Posts tagged

Vencer ou Vem ser – um chamado para a vida

3

Nós gostamos dessa ideia de que nascemos para vencer. Histórias de superação nos encantam. Um discurso que fale de vitórias na vida nos atrai. Entretanto, quais vitórias, ou, do que se fala quando nos dizem sobre vitória?

Bom êxito no viver, sim, o que seria viver bem? Como isso é compreendido num contexto onde impera o capitalismo senão uma vida farta, muito acúmulo de bens, segurança material?! Triunfar é ter sucesso, e também isto é compreendido, ao menos em boa parte, como conquistar fama, admiração, ou seja, lutamos para sermos reconhecidos, de preferência por termos uma vida brilhante. Ser um destaque, ser muito bom, superior em alguma área. Queremos um espaço na galeria dos que sobressaíram e foram condecorados, afinal, hoje em dia só é considerado vitória se houver aplausos, seguidores, comentários, curtidas, etc. Eu vencer e ninguém ficar sabendo não é mais suficiente. A validação da plateia é o que buscamos incansavelmente.

Numa sociedade assim o medo do fracasso cresce cada vez mais. Passar pela vida desapercebido? Muitos vão se desesperando ao ver o tempo passar e a ilusões não serem satisfeitas, outros estão cansados e oprimidos, na marcha depressiva dos desistentes.

Cada vez mais me parece que estamos sensíveis a qualquer fracasso, a paúra de se encontrar entre os perdedores, seja em que área for. E a derrota nem precisa ser definitiva, basta ser a de um dia para nos derrubar. Alguns se recuperam, outros se veem fora, abatidos, procurando voltar para a casa que eles já nem possuem. Há falta de um lugar para serem acolhidos, compreendidos em suas dores, acalentados.

Ao olhar para tal situação cresce em mim a força de um encontro, relatado por um médico, chamado Lucas. Sim, aquele que escreveu um dos evangelhos. Conta de um pescador abatido, desanimado, com o gosto amargo do fracasso, pois, havia se esforçado a noite inteira e não pegou nada. Só lhe restava lavar as redes e esperar por melhor sorte noutro dia.

A este Jesus diz: “Vá para onde as águas são mais fundas” (Lc 5.4). Jesus insiste para que volte ao lago e ouse mais. Desafia-o a fazer nova tentativa, só que não da mesma forma, agora, em águas mais fundas. Que pescador que não sabe disso? Contudo, que pescador cansado e que já passou toda uma noite tentando ainda tem coragem e fôlego?

A resposta do pescador esforçado e derrotado é: “porque és tu quem está dizendo isto, vou lançar as redes” (Lc 5.5). É alguém que apesar de todo esforço em vão ainda se permite nova tentativa. É alguém ainda capaz de ouvir, capaz de respeitar a voz de alguém especial, capaz de acreditar na autoridade daquele que fascinava multidões por falar a palavra de Deus.

Relata-se, então, a surpresa do conhecedor daquelas águas. Um experiente pescador que ousa ir às aguas mais profundas para em seguida ver suas redes rompendo de tantos peixes. Um homem que rapidamente sai da derrota para a inesperada vitória abundante. E isso não seria suficiente? Haveria espaço para algo mais? As águas profundas não tinham sido alcançadas, a obediência se dado e o resultado positivo obtido? Já poderia se encerrar a história, o final feliz estava pronto.

O pescador estava assustado com tamanho imprevisto. Era bom, mas era muito. Sentiu-se constrangido. Pediu para que Jesus se afastasse. E a resposta de Jesus é: “Não tenha medo; de agora em diante você será pescador de homens” (Lc 5.10). Assim, Jesus chama a uma vida que é paradoxalmente parecida e diferente. A semelhança é que ele continuará a ser pescador, mas, não um pescador comum, agora, pescador de gente.

Jesus convida-nos a ser. Penso que essa é a melhor vitória – a de que podemos viver para aquilo que fomos chamados a ser. Não se trata uma vitória que necessariamente ganhará manchetes, que atrairá os holofotes da vida, mas de um viver onde a realização se dá em águas mais profundas.

Para aquele pescador uma revolução acabara de acontecer. Mais do que aquele resultado exterior, há um resultado interior – um chamado a ser diferente. Em sua singularidade ele poderia agora descobrir o que seria ser pescador de gente. E ao reler sua história na Bíblia vemos o quão significativo foi aquele pescador ter ouvido aquele chamado.

