Mandela – um promotor da paz

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Neste mês de dezembro relembramos o texto da multidão do exército celestial com o anjo, onde todos louvavam a Deus dizendo: “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem” (Lc 2.14).

Os pastores nos campos foram surpreendidos com o surgimento de um anjo do Senhor e as boas novas de grande alegria que ele trazia: “hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2.11).

A celebração cristã nessa época é intensa. Continuamos a louvar a Deus e aprofundar a compreensão do significado da encarnação de Deus, de Cristo em nós.

Glórias nos damos a Deus, mas nem sempre promovemos com afinco a paz entre os homens. Embora, saibamos nós que Jesus assim ensinou: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9).

O Filho de Deus, Jesus Cristo, veio fazer a paz (Rm 5.1), trazer paz (Jo 14.27), e disse que ser pacificador é ser felizmente chamado filho de Deus.

Tendo Jesus como fonte de paz não seria natural para os filhos de Deus tornarem-se pacificadores? Quais as referências de pacificadores em nosso tempo de tantas guerras?

Henri Nouwen, em seus últimos anos de vida, ponderava sobre sua trajetória e começou a perceber que ela havia sido violenta e assim disse: “tão cheio de desejos de ser melhor do que os outros, tão marcado pela rivalidade e pela competitividade, tão invadido por compulsões e ideias fixas e tão obcecado por momentos de desconfiança, inveja, ressentimento e vingança! Ah, certamente a maior parte do que eu fiz chamava-se ministério, o ministério da justiça e da paz, o ministério do perdão e da reconciliação. Mas, quando aqueles que querem paz estão igualmente tão interessados no sucesso, na popularidade e no poder como os que querem a guerra, qual a verdadeira diferença entre guerra e paz?”

Nelson Mandela, também com o avançar dos anos, olhando sua jornada, e sendo criticado por alguns como tendo discursos um pouco sem graça, diz: “tento não ser agitador de multidões. As pessoas querem ver como você lida com as situações. Querem as coisas explicadas clara e racionalmente. Amadureci. Era muito radical quando jovem, brigando com todo mundo, usando linguagem bombástica.” Nossa linguagem, nossas escolhas, nossas posturas nem sempre sinalizam reconciliação, às vezes, pouco comunicam a respeito da paz, mas, Mandela compreendia e ensinou que o principal estilo de liderança não era se lançar à frente, mas ouvir e conseguir o consenso. Sua vida nos inspira, sua morte ainda fala, sua história por um pouco nos cala.

Faço silêncio reverente. Falece um homem que viveu nosso tempo, lutou por justiça, enfrentou o apartheid, tornou-se símbolo de reconciliação e um forte promotor da paz.

O editor-executivo da revista Time, Richard Stengel, que colaborou com Nelson Mandela na autobiografia Longo Caminho para a Liberdade, e que escreveu Os Caminhos de Mandela, diz o seguinte: “ele sabia que nenhum de nós é tão bom quanto as melhores coisas que fazemos ou tão ruim quanto as piores delas”, e ainda sobre essa arte de promover paz através de diálogos difíceis em situações extremas, ele conta: “em suas negociações para o primeiro governo do país assumiu vários compromissos fundamentais a fim de chegar a um acordo. Embora muitos de seus companheiros se opusessem firmemente, ele deu ao Partido Nacional o direito de manter seus cargos públicos e um governo de união, no qual de Klerk foi vice-presidente. Mas ele conseguia ver o lado dos nacionalistas e sabia que o objetivo principal era o que importava. Sim, havia alguns princípios que não eram negociáveis – ‘uma pessoa, um voto’; democracia universal -, mas, depois disso, a maior parte das coisas tinha gradações cinza. Gradações cinza não são fáceis de articular. Preto e branco é mais sedutor porque é simples e absoluto. Parece claro e decisivo. Por causa disso, muitas vezes gravitamos em volta de respostas ‘sim’ ou ‘não’, quando ‘ambos’ ou ‘talvez’ está mais perto da verdade. Algumas pessoas escolhem um categórico ‘sim’ ou ‘não’ porque pensam que isso parece ser forte. Mas se cultivarmos o hábito de considerar ambos – ou mesmo vários – os lados de uma questão, como Mandela fazia, de manter o bom e o mau em nossas mentes, podemos ver soluções que de outra forma não nos ocorreria. Esse modo de pensar é exigente. Mesmo se nos mantivermos apegados ao nosso ponto de vista, isso exige que nos coloquemos no lugar daqueles com os quais discordamos. Exige vontade, empatia.”

