26 de novembro de 2010

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“A década de 1960 foi marcada por grandes conflitos e mobilizações sociais, nas quais a questão da liberdade era fundamental. Além do combate contra a opressão econômica e política, colocou-se em debate a questão sexual, o racismo, a emancipação da mulher, os direitos humanos, a liberdade de expressão, entre outras questões. A perspectiva de uma revolução social colocava-se para além da transformação do sistema econômica e político. O confronto de gerações tomou dimensões jamais imaginadas. A juventude questionava o modo de vida, propondo uma nova estética, novas roupas, novo comportamento, novas atitudes.”

Robespierre de Oliveira – professor de filosofia – Revista Cult, novembro de 2010

 

“Nossa situação atual é exatamente o oposto daquela no início do século XX, quando a esquerda sabia o que devia fazer, mas tinha de esperar pacientemente o momento propício para passar a ação. Hoje, não sabemos o que devemos fazer, mas precisamos agir imediatamente, pois nossa inércia poderia produzir, muito em breve, consequências desastrosas. Mais do que em nenhum outro momento na história, somos incitados a viver ‘como se estivéssemos livres’.”

Slavoj Zizek, filósofo, Le Monde Diplomatique Brasil – novembro de 2010

25 de novembro de 2010

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“Olhando para trás, descubro (com certo orgulho) que, ao longo da vida, fiz inúmeras concessões, inclusive na hora de escolhas fundamentais. […] Muitas vezes lamento não ter sabido fazer as concessões necessárias, por exemplo, na hora de ajustar meu desejo ao desejo de pessoas que amava e de quem, portanto, tive que me afastar. […] A coerência é uma virtude só para quem se orienta por princípios. Para o indivíduo moral, que se orienta (e desorienta) por dilemas, a coerência não é uma virtude, ao contrário, é uma fuga (um tanto covarde) da complexidade concreta. Oscar Wilde, que é um grande fustigador de nossas falsas certezas morais, disse que “a coerência é o último refúgio de quem tem pouca fantasia” e, eu acrescentaria, de quem tem pouca coragem.”

Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo – 25/11/2010

 

“O foco da igreja deve ser a humanização da sexualidade, o que significa basicamente que se sexo é barato e amor é caro, o primeiro sem o segundo sempre corre o risco de ser degradante. […] Ninguém quer pensar porque é ‘feio’ dizer que a “vida como balada” é um beco sem saída. Mas é exatamente aí que a igreja destoa e por isso se torna essencial, para além das crenças de cada um.”

Luiz Felipe Pondé, Folha de S.Paulo – 25/11/2010

 

“Já não são princípios religiosos que norteiam a nossa vida. Desestimulados ao altruísmo e à solidariedade, centramos a existência no próprio umbigo – o que certamente explica, na expressão de Freud, ‘o mal-estar da civilização’, hoje acrescido desse vazio interior que gera tanta angústia, ansiedade e depressão.”

Frei Betto, Revista Caros Amigos – novembro de 2010

24 de novembro de 2010

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“No capitalismo, ser mulher, é ter que ser bela. Se você não é bela, você não tem o mesmo espaço, você fica preterida. Essa relação com a beleza é muito forte entre as mulheres. As mulheres passam a gostar menos de si quando estão mais velhas, não é a toa que aumenta a depressão, aumenta um monte de doença entre as mulheres, porque a relação consigo mesmo interfere no que vai ser a sua vida, no que vai ser sua saúde, no que vai ser seu bem estar. E a gente passa a gostar menos da gente.”

Nalu Faria, 52, psicóloga, Revista Caros Amigos – novembro de 2010

 

“A doença aumentou minha empatia pelas pessoas. Não só pelos seus sintomas neurológicos, mas por seu medo e sua coragem. Porque uma doença nunca é só neurológica. É emocional, é humana, afeta a família, a sociedade. Espero ter me tornado mais compreensivo.”

Oliver Sacks, 77, neurologista, Revista Época, 22/11/2010

23 de novembro de 2010

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“Educar na atualidade exige um conhecimento crítico e uma compreensão do mundo e da realidade para que os atos educativos possam conter, pelo menos em sua intenção, possibilidades de mudanças para os mais novos. […] as relações com os outros estão “coisificadas”, desumanizadas. Não é qualquer outro que é visto como ser humano. Os que não são reconhecidos como parte do grupo ao qual a pessoa pertence, em geral bem pequeno, são vistos como estorvo, fonte de problemas e geradores de insegurança e, logo, de desconfiança. Isso impede a solidariedade, a colaboração e estimula a xenofobia. […]Enquanto as escolas se preocuparem com a competição nos diversos “rankings” publicados, enquanto as famílias se preocuparem apenas com o futuro pessoal de seus filhos, e enquanto ambas as instituições não apostarem na recuperação da vida coletiva e social, nossos filhos terão poucas chances de uma existência digna.”

