Opinião
- 16 de março de 2018
- Visualizações: 6573
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
A misericórdia de Deus e as enfermidades do nosso mundo
Por Luiz Fernando dos Santos
O centro das boas novas anunciadas por Jesus Cristo, que é a suma da esperança e da fé dos crentes do Antigo Testamento, é a apresentação do Deus das misericórdias. Deus se compraz em mostrar misericórdia para com os pecadores arrependidos. Deus revela-se misericordioso sempre que invocado, pela fé, por homens e mulheres ruborizados pelo pecado, impotentes frente ao mal e incapazes de fiados em justiça própria, consertar a própria vida. A misericórdia da parte de Deus é uma ação criadora, que transforma a realidade, que cria nova oportunidade, nova vida, novas energias para continuarmos seguindo em frente.
Os rabinos costumam ensinar que antes da criação do mundo visível, Deus criou o arrependimento e a misericórdia, mecanismos pelos quais Ele mesmo poderia relacionar-se com as suas criaturas limitadas e passíveis de pecar, como foi o caso. Então, a misericórdia antecipou-se à Queda, de modo que o perdão já estava à disposição antes mesmo do pecado entrar no mundo. Ainda hoje, as misericórdias do Senhor continuam se antecipando a nós, elas se renovam a cada manhã, causa de não sermos consumidos e aqui está a nossa esperança e a nossa segurança (Lm 3. 21ss).
A misericórdia é um santo antídoto contra as mais variadas enfermidades que grassam em nosso mundo. Nosso tempo reclama o exercício da misericórdia em muitíssimas frentes. Precisamos começar a viver a cultura da misericórdia em casa, de maneira especial, no casamento. Sem misericórdia, o ato gracioso e bondoso do coração de levar em consideração a fragilidade do outro, o gesto generoso de acolher e carregar o fardo da limitação do outro, nenhuma relação pode ser saudável e duradoura. As cobranças insistentes por perfeição, as falsas e ilusórias expectativas que criamos em relação ao cônjuge, às vezes exigindo mais do que ele um dia prometeu dar ou pode oferecer, gera atritos e ressentimentos amargurados. A misericórdia no casamento acolhe e ama o outro não apesar de suas fraquezas, mas, justamente por causa delas. Não que a misericórdia deva nos fazer cúmplices dos pecados, nada disso, mas a misericórdia nos ajuda a oferecer toda sorte de auxílio, afeto e segurança psicológica e espiritual para que o outro possa se levantar e deixar para trás o erro. Onde não há misericórdia tudo o que fazemos é anotar as faltas mútuas para recíprocas acusações em tempos de dificuldades. A misericórdia torna a vida a dois, mais adequada, pacífica e gozosa.
Nossos filhos precisam crescer na escola da misericórdia. Mormente, nossas crianças crescem em um ambiente competitivo como a escola, os clubes e as rodas de amigos. Nossa cultura propõe uma espécie de darwinismo social onde só os mais fortes sobrevivem. Assim, a porta para a desumanização, a banalização da violência e a marginalização do fraco, permanece o tempo todo aberta. Sendo educados em um ambiente misericordioso, nossos filhos desenvolverão um espírito solidário, respeitoso, altruísta e compassivo. A misericórdia não permite a exacerbação da meritocracia e cria espaço para a partilha e a inclusão dos mais fracos ou incapacitados por quaisquer eventualidades. Essa misericórdia vivida no coração da família deve transbordar e “respingar” nas engrenagens da sociedade e na dinâmica da vida.
A misericórdia deve assentar-se no banco do carona e ser uma boa conselheira para a mediação e mesmo o fim da violência no trânsito. Essa misericórdia deve estar na pauta de nossas reuniões de negócio, em nossas relações no trabalho, na condução da política e no coração da igreja. A misericórdia nos livra da obsessão por resultados, nos cura do perfeccionismo, nos exorciza do amor desmedido pelo poder e nos ensina a perder com honra e gratidão e a ganhar com humildade e ação de graças. Um coração cheio de misericórdia nos faz ter uma imagem mais adequada de nós mesmos. Porque só é misericordioso quem experimentou a misericórdia, logo, esse tem a dimensão exata de sua miséria, de sua fragilidade e está consciente de que seus pés também são de barro. Então, quem se sabe agasalhado pela misericórdia de Deus em Cristo e cresceu na vivência dessa misericórdia em suas relações desde sua família e igreja, não tem outra opção que não ser agente desse amor curador e restaurador do Pai que pela misericórdia sempre faz novas todas as coisas.
Leia mais
A misericórdia de Deus nos alcançou. A nossa vai tocar em quem?
De misericórdia em misericórdia
A palavra “misericórdia” existe porque a palavra “pecado” existe
Praticar a justiça e amar a misericórdia não é o bastante
Imagem ilustrativa: Photo by Tom Parsons on Unsplash
“Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (Mt 5.7).
