Contando os dias

14 de dezembro de 2010

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“Neste início de século e milênio, a mulher pode fazer um balanço de suas conquistas. Escrava submissa do lar, objeto indefeso diante dos apetites machistas, cidadã de segunda classe e serviçal de primeira necessidade, tudo isso ainda não acabou, mas está acabando cada vez mais depressa. A mulher lutou e conseguiu o direito ao voto, ao mercado de trabalho, ao divórcio, à pílula. Ganhou todas. Não funciona mais como a favorita do sultão – o homem.”

Carlos Heitor Cony, Folha de S.Paulo – 14/12/2010

 

“A ‘obrigação’ de estar bem, aliada às mensagens onipresentes de felicidade geram ansiedade, diz Ana Maria Rossi, presidente no Brasil da International Stress Management Association. Segundo pesquisa da associação, feita em 2009 com 678 pessoas de 25 a 50 anos, o estresse individual aumenta 75% e atinge 80% da população no período que vai da última semana de novembro até o fim de dezembro. Por isso, nos prontos-socorros, há aumento dos casos relacionados a ansiedade e depressão, segundo Daniel Magnoni, diretor de nutrição do Hospital do Coração. No CVV (Centro de Valorização da Vida), o número de ligações sobe 20% na época. As fontes de estresse e de piora do quadro de depressão envolvem expectativas não atingidas em relação aos presentes e às festas, sobrecarga de funções e atividades, solidão, frustração e culpa ao fazer um balanço negativo do ano que termina. As emoções e as recordações do reencontro familiar, positivas ou negativas, também podem ser um gatilho.”

Mariana Versolato, Folha de S.Paulo – 14/12/2010

 

“Deus é como Fernando Pessoa. Tem um monte de nomes diferentes. Viajo o mundo inteiro e sempre encontro um heterônimo dele. Mas sempre o reconheço, independentemente do nome. Nos dias de hoje, em que as pessoas estão tão descrentes, acreditar é um ato de rebeldia e vanguarda.”

Nizan Guanaes, Folha de S.Paulo – 14/12/2010

 

“Sempre que acontece uma tragédia nas nossas vidas -um fracasso amoroso, uma doença súbita, a perda de alguém que amamos- a velha pergunta regressa para nos assombrar: ‘Por que eu?’ ‘Por que a mim?’. A pergunta certa não é essa, naturalmente. A pergunta certa seria: ‘E por que não eu?’, ‘E por que não a mim?’. […] Só somos verdadeiramente destruídos por aquilo que não controlamos quando alimentamos em nós a ilusão de que tudo controlamos.”

João Pereira Coutinho, Folha de S.Paulo – 14/12/2010

 

“Há tantas canções inúteis, fracas para entortar o cano das armas, para ressuscitar os mortos, para engravidar as virgens, mas não tem importância, elas continuam a ser cantadas somente pela alegria que contêm…”

Rubem Alves, Folha de S.Paulo – 14/12/2010

13 de dezembro de 2010

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“Ter acesso a informações de diferentes fontes, poder comparar ideia e interagir em uma discussão faz com que você tenha uma maior apropriação da informação e seja um leitor mais crítico”.

Luciana Allan – superintendente do Instituto Crescer, Folha de S.Paulo – 13/12/2010

 

“A atração sexual no século 21, ao que parece, ainda se alimenta dos estereótipos do século 20. Só que as mulheres, ao se equipararem ou superarem os homens na educação e no mercado de trabalho, estão também virando de ponta-cabeça os papéis tradicionais dos gêneros, com profundas consequências para a dinâmica dos relacionamentos.
Há um crescente contingente de mulheres de sucesso na faixa dos 30 a 40 anos que têm dificuldades para encontrar um parceiro. Há mulheres-alfa que terminam com os homens-alfa, mas decidem colocar a carreira em segundo plano quando chegam os bebês. E há também um terceiro grupo, pequeno, mas crescente: o das mulheres que ganham mais que seus parceiros, gerando diversos contorcionismos comportamentais destinados a manter intacta a aparência tradicional dos papéis de cada gênero. […] O psicanalista Bernard Prieur diz que os homens que ganham menos que as parceiras sofrem inseguranças: “Eles se sentem social e pessoalmente vulneráveis. Socialmente, vão contra milênios de crenças e estereótipos que os veem como arrimo do lar. E o sucesso da parceira lhes dá sentimento de fracasso”, disse Prieur, na edição de novembro da revista francesa ‘Marie Claire’.”

