Contando os dias

03ª semana de 2013

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“O mundo das redes sociais, ao mostrar os melhores momentos de cada um de seus bilhões de integrantes, bombardeia-os com um ambiente superlativo, em que a cada instante surgem vídeos em que pessoas e bichos aparentemente comuns realizam feitos inacreditáveis. O extraordinário se banalizou. Quando se vive cercado por extremos, é cada vez mais difícil determinar os limites do que é possível, desejável ou conveniente. O cotidiano, banalizado pela onipresença do extraordinário, fica ainda mais monótono. Quem cresce rodeado pelo que há de melhor perde a paciência para se surpreender e pode ficar mimado, impotente ou deprimido. Na tentativa de gerar estímulos, vários multiplicam suas atividades e pulverizam sua atenção, sem levar em conta que a hiperatividade é inimiga da concentração. Nesse processo, gasta-se muita energia e realiza-se pouco, em um círculo vicioso que só aumenta a frustração.”
Luli Radfahrer, “Folha de S.Paulo” – 14/01/2013

“Somos uma cultura de frouxos viciados em conforto, que se lambem o tempo todo e culpam os outros por tudo.”
Luiz Felipe Pondé, “Folha de S.Paulo” – 14/01/2013

“As pessoas gostam de exibir a felicidade como um troféu. Demonstrar tristeza tornou-se uma espécie de derrota. O melhor exemplo é o comportamento diante de quem sofreu uma perda. Se está em lágrimas, costuma-se dizer:
– Não chore, vai passar…
A outra pessoa fica constrangida, como se viver a dor fosse defeito.
Minha atitude é oposta. […]
Compartilhar os problemas alheios às vezes não é fácil. Mas isso não faz parte da amizade? Não dá uma dimensão mais profunda ao relacionamento humano? Ser feliz é cada vez mais uma imposição. Só falta alguém botar um letreiro dizendo: “Estou muito bem!”. Com ponto de exclamação, para simular entusiasmo.

“O Itamaraty faz gol contra ao conceder passaporte diplomático para os criadores e líderes de uma tal Igreja Mundial do Poder de Deus, Valdomiro e Franciléia de Oliveira. Qual o sentido? Na era Lula, o Planalto definia os passaportes para o Itamaraty assinar. Com Dilma não é assim e ela não deve ter nada a ver com o mimo para Valdomiro, que anda na mira do Ministério Público por enriquecimento, digamos, mal explicado.”
Eliane Cantanhêde, “Folha de S.Paulo” – 15/01/2013

“No hoje remoto século 15, quando os tipos móveis de Gutenberg favoreceram (porque baratearam) uma difusão mais ampla do impresso, algumas universidades franziram o nariz: afinal, se os alunos todos tiverem livros, o que nós, professores, vamos fazer nas classes? Mas o surto de mau humor do corpo docente logo se dissipou e, hoje, livros e universidade são parceiros fiéis.”
Marisa Lajolo, “Folha de S.Paulo” – 15/01/2013

“A função das escolas é fazer com que cada um saia da sua zona de conforto e se aventure num mundo desconhecido, vivendo experiências pessoais, sociais e culturais que de outro modo não viveria.”
Ariana Cosme, “Folha de S.Paulo” – 15/01/2013

“Hoje, neste tempo digital e veloz, ou temos o derrame de besteiras nas redes sociais ou porcarias de autoajuda nas listas de best-sellers.”
Arnaldo Jabor, “O Estado de S.Paulo” – 15/01/2013

“Se soubesse como seria minha vida quando tinha 20 e poucos anos não teria vivido, diz-me um velho companheiro das trincheiras magras. Viver é muito perigoso, afirmava Guimarães Rosa. É a inocência do não saber que permite viver a vida, digo eu. A negação faz parte da vida humana. Um leão não dorme se pressente uma ameaça, mas um homem dorme feliz mesmo sabendo que cada noite bem dormida o aproxima da morte. A consciência foca em alguma coisa com intensidade e, com a mesma força, reduz tudo o mais a um resíduo a ser esquecido. O foco tem como contrapartida a alienação.”
Roberto DaMatta, “O Estado de S.Paulo” – 16/01/2013

“A comissária de bordo Nadia Eweida conquistou na Justiça o direito de usar um pingente de crucifixo durante o trabalho em uma companhia aérea britânica. A empresa havia proibido o uso de qualquer símbolo religioso por seus funcionários em voos.”
“O Estado de S.Paulo” – 16/01/2013

“A fórmula para identificar talentos é a seguinte: ter a coragem de apostar em ideias. Muitos executivos acham perigoso arriscar. Perigoso é não arriscar. Eliminar a criatividade e a inovação levas as empresas ao declínio e, por consequência, prejudica toda a sociedade.”
Nolan Bushnell, “Revista Veja” – 16/01/2013

“É fato que, depois dos inegáveis resultados econômicos da última década, o Brasil entrou em uma fase cultural de acentuado otimismo, provavelmente excessivo, à prova dos fatos. O crescimento econômico deu-se, é certo, e com algumas redistribuição de renda, melhorando condições de vida, estatísticas e imagem internacional. Mas a inclusão dos pobres limitou-se a pouco mais do que acesso a consumos básicos. Educação, saúde, meio ambiente e participação social são os grandes excluídos do modelo brasileiro, baseado fundamentalmente no crescimento quantitativo. A superação dos atrasos qualitativos do sistema-país frustra as expectativas por sua lentidão e incipiência. E as desgraças não faltam: gente demais morre pela disputa de poucos reais, por enchentes ou balas perdidas. Mais: estatísticas aterrorizantes indicam que o número anual de assassinatos no Brasil é superior aos mortos em todas as guerras no mundo. Problema mais grave ainda, a política está em crise profunda: ética, identitária e organizativa, sem capacidade de dar respostas convincentes aos problemas que se acumulam no horizonte.”
Claudio Bernabucci, “Revista Carta Capital” – 16/01/2013

“Somos cada vez mais considerados como ‘doentes’ (e convidados a procurar tratamento) por uma psicologia e uma psiquiatria que não param de definir nossa ‘normalidade’ – com as melhores intenções.”
Contardo Calligaris, “Folha de S.Paulo” – 17/01/2013

“Quando pesquisava para seu livro ‘O Poder do Hábito’, o escritor americano Charles Durhigg deparou com uma prática a princípio inexplicável das empresas de cartões de crédito dos Estados Unidos. Sempre que descobrem, comparando dados pessoais, prática permitida no mercado americano, que um de seus clientes se divorciou, as empresas cortam seu limite de crédito. A redução é ainda mais radical caso o cliente seja do sexo masculino, diminuindo o limite pela metade. A explicação: analisando o histórico de crédito de recém-separados, matemáticos a serviço dessas empresas cruzaram os dados e notaram que não muito tempo depois de mudar seu status de relacionamento para ‘solteiro’ no Facebook os homens, principalmente, começam a ter problemas para pagar suas dívidas. À primeira vista, pode parecer um exagero – além de uma intromissão indevida na vida dos clientes -, mas um estudo recente conduzido pelos departamentos de psicologia das Universidades de Harvard e Columbia, nos Estados Unidos, mostrou que há uma lógica emocional por trás dessa situação: estar triste pode ter um custo financeiro. ‘Uma pessoa triste não é necessariamente uma pessoa sábia quando se tratam das escolhas financeiras’, afirma Ye Li, professor da Universidade Riverside, na Califórnia, que participou do estudo como pós-doutorando do Centro de Ciências da Decisão de Columbia. ‘Descobrimos que as pessoas tristes são mais impacientes e frequentemente irracionais’.”
Alexandre Rodrigues, “Valor” – 18/01/2013

