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Tempo

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Mais um ano está terminando e a sensação de que o tempo está passando mais rápido só cresce. Por que será? Parece que uma pista é observarmos quanta informação recebemos, quantas coisas fazemos ao mesmo tempo, quantos compromissos acumulamos, e como lidamos com a sensação e a realidade de não sermos suficientes.
Uma consideração simples, mas, pertinente, é que o jornalista Marcelo Coelho faz: “Cada celular é um roedor de tempo, e o cidadão, para estar acessível e ser acessado em todos os lugares, paga o preço de viver espremido”. E muitos chegam ao fim de ano bem espremidos e angustiados com a falta de tempo e as pendências na vida.
Uma psicanalista, chamada Luciana Chauí Berlinck, me ajudou quando disse que “a consciência do tempo está articulada aos ritmos da percepção, de interrupção e conexão com o mundo exterior”. Então, isso indica que podemos estar mais conscientes do tempo conforme a escolhas que fazemos, o estilo de vida que nutrimos e as vivências que priorizamos.
Se não estivermos atentos, por exemplo, podemos desperdiçar um tempo especial, não reconhecê-lo, e, portanto, não aproveitá-lo em toda sua dimensão.
Mesmo os mais desatentos tem ouvido e visto as alterações climáticas que temos vivido. Efeitos que já tem feito estrago e que exigem mudanças radicais de nossa parte. Contudo, parece que nosso estilo de vida também tem bagunçado, catastroficamente, as estações da vida. Não só porque a adolescência se estende facilmente até aos 35 anos, ou muitos de 60 querem viver como se tivessem 30, negando realidades e não compreendendo seu tempo, mas também aquelas estações existenciais das quais falam o livro de Eclesiastes… “tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar, tempo de espalhar pedras e tempo de juntá-las, tempo de abraçar e tempo de desistir, tempo de guardar e tempo de jogar fora, tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de calar, tempo de amar e tempo de odiar, tempo de lutar e tempo de viver em paz” (Ec 3.2-8).
É importante discernir as épocas que se vive e aproveitar e respeitar os tempos oportunos. Inclusive, quem não consegue reconhecer e respeitar seu próprio tempo, dificilmente o fará com o seu próximo. Parar, descobrir e assumir é sabedoria. Isso tudo contribui para a saúde.
Cuidem-se no tempo e o espaço ficará melhor.

Estudante cristão

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Gosto do livro de Eclesiastes por diversas razões. Desde criança tive contato com essa leitura. Lembro-me de ficar um tanto confusa e perceber que tratava-se de algo elevado demais para mim. Na adolescência me vi escandalizada em alguns momentos pela verdade nua e crua que ele retratava, por uma dose de melancolia na maneira de ver o mundo (ao menos foi o nome que conseguir dar à época), e, me perturbava aquela ousadia na maneira de retratar a vida. Ainda hoje me sinto profundamente atraída e desafiada pelo livro. Trago a sensação de que há muito mais, dimensões que não alcancei, verdades que ainda estou por vivenciar, e cresce minha reverência pelo livro.

Ali se encontra esse trecho: “Eis que a felicidade do homem é comer e beber, desfrutando do produto de seu trabalho; e vejo que também isso vem da mão de Deus, pois quem pode comer e beber sem que isso venha de Deus?”[1]. Numa outra tradução[2] ficou assim: “separado deste [Deus] quem pode comer, ou quem pode alegrar-se?”.

Comer, beber, desfrutar do fruto do trabalho é muito bom, alguns até dizem, “nada há melhor que isso”. Mas, segundo o escritor bíblico, se a percepção de Deus está fora, será difícil você descobrir a felicidade, será impossível você saborear isso com alegria profunda.

Penso no contexto estudantil. Jovens que gostam cada vez mais de comer, beber e até, às vezes, desfrutar do produto de seus trabalhos acadêmicos (menções honrosas, títulos, publicações, etc). Isso tudo pode ser bom, muito bom, se o que se faz, conscientemente se faz na presença de Deus, ou mesmo, para Deus.

O escritor, professor e pastor, Eugene Peterson, diz algo que requer reflexão oportuna: “A vida colorida e cheia de energia do aprendizado, da pesquisa e do ensino recebe pleno desenvolvimento no cenário universitário da história. Mas é tudo, menos uma glorificação do aprendizado e do conhecimento em si, pois o mal se manifesta aqui de maneira ainda mais poderosa. […] O aprendizado e o saber são bons e verdadeiros, mas, dissociados da presença e vontade de Deus, dão origem ao mal”[3].

Será que ao invés de conhecer mais a bondade, o estudante cristão, pode estar mais próximo da maldade? O risco é frequente.

Trabalhando por tantos anos diretamente com universitários e pós-graduandos, e observando minha própria experiência e jornada nos estudos, percebo essa realidade. Quem está mais envolvido com o meio acadêmico conhece as diversas manifestações horrendas e criativas da maldade. Algumas mais explícitas, outras, cultivadas no recôndito de uma alma carente.

Acredito ser possível estudar, desenvolver-se, aprofundar questões teóricas, contribuir para o avanço da ciência e tecnologia, e nisso, descobrir mais da bondade de Deus, e assim, desfrutar de uma alegria maior, perene. Contudo, as ciladas se multiplicam. Espalham-se sutilmente pelo caminho. Há uma camuflagem e a distração pode aumentar o perigo.

Ao fim e ao cabo, que companhia temos? Longe de Deus, todo esforço e até mesmo toda conquista, pode se revelar como poeira, pior, pode trazer à tona o mal com suas caras mais feias.

Ao final do livro de Eclesiastes, o autor conclui: “Fique atento: fazer livros é um trabalho sem fim, e muito estudo cansa o corpo”[4]. Quer algo mais óbvio? Quer algo mais necessário de ser lembrado enquanto se dedica a tal tarefa?

Cuide-se!


[1] Ec 2.24-25 (Bíblia de Jerusalém)

[2] Tradução de João Ferreira de Almeida – Edição Revista e Atualizada (Sociedade Bíblica do Brasil).

[3] Eugene Peterson, Espiritualidade Subversiva. Editora Mundo Cristão.

[4] Ec 12.12 (Bíblia de Jerusalém)

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