Palavra do leitor
- 11 de fevereiro de 2015
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E os pobres, o que a Igreja está fazendo?
O discurso de que o pobre carece de pão não é do pobre, e muito menos de Deus. Esse é um discurso de quem tem muito, um pouco de pão dado não lhe fará falta alguma. O que Deus pede é que compartilhemos o que temos, não apenas o excedente. Há muitos que compartilham o pão porque é tudo o que têm (1 Co. 8), mas há outros que compartilham o conhecimento, a generosidade, a amizade, a hospitalidade, o tempo e muitas outras coisas e habilidades (1 Coríntios 12).
Compartilhar é muito mais que dar, é oferecer ao outro a possibilidade de desfrutar dos mesmos benefícios e assumir as mesmas responsabilidades. Ao oferecer ao outro o compartilhamento do que se tem e ao aceitar o que o outro tem, dá-se a ele o que ele merece, dignidade. Ao compartilhar o que temos, oportunizamos ao outro a participação da nossa alegria e permitimo-nos participar da sua.
O compartilhamento dignifica o outro porque o torna igual, participante da mesma benção, sustentado pelo mesmo Deus. Há uma diversidade de dons que podem ser compartilhados. Ninguém é tão desprovido de dons que não tenha o que oferecer, pois “a cada um é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem comum” (1 Co. 12.4). A alguns Deus deu o dom de serem especiais, de oportunizarem aos “abastados” a capacidade de amar sem permutas. A esses Jesus chamou carinhosamente de “meus pequeninos” (Mt. 10.42). Uma pessoa considerada incapaz, na verdade têm os maiores dons: simplicidade, gratidão, generosidade, humildade e aceitação dos cuidados dos outros. Essas pessoas oferecem aos seus cuidadores a alegria de encontrar sentido para suas vidas vazias.
Amar e servir o outro, nisso se resume os mandamentos de Deus. “Quem julga as pessoas não tem tempo pra amá-las” (Madre Tereza de Calcutá). Parafraseando, quem ama não tem tempo para julgar as pessoas. Quem ama se ocupa com a alegria de compartilhar o dom do Espírito.
A comunidade onde os dons de Deus são compartilhados se define como Igreja. Ser Igreja é ser a comunidade do compartilhamento. Sem o compartilhamento, o ajuntamento que chamamos de igreja é apenas a expressão de um reino que não é o de Deus, pois usam a carência para controlar as pessoas. Transformar pedra em pão é uma tentação do diabo, não um comportamento divino (Mt. 4.3-4). Mais que comida, os pobres precisam de dignidade. Uma igreja que não tem espaço para o pobre é porque perdeu o brilho da presença do Espírito Santo, se tornou uma empresa com metas e objetivos. A igreja local precisa se organizar como instituição, mas é preciso ter cuidado para não institucionalizar e perder o significado de ser igreja. “A igreja deve ser desinteressada para ser compartilhada” [1].
Nesse mundo, quem tem o poder econômico também tem o poder político. E esse sistema diabólico, econômico/político em que vivemos, cria um ambiente individualista onde o empoderamento se dá pelas posses. Os bens dão poder de manipulação, quando deveria redundar em alegria pela oportunidade dada por Deus para ajudar. Esse não é o sistema do Reino de Deus, mas do reino das trevas. A igreja deve ter cuidado para não se amoldar pelos valores desse reino.
No Reino de Deus, os bens são dádivas de Deus para circular e não para acumular. “Não acumulem para vocês tesouro na terra... Mas acumulem para vocês tesouro nos céus” (Mt. 6.19-20). A mensagem do evangelho subverte a mensagem do capitalismo: rico não é quem tem tesouro acumulado, mas quem gastou toda a sua fortuna para ajudar os outros, quem ousou compartilhar com os carentes o que lhe dava segurança (Mt. 19.21). E, sem segurança, se tornam iguais: todos dependentes da providência divina. Vivemos uma contradição, todos querem segurança, mas uma segurança que não seja compartilhada é ilusória. Nosso objetivo deve ser lutar pela plenitude do Reino de Deus, ai sim, todos terão segurança. O poder econômico pode nos livrar de agressão física, mas nos condiciona a exclusão social. Muitas casas são verdadeiras fortalezas, mas seus moradores sofrem uma violência velada que é pior que a física, são prisioneiros em casa, excluídos da sociedade.
Deus não condena a riqueza, mas a insensibilidade com a carência do outro. Foi o pecado da insensibilidade para com os necessitados que atraiu a destruição de Sodoma (Ez. 16.49). Se a igreja não se voltar para o evangelho de Cristo terá o mesmo fim. Quando a riqueza é benção, para quem possui e para quem não possui, não há o que se preocupar. Mas quando a riqueza possibilita a manipulação e a opressão dos pobres, ela é diabólica. A igreja enriquecida tende ao pecado da arrogância: “estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada” (Ap. 3.17). É preciso ser humilde para ouvir o grito de Deus: eu estou com fome, tenho sede, sou estrangeiro, necessito de roupas, estou enfermo, estou preso, e vocês, o que estão fazendo? (Mt. 25.35-36).
