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Estudante cristão

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Gosto do livro de Eclesiastes por diversas razões. Desde criança tive contato com essa leitura. Lembro-me de ficar um tanto confusa e perceber que tratava-se de algo elevado demais para mim. Na adolescência me vi escandalizada em alguns momentos pela verdade nua e crua que ele retratava, por uma dose de melancolia na maneira de ver o mundo (ao menos foi o nome que conseguir dar à época), e, me perturbava aquela ousadia na maneira de retratar a vida. Ainda hoje me sinto profundamente atraída e desafiada pelo livro. Trago a sensação de que há muito mais, dimensões que não alcancei, verdades que ainda estou por vivenciar, e cresce minha reverência pelo livro.

Ali se encontra esse trecho: “Eis que a felicidade do homem é comer e beber, desfrutando do produto de seu trabalho; e vejo que também isso vem da mão de Deus, pois quem pode comer e beber sem que isso venha de Deus?”[1]. Numa outra tradução[2] ficou assim: “separado deste [Deus] quem pode comer, ou quem pode alegrar-se?”.

Comer, beber, desfrutar do fruto do trabalho é muito bom, alguns até dizem, “nada há melhor que isso”. Mas, segundo o escritor bíblico, se a percepção de Deus está fora, será difícil você descobrir a felicidade, será impossível você saborear isso com alegria profunda.

Penso no contexto estudantil. Jovens que gostam cada vez mais de comer, beber e até, às vezes, desfrutar do produto de seus trabalhos acadêmicos (menções honrosas, títulos, publicações, etc). Isso tudo pode ser bom, muito bom, se o que se faz, conscientemente se faz na presença de Deus, ou mesmo, para Deus.

O escritor, professor e pastor, Eugene Peterson, diz algo que requer reflexão oportuna: “A vida colorida e cheia de energia do aprendizado, da pesquisa e do ensino recebe pleno desenvolvimento no cenário universitário da história. Mas é tudo, menos uma glorificação do aprendizado e do conhecimento em si, pois o mal se manifesta aqui de maneira ainda mais poderosa. […] O aprendizado e o saber são bons e verdadeiros, mas, dissociados da presença e vontade de Deus, dão origem ao mal”[3].

Será que ao invés de conhecer mais a bondade, o estudante cristão, pode estar mais próximo da maldade? O risco é frequente.

Trabalhando por tantos anos diretamente com universitários e pós-graduandos, e observando minha própria experiência e jornada nos estudos, percebo essa realidade. Quem está mais envolvido com o meio acadêmico conhece as diversas manifestações horrendas e criativas da maldade. Algumas mais explícitas, outras, cultivadas no recôndito de uma alma carente.

Acredito ser possível estudar, desenvolver-se, aprofundar questões teóricas, contribuir para o avanço da ciência e tecnologia, e nisso, descobrir mais da bondade de Deus, e assim, desfrutar de uma alegria maior, perene. Contudo, as ciladas se multiplicam. Espalham-se sutilmente pelo caminho. Há uma camuflagem e a distração pode aumentar o perigo.

Ao fim e ao cabo, que companhia temos? Longe de Deus, todo esforço e até mesmo toda conquista, pode se revelar como poeira, pior, pode trazer à tona o mal com suas caras mais feias.

Ao final do livro de Eclesiastes, o autor conclui: “Fique atento: fazer livros é um trabalho sem fim, e muito estudo cansa o corpo”[4]. Quer algo mais óbvio? Quer algo mais necessário de ser lembrado enquanto se dedica a tal tarefa?

Cuide-se!


[1] Ec 2.24-25 (Bíblia de Jerusalém)

[2] Tradução de João Ferreira de Almeida – Edição Revista e Atualizada (Sociedade Bíblica do Brasil).

[3] Eugene Peterson, Espiritualidade Subversiva. Editora Mundo Cristão.

[4] Ec 12.12 (Bíblia de Jerusalém)

Contando os dias

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Considerando o que o salmista diz: “Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria” (Sl 90.12), esse espaço será dedicado a essa maneira de contar os dias, ou seja, atentando para as notícias do cotidiano, na intenção de que a consideração de nosso tempo contribua para se ter um coração sábio.

