Opinião
- 05 de abril de 2011
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Da necessidade e relevância da Aliança
Entendo uma Aliança Evangélica como um pacto entre pessoas que confessam a Jesus Cristo como Senhor e Salvador, conforme as Sagradas Escrituras que foram definidas institucionalmente pela Igreja, como expressa do consenso dos fiéis, iluminados pelo Espírito Santo, e entendida e explicada pelos Apóstolos, os Pais Apostólicos, os Pais da Igreja e os Reformadores, em cartas, credos, reflexões e confissões.
O presente se constrói tendo como base o passado, pois os que estiveram mais perto de Jesus, no tempo e no espaço, têm mais a dizer sobre a verdade do que os que estão mais longe. Jesus Cristo criou uma única Igreja, que estava institucionalmente cristalizada -em conteúdo (doutrina, ética) e forma (governo, disciplina) - apenas um século depois da sua Ascensão, em todos os lugares: una, santa, católica e apostólica, com o Espírito Santo conduzindo à unidade e à verdade. O cisma é um pecado contra a unidade, e a heresia um pecado contra a verdade; e a Igreja – ontem como hoje – sempre teve que se posicionar enfrentar a ambos, para, atualizada em métodos, ênfases e inculturações, ser o que sempre foi.
Interpretações ou revelações particulares, traços culturais locais, as limitações da mente caída e a vaidade humana têm dividido o Corpo de Cristo, rasgado a túnica inconsútil e transformado a sua esposa em um harém. Chegamos ao século XVI com apenas quatro ramos da Igreja (Nestorianos, PréCalcedônios, Bizantinos e Romanos:Latinos+Uniatas), terminamos a Reforma Protestante com uma meia dúzia a mais (Hussitas, Luteranos, Anglicanos, Reformados, Anabatistas), chegamos ao século XIX com uns 100 e atingimos a escandalosa cifra de 38.000 ao adentrarmos o século XXI, atestando que a Igreja vive em pecado. Para driblar a nossa consciência culpada e a nossa incapacidade de resolução, inventamos a noção sociológica de ‘denominação’, reduzimos o eclesiástico ao comunitário local, adotamos o dualismo neoplatônico entre o organismo (bom/divino) e a organização, instituição (má/ humana), e nos enganamos com uma unidade ‘espiritual’ de uma ‘igreja invisível’ (formada por fantasmas). O pecado do cisma foi eliminado e visto como expressão de um ‘empreendedorismo’ (sai o Espírito Santo; entra o SEBRAE). A Igreja foi des-sacralizada, como mera sociedade, e os seus ungidos transformados em meros executivos.
Uma Aliança Evangélica, se, por um lado, assume a história, a cultura, a caminhada da Igreja, os desafios e os pecados do Brasil, por outro lado ela é herdeira de dois mil anos de catolicidade credal e de quinhentos anos de confessionalidade reformada, ambos com seus conteúdos doutrinários convergentes, tidos como inegociáveis, e marca deidentidade. E, de minha parte, não teria nenhuma razão para me filiar a uma Aliança que não fosse Cristã e Protestante, conforme entenderam os que me transmitiram a fé.
Muitos insistem na visão equivocada de um Evangelicalismo como mera expressão moderada do Fundamentalismo norte-americano, quando esse, em meados do século XX, se transmuta de um movimento confessional e uma sub-cultura extremista. O Evangelicalismo não tem origem norte-americana, mas inglesa, não foi reativo, masafirmativo, não nasceu no século XX, mas no XIX, como herdeiro da Reforma e dos aspectos positivos dos seus derivados: o Puritanismo, o Pietismo, o Avivalismo e o Movimento Missionário. As marcas distintivas: a Autoridade das Sagradas Escrituras,o Sacrifício Vicário, o Mandato Missionário, a Conversão e a Santidade, uniram os evangélicos das várias ‘denominações’, épocas e lugares. Creio que todos nós, que sonhamos e investimos nessa Aliança, fomos convertidos quando confrontados por essa mensagem e instruídos nesse conteúdo, e não vemos por que dele se envergonhar ou pretender mudá-lo ou substituí-lo somente porque haja quem o use indevidamente, ou porque alguns que caminharam conosco não mais confessam essa herança e conteúdo, considerando-a ‘inadequada’, ‘ultrapassada’ ou ‘irrelevante’.
O quadro religioso, dito protestante, brasileiro, é fragmentado, confuso, caótico, escandaloso. Com humildade, mas também com coragem, determinação e audácia, uma Aliança Evangélica – representando os que têm clareza quanto a essa identificação – pode ser um instrumento histórico de Deus. Mas, se partirmos da dúvida, da crise de identidade, da timidez, de elucubrações estéreis, da intolerância interna e da intimidação diante do ‘espírito do século’, não chegaremos a lugar algum.
