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46ª semana de 2013

“Uma mulher vitimada pelo estupro não é só alguém manchada na honra, mas alguém temporariamente alienada da existência. Honra, dignidade, autonomia são ignoradas pelo estuprador, é verdade. Mas o estupro vai além: é um ato violento de demarcação do patriarcado nas entranhas das mulheres. É real e simbólico. Age em cada mulher vitimada, mas em todas as mulheres submetidas ao regime de dominação.”

Debora Diniz, O Estado de S.Paulo – 10/11/2013

 

“E a política para trazer montadoras, para produzir carros caros e com alto consumo de gasolina, com potência para 350 km/h – mas você anda a 40 km/h? É o auge do supérfluo.

PARA ONDE VOCÊ VAI?

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Tomar decisões tem sido algo aflitivo para a maioria das pessoas. Por conseguinte, geradora de enorme ansiedade.
Sem dúvida, o excesso de opções não facilita o processo. Há a angústia de ter de abrir mão, de dizer “não” para opções interessantes, atraentes, sedutoras. Diante de tantas possibilidades ficar apenas com uma não é tranquilo. A gula de nossos dias é crescente. A sensação de estar perdendo algo se amplia e tende a dominar. E não é à toa que a frustração ganhe espaço interior cada vez maior. Isso sem contar o medo paralisante de errar. Há um temor quase fatal que gera mal-estar comum – “e se eu errar em minha escolha?”. Tal situação pode, inclusive, jogar expectativas excessivamente altas e idealizadas na tomada de decisão.
Percebe-se, então, que além disso tudo, é preciso considerar o que se entende por fracasso e como lidamos com ele. Essa é uma reflexão necessária para nossa saúde, porém, antes, o convite é para pensarmos o quanto sabemos a respeito de nossos desejos. O que realmente queremos?
Vejamos uma situação comum que encontramos no mercado de trabalho. Hélio Bruck Rotenberg, 48 anos, engenheiro civil de formação, presidente da Positivo Informática, assumiu recentemente, o comando geral do Grupo Positivo. Em entrevista à revista HSM Management (maio-junho de 2012), disse: “O sujeito está preparado para virar a noite sempre que for preciso ou quer sair às seis horas em ponto todos os dias? Eu me lembro bem de um jovem engenheiro muito bom que trabalhou conosco e eu adorava. Um dia, ele chegou para mim e anunciou: ‘Vou sair, fazer concurso público e trabalhar num tribunal’. Pego de surpresa, perguntei: ‘Você está maluco? Vai ganhar quanto?’. Ele respondeu: ‘Três quartos do que eu ganho aqui’. Eu argumentei que era bobagem e que ele tinha futuro aqui, mas ele foi sincero: ‘Eu não aguento essa loucura, preciso poder sair às seis e meia da tarde todo dia’. Lamentei, mas respeitei sua decisão, porque ele foi fiel a sua personalidade, como se deve ser. Nós somos uma organização nervosa que precisa de profissionais aguerridos. Algumas áreas demandam profissionais mais criativos, outras, gente mais cumpridora, mas todos têm de ser muito aguerridos, gincaneiros”. Pois é, na gincana da vida, esses são desafios corriqueiros. Ao entrarmos num emprego precisamos saber não apenas o que ele oferece, mas suas demandas. E aí, no processo decisório, ponderar o que de fato buscamos.
Esse exercício requer uma visita prolongada aos nossos valores. Perguntas simples em situações profissionais como essa: queremos dinheiro, fartos e generosos benefícios, além de conveniência no currículo, ou, insistiremos corajosamente que o mais importante é ter um tempo para cuidar de si e das pessoas amadas? A “loucura” a que se refere o sensato e coerente engenheiro do exemplo nos atrai mais? Muitos alegam que a realidade do mercado de trabalho é cruel e louca mesmo, e que trata-se apenas de uma fase, que não será uma escolha para a vida. Contudo, o que mais vejo, é que o desgaste vence final. Quando decidem sair, geralmente, é tarde demais diante dos estragos já feitos na vida do sujeito. O que sobra são trapos de gente.
Irreversível? Não. Enquanto há vida, há oportunidade de escolhas responsáveis e mais saudáveis a longo prazo. Mas quem quer aprofundar no que realmente acredita e deseja para si? Deixar a inocência existencial não se dá sem dor. É preciso perder para ganhar, mas não suportamos o peso da palavra perda.
O que lhe garante proteção? Para onde você caminha? Dize-me quais são suas escolhas e eu lhe direi quem és. Ou, como diria o teólogo A. W. Tozer: “Na caminhada cristã, o importante não é a velocidade com que andamos, nem a distância percorrida, mas sim a direção que tomamos”.