Mais do que se preocupar com o êxito com aquilo que se faz, embora isso possa ter certa legitimidade, não necessariamente prioridade, trata-se de atentar para quem se é. Não ceder a pressão da correnteza que nos sugere forçar algumas proezas, falsas ou ilusórias vitórias. Correr atrás do vento pode ser divertido por um tempo, mas, tem o seu limite. Não preenche, não colabora para a identidade. Ouvir a Jesus é ser desafiado a algo novo. E dentre algumas implicações, talvez, seja preciso abandonar redes que já são familiares, abandonar velho hábitos, se aventurar e confiar naquele que chama-nos a uma nova vida. Quem vai ouvi-lo hoje?

Gritos de hoje, de ontem e…

2

Nessa semana, andando pela cidade de São Paulo, paro num semáforo. Enquanto olho para o sinal vermelho ouço palavras misturadas e gritadas, e do que consigo entender, frases soltas se repetem: “De tanto medo de morrer fiquei com medo de viver. Eu quero minha alma de volta. Devolvam minha alma”.

Olhei pelo canto do olho e vi que se tratava de um senhor, talvez por volta de seus 50 e poucos anos, maltrapilho, desses homens de rua que cruzamos o tempo todo, e de tanto encontrá-los vamos ficando indiferentes. Ignoramos, em geral, suas solicitações, suas condições, e irritados e/ou assustados, nos afastamos.

Contudo, aquela fala ficou ecoando em mim. Em meio às suas perturbações psicológicas aquele homem tinha uma lucidez estranha de sua situação, uma vez que lucidez encontra-se quase em extinção. Ele, com um rádio antigo na mão e um pedaço curto de pau (simbolizando um microfone), gritava sua angústia e repartia sua realidade.

Por um lado pergunto-me: quem ouve esse gemido? Andamos tão apressados, tão ensimesmados que gritos de fora somam-se aos gritos de dentro e, por não aguentarmos tanto ruído, nos perdemos em afazeres sem fim.

Por outro lado, penso que aquela aflição, gritada em desespero, retrata a nossa realidade. Assim como aquele homem, já com pouca ou nenhuma referência de sua própria dignidade, ora se perde em pensamentos desconexos, ora compreende e coloca acertadamente em palavras o que se passa do lado de dentro. Alguns poucos conseguem expressar-se tão verdadeiramente bem, assumindo seus medos e consequências, repartindo suas fragilidades e expondo debilidades. Muitos escondem-se atrás de máscaras, funcionam bancando aparência de fortaleza e sabedoria, mas, sofrendo horrores que não nomeiam. Optam pelo orgulho de manter-se em pé, mas interiormente estão prostrados pelo medo, onde a alma perdeu-se.

Os evangelhos registram a história de um homem de rua, um cego, que vivia à beira do caminho. Limitado por suas condições, pedia esmolas. Essa era sua vida, assumir suas limitações e brigar por ela.  Mas, certo dia, começou também a gritar. Seu grito não foi ignorado. Entretanto, para a maioria o incômodo era pior do que suas condições, então, o mandavam se calar. Mas, ele não só insistia como começou a gritar mais alto ainda: “Filho de Davi, tem misericórdia de mim!” (Mc 10.48). Jesus, que por ali passava, parou e pediu para o chamarem. E assim que ele se aproximou Jesus lhe pergunta: “O que você quer que eu lhe faça?”. Não era evidente? Por que essa pergunta? É impressionante o número de coisas supostamente sabidas, mas pouco assumidas. Em nós, seres de desejos e de gula, fica confuso o que realmente queremos ao gritarmos, e até mesmo o que queremos de Deus.

Nós, não pouca vezes, achamo-nos organizados, bons em articulações, fazendo ligações aqui e ali, associações variadas, pronunciando-nos sobre tantos assuntos até com alguma distinção e clareza, porém, cegos para nossa real necessidade.

O cego que buscou Jesus respondeu: “Mestre, eu quero ver!” (Mc 10.51). Ele não pediu para ter um dia de boas esmolas, não pediu para ter um bom cão-guia, não pediu para desfrutar de uma refeição única, enfim, não desperdiçou a oportunidade.  Era cego, mas não era estúpido. E a pergunta de Jesus o ajudou a ter consciência clara de sua necessidade prioritária. Sim, boas perguntas podem nos provocar e nos organizar interiormente.

Aquele homem foi atendido em seu gemido. O homem que encontrei essa semana não sei se já foi. Mas pedi a Deus por ele, pedi a Deus por mim. Ele me ajudou a lembrar de angústias não nomeadas, de medos devastadores, de não perder a alma em meio à confusão, de minha própria cegueira. Então, também clamei…“Filho de Davi, tem misericórdia de mim, tem misericórdia daqueles que dão seu jeito de serem ouvidos e não desistem mesmo quando reprimidos e discriminados, tem misericórdia dos corajosos que se apresentam!”