Ainda fazendo outras considerações a respeito de Mandela, do que viu e ouviu dele, acrescenta: “vinte e sete anos na prisão ensinam muitas coisas, e uma delas é pensar a longo prazo. Nossa cultura recompensa a velocidade, mas Mandela dizia que não devemos deixar a ilusão da urgência nos forçar a tomar decisões antes de estarmos prontos. Melhor ser lento e ponderado do que rápido apenas para parecer decisivo. Não é a velocidade da decisão, mas a sua direção. Não é a rapidez que torna alguém corajoso. De fato, assumir a visão a longo prazo com frequência exige estar disposto a mudar ideias acalentadas ou profundamente arraigadas havia muito tempo.”

Ansiosos e intolerantes pouco sabemos dialogar. Nossos pronunciamentos ou mesmo conversas informais favorecem mais intrigas, confusões e guerras do que o cuidado de promover a paz. A curta visão denuncia a curta compreensão. O fundamentalismo cresce, as discórdias se multiplicam, ninguém quer se colocar no lugar do outro e ouvir serenamente. Convictos de que somos os certos, que o equívoco sempre está do lado de lá, que competir é melhor que colaborar e servir, que dialogar é convencer, e que vencer custando o que custar é o que vale mais, não promoveremos a paz. As implicações são muitas e variadas, mas reparar em quais sinais nos acompanham pode ser proveitoso.

Novamente Stengel: “Mandela é um corredor de longa distância, um pensador de longa distância. E a prisão foi uma maratona. Mandela pensava em termos de história. A história, por definição, é a longo prazo.”

Nesse dezembro o corredor descansou. Mas suas marcas históricas permanecerão. Caminhos de paz ainda estão em construção. Vamos?

Excesso

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O excesso parece dominar em vários setores da vida cotidiana. Excesso de excitação, excesso de consumo, excesso de informação, excesso de trabalho, e por aí vai.

É permitido, mas é indecente? Qual o limite? Conhecemos? O que é de fato necessário? Vivemos num tempo onde extremos atraem mais, e queremos sempre ultrapassar, intensidade nas experiências singulares, sobram desejos, falta a arte de comedir. Raros os que se contem, tornou-se exceção os moderados, embora, todos os radicais se julguem moderados e bem regulados a seus próprios olhos.

Cegueira e confusão parecem nos conduzir a maior parte do tempo. Uma teimosia e arrogância natural nos conduzem ao “mais” como conclusão de que isso seria bom. E aí ficamos entre o descartável e o acúmulo, com este último avançando.

Como diz Edgar Morin: “O homem manifesta uma afetividade extrema, convulsiva, com paixões, cóleras, gritos, mudanças brutais de humor; ele carrega consigo uma fonte permanente de delírio.” E assim, não é difícil perceber que não gostamos de limites, ainda que destemperos sejam visíveis.

Chamou-me atenção a música de Arnaldo Antunes em seu recente trabalho intitulado “Disco”:

tem muito carro e muito pouco chão

tem muita gente e muito pouco pão

tem muito papo e muito pouca ação

muito parente e muito pouco irmão

 

e então?

o que vamos fazer então

com mais um milhão?

e depois?

o que vamos fazer depois

com um grão de arroz?

 

tem muito pouca dúvida e muita razão

tem muito pouca ideia e muita opinião

muita pornografia e muito pouco tesão

muita cerimônia e muito pouca educação

 

e então?

e depois?

Temos feito o mundo cada vez mais frágil. A desconfiança cresce, mas plantamos violência, egoísmo, desigualdades. Engolimos caroços de corrupção e injustiças se proliferam, contudo, nos engasgamos é com a fraternidade que virou espinho na garganta, queremos cuspir.

Distanciamentos se ampliam, e a intimidade tornou-se quase desconhecida. Gente articulada, bem armada, bons discursos, mas a prática, o exemplo, o envolvimento minguam.

Fim de ano é tempo de avaliação, de colocarmos coisas na balança existencial, de fazermos faxina na alma, nos guarda-roupas, nas garagens, nos cantos que costumamos acumular. Rever e revisitar, repartir e celebrar. Arrepender e renovar-se. Ainda há tempo de novas escolhas, inéditas posturas.

Senhor Jesus, tem misericórdia de nós, e converte-nos ao teu evangelho – são boas e urgentes novas para o nosso século XXI.

