Opinião
20 de agosto de 2014
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O Movimento Lausanne e a Missão Integral

Preciso reconhecer que quando deixamos a Cidade do Cabo, por ocasião do encerramento do III Congresso Mundial de Evangelização (Lausanne III), eu não tinha o discernimento de que esse documento passaria de uma “fagulha” a um “fogo” de razoável magnitude. Quem sabe eu estivesse demasiado cansado para percebê-lo ou, quem sabe, envolvido demais no processo, uma vez que participei na sua redação. Nesta conversa eu destaco três marcas de um documento que tem um forte toque missional.

2. A segunda marca tem relação com o conceito e a percepção de missão com que se trabalha. Ao fazer uso da Declaração Miquéias sobre Missão Integral, o CCC assume essa mesma compreensão de missão:
“Missão Integral é a proclamação e a demonstração do evangelho. Não significa simplesmente que o evangelismo e o envolvimento social tenham que ser realizados simultaneamente. Na Missão Integral, nossa proclamação tem consequências sociais quando convocamos as pessoas ao amor e ao arrependimento em todas as áreas da vida. Nosso compromisso social tem consequências para a evangelização quando damos testemunho da graça transformadora de Jesus Cristo. Se ignoramos o mundo, traímos a Palavra de Deus, que nos envia para servir o mundo. Se ignoramos a Palavra de Deus, não temos nada para oferecer ao mundo”.
E logo a seguir, o CCC especifica o que isto quer significar:
Firmamos nosso compromisso com o exercício dinâmico e integral de todas as dimensões da missão para a qual Deus chama toda a sua igreja.
- Deus nos ordena a tornar conhecidos, em todas as nações, a verdade da revelação de Deus e o evangelho da graça salvadora de Deus por meio de Jesus Cristo, chamando todos ao arrependimento, à fé, ao batismo e ao discipulado obediente.
- Deus nos ordena a refletir o seu caráter por meio do cuidado compassivo com o necessitado, e demonstrar os valores e o poder ro reino de Deus na luta pela justiça e pela paz e no cuidado com a criação.1
O CCC abraça a Missão Integral (MI) como sua compreensão de missão.
3. A terceira marca está refletida na Parte 2 do CCC e se expressa como um “chamado para a ação”. Em continuidade com uma boa tradição evangélica, o documento procura caminhar para a prática, discernindo o contexto no qual nós vivemos e afirmando caminhos de engajamento missionário dentro desta realidade. Em sintonia com a carta de Efésios, que foi estudada em Lausanne III, afirma-se a vivência prática da fé, tanto no nível pessoal como coletivo: “pois somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos”.
Ao concentrar-nos no CCC, estamos apontando para o fato de que a MI foi crescentemente abraçada no contexto do Movimento de Lausanne. Podemos entender que este processo encontrou a sua força motriz em Lausanne I e no Pacto de Lausanne. Isso, no entanto, não significa que esta tenha sido a única marca daquele encontro. Pelo contrário, a ênfase na MI surgiu como um “fator surpresa”, como uma voz com sotaque latino-americano, e encontrou a resistência de grupos que preferiam afirmar a missão como a expressão de uma evangelização verbal. Mas a MI não foi, nem queria ser, meramente latino-americana; e logo descobriu e plantou vínculos com expressões missionárias em outros lugares. A ênfase na MI, ademais, não pretendia relativizar a importância, nem da evangelização, nem da necessidade de se transmitir o evangelho verbalmente. O que se queria é que a força missionária, que tinha o privilégio de compartilhar do evangelho de Jesus Cristo num crescente número de lugares e espaços, o fizesse de tal maneira que o amor de Deus fosse percebido como sendo salvador, restaurador e acolhedor. E que este mesmo amor pudesse ser percebido na vida daqueles que se anunciavam como seguidores de Jesus Cristo, que é a expressão mais profunda, ampla e suficiente do amor de Deus.
Esta breve reflexão não pode olhar para a própria caminhada histórica do Movimento de Lausanne no que se refere à MI. Mas quem sabe isto nem seja necessário neste momento, no qual se quer afirmar que o que o CCC expressa é que o movimento chegou lá de onde ele saiu e que continua a ser o seu lema: “toda a igreja levando todo o evangelho para o mundo todo”.
Nota:
1. O Compromisso da Cidade do Cabo, 68-69.
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• Valdir Steuernagel é pastor na Comunidade do Redentor, em Curitiba. Faz parte da Aliança Cristã Evangélica do Brasil, da Aliança Cristã Evangélica Mundial e da Visão Mundial.
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