Que o Senhor nos ilumine!
O presente se constrói tendo como base o passado, pois os que estiveram mais perto de Jesus, no tempo e no espaço, têm mais a dizer sobre a verdade do que os que estão mais longe. Jesus Cristo criou uma única Igreja, que estava institucionalmente cristalizada -em conteúdo (doutrina, ética) e forma (governo, disciplina) - apenas um século depois da sua Ascensão, em todos os lugares: una, santa, católica e apostólica, com o Espírito Santo conduzindo à unidade e à verdade. O cisma é um pecado contra a unidade, e a heresia um pecado contra a verdade; e a Igreja – ontem como hoje – sempre teve que se posicionar enfrentar a ambos, para, atualizada em métodos, ênfases e inculturações, ser o que sempre foi.
Interpretações ou revelações particulares, traços culturais locais, as limitações da mente caída e a vaidade humana têm dividido o Corpo de Cristo, rasgado a túnica inconsútil e transformado a sua esposa em um harém. Chegamos ao século XVI com apenas quatro ramos da Igreja (Nestorianos, PréCalcedônios, Bizantinos e Romanos:Latinos+Uniatas), terminamos a Reforma Protestante com uma meia dúzia a mais (Hussitas, Luteranos, Anglicanos, Reformados, Anabatistas), chegamos ao século XIX com uns 100 e atingimos a escandalosa cifra de 38.000 ao adentrarmos o século XXI, atestando que a Igreja vive em pecado. Para driblar a nossa consciência culpada e a nossa incapacidade de resolução, inventamos a noção sociológica de ‘denominação’, reduzimos o eclesiástico ao comunitário local, adotamos o dualismo neoplatônico entre o organismo (bom/divino) e a organização, instituição (má/ humana), e nos enganamos com uma unidade ‘espiritual’ de uma ‘igreja invisível’ (formada por fantasmas). O pecado do cisma foi eliminado e visto como expressão de um ‘empreendedorismo’ (sai o Espírito Santo; entra o SEBRAE). A Igreja foi des-sacralizada, como mera sociedade, e os seus ungidos transformados em meros executivos.
Uma Aliança Evangélica, se, por um lado, assume a história, a cultura, a caminhada da Igreja, os desafios e os pecados do Brasil, por outro lado ela é herdeira de dois mil anos de catolicidade credal e de quinhentos anos de confessionalidade reformada, ambos com seus conteúdos doutrinários convergentes, tidos como inegociáveis, e marca deidentidade. E, de minha parte, não teria nenhuma razão para me filiar a uma Aliança que não fosse Cristã e Protestante, conforme entenderam os que me transmitiram a fé.
Muitos insistem na visão equivocada de um Evangelicalismo como mera expressão moderada do Fundamentalismo norte-americano, quando esse, em meados do século XX, se transmuta de um movimento confessional e uma sub-cultura extremista. O Evangelicalismo não tem origem norte-americana, mas inglesa, não foi reativo, masafirmativo, não nasceu no século XX, mas no XIX, como herdeiro da Reforma e dos aspectos positivos dos seus derivados: o Puritanismo, o Pietismo, o Avivalismo e o Movimento Missionário. As marcas distintivas: a Autoridade das Sagradas Escrituras,o Sacrifício Vicário, o Mandato Missionário, a Conversão e a Santidade, uniram os evangélicos das várias ‘denominações’, épocas e lugares. Creio que todos nós, que sonhamos e investimos nessa Aliança, fomos convertidos quando confrontados por essa mensagem e instruídos nesse conteúdo, e não vemos por que dele se envergonhar ou pretender mudá-lo ou substituí-lo somente porque haja quem o use indevidamente, ou porque alguns que caminharam conosco não mais confessam essa herança e conteúdo, considerando-a ‘inadequada’, ‘ultrapassada’ ou ‘irrelevante’.
O quadro religioso, dito protestante, brasileiro, é fragmentado, confuso, caótico, escandaloso. Com humildade, mas também com coragem, determinação e audácia, uma Aliança Evangélica – representando os que têm clareza quanto a essa identificação – pode ser um instrumento histórico de Deus. Mas, se partirmos da dúvida, da crise de identidade, da timidez, de elucubrações estéreis, da intolerância interna e da intimidação diante do ‘espírito do século’, não chegaremos a lugar algum.
Que o Senhor nos ilumine!
Foi bispo anglicano da Diocese do Recife e autor de, entre outros, Cristianismo e Política — teoria bíblica e prática histórica e A Igreja, o País e o Mundo — desafios a uma fé engajada. Faleceu no dia 26 de fevereiro de 2012 em Olinda (PE).
- Textos publicados: 29 [ver]
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