E é bom saber que Jesus nos ouve, nos chama, mas, o que já discernimos da vida?

Fé em ação

1

Como é triste sentir-se perseguido, perceber conspirações contra si, reconhecer inimigos tão perto, conviver com agressores, receber ataques, viver ameaçado.

Davi ao se ver nessa situação clama: “Levanta-te para ajudar-me; olha para a situação em que me encontro!” (Sl 59.4b). Ele suplica confiante em Deus: “Ó tu, minha força, por ti vou aguardar; tu, ó Deus, és o meu alto refúgio. O meu Deus fiel virá ao meu encontro.” (Sl 59. 9-10).

É bonito ler na Bíblia como alguém que se vê correndo tão séria e explicitamente risco de vida, rodeado de gente que rosna como cães bravos, é capaz de assegurar-se tão fortemente em Deus, convicto de que o amor de Deus é infalível e que aparece na hora certa o socorro.

É claro que ele deseja que seus inimigos desapareçam, mas, não antes de serem apanhados em seu orgulho, serem feridos pela própria língua malignas deles, serem derrubados pela justiça.

O olhar de Davi enxerga adversários insaciáveis, mas vê também e maior a fidelidade de Deus e sua força. E sabe que cantará e celebrará as façanhas de Deus – sempre presente em tempos ruins, estranhos e esgotantes.

Ao mesmo tempo que Davi vê o ódio de seus inimigos, vê também o amor de Deus, onde ele pode se abrigar, ficar seguro, e descansar. Ele diz: “Tu és o meu alto refúgio, abrigo seguro nos tempos difíceis. Ó minha força, canto louvores a ti; tu és, ó Deus, o meu alto refúgio, o Deus que me ama” (Sl 59.16-17).

A vida é reorientada e reconfortada a partir da fé em Deus. A esperança é renovada com essa fé. E a certeza e total segurança num Deus pessoal que o ama faz ele prosseguir e enfrentar os dias.

Thomas Merton afirma que “não somos perfeitamente livres enquanto não vivemos de pura esperança. Sem esperança, a nossa fé só nos dá distantes relações com Deus. Sem amor e esperança, a fé só O conhece como a um estranho. Pois a esperança é que nos joga nos braços da Sua misericórdia e da Sua providência. Se esperamos em Deus, não nos limitaremos a saber que Ele é bom, mas experimentaremos em nossa vida a Sua misericórdia”.

Esperar em Deus, contudo, não é sinônimo de passividade. Esse salmo que Davi escreve se dá no contexto em que Saul envia homens para vigiarem a casa de Davi a fim de matá-lo, pois, naquele mesmo dia, antes de anoitecer, ele já havia escapado por um triz de uma lança contra ele. Já em casa, é Mical, sua esposa, que o alerta: “Se você não fugir esta noite para salvar sua vida, amanhã estará morto” (I Sm 19.11). Ela, então, fez Davi descer por uma janela a fim de que fugisse. E enquanto ele fugia ela montou um esquema criativo para despistar os guardas e ganhar tempo a favor de Davi.

Acho interessante como a inteligência e perspicácia de Mical foi importante nesse episódio e como Davi reconhece isso tudo como ação do amor de Deus, que dele cuida em todo tempo. Sim, Deus cuida e o faz, muitas vezes, através de pessoas. E aproveita, utiliza-se da inteligência, sensibilidade e agudeza de espírito de pessoas que nos cercam.

Voltando a Merton, ele diz: “a esperança esvazia-nos as mãos para que possamos trabalhar com elas. (…) Se Deus é bom e se a minha inteligência é uma dádiva Sua, o meu dever é mostrar, pela inteligência, a minha confiança na Sua bondade. Devo deixar a fé elevar, curar e transformar a luz da minha mente”.

O amor de Deus não negligencia as dádivas, capacidades, características que ele mesmo nos deu. Podemos desenvolver-nos com esperança, fé e amor em Deus, participativos dos livramentos que Ele promove.

Saibamos ouvir, agir, repartir sobre o que Deus faz, reconhecendo-o em todos os nossos caminhos.

Coisas que eu nem sei

3

É impressionante nossa capacidade de achar que já entendemos o que tinha para ser entendido, e também, ignorar algumas coisas que estão tão perto de nós.

Num quarto de hospital a conversa se deu entre duas mulheres:

– Na igreja a gente fez a campanha da dracma perdida.

