Opinião
- 15 de maio de 2017
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Reformalatria: 4 perigos a evitar para não idolatrar a Reforma Protestante
Por Luiz Fernando dos Santos
“Conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos. E sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste. Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres” (Ap 2.2-5).
O teólogo francês João Calvino gostava de ensinar, com sólida base bíblica, que o coração do homem é uma fábrica de ídolos. Sempre que o nosso coração se distancia milímetros de seu apego a Cristo, inevitável e imediatamente ele fabrica uma incontável multidão de deuses que desejam lutar dentro dele por cada nicho e cada altar, eclipsando assim a figura de Jesus Cristo. Uma data tão auspiciosa como a abertura das comemorações dos 500 anos dos inícios da Reforma Protestante, pode e seguramente, nos oferece a ocasião para grosseira idolatria.
Há mesmo quem esteja até festejando o fato de o Papa Francisco participar dessas comemorações na Suécia ou ainda sinta-se valorizado e reconhecido porque um grupo de peregrinos luteranos foi recebido com uma imagem de Lutero na Sala de audiências Paulo VI no Vaticano um dia desses.
1. Não havia cristianismo, igreja e evangelho no mundo antes da Reforma?
Entretanto, quais são os reais perigos de uma ‘Reformalatria’? O primeiro deles me parece ser ainda aquele de pensar que antes de 31 de outubro de 1517 não havia cristianismo, igreja e evangelho no mundo. Acreditar que do capítulo final de Atos 28 até os dias de Lutero a obra de Deus permaneceu numa espécie de animação suspensa e a história da igreja não passa de uma tragédia religiosa repletas de hereges e ofensas dirigidas a Deus em forma de culto. Na verdade, a Reforma aconteceu porque esses e outros erros existiam mesmo. Mas existiam não num vácuo, mas na dinâmica da vida da igreja estabelecida que durante a sua história produziu, pela graça de Deus, homens e obras extraordinários e a Reforma apenas intentou, vinda do mesmo Deus, corrigir tais erros. Mesmo porque, os Reformadores eram homens que viviam dentro daquela igreja histórica.
2. Os reformadores foram usados por Deus, mas eles não inventaram a roda
O segundo perigo é o da canonização dos Reformadores. Pensar e acreditar que eram todos perfeitos, homens que viviam em virtudes extraordinárias, quase super-humanos. Atribuir a eles inerrância e infalibilidade porque chegaram a algumas posições e interpretações bíblicas ou doutrinárias, faz-nos incorrer no mesmo crime e erros daqueles que invocam a Tradição ou o magistério Papal como autoridade equivalente às Escrituras. Isso também é idolatria. Não restam dúvidas, nossos Reformadores foram usados por Deus como instrumentos para o início e a continuação e sistematização da Reforma e muitas de suas contribuições são perenes. Mas eles não inventaram a roda, talvez, no máximo a descobriram e melhoraram o seu uso.
3. O tipo de liturgia do tempo da Reforma não é o único aceitável por Deus
Um terceiro perigo é o de se desejar repetir acrítica e anacronicamente o estilo de culto, o tipo da liturgia, cantos e usos e costumes da igreja dos séculos 16, 17 e 18, como os únicos aceitáveis por Deus e os únicos capazes de dar à Igreja uma identidade cristã. É um erro pensar que devemos pregar usando de maneira absoluta os mesmos métodos e conceitos de comunicação e transmissão de conteúdos desde o púlpito ou a mesma didática da época para a catequese (o conteúdo, esse sim, perene). Também é um erro pensar numa forma única de estética para o templo e a própria ação litúrgica. Evidentemente que os elementos de culto empregados pelos reformadores são indeléveis e inegociáveis, mas não porque fossem por eles estabelecidos, mas porque são Bíblicos e se encontram presentes nos dois cânones das Escrituras e foram firmemente estabelecidos por Deus.
4. Só uma volta radical ao passado glorioso dos reformadores pode nos salvar?
Uma quarta sedução à idolatria é concluir que em nossos dias não existam contribuições válidas para a igreja e que tudo se encontra tão perdido e corrompido que só uma volta radical ao passado glorioso de nossos heróis pode nos salvar. Além de pretencioso esse pensamento é ingênuo, para não dizer infantil. Os nossos dias trazem consigo não só inúmeras e inimagináveis oportunidades, como também ferramentas maravilhosas, um acúmulo de conhecimento sistematizado que os Reformadores jamais sonharam possuir. Pesquisas científicas avançadas nas áreas da história, arqueologia, línguas antigas, antropologia cultural e etc., nos fazem penetrar com muito mais profundidade as maravilhas da Bíblia. Novas Universidades, novos e equipados seminários, a enorme profusão de editoras e novos autores, teólogos e pesquisadores nos enchem de esperança quanto ao futuro da Igreja.
Mas, nenhuma idolatria é mais perigosa do que esquecer que Cristo é o Senhor e Cabeça da Igreja. Que Ele é o mais interessado em sua eterna juventude, vitalidade, pureza e fidelidade. Que Ele mesmo é quem empodera essa igreja por meio do seu Espírito, que levanta, comissiona e envia homens, pecadores e frágeis, para continuar reformado e restaurando a vida da igreja até o dia em que Ele mesmo, em pessoa, virá buscá-la e a conduzirá para um tempo em que as Reformas já não serão necessárias e nem mesmo relembradas.
• Luiz Fernando dos Santos é ministro reformado na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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Fé fraca também é fé
Perguntas da Reforma para calvinistas e arminianos
Sacerdotes, Uber e Reforma Protestante
Protestantismo: o que restou da Reforma?
