Opinião
- 08 de agosto de 2011
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A busca pela ventura
Felizes são aqueles que têm saudade de Deus, porque o Reino dos Céus lhes pertence
Rubem Alves1
Uns anos atrás, ao ouvirmos juntos um dos CDs que mais gostamos da banda Los Hermanos, nos deparamos com a palavra “ventura” (nome do CD), e fomos ao dicionário conferir o que significava. Descobrimos que um de seus significados é a palavra felicidade e que ter ventura é ser alegre, ter êxito, sucesso, sorte e contentamento. Ventura tornou-se uma palavra que nos persegue, pois quanto mais tentamos entendê-la e analisar nossa vida junto às suas definições, mais ela nos escapa à compreensão. Nesse buscar desesperado vamos criando saudades de Deus.
A busca pela alegria (ou ventura) é o motor da história humana e a Bíblia possui diversos versículos citando-a. O autor de Eclesiastes, por exemplo, escreveu no capítulo 8.15: “Então exaltei a alegria, porque o homem nenhuma coisa melhor tem debaixo do sol do que comer, beber e alegrar-se. Então, a alegria o acompanhará no seu trabalho nos dias da sua vida que Deus lhes dá debaixo do sol”. Mas, o que é esse “comer, beber e alegrar-se”?
Talvez seja o usufruir das dádivas que Deus nos oferece e que nos são reveladas através do exercício rotineiro de nossos cinco sentidos e também de nossa fé. Falo em exercício porque nos dias corridos de hoje, aventurar-se em busca das venturas depende muito da forma como nos permitimos captar e vivenciar para depois compartilhar essa visão suave e despoluída das críticas comuns aos pessimistas de plantão, com aqueles que nos rodeiam.
Visão, audição, tato, gustação, olfação e fé precisam ser praticadas. Da mesma forma como nossos sentidos tornam-se otimizados na medida em que os colocamos em prática, a visão puramente crítica, quando exagerada, pode desarticular nossa fé, acabando por nos afastar do prazeroso convívio com a proteção do Pai e impedindo-nos do deleite diante da vida, por passarmos a observar “picuinhas” e imperfeições absolutamente em tudo.
Apesar de nossa condição de interventores no ambiente em que vivemos, não podemos apenas cultivar essa vocação humana (se é que assim podemos chamar) de eternos críticos revolucionários. Existe a hora de contemplar os sabores e os saberes que desfilam a nossa frente. Prova incontestável do prazer de Deus em sempre nos proporcionar possibilidades de um bem viver. Devemos nos dar o direito de “voar como águia”, como nos fala o profeta Isaias (40.31).
De mãos dadas com o Criador, e compreendendo de forma salutar que os sabores e saberes desta vida são dados pelo Pai, continuamos a buscar nossa ventura que sabemos, um dia será de fato plena.
Notas
[1] ALVES, Rubem. Perguntaram-me se acredito em Deus. São Paulo: Planeta, 2007. (p. 147).
Rubem Alves1
Uns anos atrás, ao ouvirmos juntos um dos CDs que mais gostamos da banda Los Hermanos, nos deparamos com a palavra “ventura” (nome do CD), e fomos ao dicionário conferir o que significava. Descobrimos que um de seus significados é a palavra felicidade e que ter ventura é ser alegre, ter êxito, sucesso, sorte e contentamento. Ventura tornou-se uma palavra que nos persegue, pois quanto mais tentamos entendê-la e analisar nossa vida junto às suas definições, mais ela nos escapa à compreensão. Nesse buscar desesperado vamos criando saudades de Deus.
A busca pela alegria (ou ventura) é o motor da história humana e a Bíblia possui diversos versículos citando-a. O autor de Eclesiastes, por exemplo, escreveu no capítulo 8.15: “Então exaltei a alegria, porque o homem nenhuma coisa melhor tem debaixo do sol do que comer, beber e alegrar-se. Então, a alegria o acompanhará no seu trabalho nos dias da sua vida que Deus lhes dá debaixo do sol”. Mas, o que é esse “comer, beber e alegrar-se”?
Talvez seja o usufruir das dádivas que Deus nos oferece e que nos são reveladas através do exercício rotineiro de nossos cinco sentidos e também de nossa fé. Falo em exercício porque nos dias corridos de hoje, aventurar-se em busca das venturas depende muito da forma como nos permitimos captar e vivenciar para depois compartilhar essa visão suave e despoluída das críticas comuns aos pessimistas de plantão, com aqueles que nos rodeiam.
Visão, audição, tato, gustação, olfação e fé precisam ser praticadas. Da mesma forma como nossos sentidos tornam-se otimizados na medida em que os colocamos em prática, a visão puramente crítica, quando exagerada, pode desarticular nossa fé, acabando por nos afastar do prazeroso convívio com a proteção do Pai e impedindo-nos do deleite diante da vida, por passarmos a observar “picuinhas” e imperfeições absolutamente em tudo.
Apesar de nossa condição de interventores no ambiente em que vivemos, não podemos apenas cultivar essa vocação humana (se é que assim podemos chamar) de eternos críticos revolucionários. Existe a hora de contemplar os sabores e os saberes que desfilam a nossa frente. Prova incontestável do prazer de Deus em sempre nos proporcionar possibilidades de um bem viver. Devemos nos dar o direito de “voar como águia”, como nos fala o profeta Isaias (40.31).
De mãos dadas com o Criador, e compreendendo de forma salutar que os sabores e saberes desta vida são dados pelo Pai, continuamos a buscar nossa ventura que sabemos, um dia será de fato plena.
Notas
[1] ALVES, Rubem. Perguntaram-me se acredito em Deus. São Paulo: Planeta, 2007. (p. 147).
É músico, historiador, educador, escritor e revisor pedagógico de História. Seu trabalho musical principal é o Baixo e Voz, que já conta com 21 anos, cinco CD's e um DVD. Mestrando em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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