[1] CASTELLANOS, Sergio Ulloa. "A igreja como comunidade de saúde integral". In:SANTOS, H. N. "Dimensões do cuidado e aconselhamento pastoral". São Paulo: ASTE, 2008 (p. 111)
Compartilhar é muito mais que dar, é oferecer ao outro a possibilidade de desfrutar dos mesmos benefícios e assumir as mesmas responsabilidades. Ao oferecer ao outro o compartilhamento do que se tem e ao aceitar o que o outro tem, dá-se a ele o que ele merece, dignidade. Ao compartilhar o que temos, oportunizamos ao outro a participação da nossa alegria e permitimo-nos participar da sua.
O compartilhamento dignifica o outro porque o torna igual, participante da mesma benção, sustentado pelo mesmo Deus. Há uma diversidade de dons que podem ser compartilhados. Ninguém é tão desprovido de dons que não tenha o que oferecer, pois “a cada um é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem comum” (1 Co. 12.4). A alguns Deus deu o dom de serem especiais, de oportunizarem aos “abastados” a capacidade de amar sem permutas. A esses Jesus chamou carinhosamente de “meus pequeninos” (Mt. 10.42). Uma pessoa considerada incapaz, na verdade têm os maiores dons: simplicidade, gratidão, generosidade, humildade e aceitação dos cuidados dos outros. Essas pessoas oferecem aos seus cuidadores a alegria de encontrar sentido para suas vidas vazias.
Amar e servir o outro, nisso se resume os mandamentos de Deus. “Quem julga as pessoas não tem tempo pra amá-las” (Madre Tereza de Calcutá). Parafraseando, quem ama não tem tempo para julgar as pessoas. Quem ama se ocupa com a alegria de compartilhar o dom do Espírito.
A comunidade onde os dons de Deus são compartilhados se define como Igreja. Ser Igreja é ser a comunidade do compartilhamento. Sem o compartilhamento, o ajuntamento que chamamos de igreja é apenas a expressão de um reino que não é o de Deus, pois usam a carência para controlar as pessoas. Transformar pedra em pão é uma tentação do diabo, não um comportamento divino (Mt. 4.3-4). Mais que comida, os pobres precisam de dignidade. Uma igreja que não tem espaço para o pobre é porque perdeu o brilho da presença do Espírito Santo, se tornou uma empresa com metas e objetivos. A igreja local precisa se organizar como instituição, mas é preciso ter cuidado para não institucionalizar e perder o significado de ser igreja. “A igreja deve ser desinteressada para ser compartilhada” [1].
Nesse mundo, quem tem o poder econômico também tem o poder político. E esse sistema diabólico, econômico/político em que vivemos, cria um ambiente individualista onde o empoderamento se dá pelas posses. Os bens dão poder de manipulação, quando deveria redundar em alegria pela oportunidade dada por Deus para ajudar. Esse não é o sistema do Reino de Deus, mas do reino das trevas. A igreja deve ter cuidado para não se amoldar pelos valores desse reino.
No Reino de Deus, os bens são dádivas de Deus para circular e não para acumular. “Não acumulem para vocês tesouro na terra... Mas acumulem para vocês tesouro nos céus” (Mt. 6.19-20). A mensagem do evangelho subverte a mensagem do capitalismo: rico não é quem tem tesouro acumulado, mas quem gastou toda a sua fortuna para ajudar os outros, quem ousou compartilhar com os carentes o que lhe dava segurança (Mt. 19.21). E, sem segurança, se tornam iguais: todos dependentes da providência divina. Vivemos uma contradição, todos querem segurança, mas uma segurança que não seja compartilhada é ilusória. Nosso objetivo deve ser lutar pela plenitude do Reino de Deus, ai sim, todos terão segurança. O poder econômico pode nos livrar de agressão física, mas nos condiciona a exclusão social. Muitas casas são verdadeiras fortalezas, mas seus moradores sofrem uma violência velada que é pior que a física, são prisioneiros em casa, excluídos da sociedade.
Deus não condena a riqueza, mas a insensibilidade com a carência do outro. Foi o pecado da insensibilidade para com os necessitados que atraiu a destruição de Sodoma (Ez. 16.49). Se a igreja não se voltar para o evangelho de Cristo terá o mesmo fim. Quando a riqueza é benção, para quem possui e para quem não possui, não há o que se preocupar. Mas quando a riqueza possibilita a manipulação e a opressão dos pobres, ela é diabólica. A igreja enriquecida tende ao pecado da arrogância: “estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada” (Ap. 3.17). É preciso ser humilde para ouvir o grito de Deus: eu estou com fome, tenho sede, sou estrangeiro, necessito de roupas, estou enfermo, estou preso, e vocês, o que estão fazendo? (Mt. 25.35-36).
[1] CASTELLANOS, Sergio Ulloa. "A igreja como comunidade de saúde integral". In:SANTOS, H. N. "Dimensões do cuidado e aconselhamento pastoral". São Paulo: ASTE, 2008 (p. 111)
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