Refletir e contar nosso dia observando as notícias do dia em nosso país. Bom exercício!

01 de setembro de 2010

“Se quem ama cuida – e eu creio nisso como em poucas coisas -, não estaremos amando de menos a essa nossa gente?”

Lya Luft, Revista Veja, 01/09/2010

“Quem é a personalidade que o universitário brasileiro mais admira? A pergunta foi feita a 729 jovens que estudam nas sete cidades com maior população universitária do Brasil. Nos primeiros lugares do estudo, feito pela Namosca, consultoria especializada em decifrar o comportamento da juventude, nenhum político, cantor ou jogador de futebol. Deu Cesar Cielo na cabeça, seguido de Selton Mello e Wagner Moura.”

Lauro Jardim, Revista Veja, 01/09/2010

02 de setembro de 2010

“Do total de 57,5 milhões de domicílios existentes no Brasil em 2008, 24,7 milhões (43% eram inadequados. A constatação é do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que divulgou ontem a quarta edição da pesquisa Indicadores de Desenvolvimento Sustentável. […] Na pesquisa, só foram considerados adequados os domicílios com serviço de coleta de lixo, abastecimento de água por rede geral, esgotamento por rede coletora ou fossa séptica e no máximo dois moradores por quarto – não foi avaliada a regularidade da propriedade”.

Denise Menchen e Fábio Grellet, Folha de S.Paulo, 02/09/2010

O amor é mais

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O amor é essencial à vida. Com tantas demandas, tantas necessidades criadas, o crescimento da oferta de supérfluos, dívidas geradas, pressões variadas, vamos nos distraindo do que é essencial. E não raro, vai para a periferia da vida.

São de Peter Wust, filósofo de Münster, disse: “Uma pessoa nunca pode ser medida como pessoa segundo aquilo que sabe e o quanto sabe, mas antes apenas segundo aquilo que ama e em que medida ela é capaz de – e está preparada para amar até o fim. Isto é válido tanto a época da velhice quanto para a época da juventude”.

Cabe-nos perguntar se bem sabemos qual o poder do amor.

O que mudaria em nossa vida se permitíssemos que o amor fosse central? E se nossas decisões tivessem esse parâmetro prioritário, como seria o mundo?

Há espaço para tanta coisa, tanta “novidade”, que parece o amor tem se perdido, tem se tornado secundário. Como se a alma se satisfizesse com outra coisa.

De que amor estamos falando? Não se trata de mero amor romântico, incentivado e fantasiado por Hollywood com sua indústria cinematográfica, e, cultivado em músicas populares.

O amor que se traduz em compromisso, em lealdade, em fidelidade, em bondade, em equilíbrio, em liberdade, em longanimidade, em alegria, em paz, em mansidão. Mostra-se nas relações bem cuidadas, sinceras, em atitudes éticas, em doação, em entrega, em serviço e ajuda ao próximo.

O apóstolo João, em sua primeira epístola, faz uma preciosa definição de Deus: “Deus é amor”. E explica melhor quando diz: “O amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus, e conhece a Deus” (I Jo 4.7).

Quando aprendo a amar posso, simultaneamente, aprender a fazer Deus conhecido. Ele é a fonte, e jorrou seu amor em e através de Jesus. João continua explicando: “Nisto se manifestou o amor de Deus em nós, em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele” (I Jo 4.9).

Há uma vida possível de ser vivida em amor, uma vida vivida por meio de Jesus. Que tal descobrir mais a respeito?

E os dias passam…

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Os dias passam e a vida vai sendo vivida como dá. Mas há uma insatisfação na alma de muitos, ou uma decepção que desgasta o dia, uma inquietação angustiante que devora momentos que poderiam ser tranquilos, com o efeito de refrigério para gente seca no cotidiano.

O que fazer quando o talento falha, quando a beleza fenece, quando a carreira brilhante declina, quando as imperfeições já não são mais disfarçáveis, e as rupturas aconteçam a contragosto?

