Posts tagged mulher

46ª semana de 2013

“Uma mulher vitimada pelo estupro não é só alguém manchada na honra, mas alguém temporariamente alienada da existência. Honra, dignidade, autonomia são ignoradas pelo estuprador, é verdade. Mas o estupro vai além: é um ato violento de demarcação do patriarcado nas entranhas das mulheres. É real e simbólico. Age em cada mulher vitimada, mas em todas as mulheres submetidas ao regime de dominação.”

Debora Diniz, O Estado de S.Paulo – 10/11/2013

 

“E a política para trazer montadoras, para produzir carros caros e com alto consumo de gasolina, com potência para 350 km/h – mas você anda a 40 km/h? É o auge do supérfluo.

34ª semana de 2012

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“Será que podemos compreender o mundo sem ter alguma espécie de crença? Essa não só é uma das questões centrais da dicotomia entre a ciência e a fé como também informa de que modo um indivíduo se relaciona com o mundo. […] Para avançar em suas teorias, o cientista precisa ter a coragem de arriscar e de estar errada. Só quando nos atrevemos a arriscar e errar é que podemos, talvez, enxergar um pouco mais longe do que os outros.”
Marcelo Gleiser – Folha de S.Paulo, 19/08/2012

“A mulher quer ser possuída em sua abstração, em sua geografia mutante, a mulher quer ser descoberta pelo homem para se conhecer. A mulher é metafísica; homem é engenharia. A mulher é muito mais exilada das certezas da vida que o homem. Ela é mais profunda que nós. A mulher deseja o impossível – esta é sua grande beleza. Ela vive buscando atingir a plenitude.”
Arnaldo Jabor – O Estado de S.Paulo, 21/08/2012

“Não se muda a educação estabelecendo metas, mas a partir de instituições. Não há milagre. Uma vez que não existe investimento nas políticas corretas, não há por que achar que teremos uma situação melhor no futuro.”
João Batista Araujo e Oliveira – Revista Veja – 22/08/2012

“Contrariando os saudosistas, afirmo que a educação no Brasil nunca foi grande coisa, mediocridade percebida apenas por espíritos mais alertas. A diferença é que hoje há mais impaciência com as suas mazelas. Diante dessas críticas, passadas e presentes, nossas doutas autoridades são pressionadas a tomar providências enérgicas. Mas e os custos políticos? E os calos em que se há de pisar? E a truculência dos que não querem perder suas sinecuras e confortos? E as greves? Com espantosa criatividade, nossos líderes encontraram uma saída para esse impasse: criou-se um tipo de reforma que, além de indolor, tem visibilidade na mídia escrita e falada. A ideia é simples: em vez da truculência de remexer pessoas e instituições reformam-se os nomes e títulos de tudo o que acontece na área. Brilhante! Sem trauma!”
Claudio de Moura Castro – Revista Veja – 22/08/2012

4ª semana de 2011

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“Não há por que ter medo da laicidade. Reconhecer o direito de voz às lideranças religiosas na política não é o mesmo que conceder-lhes passe livre para a participação na deliberação política do Estado. A liberdade de expressão política é um direito inalienável para as pessoas religiosas ou não. A laicidade não silencia a participação política. A clássica separação entre Estado e igreja não é o afastamento das religiões da vida política, mas seu devido distanciamento das instituições básicas do Estado. […] Todos devem igualmente respeitar o princípio da neutralidade religiosa do Estado em suas atuações políticas oficiais. Não há, portanto, incompatibilidade moral entre a mulher de fé e a mulher de Estado. Só elegemos a mulher de Estado.”

Debora Diniz, professora da Unviersidade de Brasília e Pesquisadora da ANIS – Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero – O Estado de S.Paulo, 23/01/2011

 

“O estupro na guerra é tão antigo quanto a própria guerra. […] Para os soldados, há muito tem sido um espólio de guerra. Antony Beevor, historiador que escreveu sobre estupros durante a ocupação soviética da Alemanha, em 1945, diz que a violação pode ocorrer na guerra tanto por obra de soldados indisciplinados quanto como arma estratégica para humilhar e aterrorizar, como no caso das Forças Regulares de marroquinos que lutaram sob as ordens de Franco na Guerra Civil Espanhola. […] Teoricamente, as convenções de Genebra sobre tratamento dos civis durante a guerra são respeitadas por políticos e generais na maioria dos países civilizados. Mas no caos da guerra irregular, com exércitos privados ou milícias indisciplinadas, essas normas têm pouco peso.