– O que é dracma?

– É tudo aquilo que a gente esquece de fazer.

O relato da parábola de Jesus que encontramos no registro do Evangelho de Lucas 15.8-10 é tão precioso, contando de algo valioso (especialmente para quem tem pouco) que foi perdido, mas também foi buscado, e ao ser achado a festa se dá. A dracma era uma moeda de prata equivalente a diária de um trabalhador braçal. E ela não precisa ser esquecida, tão pouco ser sinônimo de descuido. Lembrei-me da música de Danni Carlos (Coisas que eu sei) que diz: “Meu conhecimento é minha distração”.

Por esses dias a mídia noticiou o tesouro que um casal da Califórnia, já de meia-idade, passeando com o cachorro em sua propriedade rural, nas colinas de Gold Country, achou – US$ 10 milhões (R$23,5 milhões) em moedas de ouro raras. Eles já moravam há anos nesse lugar e não faziam ideia do tesouro bem debaixo de seus pés, ali o tempo todo. Que surpresa quando resolveram examinar o que parecia uma lata enferrujada que começava a sair da terra, em um caminho já conhecido de anos dentro da propriedade deles. Quantas vezes não caminharam por aquele trecho ignorando o tesouro?!

Jacó também foi surpreendido, ficou maravilhado e até teve medo diante da grandeza achada. No caminho entre Berseba e Harã parou para pernoitar, afinal, já estava escuro e seria difícil prosseguir. Pegou uma pedra, fez de travesseiro e pronto, foi o suficiente para pegar no sono e sonhar. O sonho era estranhamente bom, uma escada apoiada na terra, tinha o topo no céu, e nela anjos subiam e desciam. Ao lado estava Deus e este lhe dizia coisas maravilhosas, renovando a aliança que havia feito ao seu avô Abraão. Nesse sonho Jacó ouvia do Senhor: “Estou com você e cuidarei de você, onde quer que vá. Não o deixarei”. E então, quando Jacó acorda, simplesmente reconhece: “Sem dúvida, o Senhor está neste lugar, mas eu não sabia!” (Gn 28.16).

A vida é assim, ignorâncias e mal entendidos, que nos atrasam e confundem. Limitações e teimosias, medos e sustos, distrações e faltas nos fazem lembrar quem somos. Mas, a vida também é surpreendente, trazendo-nos alegrias, possibilitando achados e descobertas que são tesouros. Buscar, passear, viajar, rir, dormir, encontrar, são movimentos da vida, corriqueiros, porém, podem nos trazer maravilhas inesperadas, podem deixar nossa caminhada melhor, mais tranquila.

Brennan Manning se examinava: “Será que passei a levar a vida muito a sério? Será que na confusão do dia a dia permiti que se dissipasse o meu senso pueril de maravilhosamento? Será que parei de atentar para pôr-do-sol e o arco-íris? Será que me perdi tanto em ensinar, escrever, viajar que já não ouço o som da chuva no telhado? Será que levar a vida a sério passou a significar levar uma vida de tristeza? Será que viver é apenas outra palavra para resistir?”.

Leveza e reflexão, alegria, atenção e nova compreensão podem deixar a vida mais saborosa. E o que pode haver de mais maravilhoso do que encontrar Deus?

Jesus nos convida para irmos até ele, sem enganos, o fardo existe, mas trata-se de algo leve (Mt 11.28-29). O que é certo é que encontrarão descanso. Muitos se perguntam onde está a leveza porque vivem com pesos quase insuportáveis e as forças se esgotam, contudo, o convite é válido ainda hoje. Com Jesus nos surpreendemos e nos maravilhamos porque nele há uma vida que ignorávamos, há novidade no viver que não fazíamos ideia ser real. Há movimentos que podem nos levar a ele, depende de nós, pois, sua misericórdia, compaixão e graça já temos.

Eu gostaria… (uma constatação a partir de I Coríntios 13)

2

Eu gostaria de falar com eloquência humana e com êxtase própria dos anjos.

Eu gostaria de pregar a Palavra de Deus com poder, revelando mistérios e deixando tudo mais claro, Cristo em evidência.

Eu gostaria de ter uma fé inabalável, exemplar, inspiradora, notória.

Eu gostaria de dar tudo o que tenho aos pobres, oferecer-me como sacrifício, enfrentando o que tiver que enfrentar.

Eu gostaria que tanto do que é buscado e aprovado na vida cristã, reconhecido como importante, estivesse em mim.

Eu preciso, contudo, é do amor de Deus. Caso contrário, estarei falida.