O centro das boas novas anunciadas por Jesus Cristo, que é a suma da esperança e da fé dos crentes do Antigo Testamento, é a apresentação do Deus das misericórdias. Deus se compraz em mostrar misericórdia para com os pecadores arrependidos. Deus revela-se misericordioso sempre que invocado, pela fé, por homens e mulheres ruborizados pelo pecado, impotentes frente ao mal e incapazes de fiados em justiça própria, consertar a própria vida. A misericórdia da parte de Deus é uma ação criadora, que transforma a realidade, que cria nova oportunidade, nova vida, novas energias para continuarmos seguindo em frente.
Os rabinos costumam ensinar que antes da criação do mundo visível, Deus criou o arrependimento e a misericórdia, mecanismos pelos quais Ele mesmo poderia relacionar-se com as suas criaturas limitadas e passíveis de pecar, como foi o caso. Então, a misericórdia antecipou-se à Queda, de modo que o perdão já estava à disposição antes mesmo do pecado entrar no mundo. Ainda hoje, as misericórdias do Senhor continuam se antecipando a nós, elas se renovam a cada manhã, causa de não sermos consumidos e aqui está a nossa esperança e a nossa segurança (Lm 3. 21ss).
A misericórdia é um santo antídoto contra as mais variadas enfermidades que grassam em nosso mundo. Nosso tempo reclama o exercício da misericórdia em muitíssimas frentes. Precisamos começar a viver a cultura da misericórdia em casa, de maneira especial, no casamento. Sem misericórdia, o ato gracioso e bondoso do coração de levar em consideração a fragilidade do outro, o gesto generoso de acolher e carregar o fardo da limitação do outro, nenhuma relação pode ser saudável e duradoura. As cobranças insistentes por perfeição, as falsas e ilusórias expectativas que criamos em relação ao cônjuge, às vezes exigindo mais do que ele um dia prometeu dar ou pode oferecer, gera atritos e ressentimentos amargurados. A misericórdia no casamento acolhe e ama o outro não apesar de suas fraquezas, mas, justamente por causa delas. Não que a misericórdia deva nos fazer cúmplices dos pecados, nada disso, mas a misericórdia nos ajuda a oferecer toda sorte de auxílio, afeto e segurança psicológica e espiritual para que o outro possa se levantar e deixar para trás o erro. Onde não há misericórdia tudo o que fazemos é anotar as faltas mútuas para recíprocas acusações em tempos de dificuldades. A misericórdia torna a vida a dois, mais adequada, pacífica e gozosa.
Nossos filhos precisam crescer na escola da misericórdia. Mormente, nossas crianças crescem em um ambiente competitivo como a escola, os clubes e as rodas de amigos. Nossa cultura propõe uma espécie de darwinismo social onde só os mais fortes sobrevivem. Assim, a porta para a desumanização, a banalização da violência e a marginalização do fraco, permanece o tempo todo aberta. Sendo educados em um ambiente misericordioso, nossos filhos desenvolverão um espírito solidário, respeitoso, altruísta e compassivo. A misericórdia não permite a exacerbação da meritocracia e cria espaço para a partilha e a inclusão dos mais fracos ou incapacitados por quaisquer eventualidades. Essa misericórdia vivida no coração da família deve transbordar e “respingar” nas engrenagens da sociedade e na dinâmica da vida.
A misericórdia deve assentar-se no banco do carona e ser uma boa conselheira para a mediação e mesmo o fim da violência no trânsito. Essa misericórdia deve estar na pauta de nossas reuniões de negócio, em nossas relações no trabalho, na condução da política e no coração da igreja. A misericórdia nos livra da obsessão por resultados, nos cura do perfeccionismo, nos exorciza do amor desmedido pelo poder e nos ensina a perder com honra e gratidão e a ganhar com humildade e ação de graças. Um coração cheio de misericórdia nos faz ter uma imagem mais adequada de nós mesmos. Porque só é misericordioso quem experimentou a misericórdia, logo, esse tem a dimensão exata de sua miséria, de sua fragilidade e está consciente de que seus pés também são de barro. Então, quem se sabe agasalhado pela misericórdia de Deus em Cristo e cresceu na vivência dessa misericórdia em suas relações desde sua família e igreja, não tem outra opção que não ser agente desse amor curador e restaurador do Pai que pela misericórdia sempre faz novas todas as coisas.
Leia mais
A misericórdia de Deus nos alcançou. A nossa vai tocar em quem?
De misericórdia em misericórdia
A palavra “misericórdia” existe porque a palavra “pecado” existe
Praticar a justiça e amar a misericórdia não é o bastante
Imagem ilustrativa: Photo by Tom Parsons on Unsplash
Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
- Textos publicados: 105 [ver]
- 16 de março de 2018
- Visualizações: 6573
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Descobrindo o potencial da diáspora: um chamado à igreja brasileira
- Trabalho sob a perspectiva do reino de Deus
- Jesus [não] tem mais graça
- Onde estão as crianças?
- Não confunda o Natal com Papai Noel — Para celebrar o verdadeiro Natal
- Uma cidade sitiada - Uma abordagem literária do Salmo 31
- C. S. Lewis, 126 anos
- Ultimato recebe prêmio Areté 2024
- Exalte o Altíssimo!
- Paciência e determinação: virtudes essenciais para enfrentar a realidade da vida