46ª semana de 2013

“Uma mulher vitimada pelo estupro não é só alguém manchada na honra, mas alguém temporariamente alienada da existência. Honra, dignidade, autonomia são ignoradas pelo estuprador, é verdade. Mas o estupro vai além: é um ato violento de demarcação do patriarcado nas entranhas das mulheres. É real e simbólico. Age em cada mulher vitimada, mas em todas as mulheres submetidas ao regime de dominação.”

Debora Diniz, O Estado de S.Paulo – 10/11/2013

 

“E a política para trazer montadoras, para produzir carros caros e com alto consumo de gasolina, com potência para 350 km/h – mas você anda a 40 km/h? É o auge do supérfluo.

45ª semana de 2013

“Como mostrou o psicólogo Irving Janis, o desejo de manter a coesão e a harmonia do grupo faz com que seus membros tentem agir sempre em bloco e de maneira às vezes patológica. Uma série de experimentos sugere que juntar muitas pessoas que pensam de forma parecida, numa sala ou na rede de computadores, resulta em maior polarização (radicalização das ideias), mais animosidade (sensação de onipotência em relação a outros grupos) e conformidade (supressão de dissensos internos).”

Hélio Schwartsman, Folha de S.Paulo – 03/11/2013

 

“Confiamos nas pessoas ao redor para nos ajudar a lembrar os detalhes da vida desde sempre. Sabemos mais ou menos em que somos ruins em lembrar e no que nossos amigos, mulheres e maridos são bons. Até inconscientemente. Eu sei que minha mulher é melhor com datas. Ela sabe que sou bom para lembrar onde ficam as coisas na casa. Nós armazenamos um volume grande de dados fora de nós, dentro de outras pessoas. E aprendemos que, coletivamente, chegamos a melhores lembranças, análises e soluções.”

Clive Thompson, Folha de S.Paulo – 04/11/2013

 

“Aprender algo novo é sempre difícil, por mais que a pessoa queira ou goste. Para aprender, é preciso reconhecer a própria ignorância, e isso tem sido cada vez mais difícil no nosso mundo.”

Rosely Sayão, Folha de S.Paulo – 05/11/2013

 

“Há pouco lugar para a tristeza. E a exaltação e excitação são confundidas com felicidade. Vivemos de uma forma mais estimulante, na qual emoções mais depressivas, reflexivas, não têm espaço.”

Regina Elisabeth Lordello Coimbra, Folha de S.Paulo – 05/11/2013

 

“Quando dizem que uma criança tem TDAH, penso: será que isso está certo? É mais cômodo dar remédio do que fazer terapia, mudar o comportamento. As crianças são nosso espelho. Será que a agitação delas não é culpa nossa?”

Kátia Christina Fonseca da Silva, Folha de S.Paulo – 05/11/2013

 

“O papa está lançando a igreja a uma agitação, no bom sentido, como não se vê há séculos.”

Clóvis Rossi, Folha de S.Paulo – 05/11/2013

 

“Os cem mais ricos do mundo incrementaram suas fortunas em US$ 200 bilhões entre 2012 e 2013, chegando a um total de US$ 2,1 trilhões, de acordo com a Bloomberg. O maior aumento foi de Mark Zuckerberg (Facebook), que dobrou sua fortuna de 1º de janeiro a 30 de setembro, para US$ 24,5 bilhões.”

Folha de S.Paulo – 06/11/2013

 

“É provável que as visitas aos cemitérios se tornem cada vez mais raras. Além de um túmulo concreto, muitos já erigem monumentos virtuais para seus entes queridos, e visitar os mortos, no futuro, talvez signifique passear por um lugar virtual: rever fotos e textos, lembrar-se e deixar um pensamento (há sites para isso, cemitérios virtuais –peoplememory.com, por exemplo).”

Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo – 07/11/2013

 

“O trabalho é a principal atividade na sociedade contemporânea. Ele nos fornece o sustento material e a possibilidade de massagear o ego. A maioria de nós precisa estar bem no trabalho para estar bem na vida. Qual o motivo de termos tanta gente decepcionada com o trabalho no mundo corporativo? O problema começa quando nos damos conta de que dentro das empresas as pessoas são meros recursos. Como recursos, estão lá para satisfazer o interesse de acionista, ou seja, a maximização do lucro.”

