Opinião
- 16 de março de 2018
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A misericórdia de Deus e as enfermidades do nosso mundo
Por Luiz Fernando dos Santos
O centro das boas novas anunciadas por Jesus Cristo, que é a suma da esperança e da fé dos crentes do Antigo Testamento, é a apresentação do Deus das misericórdias. Deus se compraz em mostrar misericórdia para com os pecadores arrependidos. Deus revela-se misericordioso sempre que invocado, pela fé, por homens e mulheres ruborizados pelo pecado, impotentes frente ao mal e incapazes de fiados em justiça própria, consertar a própria vida. A misericórdia da parte de Deus é uma ação criadora, que transforma a realidade, que cria nova oportunidade, nova vida, novas energias para continuarmos seguindo em frente.
Os rabinos costumam ensinar que antes da criação do mundo visível, Deus criou o arrependimento e a misericórdia, mecanismos pelos quais Ele mesmo poderia relacionar-se com as suas criaturas limitadas e passíveis de pecar, como foi o caso. Então, a misericórdia antecipou-se à Queda, de modo que o perdão já estava à disposição antes mesmo do pecado entrar no mundo. Ainda hoje, as misericórdias do Senhor continuam se antecipando a nós, elas se renovam a cada manhã, causa de não sermos consumidos e aqui está a nossa esperança e a nossa segurança (Lm 3. 21ss).
A misericórdia é um santo antídoto contra as mais variadas enfermidades que grassam em nosso mundo. Nosso tempo reclama o exercício da misericórdia em muitíssimas frentes. Precisamos começar a viver a cultura da misericórdia em casa, de maneira especial, no casamento. Sem misericórdia, o ato gracioso e bondoso do coração de levar em consideração a fragilidade do outro, o gesto generoso de acolher e carregar o fardo da limitação do outro, nenhuma relação pode ser saudável e duradoura. As cobranças insistentes por perfeição, as falsas e ilusórias expectativas que criamos em relação ao cônjuge, às vezes exigindo mais do que ele um dia prometeu dar ou pode oferecer, gera atritos e ressentimentos amargurados. A misericórdia no casamento acolhe e ama o outro não apesar de suas fraquezas, mas, justamente por causa delas. Não que a misericórdia deva nos fazer cúmplices dos pecados, nada disso, mas a misericórdia nos ajuda a oferecer toda sorte de auxílio, afeto e segurança psicológica e espiritual para que o outro possa se levantar e deixar para trás o erro. Onde não há misericórdia tudo o que fazemos é anotar as faltas mútuas para recíprocas acusações em tempos de dificuldades. A misericórdia torna a vida a dois, mais adequada, pacífica e gozosa.
Nossos filhos precisam crescer na escola da misericórdia. Mormente, nossas crianças crescem em um ambiente competitivo como a escola, os clubes e as rodas de amigos. Nossa cultura propõe uma espécie de darwinismo social onde só os mais fortes sobrevivem. Assim, a porta para a desumanização, a banalização da violência e a marginalização do fraco, permanece o tempo todo aberta. Sendo educados em um ambiente misericordioso, nossos filhos desenvolverão um espírito solidário, respeitoso, altruísta e compassivo. A misericórdia não permite a exacerbação da meritocracia e cria espaço para a partilha e a inclusão dos mais fracos ou incapacitados por quaisquer eventualidades. Essa misericórdia vivida no coração da família deve transbordar e “respingar” nas engrenagens da sociedade e na dinâmica da vida.
A misericórdia deve assentar-se no banco do carona e ser uma boa conselheira para a mediação e mesmo o fim da violência no trânsito. Essa misericórdia deve estar na pauta de nossas reuniões de negócio, em nossas relações no trabalho, na condução da política e no coração da igreja. A misericórdia nos livra da obsessão por resultados, nos cura do perfeccionismo, nos exorciza do amor desmedido pelo poder e nos ensina a perder com honra e gratidão e a ganhar com humildade e ação de graças. Um coração cheio de misericórdia nos faz ter uma imagem mais adequada de nós mesmos. Porque só é misericordioso quem experimentou a misericórdia, logo, esse tem a dimensão exata de sua miséria, de sua fragilidade e está consciente de que seus pés também são de barro. Então, quem se sabe agasalhado pela misericórdia de Deus em Cristo e cresceu na vivência dessa misericórdia em suas relações desde sua família e igreja, não tem outra opção que não ser agente desse amor curador e restaurador do Pai que pela misericórdia sempre faz novas todas as coisas.
Leia mais
A misericórdia de Deus nos alcançou. A nossa vai tocar em quem?
De misericórdia em misericórdia
A palavra “misericórdia” existe porque a palavra “pecado” existe
Praticar a justiça e amar a misericórdia não é o bastante
Imagem ilustrativa: Photo by Tom Parsons on Unsplash
“Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (Mt 5.7).