A parte oriental do Congo tem sido caótica desde o genocídio em Ruanda, em 1994. Em 2008, o grupo humanitário Comitê de Resgate Internacional (IRC, em inglês) estimou que 5,4 milhões de pessoas já tinham morrido na ‘guerra mundial da África’. Apesar dos acordos de 2003 e 2008, a violência ainda não cessou. Há muitos números sobre quantas mulheres foram violadas, nenhum conclusivo. Em outubro de 2010, Roger Meece, chefe das Nações Unidas no Congo, disse ao Conselho de Segurança da ONU que 15 mil mulheres tinham sido estupradas em todo o país em 2009. O Fundo para a População da ONU estimou 17,5 mil vítimas no mesmo período. O IRC diz que tratou de 40 mil sobreviventes somente na província de Kivu Meridional, entre 2003 e 2008. Hillary Margolis, que dirige o programa de violência sexual do IRC, diz que esse dado representa um piso. Os verdadeiros números podem ser muito maiores. […] Um estudo recente da Iniciativa Humanitária de Harvard e da Oxfam examinou sobreviventes no Hospital Panzi, em Bukavu, cidade de Kivu Setentrional. Com idades de 3 a 80 anos, solteiras, casadas ou viúvas, de todas as etnias, foram estupradas em casas, campos e florestas, na frente dos maridos e dos filhos; quase 60% violadas por grupos. Filhos foram obrigados a violar as mães ou seriam mortos. […]

Mesmo quando as guerras terminam, o estupro continua. Agências humanitárias no Congo relatam altos níveis de violações em áreas hoje pacíficas, mas é difícil avaliar cifras. Não há números de antes de guerra e uma maior disposição para relatar violações pode explicar o aparente aumento.

Os esforços para integrar ex-combatentes na sociedade foram superficiais e malsucedidos, com pouca avaliação de resultados. Some-se o precário sistema judiciário e a previsão é sombria. É ainda mais inóspita quando se vê como os efeitos do estupro são duradouros. Rebeldes tomaram a aldeia de Angelique, em 1994. Degolaram seu marido, depois a amarraram entre duas árvores com os braços e as pernas afastados. Sete homens a estupraram antes que ela desmaiasse. Ela não sabe quantos outros a violaram em seguida. Depois eles enfiaram galhos em sua vagina. O tecido entre sua vagina e o reto foi rasgado e ela desenvolveu uma fístula. Durante 16 anos vazou urina e fezes. Agora recebe tratamento médico, mas a justiça é um sonho distante.”

The Economist/Carta Capital, 26/01/2011

 

“Foi com a Revolução Industrial que o trabalho atingiu o seu apogeu, sendo celebrado como motor da modernização e da transformação do mundo. Hoje, a nossa sociedade tem outros deuses: cultua mais o consumo do que a produção, valoriza mais a imagem do que o fato, celebra mais o cargo do que o batente.”

Thomaz Wood Jr., Carta Capital, 26/01/2011

 

“Quase 200 anos depois da Independência, ainda temos do Estado uma visão colonial. Trata-se de uma entidade arrecadatória, nascida de algum reino estrangeiro que inventa novas coisas para nos infernizar e que cumpre enganar do mesmo modo com que nos tapeia. A corrosão ética da coisa toda nasce, a rigor, da política, e não o contrário: por se tratar de uma cidadania imperfeita, de um autoritarismo latente, de uma democracia sem participação e de um Estado, afinal, sem dono, mas com muitos gerentes e coronéis, é que corromper ou obedecer são as saídas que conhecemos.”