“Nossa vida cotidiana tornou-se quase inteiramente regida por princípios utilitários, pragmáticos, instrumentais, lamenta o poeta e filósofo carioca Antonio Cicero, de 67 anos. ‘Sempre foi assim, porém hoje as novas tecnologias eletrônicas potencializaram essa subordinação da vida ao princípio do desempenho.’ Ele reconhece que elas mudaram a vida de todos nós, que houve um avanço e uma transformação. Mas isso será apenas bom? ‘Ao invés de economizarem nosso tempo, as novas tecnologias o consomem.’ A tecnologia do século XXI devora o tempo. Devora o próprio século XXI. Resta-nos pouco tempo para meditar e contemplar. Para viver.”
José Castello, “Valor” – 18/01/2013

“A obesidade é a nova epidemia. É uma condição cara de tratar, está associada com muitas doenças. E tem efeitos ruins sobre as pessoas que sofrem dela, porque não podem trabalhar tanto etc. Nos países emergentes, sobretudo na China, é onde está crescendo mais rapidamente a obesidade. Quando o nível de vida sobe e as pessoas têm mais dinheiro para gastar, a primeira coisa que fazem é mudar sua dieta. Cada vez mais, comem coisas processadas ou ricas em gordura.”
Mauro Guillén, “Folha de S.Paulo” – 19/01/2013

“A eterna vacilação do sujeito diante de si: ‘Diga-me quem sou?’ é uma pergunta que a gente endereça frequentemente ao outro. Esse desconhecimento de si, que gera o sentimento de incompletude e consequentemente também o desejo de reencontrar uma completude imaginariamente perdida, impele às buscas amorosas como tentativa de preenchimento do vazio constitutivo do ser.”
Silvia Raimundi Ferreira, “Le Monde Diplomatique” – janeiro de 2013

02ª semana de 2013

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“Falo somente de mim, para quem Deus está morto; apenas faço ruminações, pensamentos obsessivos sobre a necessidade de consolação que tenho em mim, em minhas inervações, assim como o garoto da bicicleta, meu ‘alter ego’. O que eu posso esperar é que esses pensamentos que me deixam obcecados sejam o sintoma de alguma coisa que ultrapassa a minha pessoa e movimente o pensamento dos outros. Nosso nascimento é indissociável de um pânico do que está de fora [do útero], um medo de morrer. Esse medo é abrandado quando entramos em contato com o amor infinito de um outro – uma mãe, um pai, biológico ou não – capaz de nos fazer sair de uma bolha imaginária e passar a amar o que está de fora. Necessitamos da existência de um ‘Deus’ que nos dê um amor mais forte que a morte, uma segurança absoluta. Tento pensar em como podemos conviver com essa necessidade, mas sem Deus – vivendo só com nosso elo com o outro humano que nos ama infinitamente e nos fez amar a vida.”
Luc Dardenne, “Folha de S.Paulo” – 06/01/2013

“Nós recebemos todos os sinais de que algo não está bem e, mesmo assim, continuamos porque tem mais uma novela para fazer, mais um programa para gravar, ou mais uma viagem imperdível. E a maioria das pessoas age dessa forma. Eu teria que ter retirado a vesícula há oito anos. Teria evitado tudo o que acontece comigo.”
Betty Lago, “O Estado de S.Paulo” – 06/01/2013

“Acho que o sucesso veio de encher minha caixinha de ferramentas com conhecimento vários, e não só buscar reconhecimento vertical.”
Fabio Abreu, 38, CEO Lider Telecom, “O Estado de S.Paulo” – 06/01/2013

“O novo, autenticamente novo, não é uma criação a partir de nada, mas, sim, uma manifestação inusitada que surge do trabalho do artista, do processo expressivo em que está mergulhado. Esse processo não tem a lógica comum ao trabalho habitual, já que o trabalho criador é, essencialmente, a busca do espanto. Falo das artes plásticas, uma vez que, na poesia, se dá o contrário, o espanto está no começo: é o novo inesperado que faz nascer o poema.”
Ferreira Gullar, “Folha de S.Paulo” – 06/01/2013

“Um site que oferece ‘desbatizar’ católicos que discordam de dogmas da Igreja está fazendo sucesso na Holanda. Recentes declarações do papa Bento XVI contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo garantiam à página número recorde de acessos.”
“O Estado de S.Paulo” – 07/01/2013

“Na recente Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +20), o presidente do Uruguai, José Mujica, [em seu pronunciamento colou que] a causa protagônica do cenário ecológico/ambiental sombrio que preocupa o mundo é o modelo de civilização que vivemos. Disse o que provavelmente a maioria dos presentes partilhava como ideário abstrato, sem observá-lo no cotidiano concreto porque satisfeita com a vida pautada na cultura consumista: vivemos um modelo de civilização marcado pelo hiperconsumo. […] Caracterizado pelo ‘use e jogue fora’, esse modelo nos obriga a trabalhar mais para consumir mais, a fazer coisas que não durem e a comprar sempre mais porque, se o consumo não cresce, paralisa a economia. […] E fechou essa cadeia de raciocínio com uma frase de efeito, coerente com sua vida pessoal modesta, de arguto significado emblemático: ‘Pobre não é quem tem pouco, mas sim quem deseja muito, sempre mais e mais’. Sintoma simbólico da esquizofrenia insinuada no pronunciamento: o Natal perdeu sua conotação de festa religiosa, passou a ser uma apoteose comercial; em vez da igreja, o shopping… Por vezes a compulsão ao ‘compre mais’ chega ao desatino.”
Mario Cesar Flores, “O Estado de S.Paulo” – 07/01/2013

“ ‘A ansiedade tem levado as pessoas a quererem se libertar, mas elas não conseguem’, diz Larry Rosen, autor de iDisorder (sem edição brasileira) e professor de psicologia na Unviersidade Estadual da Califórnia. ‘Alguns sabem que estão totalmente envolvidos, mas se abandonarem, mesmo que seja por uma hora, temem perder alguma coisa. […] Não é um vício, é uma obsessão. Vício é quando você faz alguma coisa para ter prazer, como fumar um cigarro ou jogar um jogo. Não estamos no Facebook por prazer. Estamos ali para reduzir nossa ansiedade. Se alguma coisa boa ocorrer ali, então há um prazer repentino.”
Katherine Boyle, “Washington Post/O Estado de S.Paulo” – 07/01/2013

“É um erro comum pensar que o inconsciente freudiano é inalcançável por conta da repressão. Não é. O tamanho de informação inconsciente que carregamos é infinitamente maior do que o reprimido, apesar de um contaminar o outro. Mas está inconsciente por quê? Pela mesma razão que as fundações do prédio onde você mora nunca mais serão vistas: elas são básicas, mas são passado enterrado. Tanto quanto nossa incapacidade de reconstruir nossa alfabetização (que, aliás, continua em processo: pense em excitação; hesitação; exceção; estender; extenso; tenho “uma dó” ou tenho um dó? Você não hesita antes de escrevê-las?). É passado e presente ao mesmo tempo, já que nosso inconsciente é atemporal. Quem não teve dor de barriga em janeiro, pensando no vestibular em dezembro?”
Francisco Daudt, “Folha de S.Paulo” – 08/01/2013

“Somos todos fanáticos. Exigimos que nosso sentimento seja eterno e incondicional e camuflamos sua natureza condicional e efêmera. É a mais nova tentativa humana de roubar um poder divino. […] O papel de nos aceitar por inteiro, com todos os nossos defeitos e limitações, cabia a Deus. Hoje buscamos alguém que possa cumprir essa função e ainda dormir conosco. É realmente pedir demais.”
Simon May, “Folha de S.Paulo” – 08/01/2013