Rafael Alcadipani, Você S/A – novembro de 2013

44ª semana de 2013

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“Uma em cada três pessoas com menos de 30 anos ainda não fez sexo no Japão de hoje. Os jovens japoneses enfrentam o que especialistas chamam de “síndrome do celibato”. Uma matéria publicada nesta semana no jornal britânico The Guardian mostra que o fenômeno pode impactar profundamente a estrutura da população nas próximas décadas. (…) Várias pesquisas parecem reforçar a sensação de que tanto sexo quanto relacionamento não são prioridade na vida dos jovens japoneses. Ainda de acordo com o The Guardian, em 2011, 61% dos homens solteiros e 49% das mulheres solteiras de 18 a 34 anos não estavam namorando. Uma pesquisa do Centro de Planejamento Familiar do Japão mostrou que 45% das mulheres e 25% dos homens de 18 a 24 anos não estavam interessados em sexo. (…) Outra pesquisa recente mostra que 90% das jovens japonesas acreditam que ficar solteira é melhor do que casar. Não casar – o que antes seria considerado um grande fracasso pessoal – parece estar se tornando uma opção cada vez mais atraente.”

Jairo Bouer, O Estado de S.Paulo – 27/10/2013

 

“Uma coisa que aprendi e tento praticar diariamente é: o que você faz fala muito mais do que você fala. Todos nós, líderes, temos de liderar dando o exemplo. Você tem de mostrar que uma coisa que você está falando é realmente você o que você acredita e faz. Você é o exemplo.”

Juan de Gaona, O Estado de S.Paulo – 27/10/2013

 

“O grande físico Isidor Rabi, vencedor do prêmio Nobel, costumava dizer que os cientistas são os ‘Peter Pans’ da sociedade, aqueles que não querem crescer, que passam a vida perguntando ‘por quê’. Qualquer pai e mãe sabem bem que criança é explorador nato; botando o dedo aqui e ali, comendo terra, pegando formiga, trepando em árvore, subindo e descendo a mesma escada dez vezes até desenvolver uma melhor percepção da gravidade e melhorar sua habilidade motora. Para uma criança, a vida é um grande experimento, uma grande aventura de descoberta. ‘Não faz isso! Solta! Olha o degrau! Cuidando com a tomada! Você vai cair daí.’ Como pai de cinco, sei que sem o nosso cuidado as crianças correm mesmo risco de se machucar. Mas cuidar não é o mesmo que reprimir o espírito único que têm de experimentar o mundo para poder entendê-lo. O mesmo acontece nas escolas, que acabam sendo fábricas de conformismo onde todos devem fazer a mesma coisa, onde a criança mais curiosa é reprimida e, salvo casos raros, calada. Temos muito a aprender com as crianças.”

Marcelo Gleiser, Folha de S.Paulo – 27/10/2013

 

“A certeza acerca da sua retidão moral é sempre uma mistificação de si mesmo. Mas hoje, como saiu de moda usar os pecados como ferramentas de análise do ser humano e passamos a acreditar em mitos como dialética, povo e outros quebrantos, a vaidade deixou de ser critério para analisarmos os olhos dos vaidosos. Vivemos na época mais vaidosa da história. (…) Que Deus tenha piedade de nós num mundo tomado por pessoas que se julgam retas.”

Luiz Felipe Pondé, Folha de S.Paulo – 28/10/2013

 

“Homens da chamada geração Y estão mais propensos a aceitar um ambiente corporativo feminino, segundo uma pesquisa realizada pela consultoria Mazars. Dos 750 executivos entrevistados, 57% aceitam a liderança feminina. Quando questionados sobre a preferência, 33% optariam por ter homens como chefes, enquanto 10% prefeririam ser gerenciados por profissionais mulheres. O estudo revelou ainda que 70% dos homens estão dispostos, ao menos por um tempo, a abrir mão da carreira para se dedicarem aos filhos. Os números em 60 países são: 68% dos entrevistados não veem diferença em serem chefiados por homens ou mulheres. 52% dos entrevistados nunca se sentiram ameaçados por mulheres em seu ambiente de trabalho. 14% confessaram preferir ter equipes de trabalho eminentemente femininas. 8% preferem ter funcionários homens.”

Maria Cristina Frias, Folha de S.Paulo – 30/10/2013

 

“Atualmente 21 milhões de mulheres brasileiras correm o risco de sofrer um infarto e 39000 morrem todos os anos em decorrência do mal – o triplo das vítimas fatais de câncer de mama.”