Rosely Sayão, psicóloga, Folha de S.Paulo – 23/11/2010

 

“Há certas épocas e situações em que podemos observar o esgotamento de processos históricos que até então pareciam guiar nossa maneira de nos orientarmos na política. Quando isso ocorre, nos vemos diante da dança vertiginosa das inversões. Valores e normas que antes pareciam ter a força de garantir a efetivação de expectativas de liberdade, autorrealização e justiça passam simplesmente a funcionar de maneira contrária. […] Scott Fitzgerald disse que a prova de uma inteligência superior consistia em ter duas ideias contrárias na cabeça e continuar a funcionar.”

 Vladimir Safatle, Folha de S.Paulo – 23/11/2010

 

“Somos todos humanos e compostos das mesmas coisas, em quantidades diferentes, vivendo em circunstâncias diferentes.”

Francisco Daudt, psicanalista, Folha de S.Paulo – 23/11/2010

22 de novembro de 2010

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“A pergunta feita por Freud no início do século passado – o que quer a mulher? – não só segue sem resposta, como agora vale também para os homens: o que quer o homem? Aliás, se pensarmos que a masculinidade e feminilidade andam com contornos um tanto borrados, a própria afirmação ‘a mulher é o novo homem’ não elucidaria muita coisa, já que ninguém mais sabe ao certo o que é ser homem também. Essas indefinições seriam muito positivas, caso servissem para impulsionar reflexões corajosas, par formular novas indagações e dar voz a outras respostas. A questão é que o (não) debate que se instaura na mídia é cheio de armadilhas perigosas que, no fim das contas, ora propõem uma mera inversão simétrica – homens-frágeis, mulheres-poderosas -, ora perpetuam os mesmos velhos clichês, como aquele que afirma que a nova economia é mais afeita ao talento feminino porque as mulheres são intuitivas e flexíveis, enquanto os homens são agressivos e competitivos e, por isso, não servem mais.”

Denise Gallo, 40, pesquisadora, Revista TPM – novembro de 2010

 

“O Brasil, que votou maciçamente em duas mulheres para a Presidência da República e escolheu uma delas para ocupar o mais alto cargo executivo da nação, ainda não tem representação feminina significativa em nenhum cargo das 500 maiores empresas do país. Este é um dos dados contidos no ‘Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil – 2010’.

O estudo pioneiro, e até o momento único do país, é feito pelo Instituto Ethos e pelo Ibope Inteligência a cada dois anos, desde 2001. Ele avalia, entre outros dados, a composição por cor ou raça e sexo, bem como presença de pessoas com deficiência em todos os níveis hierárquicos das maiores empresas do país. O estudo mostra avanços, mas o ritmo é muito lento, de um ou dois pontos percentuais a cada ano. Hoje, as mulheres, que são 51% da população brasileira (IBGE), têm 31% de representação no quadro funcional, 26,8% na supervisão, 22,1% na gerência e 13,7% no executivo.
Para negros e pardos, que somam 98 milhões de brasileiros, as disparidades são ainda maiores e aumentam à medida que se sobe na hierarquia. Eles são 31,1% no quadro funcional; 25,6% na supervisão, 13,2% na gerência e 5,3% no executivo.

A mulher negra ou parda -50,1% do total de mulheres na população brasileira- representa 9,3% do quadro funcional, 5,6% da supervisão, 2,1% da gerência e 0,5% da diretoria -são 6 negras entre 119 diretoras.

Pessoas com deficiência têm, no máximo, 1,5% de participação nos cargos. […]

O Brasil caminha para ser a quinta economia global. A promoção da diversidade nas empresas é um passo decisivo para o desenvolvimento econômico andar junto à melhoria efetiva da vida das pessoas.”

Ricardo Young, Folha de S.Paulo – 22/11/2010

 

“Quanto mais confortável uma sociedade se sente com seus distúrbios, piores serão as chances de superá-los. […] De cada dez crianças que entram na primeira série do ensino básico, só três o concluem. E mais: apenas uma em cada dez sabe o que deveria saber para o terceiro ano do ensino médio. E um quinto desses alunos tem, em matemática, nível de quarta série do fundamental. […] Fica difícil decidir o que é mais grave: o cenário da educação ou nossa reação diante dele. […] Precisamos aliar compromisso ético com competência técnica.”

Viviane Senna, Folha de S.Paulo – 22/11/2010

21 de novembro de 2010

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“Em minhas viagens vejo o que acontece em países disfuncionais onde os ricos simplesmente não ligam para os que estão no porão. O resultado são países sem um tecido social ou um sentimento de unidade nacional. Concentrações imensas de riqueza corroem a alma de qualquer nação.”