“Dizem que quando morremos vemos um filme de nossas vidas. Um resumo preciso e inexorável de tudo o que fizemos de bom e de lastimoso surge numa tela, revelando as coisas inconfessáveis que escondemos dos outros e de nós mesmos. Se a vida é um filme, nenhuma vida pode se reduzir a uma verdade única, pois todas são dotadas de abundantes pontos de vista. A hipótese é interessante porque o cinema se abre a muitas verdades e eu estou seguro de que a nossa maior tarefa nesta vida é a responsabilidade de interpretar o que – nesta fantasia – continua depois da morte. A vida, como a fita, asseguram e reiteram que somos seres em busca de interpretações responsáveis.
[…] No filme final vemos tudo. Na vida terrena, esse mundo que inventa o cronista e a arte em geral, cada qual enxerga um pedaço. Sem a liberdade de todas as vozes, não se chega aos fatos, contados sempre de um só lado e por isso tidos como ficção. O problema, porém, é que os santos, os poetas e os filósofos descobrem contradições nos mandamentos.”
Roberto DaMatta, “O Estado de S.Paulo” – 09/01/2013

“50% dos pais de adolescentes nos Estados Unidos já configuraram algum tipo de bloqueio automático nas conexões de internet para evitar que os filhos acessem sites ‘indesejáveis’.”
“O Estado de S.Paulo” – 10/01/2013

“Só há uma vida: a que estamos vivendo. É óbvio. Mas por que mal conseguimos viver sem imaginar que ela possa ou deva ser ‘outra’? É uma aflição moderna, pós-romântica.”
Contardo Calligaris, “Folha de S.Paulo” – 10/01/2013

“A milionária chinesa Yu Youzhen decidiu trabalhar como gari para ser ‘um bom exemplo’ para seus dois filhos. A mulher, de 53 anos, é dona de 17 imóveis na cidade de Wuhan, mas acorda às 3horas, seis dias por semana, para trabalhar varrendo as ruas.”
Felipe Corazza,“O Estado de S.Paulo” – 12/01/2013

“Que lugar resta para a razão numa comunicação política regida cada vez mais pela lógica do desejo, ou, pior ainda, pelo desejo de consumo? Alain Touraine viu esse impasse há cerca de 20 anos: ‘As sociedades complexas e de mudanças rápidas pouco a pouco deixam de ser sociedades de intercâmbio, da comunicação e da argumentação, para serem cada vez mais sociedades da expressão. (…). Cada vez menos tratamos com comunicadores e cada vez mais com atores’.”
Eugênio Bucci, “O Estado de S.Paulo” – 10/01/2013

“Andamos com vidros fechados, portas travadas, vivemos atrás de grades, protegidos por jaulas, câmeras, alarmes, cães, seguranças. E mesmo assim somos todos inseguros, Inquietos, neuróticos, assustados. O rico tem medo mesmo no carro blindado, o classe média tem medo, o emergente tem medo, temos medo do bandido, da polícia, de todos.
O medo é nossa segunda pele.”
Ignácio de Loyola Brandão, “O Estado de S.Paulo” – 11/01/2013

“No início de mais um ano, as esperanças se renovam e também a coragem para alcançar as metas que nos propomos. É bom que seja assim: de esperança em esperança, vamos avançando e deixando marcas no caminho… A paz é um direito das pessoas, aliás, pouco respeitado. Ela é ferida pelas guerras e pelo rastro de sofrimento, destruição e morte; também é ferida pelos mais variados atos de violência e injustiça contra o próximo, no desprezo e desrespeito à dignidade das pessoas, no estilo de vida egoísta e individualista, que se fecha diante das necessidades do próximo, no descuido ou na exploração insensata da natureza, sem levar em conta o bem comum. […] A fé cristã traz elementos fundamentais para a edificação da paz: cremos no Deus do amor, do perdão, da misericórdia e da paz; cremos em Jesus Cristo, Filho de Deus. […] No entanto, a paz não está pronta, como um produto de consumo que se possa conseguir por meio de passes mágicos, ou pela imposição da força sobre os outros. A paz é um dom do Alto, enquanto Deus é para o homem o fundamento e a garantia última da justiça, da esperança e da prática do bem. Mas ela é também tarefa do homem, fruto de idealismo e de uma busca tenaz, pessoal e coletiva. Ela se expressa na harmonia interior de cada pessoa, na sua relação com o próximo e com o mundo. A desordem na vida pessoal é causa de falta de paz, ou da sua perda. A falta de retidão na conduta pessoal não é apenas ‘questão pessoal’, que interessa à vida privada, mas tem repercussão sobre os outros e sobre o convívio social. Com frequência isto fica esquecidos: ser bons, justos e honestos é um bem para si e para os outros. Por isso, o cultivo de paz requer dignidade na conduta pessoal e honestidade em seguir os ditames da consciência moral, que aponta para a prática do bem e para a busca da verdade, da retidão e da justiça. Sem isso não há paz consigo mesmo. Nem com os outros. […] Edificadores e educadores da paz serão reconhecidos como filhos de Deus.”
Dom Odilo P. Scherer, “O Estado de S.Paulo” – 12/01/2013

01ª semana de 2013

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“A insatisfação existe porque o ego, afinal, é insaciável. Por mais que eu me dedique a ser feliz em cada momento, a ser sincero com meus desejos, a fugir das obrigações, sempre vou achar que não me dediquei o bastante a mim mesmo. A vida autocentrada será, desse modo, inevitavelmente frustrante. Mais que isso, vida e frustração se tornam sinônimos. […] Quem só se preocupa em atender a si mesmo sempre se sentirá desatendido.”
Marcelo Coelho, “Folha de S.Paulo” – 02/01/2013

“Escrevo esta coluna no dia 31. Estou perto de Times Square. Faz frio e ficar 12 ou 14 horas em Times Square é chato. À meia-noite, você dará um abraço e um beijo nos amigos que estão com você, mas isso você poderia ter feito em casa ou numa festa. A razão de estar em Times Square não é sua experiência, é a aparência de alegria que você talvez possa mostrar ao mundo, na televisão. Para todos, os votos de um 2013 com rasgos e remendos reais, ou seja, de uma vida que não precise ser confundida com um reality show para convencer aos outros (e à gente) de que ela vale a pena.”
Contardo Calligaris, “Folha de S.Paulo” – 03/01/2013

“Pelo menos 16 pessoas morreram – entre elas 4 crianças – e outras 120 ficaram feridas durante um tumulto ocorrido no Estádio da Cidadela, na capital angolana, Luanda, na noite do ano-novo, em uma vigília evangélica organizada pela Igreja Universal do Reino de Deus na cidade. ‘Esperávamos 70 mil pessoas, mas esse número foi superado amplamente’, disse o bispo Ferner Batalha. à agência angolana de notícias Angop. Cerca de 200 mil pessoas teriam lotado o estádio, segundo a agência. De acordo com informações da Embaixada Brasileira em Luanda, até ontem, não havia o registro de nenhum brasileiro entre os mortos no evento religioso. Faustino Sebastião, porta-voz do Corpo de Bombeiros de Angola, disse que as vítimas morreram pisoteadas ou asfixiadas em virtude do tumulto, cuja causa não foi apontada pelas autoridades de Luanda. Até ontem a maioria dos feridos já havia recebido alta das unidades de saúde que as atenderam.”
“O Estado de S.Paulo” – 03/01/2013

