Posts tagged paternidade

Pelo direito de não ser tão brilhante

2

Um país dito “emergente” da perspectiva econômica colabora para uma sociedade cada vez mais competitiva. Nessa selva só sobrevivem os mais fortes. Só os mais fortes, os bons, são vencedores. Como se reconhece um “vencedor”? Olhe para suas conquistas! Você vale pelo que você tem a mostrar. Se não tiver provas a serem exibidas, você será excluído. Ou você desfila orgulhosamente ou trate de com afinco impressionar as pessoas e dizer que está quase lá. Mas, apresse-se, as pessoas são impacientes, e ninguém quer ficar ao lado de “perdedores”.

Como se prepara um vencedor? Segundo a cultura brasileira, ensine-o a ser esperto, o que equivale a nem sempre ser honesto, tirar vantagem atropelando os distraídos e mal informados, esconder, ou no mínimo, omitir partes da história, toda a verdade nem sempre é conveniente, portanto, treine-o disfarçar, a ter truques, cartas na manga. Instrua-o a rapidamente reconhecer e explorar idiotas, isto é, ingênuos.

A vitória é dos ligeiros. Saia na frente. Quando o acusarem de coisas ilícitas, de falta de ética, de bom senso, falta de solidariedade, finja que não é com você. Quando reclamarem de falta de tempo para as relações, ignore ou justifique com excesso de responsabilidade e desafios. Lembre-se, qualquer sacrifício é legitimado em nome do bom desempenho. Muito esforço, muito merecimento. E esforço não tem fim, sempre achará novos empreendimentos. Afinal, precisa se manter no topo.

Pais que ficaram pelo caminho impõem aos filhos metas cruéis. Pais que chegaram lá, não todos, mas muitos, exigem que seus filhos os alcance e os supere. E diga-se de passagem, praticamente nenhum pai e mãe admitirá isso. E quando e se o fizerem, explicarão que é para o bem dos filhos. Pura preocupação supostamente amorosa. Será?

Indicar que não obrigatoriamente todos devem ser brilhantes, ou, alcançar o lugar mais alto no pódio, é uma heresia. É tudo ou nada. É ouro ou é lixo. Se não realizar um feito espetacular, de preferência único, arrancando a admiração das pessoas, então, é sinônimo de uma vida medíocre, um perdedor. Claro, só é contabilizado aquilo que pode aparecer, aquilo que é tido como “sucesso” (fama, mídia, muito dinheiro, consumismo sem miséria, etc.) – variadas formas de poder na sociedade do espetáculo.

Tenho visto pais e mães bastante aflitos com sua cria, angustiados com a possibilidade do filho “fracassar”, ser mais um na multidão de “perdedores”. Alguns até explicitam que querem investir mais, para irem mais longe, pois, num mundo tão inseguro, eles não estarão sempre por perto para “cuidar”, mas, no fundo é um pavor de que os filhos desperdicem os recursos e não compartilhem dos sonhos que eles têm para a sua continuidade na terra, no fundo, seria uma “desonra” a família.

Vejo também muitos adolescentes e jovens, abatidos com tamanha pressão. Ansiosos, com muito medo de decepcionarem seus progenitores. Muitos sentem-se culpados antecipadamente por receberem tanto investimento financeiro, afinal, muitos pais deixam claro os sacrifícios que fizeram para os filhos pudessem ter certas “regalias”.

Um dos sintomas, com índices cada vez mais elevados, é a depressão. Não poucas vezes acabam em suicídio, ou tentativas de. Mas, outro, também frequente, que é queixa comum dos adultos, é uma apatia crônica – desistências sutis da própria vida.

A resposta a tanta pressão familiar e social para que tenham um desempenho brilhante os faz cada dia mais reclusos. Quando em casa, adolescentes e jovens, ficam a maior parte do tempo no quarto. Ali ficam plugados no mundo externo, via redes sociais, navegando pelo mundo, conhecendo mares perigosos, entrando em ondas avassaladoras. Se possível, até tomam as refeições ali. Cansados, entretidos por um pouco, no fundo, esvaziados em boa parte. Eles ficam a observar sua própria incompetência para o nível de exigência que lhe foi imposta, disfarçada ou explicitamente.

E muitos dos que se rendem a tais pressões e naufragam com elas diriam que dominam o evangelho, que conhecem a Deus e o seguem.

Jesus diz algo muito claro àqueles que desejam ser seus discípulos: quem não perder a vida não pode encontrá-la Mc 8. Em outras palavras, Jesus diz que há uma vida que leva à morte. E a maneira que muitos tem vivido, de fato, os tem feito morrer aos poucos, mas, talvez não para aquilo que Jesus teria apontado como morte necessária. Vivemos mal porque escolhemos mal. Abrigar a ansiedade em nós, viver de preocupações e estresses, é um modo de vida que nos levar a morte, mas de maneira alguma era o que Jesus ensinava.

