “vida como balada” é um beco sem saída. Mas é exatamente aí que a igreja destoa e por isso se torna essencial, para além das crenças de cada um.”

Luiz Felipe Pondé, Folha de S.Paulo – 25/11/2010

 

“Já não são princípios religiosos que norteiam a nossa vida. Desestimulados ao altruísmo e à solidariedade, centramos a existência no próprio umbigo – o que certamente explica, na expressão de Freud, ‘o mal-estar da civilização’, hoje acrescido desse vazio interior que gera tanta angústia, ansiedade e depressão.”

Frei Betto, Revista Caros Amigos – novembro de 2010

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