Marcelo Coelho, Folha de S.Paulo – 26/01/2011

 

“No Brasil, onde uma mulher acaba de assumir a Presidência da República, apenas 5 das 100 maiores companhias em receita com vendas têm mulheres na presidência.
O número é baixo, mas o cenário era ainda menos favorável às mulheres em 2009, quando não havia nenhuma presidente nas cem maiores companhias. […] Só 3% das cadeiras de presidentes, em média, ficam com as mulheres, segundo a DMRH, consultoria em recursos humanos, que atende mais de 450 empresas. […] De acordo com a consultoria, 9% dos diretores e vice-presidentes das companhias são mulheres; elas são cerca de 35% dos gerentes e 50% dos trainees e analistas. […]

Em empresas que possuem conselho de administração -órgão que aprova decisões estratégicas da companhia, como a nomeação do presidente-executivo (CEO, na sigla em inglês)-, mulheres têm menos chances de chegar ao topo. […] Na Noruega, é obrigatório, desde 2008, que 40% dos conselhos de administração sejam compostos por mulheres. Na Espanha, foi aprovada uma lei semelhante, com a mesma cota, mas só entra em vigor em 2015.”

Carolina Matos, Folha de S.Paulo – 28/01/2011

 

“Um estudo publicado neste mês no periódico ‘Archives of General Psychiatry’, reacende o debate em torno do caráter genético da depressão. A pesquisa, das universidades de Michigan, EUA, e Würzburg, Alemanha, conclui que pessoas com uma variação mais curta do que a normal do gene 5-HTTLPR são mais propensas a ter depressão depois de situações estressantes. […] Segundo Srijan Sen, professor de psiquiatria da Universidade de Michigan e um dos autores novo trabalho, esses resultados já mudam a forma de encarar a depressão. ‘Ainda há muito estigma associado a ela. Ao identificarmos um fator genético, podemos compreender que é uma doença biológica’, diz. O psiquiatra André Brunoni concorda: ‘Ainda há pais que não compreendem a depressão dos filhos e acham que eles podem superar isso sozinhos’. E completa: ‘Pensar na depressão como uma doença com causa biológica, que não é preguiça ou mera insatisfação com a vida, ajuda’.”

Guilherme Genestreti, Folha de S.Paulo – 28/01/2011

 

“Em 2010, o número de doadores de órgãos foi 11% maior do que em 2009, segundo a ABTO (Associação de Brasileira de Transplante de Órgãos). Foram 1.842 doadores com órgãos transplantados. É a maior média da história. O número total de transplantes feitos no Brasil teve um aumento de 6,5%. Os tipos que mais tiveram aumento foram os transplantes de rim e de fígado. Segundo a ABTO, São Paulo é o Estado com maior proporção de doadores. A região Norte é a que tem menos doações.”

Folha de S.Paulo – 28/01/2011

 

“País mais populoso do mundo árabe, o Egito ostenta a segunda maior economia da região, atrás somente da Arábia Saudita. Comparado aos vizinhos, no entanto, seus índices socioeconômicos estão entre os piores. Dos 80 milhões de habitantes, dois terços são jovens abaixo de 30 anos, dos quais 90% estão desempregados.”

Folha de S.Paulo – 29/01/2011

 

“Somos incorrigivelmente vorazes. Queremos o máximo de informações no mínimo de tempo. Desafiamos, a cada momento, as barreiras do espaço. Reduzimos as distâncias com telefones celulares e operações digitais. Ainda que no trânsito ou no aeroporto, no trabalho ou no clube, a ‘coleira eletrônica’ impede que nos percam de vista. Entre uma marcha e outra, uma flexão abdominal e outra, uma opinião e outra no trabalho, controlamos os filhos, as aplicações financeiras, os negócios geograficamente distantes. Como Prometeu, queremos arrebatar o fogo dos deuses, fazendo de conta que não somos frágeis e mortais.”

Frei Betto, Caros Amigos – janeiro/2011

1ª semana de 2011

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“É difícil imaginar um mestre que possa exercer sua competência pedagógica sem autoridade para corrigir erros. Comportamento tem que ser corrigido, assim como caligrafia, apresentação de trabalhos e conteúdos. Numa época como a nossa, em que ter uma falta ou falha apontada é visto como humilhação, e a repetição e a imitação são um martírio, como ensinar e como aprender? […] A imposição de tarefas não criativas, não inventivas, é tediosa e deveria poder ser evitada. Assim não se ensina e nem se aprende. Tentativa e erro, repetição, verificação, correção são o caminho para a assimilação.
Para que eu me aproprie de um novo saber, é preciso verificar se o conteúdo (dois e dois são quatro) é correto. […] Professor com medo do aluno, como qualquer ser humano, vai evitar esse desconforto. Vai observar pouco, vai verificar o estritamente necessário, vai fugir do eventual confronto. […] Onde domina o medo do erro, onde se evita a falha em vez de corrigi-la, onde se evita o confronto, se aprende pouco.”

