Por Escrito
- 21 de agosto de 2017
- Visualizações: 8178
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
O verdadeiro menino da pipa
Por Liz Valente
Nem toda música que fala sobre um menino foi escrita a partir de um encontro com um menino de verdade. Muitas vezes, o menino da canção é apenas fruto da imaginação do compositor, ou mesmo de alguma vívida lembrança de um menino já envelhecido exteriormente. Esse não foi o meu caso, “Pipa Amarela” é sobre um menino de verdade, mudei apenas a cor da pipa, o resto fluiu como um café passado no passar dos dias. Tudo começou com um encontro acidental com esses rapazes da foto, meninos de pele e osso, dos quais nunca soube o nome, mas com os quais pude passar uma tarde num verão inspirador.
Acredito que nem mesmo o menino da pipa saiba o quanto a sua simplicidade e alegria naquela tarde impactaram a minha história. De uma repartição tímida de ideias lúdicas surgiu uma canção que motivou a gravação do meu primeiro disco, e o vento se tornou o chão de um sonho.
A tarde, a foto e a música aconteceram em 2010, quando, numa tentativa inocente de olhar para minha cidade com intencionalidade, eu me dispus ao hábito de flanar. Esse verbo, pouco usado no português, decorreu de um personagem fictício o “flâneur” criado por Charles Baudelaire. O flâneur era um homem à deriva no espaço urbano, vagante e à toa; que justamente por sua falta de compromisso estava disponível para ver o que se passava quando ninguém estava vendo. Foram as minhas próprias flanâncias, essa espécie ócio proposital, que me levaram àquele lugar, àquele momento de faca de cozinha, varas de bamboo e sacolas plásticas. Vidas enraizadas na mesma terra, Minas Gerais, repartindo brisas e traçando rumos que só Deus sabe para onde nos levarão no final.
Por trás desta foto havia uma menina vagante, em busca de poesia e redenção. Por trás desta foto havia meninos que economizavam sacolas plásticas apenas para vê-las ao céu como velas ao mar. Histórias se cruzando por poucos instantes como rabiolas emboladas em arquivos fotográficos que nunca foram impressos em papel. A pipa original não era amarela, mas a cantiga nasceu de um coração ensolarado. A rua nos trouxe mais uma história, como sempre ela traz.
Fico imaginando as ruas por onde o Filho do Homem andou. Fico pensando na minha própria historia e como Cristo se encontra comigo tantas vezes em minhas andanças, em como ele me interrompe através de uma linha empenada, de um canto de sabiá ou mesmo de uma sombra no chão. Fico pensando nas milhares de vidas se cruzando e em como Cristo derramou seu precioso sangue para que pudéssemos parar para nos deleitarmos somente nele.
Fotos: Liz Valente.
• Liz Valente é mestra em arquitetura e urbanismo. Também é cantora, compositora e autora de 4 peças teatrais. Casada com Pedro Paulo, mãe do João e do Davi.
Leia mais
A cruz e a esperança no interior do centro oeste brasileiro
A casa de portão vermelho
Histórias que não gostamos de ouvir
Nem toda música que fala sobre um menino foi escrita a partir de um encontro com um menino de verdade. Muitas vezes, o menino da canção é apenas fruto da imaginação do compositor, ou mesmo de alguma vívida lembrança de um menino já envelhecido exteriormente. Esse não foi o meu caso, “Pipa Amarela” é sobre um menino de verdade, mudei apenas a cor da pipa, o resto fluiu como um café passado no passar dos dias. Tudo começou com um encontro acidental com esses rapazes da foto, meninos de pele e osso, dos quais nunca soube o nome, mas com os quais pude passar uma tarde num verão inspirador.
Acredito que nem mesmo o menino da pipa saiba o quanto a sua simplicidade e alegria naquela tarde impactaram a minha história. De uma repartição tímida de ideias lúdicas surgiu uma canção que motivou a gravação do meu primeiro disco, e o vento se tornou o chão de um sonho.
A tarde, a foto e a música aconteceram em 2010, quando, numa tentativa inocente de olhar para minha cidade com intencionalidade, eu me dispus ao hábito de flanar. Esse verbo, pouco usado no português, decorreu de um personagem fictício o “flâneur” criado por Charles Baudelaire. O flâneur era um homem à deriva no espaço urbano, vagante e à toa; que justamente por sua falta de compromisso estava disponível para ver o que se passava quando ninguém estava vendo. Foram as minhas próprias flanâncias, essa espécie ócio proposital, que me levaram àquele lugar, àquele momento de faca de cozinha, varas de bamboo e sacolas plásticas. Vidas enraizadas na mesma terra, Minas Gerais, repartindo brisas e traçando rumos que só Deus sabe para onde nos levarão no final.
Por trás desta foto havia uma menina vagante, em busca de poesia e redenção. Por trás desta foto havia meninos que economizavam sacolas plásticas apenas para vê-las ao céu como velas ao mar. Histórias se cruzando por poucos instantes como rabiolas emboladas em arquivos fotográficos que nunca foram impressos em papel. A pipa original não era amarela, mas a cantiga nasceu de um coração ensolarado. A rua nos trouxe mais uma história, como sempre ela traz.
Fico imaginando as ruas por onde o Filho do Homem andou. Fico pensando na minha própria historia e como Cristo se encontra comigo tantas vezes em minhas andanças, em como ele me interrompe através de uma linha empenada, de um canto de sabiá ou mesmo de uma sombra no chão. Fico pensando nas milhares de vidas se cruzando e em como Cristo derramou seu precioso sangue para que pudéssemos parar para nos deleitarmos somente nele.
Fotos: Liz Valente.
• Liz Valente é mestra em arquitetura e urbanismo. Também é cantora, compositora e autora de 4 peças teatrais. Casada com Pedro Paulo, mãe do João e do Davi.
Leia mais
A cruz e a esperança no interior do centro oeste brasileiro
A casa de portão vermelho
Histórias que não gostamos de ouvir
- 21 de agosto de 2017
- Visualizações: 8178
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Por Escrito
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Corpos doentes [fracos, limitados, mutilados] também adoram
- Pesquisa Força Missionária Brasileira 2025 quer saber como e onde estão os missionários brasileiros
- Perigo à vista ! - Vulnerabilidades que tornam filhos de missionários mais suscetíveis ao abuso e ao silêncio
- As 97 teses de Martinho Lutero
- Lutar pelos sonhos é possível após os 60. Sempre pela bondade do Senhor
- Para fissurados por controle, cancelamento é saída fácil
- A urgência da reconciliação: Reflexões a partir do 4º Congresso de Lausanne, um ano após o 7 de outubro
- A última revista do ano
- Diálogos de Esperança: nova temporada conversa sobre a Igreja e Lausanne 4
- Vem aí "The Connect Faith 2024"