“Hélio Pellegrino foi uma das pessoas mais brilhantes do seu tempo, engajado até o fundo de sua alma em todas as questões que o cercavam, em todas as áreas. […] Ele não separava a psicanálise das vivências do cotidiano, sociais ou políticas. Referindo-se a Tristão de Athayde, sentencia que ‘o processo de encarnação da fé cristã (…) é fulcro da vida: o cristão só o é, em profundidade, através do Próximo concreto. Não há cristão fechado na abastança narcísica, na contemplação solitária das verdades externas. É, principalmente, no amor ao ser humano que sofre que se pode distinguir a marca do cristão autêntico. (…) O cristão, hoje em dia, é um ser que luta contra a alienação, o conformismo, a desistência, a desesperança, a indiferença, a ignorância. O cristão quer devolver a cada ser humano o duro e alto privilégio de tornar-se livre e responsável’.”
Washington Novaes, “O Estado de S.Paulo” – 04/01/2013

“Hoje, há muito pouca coisa que o dinheiro não pode comprar. […] Precisamos propor uma pergunta maior: que papel o dinheiro e os mercados deveriam desempenhar em uma boa sociedade? […] Uma sociedade de mercado é um ambiente em que quase tudo está à venda. Deveríamos nos preocupar com essa tendência por dois motivos. À medida que o dinheiro ganha maior primazia nas sociedades, a riqueza ganha importância. Quando o dinheiro começa a governar o acesso à educação, à saúde, à influência política, a vida se torna mais difícil para as pessoas desprovidas de posses. Quando o mercado controla tudo, a desigualdade é mais aguda. […] Nossa relutância em nos envolvermos em debate político quanto a questões morais contestadas nos deixou mal preparados para enfrentar uma das questões mais importantes de nossa era.”
Michael Sandel, “Folha de S.Paulo” – 04/01/2013

“Essa sede de poder é resquício dos totalitarismos do século passado, que precisamos superar por uma nova qualidade da ação política. Nosso desafio é fazê-la a partir do reconhecimento dos ganhos e da manutenção do que é justo e estratégico ao país. 2013 não é só a antessala de uma disputa eleitoral, é uma oportunidade de redefinir projetos e prioridades. […] Desadaptar-se dá trabalho. Mas já sabemos, nos disse o poeta, que vale a pena, se a alma não é pequena.”
Marina Silva, “Folha de S.Paulo” – 04/01/2013

“Respeito plenamente os direitos dos povos em acreditar nos ensinamentos religiosos que escolheram. Isso também é um direito humano. Mas não pode haver desculpa para violência ou discriminação, nunca. […] A democracia é mais do que a regra da maioria. Ela exige defesa das minorias vulneráveis diante de maiorias hostis. Os governos têm o dever de desafiar o preconceito, não ceder a ele. Todos temos um papel a desempenhar. Desmond Tutu disse recentemente que a onda da mudança é feita de até um milhão de ondulações.”
Ban Ki-Moon, “Folha de S.Paulo” – 04/01/2013

“Como a ideologia e a religião, a arte é uma tentativa de dar sentido à existência, com a particularidade de que o sentido pode apontar para o caos.”
Michel Laub, “Folha de S.Paulo” – 04/01/2013

“Duas adolescentes foram detidas nos EUA por drogarem os pais de uma delas para poder usar o computador da casa à noite. As meninas colocaram sonífero em dois milk-shakes e os ofereceram aos pais, que haviam proibido o uso da internet.”
Felipe Corazza, “O Estado de S.Paulo” – 05/01/2013

“Você faz um plano de ações ou toma a decisão de trocar de emprego e dá certo. Aí tem um outro desafio e dá certo. Você começa a achar que resolve tudo. ‘Dá aqui, bicho, que eu resolvo. Qual o problema? Manda aqui e está feito, negão.’ Você começa a acreditar nisso porque está treinado para solucionar tudo. Mas no lado emocional isso não funciona. Aos 40 anos, você percebe que isso está errado. Me achava um gigante, mas era pequenininho. Descobri meu tamanho real. Costumo dizer que um dia Deus vai visitar sua vida. Comigo só aconteceu aos 40 anos, mas foi muito bom.”
Enéas Pestana, 49, presidente do Grupo Pão de Açúcar, “Época Negócios” – janeiro/2012

52ª semana de 2012

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“O medo, no ambiente de trabalho, possui potenciais consequências negativas ao bem-estar dos colaboradores e para os resultados da empresa. Modelos de gestão baseados no medo devem ser utilizados de acordo com a função biológica desse sentimento: em situações de perigo e emergência, nas quais outras alternativas não são viáveis. Nesses casos, podem ser muito úteis. No entanto, é preciso notar que bem-estar e produtividade são elementos que possuem direta correlação. Colaboradores infelizes e estressados produzem menos e entregam resultados abaixo de seus verdadeiros potenciais.”
Pedro Calabrez Furtado, “O Estado de S.Paulo” – 23/12/2012

“O aumento da escolaridade foi acompanhado de queda da desigualdade de renda no Brasil nos últimos anos. Essas tendências têm uma relação forte de causa e efeito. O maior acesso à educação explica fatia importante da redução na distância entre ricos e pobres no país. […] Embora tenha aumentado nas últimas duas décadas, a escolaridade no Brasil permanece baixa em comparação com a de outros países. Os adultos brasileiros têm, em média, pouco mais de sete anos de estudo, contra mais de nove anos na Argentina, quase dez no Chile e mais de 12 nos EUA. Segundo o economista Ricardo Paes de Barros, o país consegue, somente agora, sua primeira geração de adultos com cerca de 30 anos de idade e aproximadamente nove anos de estudo. No Chile, isso ocorreu em 1982 (com jovens nascidos em 1952). ‘Apesar do progresso que vem acontecendo no Brasil, nosso atraso educacional é enorme’, afirma Paes de Barros, que é secretário de Ações Estratégicas da Presidência da República. ‘É uma ameaça real, não porque o avanço educacional no Brasil seja lento, mas porque a tecnologia anda a uma velocidade ainda mais rápida, ou seja, precisamos acelerar ainda mais os progressos na área de educação’, diz Paes de Barros.”
Érica Fraga, “Folha de S.Paulo” – 23/12/2012

“Provamos, a cada vez que obtemos sucesso, que somos mesmo uma espécie única, capaz de grandes feitos quando trabalhamos juntos, seja por livre e espontânea vontade, e até sob condições violentas. A cada obra concluída o espírito humano se renova, orgulhoso com o que fez. Mas tão importante quanto esse orgulho é a humildade de ver o quanto ainda não foi feito, o quanto ainda continua inacabado ou incompreendido. Se um dos objetivos da ciência é aliviar o sofrimento humano, seria inocente acreditar que tal objetivo será um dia alcançado. Livrar-nos das iniquidades sociais não seria suficiente, mesmo se possível.”
Marcelo Gleiser, “Folha de S.Paulo” – 23/12/2012

“É curioso como nos relacionamos com nossos amigos – com a maioria deles, digamos – estamos sempre tentando contar uma boa novidade ou sendo inteligente ou falando coisas muito interessantes, para que nos tornemos muito interessantes e assim possamos conservá-los. Mais curioso ainda é que não há amigo melhor neste mundo do que aquele em cuja companhia você se sente tão bem, mas tão bem, que pode até ficar calado pois parece que está só.”
Danuza Leão, “Folha de S.Paulo” – 23/12/2012

“Todos nós, jovens e menos jovens, estamos crescentemente dependentes da plataforma virtual. É fascinante o apelo da web. Investimos muito tempo digitando mensagens de texto, escrevendo nos blogs, postando fotos e comentários no Facebook ou curtindo videogames. […] A nova geração de adolescentes tem mais acesso à informação do que qualquer outra antes dela. Mas isso não se reflete num ganho cultural. Os índices de leitura e de compreensão de texto vêm caindo desde o início dos anos 1990. A conclusão é que, apesar do maior acesso às novas tecnologias, não se vê um ganho expressivo em termos de apreensão de conhecimento. A internet é uma formidável ferramenta. Não deve, contudo, perder o seu caráter instrumental. O excesso de internet termina em compulsão, um tipo de dependência que já começa a preocupar os especialistas em saúde mental. Usemos a internet, mas tenhamos moderação. Precisamos, todos, redescobrir a magia da leitura.”
Carlos Alberto Di Franco, “O Estado de S.Paulo” – 24/12/2012