O amor é que faz a diferença, que pode me fazer diferente.

O amor é que ensinará a perseverar, não me deixará desistir quando tudo ao meu redor favorecer o deixar para lá. Só o amor pode tratar minha impaciência crônica.

O amor é que me educará para a bondade, só ele me fará tirar os olhos do meu próprio umbigo, e ensinará, verdadeiramente, a me interessar por aquele que entra em meu caminho. Aliás, me ampliará o horizonte, me ajudando a perceber que “meu” caminho está dentro de um caminho maior na história de salvação.

O amor é que poderá corrigir e transformar a inveja que me habita. Sim, ele tem o potencial de me ajudar a não querer o que não tenho, e a alegrar-me com os que possuem e conquistam coisas boas. Mais gratidão e celebração do que comparação e competição.

O amor é que não me deixará mergulhar na arrogância e nutrir uma mente soberba. Ele é que me dará discernimento, me mostrará em quantas ocasiões e em como, de variadas maneiras, tento me impor aos outros, disfarçada ou escrachadamente, maltratando quem poderia ser bem cuidado, manipulando para que as coisas saiam do meu jeito, conforme a minha vontade, ocupando-me tão somente dos meus desejos mais escondidos.

O amor é que me fará enxergar como facilmente ajo na base do “eu primeiro”, buscando continuamente meus próprios interesses, alimentando meu egocentrismo.

O amor é que não me deixará perder as estribeiras, e me entregar rapidamente à ira, através da qual deixo escapar uma agressividade intensa que tento controlar com minhas próprias forças.

O amor é que me conduzirá ao perdão, não me deixando cair em contabilizações dos erros dos outros e supostas dívidas que considero que tenham a mim. O rancor se dissolverá quanto mais o amor reinar.

Afinal, o amor não festeja quando os outros rastejam, o amor não se alegra com injustiça alguma, antes, o amor me deixa muito mais sensível a qualquer injustiça a meu redor e até longe de mim, e assim, a dor do que sofre passa a ser também minha. Só no amor há esperança de um coração verdadeiramente solidário, capaz inclusive de realmente ter prazer, vibrar saltitante com o desabrochar da verdade.

O amor é que me fará suportar o que de outra forma jamais conseguiria.

O amor é que me ajuda a ver e crer além, e por isso, caminhar na confiança do que Deus está fazendo por detrás, acima, e além do que consigo ver. E assim, descansar nele, sabendo que no amor o melhor é buscado, que o amor encontra caminhos de vida, de perdão, de reconciliação, que o amor é esperançoso. Portanto, não é preso no passado, é livre para tentar mais uma vez, não precisa enroscar na decepção que me faz afastar-me para ilusoriamente proteger-me. Enquanto o medo encontra brechas, o amor escancara espaços, respeitando limites. Dessa maneira ele segue até o fim, imortal, sem perecer pelo caminho da existência.

Muito ideal, muita perfeição? Esse amor é o amor de Deus por nós – frágeis, assustados, rebeldes. Esse amor de Deus é o que nos cura. Esse amor é que em mim pode ser revolucionário. Por mais que cresça, é bem verdade, não me dominará por completo nessa vida, onde enxergamos apenas em parte, e vivemos em incompletude. Mas, quando vier aquele que é Completo, não mais haverá limites em mim, e verei e viverei mais do que jamais imaginei.

34ª semana de 2013

0

“Apesar da culpa que as mães costumam sentir por se afastar dos filhos para trabalhar fora, as crianças de hoje recebem muito mais atenção dos pais do que nas décadas de 60 e 70. É o que revela a American Time Use Survey, pesquisa do departamento de estatísticas do trabalho do governo americano. A explicação é que, naquela época, as donas de casa monitoravam menos as crianças para se dedicar aos afazeres domésticos e à vida social.”

VocêS/A – agosto 2013

 

“Segundo Pesquisa TIC KIDS Brasil 2012, ‘Quem aconselha os estudantes sobre segurança na internet?’: 59% parente; 55% professor; 33% televisão, rádio, jornais e revistas; 20% igrejas ou grupos de jovens; 16% bibliotecário ou monitor de lan house. Crianças e adolescentes rejeitam o controle dos adultos quanto ao uso da rede, mas querem orientação. ‘Ao mesmo tempo que não aceitam interferências, eles demandam intermediações sobre o uso seguro’, diz Regina de Assis, consultora em Educação e Mídia.”