23ª semana de 2012

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“Pedófilos sempre existiram, existem e existirão, mais do que se imagina, mais do que se sabe. São pessoas com desordem mental, e quem não ouviu falar que em regiões mais atrasadas pais tiveram relações com uma ou mais filhas, tendo até engravidado algumas, que se tornaram mães de suas próprias irmãs. Isso acontece no Brasil profundo e também em países altamente civilizados. A miséria humana não tem limites. […] Cabe às mães e aos pais ficarem atentos, não deixarem suas filhas/filhos em situações de risco, olhar atentamente o que se passa, e desconfiar sempre, sem medo de estar pensando em “maldades”, sabendo que essas coisas acontecem nas melhores famílias. Não vivemos em um mundo ideal. O abuso sexual causa efeito devastador nos que o sofrem, e precisam de apoio profissional, apoio esse que deve ser forte e positivo; só o amor de mãe e pai não é suficiente.”
Danuza Leão – Folha de S.Paulo, 03/06/2012

“O perigo mora próximo do líder carismático que se coloca em pé de igualdade com o sagrado. Mais cedo ou mais tarde, o herói se achará tão potente a ponto de querer tomar o lugar de Deus.”
Gaudêncio Torquato – O Estado de S.Paulo, 03/06/2012

“A música tem um espaço no coração das pessoas. É muito usada como paliativo. Hoje, ouve-se música muito mais com a bunda do que com os ouvidos. Há muito mais preocupação em se divertir do que em parar para pensar.”
Dori Caymmi – O Estado de S.Paulo, 04/06/2012

“O que acontece, com o tempo, e não só na carreira, você sente que um estilo funciona para algumas coisas, mas em outras não é bom. Quando se é jovem e impetuoso, o seu estilo precede qualquer coisa, você é sempre a mesma coisa. Depois, com o autoconhecimento, você começa a exercitar perfis diferentes, mesmo que não seja o seu. Quando você fala em liderança, existem perfis de liderança, você é um líder educador num momento, num outro pode ser um líder meio déspota, porque a situação é de crise e é preciso alguém que bata o bumbo. Tem também o líder inspirador. Na realidade, o líder tem de ser tudo, mas cada perfil desses grita mais em determinados momentos. Quanto mais instrumentalizado você está, quanto mais consciente você está de si, você pula de um perfil para outro sob o seu próprio comando. É o autocontrole em cima daquilo que você sabe o que você é.”
Cesar Marinho – O Estado de S.Paulo, 04/06/2012