“Hoje, no presépio de Belém, perto da manjedoura onde o menino Jesus recebeu os reis magos, nos lugares sagrados de Jerusalém, explodem os homens-bomba berrando ‘Feliz Natal, cães infiéis!’. Que estranho destino é esse da humanidade se fechando como uma cobra mordendo o próprio rabo, a morte no mesmo lugar no nascimento, o fim da civilização no mesmo lugar onde começou, ali entre o Tigre e o Eufrates, na Mesopotâmia. […] E hoje, com o futuro cada vez mais ralo, tenho saudades da precariedade de nossa vida antiga, da ingenuidade dos comportamentos, de um mundo com menos gente louca e má. ‘Ah! Você por acaso quer a volta do atraso?’ – dirão alguns. Não; mas sonho com uma vida delicada que sumiu, dos lugares-comuns, dos chorinhos e chorões, de tudo que era baldio, dos valores toscos da classe média.”
Arnaldo Jabor, “O Estado de S.Paulo” – 25/12/2012

““Entendo que haja interpretações diferentes sobre o significado de Jesus Cristo para a humanidade e que não todos concordem com os artigos da fé cristã –que ele é o filho de Deus que se fez homem, que uniu na sua pessoa o homem a Deus, que é o salvador da humanidade e outras afirmações preciosas à fé dos cristãos. Mas dá para duvidar da existência de quem desencadeou fatos tão notórios, que mobilizou multidões ao longo de sua pregação e até estremeceu o poderoso Império Romano. […] Como pode ser que o grande Deus, o todo poderoso, o puro espírito, se torne tão pequeno, frágil, corpóreo, tão humano? A resposta é uma só: unicamente por amor!”
Odilo Pedro Scherer, “Folha de S.Paulo” – 25/12/2012

“Um dos maiores desafios da saúde pública atual é superar a “fome oculta”, que se caracteriza pela deficiência de micronutrientes, vitaminas e minerais essenciais. Sem alarde, a fome oculta prejudica o desenvolvimento de milhões de pessoas no planeta, leva à morte. Muito se investe na capacitação de recursos humanos, mas ainda pouco se faz para conter esse enorme dreno do capital humano global. […] No Brasil, 40% das crianças ainda sofrem de anemia e 20%, de hipovitaminose A. Somadas, essas carências afetam milhões de brasileiros, quase a metade da população de crianças e gestantes. […] Uma dieta saudável e balanceada representa uma aspiração a ser perseguida pela sociedade. A educação de mães e crianças é fundamental nesse esforço de longo prazo. A fortificação de alimentos básicos é uma das estratégias de melhor custo-benefício, preconizada pela OMS e pela Unicef. […] Apesar das conquistas sociais dos últimos anos, ainda não asseguramos o acesso de toda a população aos micronutrientes essenciais. Assim como país rico é país sem pobreza, país saudável é país sem desnutrição e obesidade. Possibilitar o desenvolvimento pleno do potencial de nossas crianças e cidadãos é um desafio de todos nós. Vamos vencer a fome oculta.”
Peiman Milani e Hércia Martino, “Folha de S.Paulo” – 25/12/2012

“Os líderes Prozac fazem discursos delirantes, acreditam em suas próprias palavras e desencorajam visões alternativas e críticas. Alguns são carismáticos e nutrem fiéis seguidores: eles ignoram problemas e tornam suas organizações menos preparadas para enfrentar crises. Quando encontram terreno propício, criam uma ‘cultura positiva’, que pune ou aliena funcionários não praticantes. […] O otimismo excessivo pode estimular o cinismo, erodir a confiança e provocar o afastamento da realidade.”
Thomas Wood Jr., Revista Carta Capital – 25/12/2012

“Em 2011, houve 24.206 estupros notificados na Índia, mas em apenas 26% dos casos os acusados foram condenados, segundo o Escritório Nacional de Registros de Crimes.
O número real de estupros certamente é subestimado. A maioria das vítimas nunca denuncia o crime às autoridades. Mulheres estupradas são alvo de enorme preconceito -e raramente conseguem se casar na Índia. Estudos apontam que apenas 1 em cada 50 casos de estupro são notificados. Quando as vítimas finalmente tomam coragem e denunciam, enfrentam uma polícia misógina. Os policiais indianos afirmam que as vítimas de estupro ‘mereceram, porque provocaram’. Dizem isso, literalmente. A revista indiana ‘Tehelka’ filmou, secretamente, entrevistas com 30 investigadores em delegacias de Déli e arredores, em abril deste ano. Dezessete dos 30 investigadores afirmaram repetidamente que a maioria das acusações de estupro eram falsas, que as mulheres “convidavam” ao estupro ao usar roupas provocantes e que muitas queriam extorquir os acusados. […] Com essa predisposição, não surpreende que a maioria das investigações de estupro sejam falhas. Para muitos, essa visão de mundo sexista não é privilégio dos policiais: está encravada em boa parte da sociedade indiana.”
Patrícia Campos Mello, “Folha de S.Paulo” – 26/12/2012

“O mundo não acabou outro dia, mas vários mundos acabam todos os dias, sempre que morre um escritor -ou um ator, um sambista, um arquiteto, um cientista, um gari, até mesmo um político. Hierarquias são perigosas, mas a morte de um escritor parece atingir fundo as pessoas, inclusive as que nunca o leram. Supõe a perda de um ou mais mundos organizados, que ainda não foram e não serão cristalizados em palavras. Pior ainda quando são escritores populares, porque muitos de seus contemporâneos sentiam-se parte de tais mundos. É como se a morte deles os privasse de seu chão.”
Ruy Castro, “Folha de S.Paulo” – 26/12/2012

“Em geral, pensamos a literatura a partir de sua função social, seu conteúdo psicológico, questões de estilo. Mas, com essa ênfase em seu aspecto externo, esquecemos o fundamental: a literatura é acima de tudo um diálogo expandido. Um eu-tu apreendido em estado de graça. Oscilação incessante entre intimidade e solidão.”
“Valor Econômico” – 28/12/2012

“Governos vivem de aplausos, já problemas reais dependem de soluções efetivas para ser solucionados.”
Hélio Schwartsman, “Folha de S.Paulo” – 29/12/2012

“Em meio ao caos após a devastação do furacão Sandy, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, disse que a exceção meteorológica está se tornando rotina. Aproveitou o choque da população para fazer as conexões entre a erosão da costa, o nível do oceano e a temperatura. Virou o debate que tem tratado aqui a ciência ambiental como panfletagem ideológica.”
Lúcia Guimarães, “O Estado de S.Paulo” – 31/12/2012