Nova Escola – agosto de 2013

 

“Líderes que têm como principal característica o comando e controle, em geral, serão menos eficazes do que os catalizadores de colaboração e inovação. Conduzir a diversidade de opiniões será a chave para gerar mais inovação. De fato, o último estudo da IBM com CEOs em todo o mundo revelou que 71% dos executivos consideram o capital humano como a principal fonte interna de valor econômico sustentável das empresas. Serão os líderes com esse perfil que transformarão isto em realidade.”

Alessandro Bonorino, O Estado de S.Paulo – 18/08/2013

 

“É possível um mundo melhor? Sim e não. Sim, é possível um mundo melhor a começar por melhores remédios, casas, escolas, hospitais, aviões, democracia (ainda acredito nela, apesar de ficar de bode às vezes). Não, não é possível um mundo melhor porque algumas coisas não mudam, como o caráter humano, suas mentiras e vaidades, sua violência, mesmo que travestida de civilidade, nossas inseguranças, nossa miséria física e mental, nossa hipocrisia. Nossas ambivalências sem cura. […] O mundo melhor parece ser aquele no qual as pessoas podem errar, pedir perdão e ser perdoadas. Um mundo melhor não é um mundo sem violência ou ambivalência, mas um mundo onde existe o perdão.”

Luiz Felipe Pondé, Folha de S.Paulo – 19/08/2013

 

“Continuo cheia. Cheia de tecnologia. Cheia de pessoas que acham que estão inventando a roda. Cheia de empreendedores cujo grande objetivo na vida é ficar rico. Cheia de espertalhões que criam problemas para vender soluções. Farta dos que espalham terror para vender segurança. Estou cada vez mais cheia de fazer cadastros, preencher formulários, alimentar estatísticas. Não suporto marketing invasivo. Não aceito como herança tanto lixo industrial. […] Hoje não quero ser amiga de todo o mundo. Não quero que todo o mundo goste de mim. Não quero ter razão. Não quero ser popular. Não quero ser forçada a gostar de nada nem de ninguém. Hoje não quero conhecer uma nova rede social. Não acho que tudo na vida tenha de se transformar em software ou sistema. Não acredito que tecnologia seja solução para todos os problemas.”

Marion Strecker, Folha de S.Paulo – 19/08/2013

 

“É maravilhoso fazer amigos pela internet. Encontrar antigos conhecidos, colegas de infância. Manter contato com quem não se pode ver sempre. Mas a maldade me assusta. Não tenho uma solução para o problema, mesmo porque sou contra qualquer tipo de restrição. O problema é que as pessoas gostam de maldades. Ler uma notícia fantasiosa sobre alguém famoso, ou mesmo sobre uma pessoa comum, dá uma falsa sensação de intimidade. E, na constelação da internet, o veneno está em expansão.”

Walcyr Carrasco, Época – 19/08/2013

 

“A religião muda as pessoas para o bem e para o mal. Sempre fui fascinado pelo poder que a religião tem de mudar o comportamento das pessoas e da sociedade. Um de meus objetivos em meus livros é analisar o processo da crença: o que leva alguém a acreditar numa religião. No caso da cientologia, não é uma conversão, uma iluminação, como ocorre na maioria das religiões. É uma espécie de lavagem cerebral, uma passagem em que pessoas instruídas, inteligentes e céticas se tornam crentes.”

Lawrence Wright, 66, escritor americano, Época – 19/08/2013

 

“Se a humanidade se comprometesse a consumir a cada ano só os recursos naturais que pudessem ser repostos pelo planeta no mesmo período, em 2013 teríamos de fechar a Terra para balanço hoje, 20 de agosto. Essa é a estimativa da Global Footprint Network, ONG de pesquisa que há dez anos calcula o ‘Dia da Sobrecarga’. Para sustentar o atual padrão médio de consumo da humanidade, a Terra precisaria ter 50% mais recursos. Segundo a ONG WWF-Brasil, que faz o cálculo da pegada ambiental do país, nossa margem de manobra está diminuindo (veja quadro à dir.), e exibe grandes desigualdades regionais. ‘Na cidade de São Paulo, usamos mais de duas vezes e meia a área correspondente a tudo o que consumimos’, diz Maria Cecília Wey de Brito, da WWF. O número é similar ao da China, um dos maiores ‘devedores’ ambientais.”