Qual seria a compreensão dos pais dito cristãos, e como eles tem ensinado seus filhos a esse respeito?

As imposições ansiosas e exigentes dos pais resultam em compulsões na vida de alguns filhos e em tédio na vida de outros. Pais não gostam de ver seus filhos respondendo dessa maneira, ficam ainda mais angustiados, porém, não mudam suas inquietações e posturas.

O sábio dizia: “O homem que ama a sabedoria dá alegria a seu pai” (Pv 29.3). Hoje precisamos refletir o que pais e filhos consideram sabedoria, e, o que de fato agradam os pais. Quem ama o quê?

42ª semana de 2013

0

“Fazei que não sejamos cristão de vitrine, mas saibamos meter mãos à obra para construir com o teu filho Jesus o seu reino de amor, de alegria e paz.”

Papa Francisco, Folha de S.Paulo – 13/10/2013

 

“Um dos maiores riscos é tentar fornecer uma espécie de solução-padrão que não leva em conta o contexto cultural.”

J. Neil Bearden, professor de ciências da decisão da Insead – Folha de S.Paulo – 13/10/2013

 

“Ter filho te insere, imediatamente, no entusiasmadíssimo clube dos que têm filhos. Um clube que você até sabia que existia, mas para o qual não dava a menor bola.”

Antonio Prata, Folha de S.Paulo – 13/10/2013

 

“A ‘inquisição das ruas’ hoje pensa que nossa sociedade está perdida e precisa ser salva por tais sacerdotes da pureza política. Mas o pior é que a classe intelectual é quase toda o alto clero dessa falácia. (…) Pessoas quebrando coisas na rua não implica em melhoria política.”

Luiz Felipe Pondé, Folha de S.Paulo – 14/10/2013

 

“A vida dos facebookianos pode até parecer uma campanha publicitária de margarina, com seus rostos alegres, bonitos e ensolarados. As melhores fotos são escolhidas a dedo, os sofrimentos são em geral escondidos e as informações que podem servir à imagem, à fama ou à vaidade das pessoas são publicadas ininterruptamente, sem parar.”

Marion Strecker, Folha de S.Paulo – 14/10/2013

 

“ ‘Mais escolas, menos estádios.’ Esta foi uma das frases mais ouvidas nas manifestações de junho. Ela indicava a consciência clara de que as prioridades de desenvolvimento estavam completamente invertidas. Mais do que isso. Que esta frase sido enunciada em um contexto de revolta, eis algo a demonstrar como a população esperava mais ações e menos retórica em relação à educação.”

Vladimir Safatle, Carta Capital – 16/10/2013

 

“A ciência está se tornando uma máquina cara e ineficiente, comumente monitorada por uma burocracia autista. E os cientistas se transformam em operários de uma linha de montagem autocentrada, frequentemente insensível às necessidades da sociedade. (…) Nas últimas décadas, o Brasil multiplicou seu número de cientistas. Há entre eles grandes cérebros, estrelas ascendentes e uma legião de abnegados. Muitos não honram, porém, o título. São pequenos burocratas, acomodados à lerdeza dos campi universitários. Vivem de verbas públicas. Realizam pesquisas de utilidade duvidosa para delas extrair a máxima vantagem.”

Thomaz Wood Jr., Carta Capital – 16/10/2013

 

“O texto literário é aquele que pede esforços de interpretação por aquelas caraterísticas que foram notadas pelos melhores leitores do século 20: por ser ambíguo (William Empson), aberto (Umberto Eco) e repleto de significações secundárias (Roland Barthes).”

Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo – 17/10/2013

 

“O Brasil real é o das ruas com calçadas esburacadas e ônibus sujos e lotados. Da Justiça lenta e improdutiva. O Brasil é conservador. Seu conjunto de valores está em formação. A democracia só tem 25 anos.”

Fernando Rodrigues, Folha de S.Paulo – 19/10/2013

33ª semana de 2013

0

“No cristianismo, amor não é mero afeto, mas a ação que nos faz existir. Sem ele, a vida esvazia. […] Nossa natureza ‘caída’ não suporta o ‘peso’ do amor. […] Longe do amor, somos todos doentes, umas criaturas da noite que vagam numa escuridão sem fim. No escuro, não é só o outro que desaparece, mas nós também. […] Quando nos distanciamos do amor, nos dissipamos num desejo que nos leva ao nada. […] Quando nos sentimos longe do amor (de Deus), vemos nosso nada, isso deixa nossa alma inquieta, sedenta. […] O drama maior não é não ser amado, mas ser incapaz de amar.”