Adriana Dias Lopes, Veja – 30/10/2013

 

“Na contemporaneidade a gestão invadiu todas as esferas da vida. A família passou a ser vista como uma pequena empresa capaz de fabricar um indivíduo empregável. Filhos devem fazer inúmeros cursos que no futuro serão úteis à sua empregabilidade. É como se tudo tivesse de ser gerido como se fosse um capital para produzir resultados. Dentro das empresas, é como se nós tivéssemos de ser super-humanos o tempo todo, capazes de realizar e motivar os outros a realizar mais, melhor e mais rápido. Diversos rankings e indicadores são criados para dar a medida se aquilo que fazemos presta ou não. Há, ainda, a exigência da excelência constante, como se fosse possível e humano ser excelente o tempo todo.”

Rafael Alcadipani, Você S/A – outubro de 2013

 

“Não é simples definir a simplicidade. Mas é fácil notar sua ausência. Sem ela, todas as qualidades perdem seu sentido – e, com ela, alguns defeitos podem ser desculpáveis. O simples não é o oposto do complexo – mas– sim, o oposto do falso. Contudo, a falsidade e a duplicidade são companheiras íntimas da nossa espécie.”

José Francisco Botelho, Vida Simples – outubro de 2013

 

“Se o sujeito comete traição, é por alguma razão. Porque naquele momento sentiu necessidade. Ou fraquejou, reavaliou a relação amorosa. Não aconteceu comigo. Que bom. Mas quem sou eu para julgar o adultério? Quem é a pessoa que está nos lendo agora para condenar? E não venham me dizer que Deus castiga. Não ponham Deus no meio. Não usem o nome de Deus em vão, como fazem com tanta facilidade. É como comprar um bilhete de loteria e pedir: ‘Deus, me ajude a ganhar’. Ele não quer saber do seu bilhete de loteria.”

Tony Ramos, 65, ator, casado há 44 anos, Claudia – outubro de 2013

 

“A tentativa equivocada de transformar toda experiência de sofrimento em uma patologia a ser tratada. Mas uma vida na qual todo sofrimento é sintoma a ser extirpado é uma vida dependente de maneira compulsiva da voz segura do especialista, restrita a um padrão de normalidade que não é outra coisa que a internalização desesperada de uma normatividade disciplinar decidida em laboratório. Ou seja, uma vida cada vez mais enfraquecida e incapaz de lidar com conflitos, contradições e reconfigurações necessárias.”

Vladimir Safatle, Cult – outubro de 2013

 

“Meus sobrinhos pequenos melhoram meu humor imediatamente. É tudo tão simples para eles. Se você quer chorar, chora. Se está feliz, sorri.”

Monica Iozzi, 31, Claudia – outubro de 2013

 

“Digo aos mais jovens: conheçam a história, para evitar que seja reescrita. Honrem as realizações das gerações anteriores. Mas não sejam meros “continuadores”, pois a democracia, a economia e os direitos sociais devem ser aperfeiçoados e inseridos num novo modo de desenvolvimento, sustentável, adequado aos tempos presentes e futuros. O passado ensina. O futuro inspira.”

Marina Silva, Folha de S.Paulo – 01/11/2013

 

“Ninguém em sã consciência duvida que a ciência funcione. As provas, ainda que indiretas, estão por todos os lados, dos fornos de micro-ondas aos antibióticos. Se nossas teorias físicas e bioquímicas estivessem muito erradas, não teríamos chegado a esses produtos. Dessa constatação não decorre, é claro, que as atuais práticas dos cientistas sejam as mais adequadas. Numa excelente reportagem publicada na semana passada, a revista ‘The Economist’ faz um apanhado das coisas que não estão dando certo na ciência. Destaca desde a vulnerabilidade dos ‘journals’ a artigos ruins ou errados até a baixa replicabilidade dos principais estudos. É preocupante. Um ponto central da ciência é o de que um experimento qualquer, se repetido em idênticas condições, produzirá os mesmos resultados. É isso que garante sua objetividade e a distingue da bruxaria. E a replicabilidade é baixa mesmo no caso de trabalhos de alto impacto. (…) Seria exagero afirmar que a ciência está em crise, mas já passa da hora de as pessoas e instituições envolvidas tentarem aprimorar o sistema, tornando-o mais racional e eficiente.”

Hélio Schwartsman, Folha de S.Paulo – 02/11/2013

43ª semana de 2013

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“À medida que se intensificou a urbanização no século 20, a queixa sobre o ruído foi frequentemente tratada com certo sarcasmo. Exigir silêncio é dar sinal de neurose ou de escapismo. ‘Por que você não vai fazer artesanato em Mauá?’, seria uma reação comum à reclamação sobre o barulho no Rio ou em São Paulo. (…) Nas últimas décadas, acumulou-se conhecimento médico sobre o preço que pagamos pela explosão de decibéis. A poluição sonora hoje só perde para a poluição do ar como dano à saúde e fator para encurtar a vida.”