Rafael Garcia, Folha de S.Paulo – 20/08/2013

 

“A capacidade dos uruguaios em assumir riscos e procurar inventar novas respostas para velhos problemas é louvável. […] Eles optaram por colocar à frente do processo político uma espécie de antilíder [José Mujica], cujo carisma vem exatamente de seu desconforto aberto em relação aos ritos do poder. Alguém que parece a todo momento dizer não se enxergar como um presidente e que se recusa a abandonar sua vida espartana, seu sítio modesto e seus hábitos e roupas comuns. Alguém que tem a liberalidade de deixar o lugar do poder vazio e, por isso, encontra uma força inaudita por meio exatamente da expressão de seu franco desprendimento. Trata-se de uma lição política merecedora de nossa admiração, a saber, a compreensão de que o melhor líder é aquele que sistematicamente recusa-se a se ver como tal.”

Vladimir Safatle, Carta Capital – 21/08/2013

 

“A inveja é uma mistura de idealização, amor e ódio. sonha-se ser o que os outros sonham. […] Nesse mundo, em que a inveja é um regulador social, as aparências são decisivas porque elas comandam a inveja dos outros. Por exemplo, o que conta não é “ser feliz”, mas parecer invejavelmente feliz. Nesse mundo, o ter é mais importante do que o ser apenas porque, à diferença do ser, o ter pode ser mostrado facilmente. É simples mostrar o brilho de roupas e bugiganga aos olhos dos invejosos. Complicado seria lhes mostrar vestígios de vida interior e pedir que nos invejem por isso. O Facebook é o instrumento perfeito para um mundo em que a inveja é um regulador social. Nele, quase todos mentem, mas circula uma verdade de nossa cultura: o valor social de cada um se confunde com a inveja que ele consegue suscitar.”

Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo – 22/08/2013

 

“Se entre dez mandamentos, apenas dez, cobiçar a mulher alheia estava entre eles, com a mesma relevância de “não matarás” e “não furtarás”, porque é um princípio que deve ser seguido à risca. Talvez, um dos pilares da civilização. Deus não queria baderna. Foi sucinto, porque Deus não tinha tempo a perder. E soube como ninguém usar aquilo que criou em primeiro, o verbo.”

Marcelo Rubens Piva, O Estado de S.Paulo – 24/08/2013

 

“O apelo do papa Francisco aos jovens na Jornada carioca – ‘manifestem-se’ – não pode ter resposta universal. Em regimes políticos fechados, manifestar-se não é exatamente uma opção. Além disso, a expectativa das sociedades em torno dos jovens difere muito. Quem conversar com jovens chineses de classe média urbana, por exemplo, vai se dar conta de que o seu espectro de liberdade pessoal é limitado. Eles são alegres, mas frequentemente usam a palavra ‘yali’ (pressão) para qualificar a vida. A sociedade espera que, entre 22 e 28 anos, as pessoas assegurem um emprego estável, casem-se, tenham seu filho único e o deixem sob a responsabilidade dos avós. Esse até pode ser o curso normal da vida em outros lugares. Na China, contudo, a cobrança para segui-lo é determinada. Enquanto a economia crescia a dois dígitos, encontrar trabalho não era problema. Com o crescimento mais baixo, o cenário fica difícil. Em 2011, 17.5 % dos que se formaram ficaram desempregados. O número em 2013 deve ser bem maior. Nesta semana, o premiê Li Keqiang encontrou-se com um grupo de graduandos e lhes sugeriu: criem oportunidades para si mesmos, inovem, abram negócios, tomem riscos. Em outras palavras, sua mensagem foi a seguinte: faremos o possível, mas vocês têm de se mexer.”

Marcos Caramuru de Paiva, Folha de S.Paulo – 24/08/2013

 

“Não vi nada melhorar. Cada vez parece que vai piorando. Muita gente perde a vida. O Brasil não é um país tão atrasado assim, até intelectualmente era para melhorar esse negócio da violência. Saber que a vida do ser humano tem valor.”

Wagner dos Santos, 41, sobrevivente da chacina da Candelária, Folha de S.Paulo – 24/08/2013

33ª semana de 2013

0

“No cristianismo, amor não é mero afeto, mas a ação que nos faz existir. Sem ele, a vida esvazia. […] Nossa natureza ‘caída’ não suporta o ‘peso’ do amor. […] Longe do amor, somos todos doentes, umas criaturas da noite que vagam numa escuridão sem fim. No escuro, não é só o outro que desaparece, mas nós também. […] Quando nos distanciamos do amor, nos dissipamos num desejo que nos leva ao nada. […] Quando nos sentimos longe do amor (de Deus), vemos nosso nada, isso deixa nossa alma inquieta, sedenta. […] O drama maior não é não ser amado, mas ser incapaz de amar.”