Katrin Bennhold, The New York Times/ Folha de S.Paulo – 13/12/2010

 

“Precisamos da ficção para entender as hipnotizantes possibilidades da realidade, pois, como notou o romancista israelense Amos Oz, ‘às vezes, os fatos ameaçam a verdade’.
[…]  Minha sensação é de que tendências mais profundas são inexoráveis, qualquer que seja a expressão particular que elas encontrem.”

Roger Cohen, The New York Times/ Folha de S.Paulo – 13/12/2010

 

“O Twitter é uma janela para desejos, necessidades e experiências de atuais e potenciais clientes. […] A capacidade de reconhecer oportunidades ao acompanhar a sabedoria coletiva ajuda a amadurecer. […] Ouvir o Twitter serve como nossa janela para a relevância. Colocar as palavras ouvidas em ação abre o nosso caminho para que a transmitamos e façamos jus a ela. Mas o sucesso de qualquer negócio está em sua capacidade de liderar conversações, e não apenas responder a elas. E tudo começa quando escutamos.”

Brian Solis, Folha de S.Paulo – 13/12/2010

 

“Pouco importa se você acredita que o ‘outro’ seja sempre legal (mentira, existem ‘outros’ que são o fim da picada), ou se você não cresceu o bastante para não viver como cinderela. O mundo é mais complexo do que nosso ‘coração de estudante’ imagina.”

Luiz Felipe Pondé, Folha de S.Paulo – 13/12/2010

12 de dezembro de 2010

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“Os brasileiros que ganham mais de R$ 10.200 são apenas 3 milhões. Os brasileiros que sobrevivem com menos de R$ 1 mil vão a 79 milhões. Detalhe: estamos falando de renda familiar, não individual. Ou, em porcentagens: apenas 1,5% dos brasileiros habitam o que Elio Gaspari chamaria de andar de cima. Uma massa formidável de 41% mora mesmo é no porão. Outros 40%, pouco mais ou menos, ocupam o andar de baixo.
Estatística à parte, o mais elementar sentido comum manda chamar de pobres esses 80%.”

Clóvis Rossi, Folha de S.Paulo – 12/12/2010

 

“É com erros e acertos que a ciência progride e, na verdade, apenas uma pequena parte das pesquisas realmente levará a impactos positivos sobre a qualidade de vida. […] Mais rigor, menos ambição e mais humildade ajudariam o campo a avançar”.

Thomaz Wood Jr., Revista Carta Capital, 15/12/2010

11 de dezembro de 2010

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“As imagens de Charlie Chaplin e de Adolph Hitler estão lado a lado. Abaixo do criador de Carlitos está escrito ‘não acredita em Deus’; abaixo do líder nazista, ‘acredita em Deus’. No alto, o slogan: ‘Religião não define caráter’. Essa é uma das quatro propagandas que a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea) estaria veiculando, desde ontem, em ônibus de Porto Alegre e de Salvador. […] A Atea argumenta, em seu site, que pretende diminuir ‘o enorme preconceito que existe contra os ateus e caminhar rumo à igualdade plena entre ateus e teístas’. Certo. Mas a Atea, com sua campanha, parece cultivar uma espécie de religião dos descrentes, de igrejinha dos sem fé. Mais do que isso, ao copiar um tipo de propaganda que teve início na Inglaterra, em 2009, a associação de ateus importa para o país um problema postiço, que não é nosso, pelo menos nesses termos. […] Não vamos, por favor, transformar a descrença em Deus num delírio, para parafrasear Richard Dawkins.”

Fernando de Barros e Silva, Folha de S.Paulo – 11/12/2010

 

“Se não pudesse escrever, acho que teria morrido. Ou já estaria louco […] Imagine bem: de repente você não consegue fazer nada sem ajuda dos outros. De cinco em cinco minutos, tenho de chamar alguém. Não tem sido fácil. […] Cristo está em todas as religiões e traça uma direção para cada um de nós. […] Deus quis que eu passasse por isso. Talvez para que eu não me ache um grande artista, para que eu compreenda que sou apenas mais um escritor, finito, como tantos outros. […] Hoje em dia parece que ter religião é coisa de retardado mental. Na verdade, a fé em Deus é uma das mais belas manifestações da vida.”