Lúcia Guimarães, O Estado de S.Paulo – 21/20/2013

 

“Eles gostaram, particularmente, da ideia de ter um projeto de vida na velhice. Eles não precisam mais, mas querem continuar trabalhando em algo que dê sentido às suas vidas. Eles querem, mais do que tudo, encontrar um significado para a última fase de suas vidas.”

Mirian Goldenberg, Folha de S.Paulo – 22/10/2013

 

“É moralmente lícito fazer experimentos com cães? A meu ver, a posição ética é tentar limitar cada vez mais experimentos fúteis, como os que envolvem cosméticos, e seguir adiante com aqueles que, um dia, poderão resultar em benefícios mais palpáveis. Não há como avançar no conhecimento de doenças sem infligir sofrimento a cobaias.”

Hélio Schwartsman, Folha de S.Paulo – 22/10/2013

 

“O Brasil é o quarto país do mundo em nativos digitais – terminologia usada pela ONU para classificar jovens de 15 a 24 anos que estão conectados à internet há pelo menos cinco anos. Segundo a ITU (União Internacional de Telecomunicações), agência das Nações Unidas especializada em tecnologias da comunicação e informação, o número de nativos digitais já representa 30% da população jovem mundial ou 5,2% da população mundial de 7 bilhões de habitantes. São 363 milhões de jovens com acesso à internet há pelo menos cinco anos, dos quais 20,1 milhões no Brasil. Dois terços dos nativos digitais estão nos países em desenvolvimento. A China lidera com 75,2 milhões de nativos digitais. Em seguida vem os EUA, com 41,3 milhões. E a Índia, com 22,7 milhões. O Japão é o quinto país em número de nativos digitais: 12,2 milhões. No países desenvolvidos os nativos digitais representam 86,3% dos 145 milhões de usuários de internet. Já nos países em desenvolvimento eles representam a metade dos 503 milhões de usuários de internet. Nos próximos cinco anos, a população de nativos digitais nos países emergentes deverá dobrar. Os dados da ITU fazem parte do estudo anual Medindo a Sociedade da Informação. De acordo com o estudo, pelo terceiro ano consecutivo a Coreia lidera como o país mais desenvolvido em termos de inclusão digital e infraestrutura de telecomunicações. Em seguida vem Suécia, Islândia, Dinamarca, Finlândia e Noruega. O Brasil aparecem na 62ª posição. Segundo estudo do ITU, 250 milhões de pessoas se conectaram à internet ao longo de 2012, totalizando 2,7 bilhões de pessoas.”

Mariana Barbosa, Folha de S.Paulo – 22/10/2013

 

“Os jovens, hoje, estão totalmente submetidos à ideologia do consumo. ‘Consumo, logo existo’ tem sido uma máxima a nos guiar em nossas vidas. Logo, na deles também.”

Rosely Sayão, Folha de S.Paulo – 22/10/2013

 

“No mundo, em pleno século XXI, 30 milhões de pessoas são exploradas. Os dados são do Índice de Escravidão Global da Walk Free Foundation. A instituição britânica classificou 162 países de acordo com a proporção de escravos em relação à população. O Brasil está em 94º no ranking e a estimativa é a de que haja cerca de 220 mil pessoas em condição de escravidão no País. A maior parte dos afetados está concentrada em países da Ásia e da África – a Índia aparece em primeiro lugar na lista, com 14 milhões de escravos -, mas o índice revela a existência de escravidão também em nações como Reino Unido, Suíça e Suécia.”

Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz, IstoÉ, 23/10/2013

 

“Em política, quando o fim justifica os meios, o que se tem é a brutalidade dos meios com um fim sempre desastroso. A opção moralmente aceitável é outra: os meios qualificam o fim.”

Reinaldo Azevedo, Folha de S.Paulo – 25/10/2013

 

“Não há um Deus. Há dois: o Deus dos oprimidos e o Deus dos opressores. Enquanto a sociedade for dividida e houver tanta desigualdade social, penso que o Deus que estiver do lado dos oprimidos não se reconhece num Deus que esteja do lado dos opressores.”