Luiz Felipe Pondé, Folha de S.Paulo – 12/08/2013

 

“Criados livres de um aprendizado restrito, compartimentalizado e unidisciplinar, jovens que cresceram com a internet tiveram, pela primeira vez na história, tutores incansáveis, de capacidades infinitas, oscilando entre canais quando necessário. […] Sua forma de pensar é chamada de “mente da Renascença”, em referência a um período em que, depois de séculos isoladas, as pessoas voltaram a compartilhar conhecimento. A visão multimídia não é exclusiva da Renascença. Pitágoras, na Grécia antiga, cresceu na ilha de Samos entre tutores e navios, e sua curiosidade e formação vasta o ajudaram a influenciar áreas tão diversas quanto filosofia, ética, política, matemática, religião e música. No século 18, Goethe teve aulas de diversas línguas ainda na infância. Bom desenhista e leitor ávido, virou poeta, novelista, dramaturgo, cientista, filósofo e diplomata. […] O símbolo do raciocínio da Renascença é, naturalmente, Leonardo da Vinci. Pintor, escultor, arquiteto, músico, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, geólogo, cartógrafo, botânico e escritor, ele imaginou helicópteros, tanques, calculadoras e baterias solares em seus cadernos, sem se preocupar em publicá-los, ou mesmo se os protótipos poderiam ser executados.”

Luli Radfahrer, Folha de S.Paulo – 12/08/2013

 

“Foi só quando pude sentir as dores de meu pai é que aprendi a ser um filho.”

Walcyr Carrasco, Época – 12/08/2013

 

“A função do escritor é enfrentar os poderes constituídos. Isso em todo o mundo. Os grandes autores são aqueles que desafiam os regimes totalitários e desumanos. Todo dia escritores são presos por se expressar criticamente contra os governos em países da África, do Oriente Médio e da Ásia. Tenho o privilégio de trabalhar num país democrático, em que a liberdade de expressão é um ponto inegociável. Mas não deixa de ser também um país em que o poder e os poderes se organizam e se mascaram rapidamente.”

Don DeLillo,76, escritor americano, Época – 12/08/2013

 

“Há um ano, a Igreja Mundial do Reino de Deus usava 320 retransmissoras de TV para propagar as palavras do apóstolo Valdemiro Santiago. Desde então, encerrou contratos com metade delas. Saiu do ar em capitais como Belém e Fortaleza.”

Época – 12/08/2013

 

“A presença feminina no conselho de empresas brasileiras ainda é pequena. Apenas 13% dessas cadeiras são ocupadas por mulheres. As que chegaram lá costumam figurar nos seguintes postos: 32% diretora de Recursos Humanos; 27% diretora de Finanças (CFO); 27% diretora de Vendas (segundo International Business Report 2013).”

VocêS/A – agosto 2013

 

“A certeza, essa deusa em cujo altar depositamos flores (e grana), é tão difícil quanto a Verdade.”

Roberto DaMatta, O Estado de S.Paulo – 14/08/2013

 

“Teremos, todos, de mudar nossos hábitos e visões. E trabalhar com otimismo em novas direções urbanas.”

Washington Novaes, O Estado de S.Paulo – 17/08/2013

 

“A religião tornou-se a única forma ideológica em Israel. Não há mais a ideologia do sionismo, do kibutz. Os religiosos é que vivem como judeus, gostemos ou não, Quem é judeu hoje? Quem reza três vezes por dia. Assim era há 2 mil anos. Assim é hoje.”

Aharon Appelfeld, 82, escritor, O Estado de S.Paulo – 17/08/2013

 

“A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) alerta que existem 28,5 milhões de crianças fora das salas de aula em áreas de conflito. Elas sofrem não só com escolas fechadas ou falta de professores, mas também com ataques às instituições, estupro e outras formas de violência sexual (44% África Subsaariana; 14% Países Árabes; 19% Sul e oeste da Ásia/ 23% Outra regiões).

Nova Escola – agosto de 2013

 

“Acredito que esse é o grande segredo para chegar aos 40 anos melhor do que aos 20: ter a consciência de que fizemos o possível para vencer os percalços da vida com honestidade, sem passar por cima de ninguém e sem tentar levar vantagem. Todas as vezes em que agi sem pensar, por pressa ou ansiedade, a vida cobrou um preço muito caro depois. […] Eu me preocupei em construir um caminho em que o dinheiro não fosse o mais importante (há anos não faço comerciais. Não quero contribuir para o excesso de consumo). Não queria um padrão de vida luxuoso. Queria, sim, usar minha criatividade ao máximo. Para mim, a realização plena é dar conta do essencial, das coisas simples da vida.”

Letícia Sabetella, 42, atriz, Claudia – agosto de 2013

Go to Top