O centro das boas novas anunciadas por Jesus Cristo, que é a suma da esperança e da fé dos crentes do Antigo Testamento, é a apresentação do Deus das misericórdias. Deus se compraz em mostrar misericórdia para com os pecadores arrependidos. Deus revela-se misericordioso sempre que invocado, pela fé, por homens e mulheres ruborizados pelo pecado, impotentes frente ao mal e incapazes de fiados em justiça própria, consertar a própria vida. A misericórdia da parte de Deus é uma ação criadora, que transforma a realidade, que cria nova oportunidade, nova vida, novas energias para continuarmos seguindo em frente.
Os rabinos costumam ensinar que antes da criação do mundo visível, Deus criou o arrependimento e a misericórdia, mecanismos pelos quais Ele mesmo poderia relacionar-se com as suas criaturas limitadas e passíveis de pecar, como foi o caso. Então, a misericórdia antecipou-se à Queda, de modo que o perdão já estava à disposição antes mesmo do pecado entrar no mundo. Ainda hoje, as misericórdias do Senhor continuam se antecipando a nós, elas se renovam a cada manhã, causa de não sermos consumidos e aqui está a nossa esperança e a nossa segurança (Lm 3. 21ss).
A misericórdia é um santo antídoto contra as mais variadas enfermidades que grassam em nosso mundo. Nosso tempo reclama o exercício da misericórdia em muitíssimas frentes. Precisamos começar a viver a cultura da misericórdia em casa, de maneira especial, no casamento. Sem misericórdia, o ato gracioso e bondoso do coração de levar em consideração a fragilidade do outro, o gesto generoso de acolher e carregar o fardo da limitação do outro, nenhuma relação pode ser saudável e duradoura. As cobranças insistentes por perfeição, as falsas e ilusórias expectativas que criamos em relação ao cônjuge, às vezes exigindo mais do que ele um dia prometeu dar ou pode oferecer, gera atritos e ressentimentos amargurados. A misericórdia no casamento acolhe e ama o outro não apesar de suas fraquezas, mas, justamente por causa delas. Não que a misericórdia deva nos fazer cúmplices dos pecados, nada disso, mas a misericórdia nos ajuda a oferecer toda sorte de auxílio, afeto e segurança psicológica e espiritual para que o outro possa se levantar e deixar para trás o erro. Onde não há misericórdia tudo o que fazemos é anotar as faltas mútuas para recíprocas acusações em tempos de dificuldades. A misericórdia torna a vida a dois, mais adequada, pacífica e gozosa.
Nossos filhos precisam crescer na escola da misericórdia. Mormente, nossas crianças crescem em um ambiente competitivo como a escola, os clubes e as rodas de amigos. Nossa cultura propõe uma espécie de darwinismo social onde só os mais fortes sobrevivem. Assim, a porta para a desumanização, a banalização da violência e a marginalização do fraco, permanece o tempo todo aberta. Sendo educados em um ambiente misericordioso, nossos filhos desenvolverão um espírito solidário, respeitoso, altruísta e compassivo. A misericórdia não permite a exacerbação da meritocracia e cria espaço para a partilha e a inclusão dos mais fracos ou incapacitados por quaisquer eventualidades. Essa misericórdia vivida no coração da família deve transbordar e “respingar” nas engrenagens da sociedade e na dinâmica da vida.
A misericórdia deve assentar-se no banco do carona e ser uma boa conselheira para a mediação e mesmo o fim da violência no trânsito. Essa misericórdia deve estar na pauta de nossas reuniões de negócio, em nossas relações no trabalho, na condução da política e no coração da igreja. A misericórdia nos livra da obsessão por resultados, nos cura do perfeccionismo, nos exorciza do amor desmedido pelo poder e nos ensina a perder com honra e gratidão e a ganhar com humildade e ação de graças. Um coração cheio de misericórdia nos faz ter uma imagem mais adequada de nós mesmos. Porque só é misericordioso quem experimentou a misericórdia, logo, esse tem a dimensão exata de sua miséria, de sua fragilidade e está consciente de que seus pés também são de barro. Então, quem se sabe agasalhado pela misericórdia de Deus em Cristo e cresceu na vivência dessa misericórdia em suas relações desde sua família e igreja, não tem outra opção que não ser agente desse amor curador e restaurador do Pai que pela misericórdia sempre faz novas todas as coisas.
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A misericórdia de Deus nos alcançou. A nossa vai tocar em quem?
De misericórdia em misericórdia
A palavra “misericórdia” existe porque a palavra “pecado” existe
Praticar a justiça e amar a misericórdia não é o bastante
Imagem ilustrativa: Photo by Tom Parsons on Unsplash
Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
- Textos publicados: 105 [ver]
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