Boaventura de Sousa Santos, Folha de S.Paulo – 26/10/2013

 

“Os adolescentes precisam ser capazes de adquirir habilidades fundamentais que os permitam continuar a serem aprendizes ao longo de sua vida. (…) Uma boa educação é o passaporte para a mobilidade social. Essa é a forma de você ter acesso a um trabalho melhor e a um maior nível de renda. Portanto, se os mais pobres não tiverem acesso a uma boa educação, os filhos deles serão pobres também. E isso é profundamente inquietante. Quando as pessoas sentem que, se trabalharem duro, seus filhos terão uma situação financeira melhor do que a delas, isso fortalece a democracia. Agora, uma situação em que exista a percepção de que os pobres sempre serão pobres é uma ameaça real à democracia.”

Richard Murnane, Folha de S.Paulo – 26/10/2013

 

“Os avanços da ciência não são um bem absoluto para nossa humanidade apenas quando nos salvam da morte, mas tão somente quando nos salvam também para a vida.”

Nilton Bonder, Folha de S.Paulo – 26/10/2013

 

“O salário é importante para chamar a atenção e manter bons professores, mas não é suficiente. Há outras condições fundamentais para garantir a atratividade, como a melhoria da formação inicial e a existência de planos de carreira estruturados. Também é essencial um bom ambiente de trabalho e na escola e isso diz respeito a muitas coisas: infraestrutura, relações entre a equipe e a comunidade e ainda meios de que a instituição dispõe para valorizar e ajudar o corpo-docente – por exemplo, assessoria relacionada às dúvidas e às necessidades em relação aos estudantes e aos conteúdos a serem ensinados. Sobre a permanência do bom profissional, há outro fator relevante: ter sucesso no processo de ensino e de aprendizagem. Prova disso é ser comum encontrar novatos dizendo: ‘Mesmo com todos os problemas que enfrento, ver o brilho nos olhos dos alunos quando eles aprendem é o que me faz continuar lecionando’.”

Marli André, docente da PUC-SP, se dedica há área de formação de professores há 30 anos, Nova Escola – outubro de 2013

 

“Não sei se trabalhar com humor rejuvenesce, mas muda tudo, porque é preciso ser rápido, atento, esperto, sagaz… são características associadas à juventude. Fazer muito humor me dá leveza.”

Andrea Beltrão, 50, atriz, mãe de Francisco, 18, Rosa, 16, e José, 13. Claudia – outubro de 2013

 

“A Regina Casé sempre brinca que fui ‘obrigada’ a ser atriz. Quando eu era criança, já achava que seria atriz mesmo. Aos 30 é que comecei a questionar. Achei que eu poderia ser outras coisas. Gosto de literatura e de desenhar. Cheguei a pintar, mas, com os filhos, parei. E já tentei a música por um tempo, mas meu talento infelizmente é nulo. Eu toco como hobby, em casa. Meus filhos não gostam, mas não to nem aí. E escrever é também um pouco essa tentativa de fazer coisas diferentes. A atividade de roteirista e de cronista é uma atividade solitária e vou encaixando no meu horário. Como gosto de estar só, parecia que eu tinha nascido para aquilo. A profissão de atriz é coletiva, muita gente trabalhando junto. O prazer de estar sozinha me levou a querer escrever mais.”

Fernanda Torres, 48, atriz, Claudia – outubro de 2013

 

“O humor é como matemática: quanto mais você exercita, mais afiada fica. A prática torna o raciocínio rápido.”

Miá Mello, 32, Claudia – outubro de 2013

Pelo direito de não ser tão brilhante

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Um país dito “emergente” da perspectiva econômica colabora para uma sociedade cada vez mais competitiva. Nessa selva só sobrevivem os mais fortes. Só os mais fortes, os bons, são vencedores. Como se reconhece um “vencedor”? Olhe para suas conquistas! Você vale pelo que você tem a mostrar. Se não tiver provas a serem exibidas, você será excluído. Ou você desfila orgulhosamente ou trate de com afinco impressionar as pessoas e dizer que está quase lá. Mas, apresse-se, as pessoas são impacientes, e ninguém quer ficar ao lado de “perdedores”.

Como se prepara um vencedor? Segundo a cultura brasileira, ensine-o a ser esperto, o que equivale a nem sempre ser honesto, tirar vantagem atropelando os distraídos e mal informados, esconder, ou no mínimo, omitir partes da história, toda a verdade nem sempre é conveniente, portanto, treine-o disfarçar, a ter truques, cartas na manga. Instrua-o a rapidamente reconhecer e explorar idiotas, isto é, ingênuos.