“O Ministério Público de São Paulo iniciou um programa para capacitar professores da rede estadual que atuam como mediadores escolares. O objetivo é, até o fim de 2013, oferecer conhecimentos específicos sobre justiça restaurativa e, assim, auxiliá-los na prevenção e resolução de conflitos. O objetivo da justiça restaurativa – diferentemente da cultura punitiva, que busca um culpado para o conflito – é identificar o que causou o problema e intervir na situação a partir de três princípios: diálogo, reflexão e responsabilização. Só neste primeiro ano, mil professores serão capacitados no Estado. Os docentes são indicados pela direção da escola em que atuam. “Nossa ideia com esta parceria com a Secretaria de Educação é evitar que a violência surja e, nos casos em que ela aparecer, conseguir resolver o caso sem atitudes drásticas, como a expulsão. Pelo contrário: usar essas situações como oportunidades de mudanças e de aprendizagem”, afirma o promotor Antônio Carlos Ozório Nunes, coordenador do programa. […] Com 47 anos de idade e 15 de magistério, o professor Tarsis Campos foi indicado para fazer a capacitação porque atua há três anos como mediador na escola estadual Wilson Ramos Brandão, que tem cerca de 800 alunos e fica na periferia de Sorocaba. Apesar da experiência, ele conta que o curso promovido pelo MP tem ajudado na promoção de consensos. “Minha missão é ensinar aos alunos que entrar em consenso não é pedir perdão, é não partir para a violência”.
Ocimara Balmant, “O Estado de S.Paulo” – 31/12/2012

“O Boko Haram, grupo radical islâmico que atua na Nigéria, degolou ontem 15 cristãos em Musari, nordeste dos país. A região é reduto do grupo islâmico Boko Haram, que luta contra a influência ocidental na Nigéria. De acordo com autoridades locais, as vítimas dormiam na hora do ataque. A maioria delas foi morta com facões. Os alvos, segundo a política, foram escolhidos porque eram cristãos. Muitos deles haviam se mudado para outras partes da cidade justamente em razão de ataques do Boko Haram.”
“O Estado de S.Paulo” – 31/12/2012

51ª semana de 2012

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“O potencial da tecnologia na educação é imenso para melhorar a experiência do aluno, do professor e para instrumentar a sala de aula e colocar instituições de ensino na vanguarda da educação inteligente. Agora, é a hora de investir nossos esforços e recursos em novos modelos educacionais que irão aumentar as habilidades de nossos jovens e reforçar a competitividade do Brasil.”
Rodrigo Souto, “O Estado de S.Paulo” – 16/12/2012

“É um desafio numa cultura onde a eficiência não está em primeiro lugar. Eu acho que um dos grandes desafios do Brasil é essa consciência da necessidade de fazer as coisas da forma mais rápida e mais simples para atingir o mesmo resultado. […] Eu não acredito que pessoas que executem atividades sem reflexão gerem valor para a empresa. Se não se pensa de forma crítica no trabalho que se realiza, porque está sendo feito de uma certa maneira, não se consegue ter melhoria contínua. Há outras formas de fazer as coisas. É ter essa capacidade crítica para poder inovar e gerar novas formas de fazer as coisas.”
Rui Rocheta, “O Estado de S.Paulo” – 16/12/2012

“A crise econômica europeia levou os 21 monges de uma abadia na Bélgica a exportar um lote da cerveja que produziam para consumo próprio. Outras abadias europeias já exportam cervejas regularmente, mas esta é a primeira vez para a St. Sixtus.”
“O Estado de S.Paulo” – 18/12/2012

“Conhecimento científico, mesmo quando bem fundamentado, não leva por si só a promover virtudes cívicas, bons comportamentos ou políticas virtuosas. De pouco valem os estudiosos do cérebro, se o cérebro de quem decide prefere ignorar ou desprezar as suas contribuições. Mas o desconhecimento e o desprezo pelo conhecimento certamente deixa vítimas. Os resultados da educação brasileira estão aí como prova.”
João Batista Oliveira, “O Estado de S.Paulo” – 18/12/2012

“Os brasileiros nunca se divorciaram tanto como no ano passado. A constatação está na pesquisa Estatísticas do Registro Civil 2011, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta segunda-feira. Em 2011, foram concedidos 351.153 processos judiciais ou escrituras públicas de divórcio. Comparado a 2010,. O número representa um crescimento de 45,6% no total de separações desse tipo no País. A taxa geral de divórcios que aparece na pesquisa, de 2,6 por mil, foi a maior da série histórica do IBGE, iniciada em 1984, quando foi de 0,5. O indicador é obtido pela divisão do número de casamentos dissolvidos pela população, multiplicando-se o resultado por mil. Segundo a pesquisa, em 2011 a faixa com divórcios com proporção mais elevada – 20,8% – foi a dos casamentos entre cinco e nove anos de duração, seguida pela de um a quatro anos (19%). Isso provocou queda de três anos no tempo médio entre as datas do casamento e da sentença do divórcio- de 18 anos em 2006 para 15 em 2011. […] Todos os Estados brasileiros apresentaram crescimento na taxa geral de divórcio no ano passado em comparação com o anterior. Também houve crescimento no guarda compartilhada dos filhos: 2,7% em 2001, 5,4% em 2011. […] O trabalho retrata o crescimento na proporção de casamentos nos quais as mulheres são mais velhas que os homens. Eram 20,3 em 2001 e passaram para 23,7% em 2011.”
Wilson Tosta, “O Estado de S.Paulo” – 18/12/2012

“É frequente que a crença em magníficos milagres própria da infância desapareça com ela. A partir de um determinado momento, somos forçados a nos contentar com milagres bem mais modestos, embora não menos espantosos. Milagres advindos não da emergência do sobrenatural na realidade humana, mas decorrentes dos próprios movimentos da vida, que, em sua perseverante luta contra a destruição e a morte e com seus ininterruptos processos de transformação, tomam rumos e desdobramentos imprevisíveis, impondo mudanças e criando o novo.”
Sérgio Telles, “O Estado de S.Paulo” – 22/12/2012

“O bom trabalho educativo é feito por professores que sabem atuar nas circunstâncias que encontram. Educar é também uma arte do possível e, portanto, deve ser apreciada em seu contexto, e não julgada de forma abstrata. […] Por não lamentarem a falta da escola ideal, que deveriam ter, ou dos alunos ideais, que ninguém tem, e por encararem o desafio que realmente vivem.”
Luis Carlos de Menezes – “Revista Nova Escola” – dezembro de 2012

“Uma corrida para chamar a atenção do outro. Cresceu a busca pela aparência física, que é amiga íntima do consumismo. Os hippies só queriam amor, sexo, paz e aconchego. Nada parecido com autoerotismo e exibição no Facebook. E o Facebook atiça a inveja. E mexe com a frustração. Estar ali é como ser dono de uma revista de celebridade que publica as próprias notícias. Você vai à praia e põe lá. Compra e posta. Quem não foi e não tem baba. Olhar a vida alheia gera tensão. Não traz felicidade.”
Flávio Gikovate, “Revista Claudia” – dezembro de 2012

50ª semana de 2012

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“A atitude de reavaliar a carreira deve ser contínua, deve ser considerada meta durante todo ano: ponderar nossas emoções, imprimir cordialidade no nosso âmbito social e profissional, avaliar nossa imagem, investir na qualidade de vida, utilizar a flexibilidade e resiliência em situações adversas, atentar para o desenvolvimento de novas competências, conferir sustentabilidade na carreira e, sobretudo, buscar sempre o autoconhecimento. […] Torna-se cada vez mais indispensável, romper as amarras da acomodação em nossa vida pessoal e profissional e, assim, aproveitar a entrada de um novo ano para desenvolver a maior de todas as competências: a competência para a vida.”
Ruth Duarte, “O Estado de S.Paulo” – 09/12/2012

“Eu me sinto um intruso na vida. É como se eu não devesse estar aqui, uma espécie de outsider tentando comparar culturas, observando os defeitos e as qualidades e os costumes, os barulhos e essa paranoia toda, desde o berço até o túmulo. Então, vejo tudo de uma forma vesga (mesmo usando óculos).”
Gerald Thomas, “O Estado de S.Paulo” – 09/12/2012

