Opinião
- 21 de maio de 2018
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A tradução da Bíblia em grupos minoritários
Por Ka’egso Hery
Se Deus olhasse apenas para números ou estratégias baseadas em cálculos de custo e benefício, o povo Kaingang não faria parte do Reino de Deus, assim como outros povos minoritários do Brasil e do mundo, que vivem isolados, em uma barreira cultural e linguística mais difícil de ser superada do que barreiras geográficas.
Ainda há outros povos que tem população menor do que qualquer um dos municípios brasileiros. Povos pequenos assim correm o risco de perder o que tem de mais precioso: a sua identidade. Isso porque o discurso das políticas públicas visa a preservação, mas na prática, acabam promovendo a segregação, uma consequência da falta de pessoas preparadas para lidar com o diferente.
É muito mais fácil, por exemplo, desenvolver um programa de alfabetização único em português, do que investir em cartilhas diferenciadas para as 180 línguas indígenas faladas no Brasil. Isto enfraquece um dos elementos mais íntimos da cultura de um povo, que é a sua forma de comunicação.
Infelizmente, este raciocínio também tem rondado a igreja brasileira, onde, por vezes, se olha apenas para números. Mas Deus não se impressiona por isso, nem se deixa limitar por barreiras. Pelo contrário, ele nos convida a olhar para o pequeno, para o desprestigiado. E é este o grande desafio: estar disposto a comunicar o amor de Deus a um povo, por menor que seja, por mais distante que esteja ou por mais diferente que ele viva.
Alcançar o coração com o Evangelho requer uma comunicação pessoal, específica e integral, porque Deus não nivela ou dissolve as diferenças, nem opera só na esfera espiritual, mas vê e valoriza a vida de cada um e suas necessidades no seu contexto cultural. Ele quer trazer cura para os males do pecado em todas as áreas e no dia a dia de cada povo, não de forma genérica, mas com prescrições individuais, escritas na língua do coração.
Isto não acontece sem o trabalho da tradução, que é o esforço de fazer com que a mensagem seja compreendida pelas formas de comunicação do povo receptor. Graças a Deus existem pessoas dedicadas a isso, às vezes isoladas, sem reconhecimento público, mas fiéis no seu chamado de traduzir a Palavra de Deus com as suas vidas.
Um dos frutos deste empenho tem sido a Palavra de Deus na forma escrita. Ter o “Falar de Deus Conosco” (termo kaingang para Bíblia) impresso em mãos oferece o acesso direto, irrestrito e traz independência, pois tira o poder dos intermediários, que tantas vezes abusam da dependência dos seus fiéis. Tem me encorajado muito ter a Sociedade Bíblica do Brasil como parceira neste esforço de fazer com que Deus fale diretamente ao povo Kaingang também na forma escrita, mesmo sabendo que isto envolve esforços e gastos que, humanamente falando, não fazem muito sentido. Mas nós somos servos de um Deus que não se prende a números absolutos, mas faz milagres com eles. Com poucos pães e peixes, Ele alimenta uma multidão. Um vale mais que 99. É dividindo que se multiplica.
• Ka’egso Hery é missionário e tradutor. Filho de missionários alemães, Ka’egso assumiu a missão de traduzir o Antigo Testamento em Kaingang, juntamente com 35 tradutores, que se revezaram ao longo de 17 anos. Atualmente, ele vive na Terra indígena de Queimadas, no município de Ortigueira/PR.
Se Deus olhasse apenas para números ou estratégias baseadas em cálculos de custo e benefício, o povo Kaingang não faria parte do Reino de Deus, assim como outros povos minoritários do Brasil e do mundo, que vivem isolados, em uma barreira cultural e linguística mais difícil de ser superada do que barreiras geográficas.
Ainda há outros povos que tem população menor do que qualquer um dos municípios brasileiros. Povos pequenos assim correm o risco de perder o que tem de mais precioso: a sua identidade. Isso porque o discurso das políticas públicas visa a preservação, mas na prática, acabam promovendo a segregação, uma consequência da falta de pessoas preparadas para lidar com o diferente.
É muito mais fácil, por exemplo, desenvolver um programa de alfabetização único em português, do que investir em cartilhas diferenciadas para as 180 línguas indígenas faladas no Brasil. Isto enfraquece um dos elementos mais íntimos da cultura de um povo, que é a sua forma de comunicação.
Infelizmente, este raciocínio também tem rondado a igreja brasileira, onde, por vezes, se olha apenas para números. Mas Deus não se impressiona por isso, nem se deixa limitar por barreiras. Pelo contrário, ele nos convida a olhar para o pequeno, para o desprestigiado. E é este o grande desafio: estar disposto a comunicar o amor de Deus a um povo, por menor que seja, por mais distante que esteja ou por mais diferente que ele viva.
Alcançar o coração com o Evangelho requer uma comunicação pessoal, específica e integral, porque Deus não nivela ou dissolve as diferenças, nem opera só na esfera espiritual, mas vê e valoriza a vida de cada um e suas necessidades no seu contexto cultural. Ele quer trazer cura para os males do pecado em todas as áreas e no dia a dia de cada povo, não de forma genérica, mas com prescrições individuais, escritas na língua do coração.
Isto não acontece sem o trabalho da tradução, que é o esforço de fazer com que a mensagem seja compreendida pelas formas de comunicação do povo receptor. Graças a Deus existem pessoas dedicadas a isso, às vezes isoladas, sem reconhecimento público, mas fiéis no seu chamado de traduzir a Palavra de Deus com as suas vidas.
Um dos frutos deste empenho tem sido a Palavra de Deus na forma escrita. Ter o “Falar de Deus Conosco” (termo kaingang para Bíblia) impresso em mãos oferece o acesso direto, irrestrito e traz independência, pois tira o poder dos intermediários, que tantas vezes abusam da dependência dos seus fiéis. Tem me encorajado muito ter a Sociedade Bíblica do Brasil como parceira neste esforço de fazer com que Deus fale diretamente ao povo Kaingang também na forma escrita, mesmo sabendo que isto envolve esforços e gastos que, humanamente falando, não fazem muito sentido. Mas nós somos servos de um Deus que não se prende a números absolutos, mas faz milagres com eles. Com poucos pães e peixes, Ele alimenta uma multidão. Um vale mais que 99. É dividindo que se multiplica.
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