Anna Veronica Mautner, psicanalista, Folha de S.Paulo – 04/01/2011

 

“Justo agora, quando depois de séculos de opressão, a mulher passou a ter voz própria, acontece um fato imprevisto, desagradável e aparentemente inexplicável: a ameaça de extinção do “homo interessantis”. Pelo menos é o que se escuta por aí. […] Antes do movimento feminista, essa era a posição da mulher: um acessório mais ou menos indispensável. O homem se valorizava infantilizando a mulher e depois lamentava não ter uma companheira. Para conversas divertidas e interessantes, frequentava ambientes masculinos. […] Ao colaborar para a extinção do “homo interessantis”, a mulher se vê obrigada a contar com a companhia feminina. Para cimentá-la, é preciso diminuir o homem. O ciclo se perpetua.”

Marion Minerbo, psicanalista, Folha de S.Paulo – 04/01/2011

 

“Existem duas maneiras de abordar o risco. Há o modo analítico, que opera com cálculo probabilístico e lógica formal. É um sistema abstrato e lento, que exige reflexão antes de traduzir-se em ações. Muitas vezes, simplesmente não processamos suas recomendações. […]O outro modo é o experiencial. Moldado por milhões de anos de seleção natural, é intuitivo, baseia-se em emoções e é rápido. Não temos de pensar antes de fugir de um leão. O desafio é encontrar meios de ensinar o cérebro a interpretar de forma visceral informações sobre o perigo de construir em áreas inadequadas ou ignorar leis de trânsito.”

Hélio Schwartsman, Folha de S.Paulo – 05/01/2011

 

“No fim de semana do Ano-Novo, os mais de 500 milhões de usuários do Facebook postaram um total de 750 milhões de fotos na rede social, número recorde, segundo divulgou ontem o blog TechCrunch. Em julho, a rede social afirmou que 100 milhões de fotos eram postadas por dia. O blog destaca, porém, que atualmente a média já deve ser maior por conta do crescimento no número de usuários.”

Folha de S.Paulo – 05/01/2011

 

“A gente sempre acha que a mudança virá de grandes resoluções: parar de fumar, pedir demissão, declarar-se à Regininha do RH. Às vezes, contudo, são as pequenas atitudes que alteram definitivamente a rota de nossas vidas. Às vezes, são as pequenas escolhas que mais dilaceram o coração.”

Antonio Prata, Folha de S.Paulo – 05/01/2011

 

“A fé não muda muito minha maneira de escrever. Eu só evito palavras de baixo calão, por exemplo. Fora isso, a religião interfere um pouco nos temas que abordo em meus livros. Eu me recuso a escrever sobre adultério. Toda história de amor precisa de um conflito, e os escritores adoram o adultério porque é o mais fácil deles. Duas pessoas se amam, mas não podem ficar juntas porque… uma delas é casada. Quase todos os romances românticos e filmes de Hollywood se enquadram aí. Tenho de procurar outros conflitos. Pode-se dizer que minha fé me obriga a ser um escritor melhor e mais original.”

Nicholas Sparks, 44, escritor americano, Revista Época, 03/01/2011

 

“Em um mundo que substituiu a ideologia pela economia, não importa quanto dinheiro você tem no bolso, manda aquele que pode e deseja gastar, seja no crediário miúdo ou nas grandes tacadas dos cartões platinum. O resto é silêncio. […]

Eu estive na posse de Darcy Ribeiro no Senado no fim da década de oitenta. Darcy fez um discurso belíssimo sobre a importância da educação e declarou que todo aquele que é capaz de ler, no Brasil, é responsável pelo analfabetismo.”

Fernanda Torres, atriz, Folha de S.Paulo – 08/01/2011

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