Raimundo Carrero, 62, escritor pernambucano, que sofreu um AVC (acidente vasculhar cerebral), Folha de S.Paulo – 11/12/2010

 

“A igreja não deve assumir posição político-partidária, mas também não pode deixar de dar critérios, orientações para o eleitor. A igreja é separada do Estado, mas não é separada da sociedade.”

Dom Raymundo Damasceno, arcebispo de Aparecida, Folha de S.Paulo – 11/12/2010

10 de dezembro de 2010

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“Eu, quando nasci, recebi de Deus um amigo, que nunca me abandonou, ajudou-me em todos os momentos e encheu os meus vazios: o livro.”

José Sarney, Folha de S.Paulo – 10/12/2010

 

“Aumentou, nos últimos três anos, o fosso entre as redes pública e privada. Com exceção das escolas federais, ilhas de excelência que respondem por pouco mais de 200 mil alunos num universo de 52,5 milhões, a competência para leitura na rede pública brasileira fica em 58º lugar no ranking. Já a rede privada ocupa a 9ª posição.
Ocorre que a rede pública é responsável por 85% dos estudantes dos ensinos fundamental e médio. A distância entre o desempenho nas escolas públicas e nas particulares, que se ampliou, caracteriza um quadro nítido de apartheid.”

Fernando de Barros e Silva, Folha de S.Paulo – 10/12/2010

 

“A Atea (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos) veicula a partir de hoje campanha publicitária para dizer que Deus pode não existir.
As peças de propaganda, com frases como ‘Religião não define caráter’ e ‘A fé não dá respostas. Ela só impede perguntas’, circularão em ônibus de Salvador e Porto Alegre por um mês.”

Hélio Schwartsman, Folha de S.Paulo – 10/12/2010

  

“Cresci, na década de 1960, ouvindo reclamações contra a ‘comercialização’ do Natal. Não há novidade na crítica, e a religião pode ser instrumentalizada para qualquer objetivo.
A fé católica foi usada, ou desvirtuada, para justificar o poder absoluto dos reis, consagrar guerras e invasões, promover massacres. Que o Natal hoje sirva para animar as vendas do comércio é destino melhor do que se servisse para legitimar, por exemplo, ataque a judeus.”

Marcelo Coelho, Folha de S.Paulo – 10/12/2010

09 de dezembro de 2010

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“A falta de coragem dos negociadores é o principal obstáculo ao sucesso na conferência do clima de Cancún. Quem diz é o negociador maltês Michael Zammit Cutajar. ‘Os países estão se posicionando para não serem culpados pelo fracasso, o que é uma posição muito pouco ambiciosa’, disse Cutajar.”

Claudio Angelo, Marcelo Leite, Folha de S.Paulo – 09/12/2010

 

“A principal coisa a mudar deveriam ser as próprias pessoas. É muito mais barato preservar as condições ambientais de forma a evitar tragédias do que remediar e ter de reconstruir infraestruturas e patrimônios. No entanto, as pessoas não pensam em garantir o bem estar da sociedade como um todo, mas, sim, em garantir apenas seus bens particulares. […] Enquanto acreditarmos que bens comuns não são de ninguém e que serviços ambientais não valem nada e, consequentemente, não têm preço, não vamos mudar a forma como a economia age. Os serviços ambientais não têm preço, porém, a falta deles é profundamente catastrófica para qualquer modelo de economia que se tenha.”

Antonio Nobre – um dos mais respeitados nomes entre os especialistas em clima e serviços ambientais no Brasil, Revista Carta Capital – 08/12/2010

 

“Na história da cultura humana, o livro da natureza é como o Evangelho. Cada um lê nele o que quiser, da tolerância à intolerância, do altruísmo à ganância.”