Luiz Felipe Pondé, Folha de S.Paulo – 12/08/2013

 

“Criados livres de um aprendizado restrito, compartimentalizado e unidisciplinar, jovens que cresceram com a internet tiveram, pela primeira vez na história, tutores incansáveis, de capacidades infinitas, oscilando entre canais quando necessário. […] Sua forma de pensar é chamada de “mente da Renascença”, em referência a um período em que, depois de séculos isoladas, as pessoas voltaram a compartilhar conhecimento. A visão multimídia não é exclusiva da Renascença. Pitágoras, na Grécia antiga, cresceu na ilha de Samos entre tutores e navios, e sua curiosidade e formação vasta o ajudaram a influenciar áreas tão diversas quanto filosofia, ética, política, matemática, religião e música. No século 18, Goethe teve aulas de diversas línguas ainda na infância. Bom desenhista e leitor ávido, virou poeta, novelista, dramaturgo, cientista, filósofo e diplomata. […] O símbolo do raciocínio da Renascença é, naturalmente, Leonardo da Vinci. Pintor, escultor, arquiteto, músico, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, geólogo, cartógrafo, botânico e escritor, ele imaginou helicópteros, tanques, calculadoras e baterias solares em seus cadernos, sem se preocupar em publicá-los, ou mesmo se os protótipos poderiam ser executados.”

Luli Radfahrer, Folha de S.Paulo – 12/08/2013

 

“Foi só quando pude sentir as dores de meu pai é que aprendi a ser um filho.”

Walcyr Carrasco, Época – 12/08/2013

 

“A função do escritor é enfrentar os poderes constituídos. Isso em todo o mundo. Os grandes autores são aqueles que desafiam os regimes totalitários e desumanos. Todo dia escritores são presos por se expressar criticamente contra os governos em países da África, do Oriente Médio e da Ásia. Tenho o privilégio de trabalhar num país democrático, em que a liberdade de expressão é um ponto inegociável. Mas não deixa de ser também um país em que o poder e os poderes se organizam e se mascaram rapidamente.”

Don DeLillo,76, escritor americano, Época – 12/08/2013

 

“Há um ano, a Igreja Mundial do Reino de Deus usava 320 retransmissoras de TV para propagar as palavras do apóstolo Valdemiro Santiago. Desde então, encerrou contratos com metade delas. Saiu do ar em capitais como Belém e Fortaleza.”

Época – 12/08/2013

 

“A presença feminina no conselho de empresas brasileiras ainda é pequena. Apenas 13% dessas cadeiras são ocupadas por mulheres. As que chegaram lá costumam figurar nos seguintes postos: 32% diretora de Recursos Humanos; 27% diretora de Finanças (CFO); 27% diretora de Vendas (segundo International Business Report 2013).”

VocêS/A – agosto 2013

 

“A certeza, essa deusa em cujo altar depositamos flores (e grana), é tão difícil quanto a Verdade.”

Roberto DaMatta, O Estado de S.Paulo – 14/08/2013

 

“Teremos, todos, de mudar nossos hábitos e visões. E trabalhar com otimismo em novas direções urbanas.”

Washington Novaes, O Estado de S.Paulo – 17/08/2013

 

“A religião tornou-se a única forma ideológica em Israel. Não há mais a ideologia do sionismo, do kibutz. Os religiosos é que vivem como judeus, gostemos ou não, Quem é judeu hoje? Quem reza três vezes por dia. Assim era há 2 mil anos. Assim é hoje.”

Aharon Appelfeld, 82, escritor, O Estado de S.Paulo – 17/08/2013

 

“A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) alerta que existem 28,5 milhões de crianças fora das salas de aula em áreas de conflito. Elas sofrem não só com escolas fechadas ou falta de professores, mas também com ataques às instituições, estupro e outras formas de violência sexual (44% África Subsaariana; 14% Países Árabes; 19% Sul e oeste da Ásia/ 23% Outra regiões).

Nova Escola – agosto de 2013

 

“Acredito que esse é o grande segredo para chegar aos 40 anos melhor do que aos 20: ter a consciência de que fizemos o possível para vencer os percalços da vida com honestidade, sem passar por cima de ninguém e sem tentar levar vantagem. Todas as vezes em que agi sem pensar, por pressa ou ansiedade, a vida cobrou um preço muito caro depois. […] Eu me preocupei em construir um caminho em que o dinheiro não fosse o mais importante (há anos não faço comerciais. Não quero contribuir para o excesso de consumo). Não queria um padrão de vida luxuoso. Queria, sim, usar minha criatividade ao máximo. Para mim, a realização plena é dar conta do essencial, das coisas simples da vida.”

Letícia Sabetella, 42, atriz, Claudia – agosto de 2013

Go to Top