Vidas idealizadas se tornam debilitadas. A fragilidade não assumida mostra a conta. A couraça que usurpa a humanidade protege durante um tempo de espetáculo, mas em algum momento as máscaras caem. O que antes era velado, agora torna-se revelado. O esforço por esconder se faz inútil. A autossuficiência dói quando se percebe incapaz.

Não gostamos de pensamentos confusos, de emoções tumultuadas, e a sensação de que as coisas estão muito longe de nosso controle costuma ser um tanto desagradável.

Forças quase esgotadas, sentimos agora que os dias passam por nós. Era para ser assim?

Ignorar que ilusões são apenas ilusões, que as perdas são necessárias, que a vulnerabilidade faz parte de quem deseja aprender a amar é um existir empobrecido.

Algumas frustrações são benéficas, pois, mostram-nos expectativas irrealistas, E para melhor compreender e viver a vida precisamos compreender como enfrentamos e vivenciamos nossas perdas.

Ter pessoas com quem repartir as fragilidades, pedir ajuda, ter pausas e espaços para repensar decisões e atitudes é uma maneira de fazer os dias mais intensos, de passar por eles com sabor agradável, de quem viveu, sofreu e viu que vale a pena.

Aproveite bem os dias.

A vida e algumas condições

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A economia brasileira vai bem perante o cenário mundial. País emergente, gente criativa, ambiciosa, gente cansada de esperar. Um país da vez. A bola rola, com gente que enrola, mas que deseja sair bem na foto.

Discurso e prática nem sempre combinam. A ignorância ainda é grande, a inveja aparece, a ganância mostra suas garras.

No horizonte dos próximos anos despontam oportunidades. Copa do Mundo, Olimpíadas, tudo no Brasil. A vitrine brasileira será invadida, comentada, analisada, criticada, pichada. O que falará mais alto?

O desejo de crescer, aparecer, faturar mostra suas garras. A competição é grande, não é justa (os efeitos da deficiente difusão das tecnologias seria apenas uma das questões), e todos querem ser ágeis.

Como crescer de maneira sustentável? Em época de campanha tal questão entra na pauta. Candidatos tentam ter uma resposta pronta, mas na prática, nas oportunidades que tiveram, o que fizeram?

A racionalidade econômica, a expansão do capital, acabam vencendo e algumas condições nem sempre são consideradas. O consumo destrutivo da natureza vai degradando o ordenamento ecológico, o equilíbrio já se foi, e pouco se pensa na vida a longo prazo.

O que se respeito diante do que se quer? Para onde nos leva nosso imediatismo, nossos desejos questionáveis?

Quando se degrada potencial produtivo dos ecossistemas, se destrói o sistema de recursos, e se dá de ombros para o subdesenvolvimento e a falta de novos investimentos em áreas precárias, onde vamos parar?

Qual o preço que pagaremos? O desrespeito para com as condições básicas da vida e do cuidado da natureza pode nos trazer uma conta que não paramos ainda para calcular, mas já é prevista. Para os juros da vida não há cheque especial que cubra.

Os alertas têm sido dado. As decisões acertadas precisam ser tomadas agora. A vida continua, mas o como é com a gente.

A vida como processo

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A gente nasce, cresce, estuda (ao menos teoricamente é um direito de todos), busca ao pra fazer, alguns até consideram em uma profissão e carreira.

A necessidade de remuneração nos leva a decisões. Alguns podem escolher, outros precisam pegar o que aparecer. A desigualdade de oportunidades é uma grave e triste realidade em nosso país.

Em algum momento questionamentos nos povoam. Frustrações nos acompanham, porém, se alternam com progressos e alegrias. Estamos satisfeitos?

Empregadores tem percebido cada vez mais que tal satisfação ou a falta dela traz consequência para a dinâmica e rendimento de seu empregado – termo em desuso, atualmente opta-se por algo como colaborador. E aí, muitas teorias e propostas lhe são oferecidas. Num mundo onde tudo é negócio e a busca por vantagens é imperativa, um espaço para se conversar a respeito se mostra uma oferta interessante.