Nicholas D. Kristof – The New York Times/O Estado de S.Paulo – 21/11/10

 

“Realizada pelo Portal Educacional, a sexta edição do projeto ‘Este jovem brasileiro’ contou com a participação de mais de 10,5 mil alunos, de 13 a 17 anos, de 75 escolas particulares de todo o Brasil. Os jovens que responderam anonimamente a um questionário online revelaram seus hábitos de uso da internet, incluindo questões como sexo, exposição, violência, entre outros.

O estudo mostra o quanto essa geração de conectados é dependente da rede: 99% têm computador em casa e metade o acessa no próprio quarto; 23% passam noites em claro por causa da internet; 24% já deixaram de fazer outras coisas, como tarefas, trabalhos ou sair com os amigos, para ficar navegando na net, e 21% avaliam que seu uso está acima do normal ou se consideram dependentes da rede. […]

Comentando alguns pontos levantados pela pesquisa, como o exibicionismo, o pedagogo Antonio Carlos Gomes da Costa, autor de vários livros sobre educação e um dos relatores do Estatuto da Criança e do Adolescente, afirma que a exposição pessoal não pode ser vista e entendia fora de um contexto mais amplo, ‘de natureza, antropológica-cultural, sociológica, psicológica e pedagógica’:

– A chamada cultura pós-moderna é fruto de uma série de macrotendências, cujas sementes começaram a germinar nas últimas décadas do século 20, como a revolução técnico-científica, representada no universo juvenil pelas TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação). A cultura pós-moderna, com seu relativismo ético, dá ênfase exacerbada ao hedonismo (culto do corpo e do prazer), hiperindividualismo (a satisfação pessoal como medida de todas as coisas), o relativismo ético e religiosos (tudo é válido) e a negação pura e simples da relação entre a política e a busca do bem comum. Mais do que o neoliberalismo capitalista ou o que restou do ideário socialista, grande parte dos jovens está se deixando contaminar em massa pelo ‘neocinismo’, presente de forma marcante em todas as correntes e tendências ideológicas do nosso tempo. […] O problema é muito mais de educação para valores do que de inclusão digital. Precisamos, mais do que operar e utilizar o aparato tecnológico posto à nossa disposição, responder a questões básicas: que tipo de jovem queremos formar?’”

Vera Fiori, O Estado de S.Paulo – 21/11/10

 

“Eu escrevo sobre o cristianismo porque fui criado nele. Sou ateu, mas sou um ateu cristão e um ateu protestante, um ateu da Igreja da Inglaterra. Nasci cristão e cresci dentro dessa fé. Adoro as histórias, os hinos e a arte que vieram do cristianismo. Não poderia, portanto, escrever sobre outras religiões, pois não me sentiria em casa se o fizesse. Eu detesto com todas as minhas forças qualquer religião que se considere acimas das críticas.”

Philip Pullman, escritor inglês, O Estado de S.Paulo – 21/11/10

20 de novembro de 2010

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“O horror humano no Haiti – com corpos de crianças abandonados nas ruas de Cap-Haitien, hospitais apinhados de pacientes com diarreia crônica, e cadáveres desidratados sendo transportados em carrinhos de mão – não terminará enquanto a comunidade internacional mantiver a mesma abordagem no combate à epidemia de cólera que já matou 1.186 e deixou 49.418 mil infectados em um mês. O alerta foi feito ontem ao Estado pelo chefe dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Haiti, o italiano Stefano Zannini, num tom de desabafo e frustração. A ONG diz que respo0nde por 85% de todos os atendimentos de casos de cólera no país. […] Na quarta-feira, o MSF havia lançado um alerta sobre o esgotamento físico e emocional de suas equipes. ‘A carga de trabalho é estressante. Não é fácil trabalhar com o cheiro, o barulho e a pressão de tantos doentes. Estamos trabalhando 24 horas por dia. Estamos sobrecarregados’, disse Zannini.”

João Paulo Charleaux, O Estado de S.Paulo – 20/11/10

 

“Não devíamos tentar impor nada. O melhor caminho para dar nossa opinião é mostrar e expor. Se for de forma artística, melhor. Quando um tema é importante, deve-se deixar que flua. […]

O ser humano pode se tornar um mostro quando o assunto é sobreviver. Mas o fato é que também encontra formas de amar. E esta é a luta deste casal. Porque o amor é necessário. Amar, afinal, também é uma questão de sobrevivência.”

Ricardo Darín, 53, ator argentino, O Estado de S.Paulo – 20/11/10

 

“Am maneira como lidamos com o tempo também tem a ver com respeito pelo outro. Gente sempre cricri com horário é chata. Mas gente que vive atrasada é insuportável. Tudo bem, a vida não é uma Suíça, imprevistos acontecem, mas o equilíbrio faz bem. O que faz alguém pensar que o tempo do outro não é importante? Para muitos, tempo é dinheiro. E, mais que isso, tempo é sinônimo de consideração.”

Tania Menai, Revista TPM – novembro de 2010

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