A Reforma Protestante e a espiritualidade clássica
Foto: Pixabay.com.
“Conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos. E sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste. Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres” (Ap 2.2-5).
O teólogo francês João Calvino gostava de ensinar, com sólida base bíblica, que o coração do homem é uma fábrica de ídolos. Sempre que o nosso coração se distancia milímetros de seu apego a Cristo, inevitável e imediatamente ele fabrica uma incontável multidão de deuses que desejam lutar dentro dele por cada nicho e cada altar, eclipsando assim a figura de Jesus Cristo. Uma data tão auspiciosa como a abertura das comemorações dos 500 anos dos inícios da Reforma Protestante, pode e seguramente, nos oferece a ocasião para grosseira idolatria.
Há mesmo quem esteja até festejando o fato de o Papa Francisco participar dessas comemorações na Suécia ou ainda sinta-se valorizado e reconhecido porque um grupo de peregrinos luteranos foi recebido com uma imagem de Lutero na Sala de audiências Paulo VI no Vaticano um dia desses.
1. Não havia cristianismo, igreja e evangelho no mundo antes da Reforma?
Entretanto, quais são os reais perigos de uma ‘Reformalatria’? O primeiro deles me parece ser ainda aquele de pensar que antes de 31 de outubro de 1517 não havia cristianismo, igreja e evangelho no mundo. Acreditar que do capítulo final de Atos 28 até os dias de Lutero a obra de Deus permaneceu numa espécie de animação suspensa e a história da igreja não passa de uma tragédia religiosa repletas de hereges e ofensas dirigidas a Deus em forma de culto. Na verdade, a Reforma aconteceu porque esses e outros erros existiam mesmo. Mas existiam não num vácuo, mas na dinâmica da vida da igreja estabelecida que durante a sua história produziu, pela graça de Deus, homens e obras extraordinários e a Reforma apenas intentou, vinda do mesmo Deus, corrigir tais erros. Mesmo porque, os Reformadores eram homens que viviam dentro daquela igreja histórica.
2. Os reformadores foram usados por Deus, mas eles não inventaram a roda
O segundo perigo é o da canonização dos Reformadores. Pensar e acreditar que eram todos perfeitos, homens que viviam em virtudes extraordinárias, quase super-humanos. Atribuir a eles inerrância e infalibilidade porque chegaram a algumas posições e interpretações bíblicas ou doutrinárias, faz-nos incorrer no mesmo crime e erros daqueles que invocam a Tradição ou o magistério Papal como autoridade equivalente às Escrituras. Isso também é idolatria. Não restam dúvidas, nossos Reformadores foram usados por Deus como instrumentos para o início e a continuação e sistematização da Reforma e muitas de suas contribuições são perenes. Mas eles não inventaram a roda, talvez, no máximo a descobriram e melhoraram o seu uso.
3. O tipo de liturgia do tempo da Reforma não é o único aceitável por Deus
Um terceiro perigo é o de se desejar repetir acrítica e anacronicamente o estilo de culto, o tipo da liturgia, cantos e usos e costumes da igreja dos séculos 16, 17 e 18, como os únicos aceitáveis por Deus e os únicos capazes de dar à Igreja uma identidade cristã. É um erro pensar que devemos pregar usando de maneira absoluta os mesmos métodos e conceitos de comunicação e transmissão de conteúdos desde o púlpito ou a mesma didática da época para a catequese (o conteúdo, esse sim, perene). Também é um erro pensar numa forma única de estética para o templo e a própria ação litúrgica. Evidentemente que os elementos de culto empregados pelos reformadores são indeléveis e inegociáveis, mas não porque fossem por eles estabelecidos, mas porque são Bíblicos e se encontram presentes nos dois cânones das Escrituras e foram firmemente estabelecidos por Deus.
4. Só uma volta radical ao passado glorioso dos reformadores pode nos salvar?
Uma quarta sedução à idolatria é concluir que em nossos dias não existam contribuições válidas para a igreja e que tudo se encontra tão perdido e corrompido que só uma volta radical ao passado glorioso de nossos heróis pode nos salvar. Além de pretencioso esse pensamento é ingênuo, para não dizer infantil. Os nossos dias trazem consigo não só inúmeras e inimagináveis oportunidades, como também ferramentas maravilhosas, um acúmulo de conhecimento sistematizado que os Reformadores jamais sonharam possuir. Pesquisas científicas avançadas nas áreas da história, arqueologia, línguas antigas, antropologia cultural e etc., nos fazem penetrar com muito mais profundidade as maravilhas da Bíblia. Novas Universidades, novos e equipados seminários, a enorme profusão de editoras e novos autores, teólogos e pesquisadores nos enchem de esperança quanto ao futuro da Igreja.
Mas, nenhuma idolatria é mais perigosa do que esquecer que Cristo é o Senhor e Cabeça da Igreja. Que Ele é o mais interessado em sua eterna juventude, vitalidade, pureza e fidelidade. Que Ele mesmo é quem empodera essa igreja por meio do seu Espírito, que levanta, comissiona e envia homens, pecadores e frágeis, para continuar reformado e restaurando a vida da igreja até o dia em que Ele mesmo, em pessoa, virá buscá-la e a conduzirá para um tempo em que as Reformas já não serão necessárias e nem mesmo relembradas.
• Luiz Fernando dos Santos é ministro reformado na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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Fé fraca também é fé
Perguntas da Reforma para calvinistas e arminianos
Sacerdotes, Uber e Reforma Protestante
Protestantismo: o que restou da Reforma?
A Reforma Protestante e a espiritualidade clássica
Foto: Pixabay.com.
Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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