“‘Um jovem rabino, angustiado com o destino da sua alma, conversava com seu mestre, mais velho e mais sábio, em algum lugar do Leste Europeu entre os séculos 18 e 19. Pergunta o mais jovem: ‘O senhor não teme que quando morrer será indagado por Deus do porquê de não ter conseguido ser um Moisés ou um Elias? Eu sempre temo esse dia’. O mestre teria respondido algo assim: ‘Quando eu morrer e estiver na presença de Deus, não temo que Ele me pergunte pela razão de não ter conseguido ser um Moisés ou um Elias, temo que Ele me pergunte pela razão de eu não ter conseguido ser eu mesmo’. Trata-se de um dos milhares de contos hassídicos, contos esses que compõem a sabedoria do hassidismo, cultura mística judaica que nasce, ‘oficialmente’, com o Rabi Baal Shem Tov, que teria nascido por volta de 1700 na Polônia. […] São muitas as angústias de quem acredita haver um encontro com Deus após a morte. Mas ninguém precisa acreditar em Deus ou num encontro como esse para entender a força de uma narrativa como esta: o primeiro encontro, em nossa vida, que pode vir a ser terrível, é consigo mesmo. Claro que se Deus existe, isso assume dimensões abissais. […] Enfrentar-se a si mesmo, reconhecer suas mazelas, suas inseguranças e ainda assim assumir-se é atravessar um inferno de silêncio e solidão. […] Ao contrário do que dizia o velho Sartre, o inferno não são os outros, mas sim nós mesmos.”
Luiz Felipe Pondé – Folha de S.Paulo, 04/06/2012

“O condomínio fechado é uma privatização do espaço. Isso, para a cidade, não é bom, porque, a partir do momento em que você diz que aqui só entra quem é dono, está dizendo que milhões de pessoas estão ficando fora. Talvez esse milhão de pessoas não fique muito contente. Teses na USP já evidenciaram que, ao mesmo tempo em que cresceram os condomínios fechados, a violência também cresceu. A segregação, tecnicamente, aumenta a violência. Seja a segregação do rico no condomínio, seja a reprodução disso nas camadas mais pobres. A integração é contra a violência.”
Evandro Spinelli – Folha de S.Paulo, 04/06/2012

“O Brasil tem uma grande escolha diante de si. Quem ele quer impressionar? Quer erguer prédios que digam ao mundo quão incrível o Brasil é ou quer construir prédios que mostrem aos próprios brasileiros a força do Brasil? A Olimpíada fracassou, em vários países, em produzir dividendos econômicos e legados depois dos eventos. […] Um teto melhor e um encanamento que funcione não são suficientes para criar uma boa comunidade. Cresci em uma área pobre da periferia de Londres. Não interessava a qualidade da construção, as ruas viviam vazias, era um lugar inseguro, meu único sonho era sair dali. Dependendo de como essas casas sejam construídas, sem urbanismo, sem transporte público, podem virar as favelas do futuro. Sem falar que ainda há muito trabalho para melhorar as favelas já existentes, formalizá-las.”
Cameron Sinclair – Folha de S.Paulo, 05/06/2012

“Você está contente com o seu corpo? Pense bem. Olhe-se bem. Os ingleses não estão. Informa a BBC Brasil que um grupo de deputados auscultou a população nativa a respeito. As conclusões do estudo, intitulado “Reflections on Body Image” (“reflexões sobre a imagem do corpo”), são dramáticas: ninguém gosta da respectiva carcaça. Nas escolas, o cenário é particularmente aterrador: um em cada cinco meninos de 10 anos despreza a própria figura; uma em cada três meninas também. […] Quando existe um horizonte de eternidade pela frente, e quando a eternidade se assume como prolongamento da existência terrena e compensação de suas misérias, é normal que o olhar humano não atribua ao corpo e às suas imperfeições o lugar histérico de hoje. Esse horizonte de eternidade perdeu-se.”
João Pereira Coutinho – Folha de S.Paulo, 05/06/2012

“Emoções existem, sempre existiram, nem a idade nem o controle interior que adquirimos à custa das porradas da vida conseguem riscá-las dentro da gente.”
Carlos Heitor Cony – Folha de S.Paulo, 05/06/2012

“Depois de invadir uma casa e furtar dois envelopes com dinheiro, o ladrão se arrependeu e, além de devolver a maior parte da importância levada, deixou uma carta com pedido de desculpas. O caso, divulgado ontem pela Polícia Civil, aconteceu em Tatuí, a 142 km de São Paulo. […] ‘Te roubei, mas estou devolvendo o dinheiro, pois sou evangélico e conheço as leis de Deus.’ Ele conta como praticou o furto e pede ‘1.000 perdões’. No final, dá um conselho à vítima: ‘Coloque cadeado nas janelas. Abraços.’”
O Estado de S.Paulo, 06/06/2012