“A felicidade e o bem-estar são as chaves da vida contemporânea. Vale tudo para ser feliz. Uma época dominada pela felicidade é uma época boba. […] Toda liberdade pressupõe riscos, e toda sociedade pautada pela felicidade social não suporta a liberdade.”
Luiz Felipe Pondé , “Folha de S.Paulo” – 10/12/2012

“A beleza da catedral de Brasília, cujas linhas arrojadas lembram mãos abertas ao transcendente, botão de flor se abrindo ao infinito, feixe de ramos de trigo evocando o pão da vida, o coração de boca aberta à fome de Deus.”
Frei Betto, “Folha de S.Paulo” – 10/12/2012

“DJ Qbert, americano de origem filipina, coloca-se: ‘acredito que nós artistas, assim como todas as pessoas, estamos aqui para fazer do mundo um lugar melhor. Fazer as pessoas felizes com nosso talento traz a mais profunda alegria. todos os dias eu sonho em ajudar as pessoas ao máximo. […] A maior felicidade é doar, e o maior demônio é o egoísmo. A ideia é mostrar as coisas que temos aprendido, mas também aprender com os alunos. Pensei em criar uma comunidade online que estimulasse todo mundo a melhorar com os segredos que expomos. Ali, eu também me considero um estudante, já que aprendo com as ideias dos outros DJs todos os dias’, diz o modesto virtuose.
Claudia Assef, “O Estado de S.Paulo” – 10/12/2012

“Aos 104 anos, faleceu Oscar Niemeyer. Nenhum artista brasileiro foi reconhecido, de maneira praticamente unânime por seus pares em todo o mundo, como referência absoluta e incontornável. Nenhum, a não ser Niemeyer. Isso não é acaso nem algo desprovido de relevância. Por unir clareza e organicidade, suas obras conseguem o feito de ser monumentais e humanas. Mas “humanas” não no sentido daquilo que perpetua as ilusões burguesas do acolhimento da intimidade da home. Acolhimento que parece nos alienar definitivamente na crença de que nosso lugar natural é o espaço privado cheio de memorabilias. “Humanas” no sentido deste desejo humano, demasiadamente humano de retornar aos gestos primordiais e encontrar, neles, uma força construtiva inaudita. Na verdade, se uma ideia pudesse sintetizar a obra de Niemeyer, talvez fosse a ausência de medo. Nossas cidades parecem ter medo do vazio, dos espaços infinitamente abertos, da visão desimpedida, das formas improváveis que têm a força de dobrar o concreto armado, ou seja, da inventividade que parece se comprazer em negar toda a forma que se põe como necessária. Niemeyer não tinha medo de nada. Quantas vezes ele deve ter exasperado engenheiros que viam suas formas e pensavam: ‘Mas isso não pode ficar suspenso dessa forma. Mas não é possível deixar isso em pé’. Como se não bastasse a inventividade de sua obra e a coragem de suas escolhas, quis o destino que Niemeyer fosse a expressão artística mais bem-acabada do desejo brasileiro de modernidade.”
Vladimir Safatle, Revista Carta Capital – 10/12/2012

“Para que escrever? Nada adianta, nada. E como meu trabalho é ver o mal do mundo, um dia a depressão bate. A náusea – não a do Sartre, mas a minha. Não tolero mais a falta de imaginação ideológica dos homens de bem, comparada com a imaginação dos canalhas, o que nos leva à retórica de impossibilidades como nosso destino fatal e vejo que a única coisa que acontece é que não acontece nada, deprimo quando vejo a militância dos ignorantes, a burrice com fome de sentido, balas perdidas sempre acertando em crianças, imagens do Rio São Francisco com obras paradas e secas sem fim, o trem-bala de bilhões atropelando escolas e hospitais falidos, filas de doentes no SUS, caixas de banco abertas à dinamite, declarações de pobres conformados com sua desgraça na TV; odeio sucesso sem trabalho, a troca do mérito pela fama; repugnam-me os sorrisos luminosos de celebridades bregas, passos de ganso de manequim, horroriza-me sermos um bando de patetas de consumo, não aguento mais ver que a pior violência é nosso convívio cético com a violência, o mal banalizado e o bem como um charme burguês, não quero mais ouvir falar de ‘globalização’, enquanto meninos miseráveis fazem malabarismo nos sinais de trânsito, não aguento chuvas em São Paulo e desabamentos no Rio, enquanto a Igreja Universal constrói templos de mármore com dinheiro arrancado dos ignorantes sem pagar Imposto de Renda, festas de celebridades com cascata de camarão, matéria paga com casais em bodas de prata, políticos se defendendo de roubalheira falando em ‘honra ilibada’, conselhos de ética formado por ladrões, não suporto Cúpulas do G20 lamentando a miséria para nada, tenho medo de tudo, inclusive da minha renitente depressão, estou de saco cheio de mim mesmo, desta minha esperançazinha démodé e iluminista de articulista do “bem”, impotente diante do cinismo vencedor de criminosos políticos.”
Arnaldo Jabor, “O Estado de S.Paulo” – 11/12/2012

“Quando não temos a flexibilidade necessária para nos rirmos da vida, é a morte que acaba por se rir de nós.”
João Pereira Coutinho, “Folha de S.Paulo” – 11/12/2012

“Em tempos de consumo desenfreado e lançamentos mil nesta época do ano, é claro que as crianças competem entre si sobre quem irá ganhar isso ou aquilo que se torna, não mais que de repente, um objeto de desejo de um grupo enorme.”
Rosely Sayão, “Folha de S.Paulo” – 11/12/2012

“O devaneio excessivo é o hábito de Dom Quixote, Madame Bovary, dois terços dos adolescentes, quase todos os autores de novelas e romances etc. Transformar esse hábito, tão humano, em “transtorno”, é uma tentativa de regular nossas vidas com a desculpa higienista: tudo nos é imposto para nossa “saúde” e nosso bem. Pararemos de sonhar porque é mais “saudável” prestar atenção só no que está na agenda de hoje? No fundo, nada disso me estranha. Desde o século 19, as regras para uma vida saudável (física e psíquica) são nossa nova moral. E esse ataque contra o devaneio era previsível: qualquer forma de poder prefere limitar os sonhos de seus sujeitos.”
Contardo Calligaris, “Folha de S.Paulo” – 13/12/2012

“A pressão que vem da base hoje é muito grande. Aprendi que nesse cenário tem de haver transparência. É preciso criar espaço para o diálogo. Formar líderes requer investimento, tempo e paciência para aceitar que nem todos estarão aptos.”
Leonardo Freitas, 45, executivo, “Revista VocêS/A” – dezembro de 2012

“Os evangélicos são fundamentalistas às vezes. E fundamentalismo é uma coisa que a gente quer afastar de qualquer forma do Brasil. Deus continua em alta, Deus continua sagrado. O que está sendo contestado é a postura das igrejas.”
Seu Jorge, músico, “Revista Billboard” – dezembro de 2012

“Ando mais por dentro de mim do que na estrada. […] Mexer com gratuidades me enriquecem. […] Inventei desver o que via para ver novas coisas.”
Manoel de Barros, 96, poeta, “Revista Cult” – dezembro de 2012

49ª semana de 2012

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“Eu gosto de estar só. Não que goste de solidão. A minha não é vazia. […] É inevitável. A velhice chega, os filhos têm suas vidas, suas casas e suas necessidades. Há uma preocupação de que é preciso dar atenção à famosa terceira idade. É um desassossego para os dois lados. […] Criança sofre muito. É todo um processo de civilização, de coerção e de enquadramento em cima delas. E isso é uma agressão violenta. Quando ouço alguém dizer que a infância foi a parte mais feliz de sua vida, olho com muita desconfiança. Deve ter sido tão terrível que nem se lembra.”
Fernanda Montenegro, “Folha de S.Paulo” – 02/12/2012