A vitória é dos ligeiros. Saia na frente. Quando o acusarem de coisas ilícitas, de falta de ética, de bom senso, falta de solidariedade, finja que não é com você. Quando reclamarem de falta de tempo para as relações, ignore ou justifique com excesso de responsabilidade e desafios. Lembre-se, qualquer sacrifício é legitimado em nome do bom desempenho. Muito esforço, muito merecimento. E esforço não tem fim, sempre achará novos empreendimentos. Afinal, precisa se manter no topo.

Pais que ficaram pelo caminho impõem aos filhos metas cruéis. Pais que chegaram lá, não todos, mas muitos, exigem que seus filhos os alcance e os supere. E diga-se de passagem, praticamente nenhum pai e mãe admitirá isso. E quando e se o fizerem, explicarão que é para o bem dos filhos. Pura preocupação supostamente amorosa. Será?

Indicar que não obrigatoriamente todos devem ser brilhantes, ou, alcançar o lugar mais alto no pódio, é uma heresia. É tudo ou nada. É ouro ou é lixo. Se não realizar um feito espetacular, de preferência único, arrancando a admiração das pessoas, então, é sinônimo de uma vida medíocre, um perdedor. Claro, só é contabilizado aquilo que pode aparecer, aquilo que é tido como “sucesso” (fama, mídia, muito dinheiro, consumismo sem miséria, etc.) – variadas formas de poder na sociedade do espetáculo.

Tenho visto pais e mães bastante aflitos com sua cria, angustiados com a possibilidade do filho “fracassar”, ser mais um na multidão de “perdedores”. Alguns até explicitam que querem investir mais, para irem mais longe, pois, num mundo tão inseguro, eles não estarão sempre por perto para “cuidar”, mas, no fundo é um pavor de que os filhos desperdicem os recursos e não compartilhem dos sonhos que eles têm para a sua continuidade na terra, no fundo, seria uma “desonra” a família.

Vejo também muitos adolescentes e jovens, abatidos com tamanha pressão. Ansiosos, com muito medo de decepcionarem seus progenitores. Muitos sentem-se culpados antecipadamente por receberem tanto investimento financeiro, afinal, muitos pais deixam claro os sacrifícios que fizeram para os filhos pudessem ter certas “regalias”.

Um dos sintomas, com índices cada vez mais elevados, é a depressão. Não poucas vezes acabam em suicídio, ou tentativas de. Mas, outro, também frequente, que é queixa comum dos adultos, é uma apatia crônica – desistências sutis da própria vida.

A resposta a tanta pressão familiar e social para que tenham um desempenho brilhante os faz cada dia mais reclusos. Quando em casa, adolescentes e jovens, ficam a maior parte do tempo no quarto. Ali ficam plugados no mundo externo, via redes sociais, navegando pelo mundo, conhecendo mares perigosos, entrando em ondas avassaladoras. Se possível, até tomam as refeições ali. Cansados, entretidos por um pouco, no fundo, esvaziados em boa parte. Eles ficam a observar sua própria incompetência para o nível de exigência que lhe foi imposta, disfarçada ou explicitamente.

E muitos dos que se rendem a tais pressões e naufragam com elas diriam que dominam o evangelho, que conhecem a Deus e o seguem.

Jesus diz algo muito claro àqueles que desejam ser seus discípulos: quem não perder a vida não pode encontrá-la Mc 8. Em outras palavras, Jesus diz que há uma vida que leva à morte. E a maneira que muitos tem vivido, de fato, os tem feito morrer aos poucos, mas, talvez não para aquilo que Jesus teria apontado como morte necessária. Vivemos mal porque escolhemos mal. Abrigar a ansiedade em nós, viver de preocupações e estresses, é um modo de vida que nos levar a morte, mas de maneira alguma era o que Jesus ensinava.

Qual seria a compreensão dos pais dito cristãos, e como eles tem ensinado seus filhos a esse respeito?

As imposições ansiosas e exigentes dos pais resultam em compulsões na vida de alguns filhos e em tédio na vida de outros. Pais não gostam de ver seus filhos respondendo dessa maneira, ficam ainda mais angustiados, porém, não mudam suas inquietações e posturas.

O sábio dizia: “O homem que ama a sabedoria dá alegria a seu pai” (Pv 29.3). Hoje precisamos refletir o que pais e filhos consideram sabedoria, e, o que de fato agradam os pais. Quem ama o quê?

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