Elias Thomé Saliba, Revista Carta Capital – 08/12/2010

 

“O risco de um jovem negro ser assassinado cresceu entre 2005 e 2007 no país, chegando a uma probabilidade 3,7 vezes maior em relação a um jovem branco.
Esse índice é maior que o verificado em 2005, quando o risco era três vezes maior em relação a jovens brancos. As informações fazem parte do (IHA) Índice de Homicídios na Adolescência, que também cresceu, divulgado ontem pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos. O chamado IHA estima o número de adolescentes de 12 anos, num grupo de 1.000, que será assassinado antes dos 19 anos. O IHA nacional em 2007 ficou em 2,67, considerando-se os 266 municípios com mais de 100 mil habitantes. O valor é maior que o de 2006 (2,39) e 2005 (2,51). Valores acima de um indicam “risco inaceitável de violência letal contra adolescentes”, diz a pesquisa. Estima-se que 32.912 adolescentes serão assassinados entre 2007 e 2013. O estudo também aponta aumento no risco de homicídio de jovens por arma de fogo e no Nordeste do país. Em 2005, o risco de assassinato por arma de fogo era 5,47 maior que por outros meios. Em 2007, 5,97.”

Johanna Nublat, Folha de S.Paulo – 09/12/2010

08 de dezembro de 2010

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“Os estudantes brasileiros com 15 anos melhoraram em leitura, ciências e matemática nos últimos nove anos. Seguem, porém, entre os mais atrasados do mundo.
A constatação é da avaliação internacional chamada Pisa, coordenada pela OCDE (organização de nações desenvolvidas), que analisou a educação em 65 países.
O exame avalia as áreas a cada três anos. Nesta edição, a prioridade foi leitura, em que a média brasileira avançou 4%. Essa melhora significa que o aluno de hoje tem um conhecimento equivalente a seis meses de aula a mais do que os de 2000, conforme cálculo da Folha.
Para o OCDE, o avanço foi “impressionante”. Ainda assim, os brasileiros estão com mais de três anos de defasagem ante os chineses, os líderes da lista, que passaram Finlândia e Coreia.
No ranking, o Brasil está na 53ª posição, com nota semelhante a Colômbia e Trinidad e Tobago. Os avanços percentuais em ciências e matemática foram maiores que os de leitura, mas as colocações são semelhantes.”

Fábio Takahashi, Fabiana Rewald, Larissa Guimarães – , Folha de S.Paulo – 08/12/2010

 

“Para um aluno que está começando a ler, é necessária a contextualização, aprender que o livro tem um significado. Na maioria das vezes, o aluno acha a leitura um troço chato, acha o escritor pentelho e não compreende a dimensão do que deve ser a leitura. Cria-se um inimigo da leitura. […] O aluno não compreende do que se trata, porque aquilo não tem nada a ver com a experiência de vida dele.”

Marçal Aquino – escritor, Folha de S.Paulo – 08/12/2010

 

“Tecnologias do futuro são feitas no presente e refletem nossas esperanças e aspirações para o futuro, assim como fazem os nossos medos e inseguranças no presente. A relação entre tecnologia e cultura é marcada pela reciprocidade.
É um diálogo. Tecnologias sempre são artefatos sociais, e nós nascemos de uma cultura na qual elas proliferaram. Certas tecnologias, e como as usamos, têm a capacidade de moldar como a cultura se desenvolve.”

Mark Shepard – artista norte-americano, Folha de S.Paulo – 08/12/2010

 

“Se referem ao temor de que, pelo excesso de convívio com uns e outros, haja um risco de “contágio” dos soldados pelos maus policiais ou pelos próprios bandidos.
Se for isto, é uma volta fulminante a Rousseau e ao século 18: o ser humano é uma teteia, o meio é que o corrompe. Nossos soldados serão assim tão frágeis? Nesse caso, deveríamos mantê-los nos quartéis, limitados a funções seguras e burocráticas, a salvo das perdições do mundo. Mas nenhum soldado, em qualquer função de atribuição das Forças Armadas e em qualquer lugar, está livre de ser ‘contaminado’ -nem que seja por traficantes de micos e periquitos na fronteira.
Prefiro acreditar que o soldado brasileiro esteja adestrado para resistir a tudo, inclusive às tentações. E se, ao ser posto à prova, sucumbir a elas, será só por um defeito de fabricação normal no ser humano.”

Ruy Castro, Folha de S.Paulo – 08/12/2010

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