“No Dia do Meio Ambiente, os governantes costumam posar para fotos plantando uma árvore. Seria interessante conhecer o destino de todas elas, plantadas em solenidades, talvez abandonadas logo depois. Mas o problema real não é plantar -gesto simbólico positivo-, se não fosse a devastação ambiental que a maioria de seus plantadores pratica nos outros dias do ano. […] Em acelerado retrocesso, vamos à Rio+20. O que se anuncia é um vexame de governos titubeantes diante de uma sociedade mais consciente e exigente. As negociações deixam antever documentos sem metas ou ações efetivas. A opinião pública global reclama por isso, enquanto os governos e seus operadores se empenham para baixar as expectativas. Resta-nos a tarefa de continuar alertando para os graves problemas da perda de biodiversidade, da desertificação e do aquecimento do clima -há 20 anos anunciados como a mais perigosa ameaça ao equilíbrio da Terra. Tudo isso se mantém no mais alto nível de risco à manutenção da vida. Por isso, a cobrança por medidas urgentes, urgentíssimas e efetivas, para enfrentar esses graves problemas, deve permanecer no patamar mais elevado de nossas exigências éticas e políticas.”
Marina Silva – Folha de S.Paulo, 08/06/2012

“Contra todas as advertências, o homem está fazendo o possível para arruinar de vez o burgo que teve a infelicidade de abrigá-lo. É só atentar para certos números revelados há pouco pela ONU. Em 2050, a população mundial (que hoje é de 7 bilhões) chegará a 9 bilhões, dos quais 6,3 bilhões viverão em cidades (quase o dobro dos 3,5 bilhões atuais). Significa que áreas do tamanho de vários países europeus somados serão desmatadas, urbanizadas e tomadas por automóveis, tendo a bordo uma nova e monumental classe média faminta de consumo, produtora de lixo e cega para as consequências de sua fúria predatória.”
Ruy Castro – Folha de S.Paulo, 08/06/2012

“O diálogo entre as religiões não pode ser uma simples comparação de hierarquias de valores. Um diálogo é autêntico quando acolhemos o outro, sem anular as diferenças. Creio que seja este, hoje, o desafio para todas as grandes religiões.”
Mauro Maldonato – Folha de S.Paulo, 09/06/2012

“Os autistas são estrangeiros onde quer que estejam. Nosso mundo para eles é assustador. Mas nós podemos buscá-los. Quem trata esse tipo de alteração precisa gostar muito de gente. É preciso exercitar a solidariedade.”
Ana Beatriz Barbosa – Folha de S.Paulo, 09/06/2012

“Os EUA perdem mais membros do Exército em suicídios do que em combate. O número chegou a 154 nos cinco primeiros meses deste ano, média de aproximadamente um por dia, contra 130 no mesmo período do ano passado.”
O Estado de S.Paulo, 09/06/2012

“No Ocidente, temos vivido desde o século 20 a desconstrução dos valores tradicionais. Ela teve efeitos negativos, mas também formidavelmente positivos, em especial para os homossexuais e as mulheres. Observe que um país como a Suíça, o último cantão a conceder o direito de voto às mulheres o fez, pense bem, em 29 de abril de 1991! Isso quer dizer que, até então, as mulheres ainda eram vistas como crianças. Na França, foi um pouco mais cedo, mas, enfim, foi preciso esperar o fim da 2ª Guerra para que as mulheres tivessem direito de voto. Quanto aos homossexuais, lembre-se que a Organização Mundial de Saúde definia a homossexualidade como doença até 1990! Sim, nosso mundo ocidental mudou mais nos 50 anos da segunda metade do século 20 do que nos 500 anos anteriores! […] O verdadeiro motor da desconstrução dos valores tradicionais foi o capitalismo moderno.”
Luc Ferry – O Estado de S.Paulo, 09/06/2012

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