O processo de coaching auxilia nos questionamentos. Um profissional contratado para auxiliar nas considerações sobre a vida, a carreira, seu papel na organização ou a falta dela, alguns rumos e perspectivas, perfil das empresas e perfil pessoal. Uma tentativa de desfrutar de uma pausa ativa. Aproveitar tal espaço para rever sonhos, metas, desejos e propósitos, escolhas e obstáculos, dificuldades no percurso. Afinal, há engajamento no quê? Que tipo?

Infelizmente, em algumas empresas o processo de coaching é visto como uma forma de “consertar” pessoas inadequadas, que não respondem bem aos desafios propostos e cuja performance é aquém do esperado. Seria quase uma última chance ao sujeito. No desespero cutuca-se com uma ferramenta que pode ser poderosa. Vê-se como uma espécie de máquina, outro o indivíduo entra de uma forma e sai de outra.

Claro que resultados são esperados, mas, o princípio parece ser equivocado. O ser humano tende a se iludir com poções mágicas. Você vai lá, bebe aquele encontro, e dali em diante tudo será diferente.

A vida como processo não é fácil. Há uma pressa que pressiona, mas há um ritmo de transformação que não responde ao imediato. O Simplismo é uma cilada.

Há técnicas que auxiliam e “turbinam” reações positivas? Pode-se até bem aproveitar boas ferramentas, entretanto, quanto mais consistente for o processo, mais duradouro e satisfatório pode se revelar.

Conversar claramente sobre expectativas e o caminho do desenvolvimento pode ser um compromisso que desemboca em qualidade e realização.

Romance, vida e a gente

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No dia 18 de Junho de 2010, aos 87 anos de idade, o escritor português e Prêmio Nobel, José Saramago faleceu. Admirado por muitos, e criticado por não poucos, ele provoca-nos interessantes reflexões.

Oito meses antes de sua morte ele concedeu uma entrevista ao jornalista José Rodrigues dos Santos. E agora foi publicada com o título “A Última Entrevista de José Saramago” (pela Usina das Letras).

Em dado momento José Saramago comenta a respeito do romance com as seguintes palavras: “O romance – de acordo com as transformações por que passou recentemente e continua a passar – deixou de ser um gênero para se transformar num espaço literário. Deixou de ser um gênero classificado e dando a ideia de que fica definido para todo o resto do tempo. Não: modificou-se, alterou-se, encontrou, por instinto ou fosse porque fosse, portas de entrada. No fundo, para lhe dar uma imagem, é como se o romance fosse o mar e recebesse água dos seus afluentes, e que esses afluentes fossem, como eu digo, a poesia, o drama, o ensaio, a filosofia, tudo isso. O romance tornou-se outra coisa”.

Nesse momento faço uma pausa. Mais do que pensar a respeito das classificações, se o romance está em vias de extinção ou se e como tem se modificado, penso na vida como romance. Não necessariamente sobre uma vida romântica, tema que também atrai minhas fantasias e carências. Mas, sou levada a pensar na vida com seus afluentes, suas influências, suas portas e trancas, acolhidas e rejeições, filosofias e teorias, os dramas, poesias e ensaios que fazemos, achamos ou criamos em nossas próprias vidas.

Olho para trás e considero as minhas transformações pessoais, mas também as transformações da humanidade. Embora pouco saiba diante da vastidão das mudanças recentes e o turbilhão veloz de tantos acontecimentos a que somos expostos diariamente, o que torna bastante pretensiosa tais considerações, ainda assim, ouso pensar sobre o que tem se passado. Também procuro olhar para frente, onde nada está tão claro, contudo, os sinais e alguns apontamentos assustam.

Qual a imagem atual que o ser humano faz de si? Temos nos tornado outra coisa? É, talvez o mais assustador, é que o ser humano provavelmente esteja cada vez mais para coisa do que para gente. É o que queremos? Estamos conscientes? O que temos escolhido, permitido? Adaptamo-nos para sobreviver ou ignoramos o que deveríamos ser?

As velhas e permanentes questões aí estão. Nascemos de onde, para quê? Há identidade original? Um propósito inicial?

Saramago se foi. Nós estamos indo. Para onde mesmo?

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