“A maioria das pessoas vive perfeitamente bem sem saber diferenciar ciência de pseudociência. Mais cedo ou mais tarde, porém, em alguns momentos da vida esse conhecimento pode ser muito importante. Seja para decidir um tratamento médico, seja para analisar criticamente algum boato, seja para se posicionar frente a alguma decisão importante que certamente influenciará a vida de seus filhos e netos. A sociedade como um todo deve assimilar a cultura científica. É importante a participação de instituições, grupos de interesse e processos coletivos estruturados em torno de sistemas de comunicação e difusão social da ciência, participação dos cidadãos e mecanismos de avaliação social da ciência. Em uma sociedade onde a ciência e a tecnologia são agentes de mudanças econômicas e sociais, o analfabetismo científico, seja de quem for, pode ser um fator crucial para determinar decisões que afetarão nosso bem-estar social. É impossível tomar uma decisão consciente se não se tem um mínimo de entendimento sobre ciência e tecnologia, como funcionam e como podem afetar nossas vidas.”
Marcelo Knobel, “Folha de S.Paulo” – 02/12/2012

“Os focos de corrupção que se disseminam nos porões da administração pública se relacionam a outros fenômenos perversos, dentre os quais a burocracia e a mediocracia. O primeiro se ampara num amontoado de leis e regulamentos, donde se originam veredas e desvios para as negociatas e dribles na Justiça. O segundo leva em conta a influência política para a indicação e ocupação de cargos públicos. Perfis medíocres e quadros despreparados acabam integrando os pelotões de corrupção nas três instâncias federativas. O servilismo emerge, dessa forma, na sombra do favoritismo. Sob a bandeira da injustiça e da indignidade. É mais do que hora de resgatar o brasão dos justos, hoje alvo de escárnio: “Não há nada que pague o preço da honra”.
Gaudêncio Torquato, “O Estado de S.Paulo” – 02/12/2012

“O errado não se torna certo por ser prática de muitos, ou até de quase todos. Mas não apenas quem sai aos seus não degenera como, mais ainda, mesmo quem não é cristão há de ver sabedoria na observação segundo a qual, antes de criticarmos o cisco no olho do próximo, devemos cuidar da trave em nosso próprio olho. […] Os envolvidos em corrupção e crimes correlatos não foram os primeiros, são herdeiros de uma velha tradição nossa. Não são exceções inusitadas. Antes, são a regra, tanto entre antecessores quanto entre contemporâneos. O inusitado são as punições. Mas não achemos que, punindo-os como se o que fizeram não estivesse de acordo com nossos costumes, vamos finalmente viver sob o império da lei e da ética, sem ter mudado nossa relação frouxa com valores básicos, fingindo que não vemos nossa cumplicidade compreensiva e tolerante. Ponhamos a mão na consciência e reconheçamos a verdade. Não podemos atirar a primeira pedra, porque o pecado começa conosco.”
João Ubaldo Ribeiro, “O Estado de S.Paulo” – 02/12/2012

“A pesquisa Nós, Jovens Brasileiros, realizada pelo Portal Educacional, que mapeou o comportamento de 4 mil estudantes de 13 a 17 anos, alunos de 60 escolas particulares de todo o País. E, quando o assunto é internet, as descobertas revelam desde questões mais objetivas – como o tempo de uso, que cresce ano após ano – até temas bem mais delicados, como a disposição a se expor na rede. Um dos dados mais preocupantes é o que mostra que, do total de entrevistados, 6% deles já apareceram nus ou seminus em fotos na rede e o mesmo porcentual já mostrou partes íntimas de seu corpo para desconhecidos por meio de webcam. Além desses, outros 3% já pensaram em se exibir dessa forma, mas não puseram isso em prática. […] Para Carmen Neme, professora do programa de pós-graduação em Psicologia da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), ‘o adolescente acha que nada vai acontecer, porque ele é muito esperto. O problema não é a internet. A questão é que os adolescentes estão sozinhos. Nunca se viveu de maneira tão solitária como agora. Os pais estão longe, e a internet parece suprir a ausência’.
Ocimara Balmant, “O Estado de S.Paulo” – 02/12/2012

“Talvez, seja mais difícil ainda conviver com os filhos por períodos maiores do que os pais estão acostumados. A partir de quando ficar com os filhos em casa transformou-se em um problema? Desde o momento em que ter filhos passou a ser uma ideia diferente da de acompanhar a vida de uma criança, cuidar dela, dedicar-se a ela, ficar disponível para o que possa acontecer; desde que passamos a querer viver com filhos do mesmo modo que vivíamos antes de tê-los. A partir do momento em que nossa vida desobrigada deles parece ser muito mais sedutora. Por que temos filhos?”
Rosely Sayão, “Folha de S.Paulo” – 04/12/2012

“Vida sem água, resistente e brava, espinhosa e árida. É fato noticiado todo ano. Do Maranhão ao norte de Minas Gerais. Sebastião Salgado fotografou os tons marrons e os olhos tristes e famintos de homens e animais. A arte imortaliza o sofrimento, a resiliência e a força do povo sertanejo. Artistas de todos os tipos choraram e cantaram, pintaram e contaram. Mas, novamente, nenhuma solução. É difícil resolver algo a partir de pressupostos equivocados. A principal dificuldade que o País enfrenta está no próprio enunciado, no enfoque de combate à seca. Um fenômeno climático sistemático não é para ser combatido. Alguém imaginaria combater o gelo na Sibéria? Deve-se, sim, criar melhores condições de convivência com ele. O mais importante com relação a esse problema é que existem técnicas adaptadas às condições do Semiárido. O renomado agrônomo cearense Guimarães Duque, por exemplo, desenvolveu um método para a agricultura de sequeiro que foi objeto de muitas homenagens, mas pouca ação para colocá-lo em prática. E também, ao contrário do que se pensa e se divulga, existe água suficiente no Nordeste. Só que, pelo modelo econômico do latifúndio e do capitalismo tropical, a água também é pessimamente distribuída. Concentração de renda, concentração de terras, concentração do controle das águas, eis os pressupostos da tragédia que se renova. Aceitar passivamente a perpetuação de práticas assistencialistas e do clientelismo que assume novas formas. Enquanto a solidariedade pontual e os bálsamos emergenciais continuarem a prevalecer, nada vai mudar de verdade. O sofrimento toma novas formas. Os prejuízos ganham novos critérios de mensuração. É a seca com ares de século XXI.”
Fernando Lyra, Revista Carta Capital – 05/12/2012

“Em tempos de crise, é ainda mais importante demonstrar que você nem sempre saberá tudo – e estará pronto para entender as mudanças constantes e aprender com elas.”
Jim Collis, “Revista Exame” – 05/12/2012

“A maioria dos consumidores não considera crime baixar músicas ou filmes na internet sem pagar por eles. Essa foi uma das conclusões de uma pesquisa da Fecomércio-RJ divulgada ontem. A fatia dos consumidores que consideram baixar músicas pela internet uma prática legal subiu de 48% em 2011 para 59% neste ano, enquanto o número dos que consideram isso um crime diminuiu de 32% para 22%.”
Denise Luna, “Folha de S.Paulo” – 06/12/2012

“Um dos riscos de escrever uma coluna de jornal hoje, ou de opinar em qualquer instância pública, é o oposto: ser ignorado, quando não perseguido e açoitado num pelourinho de grunhidos, relinchos e cacarejos, a despeito da mais cuidadosa argumentação. A maioria está ali para confirmar certezas prévias ou se irritar com quem diz o contrário.”
Michel Laub, “Folha de S.Paulo” – 07/12/2012

“Um hipotético leitor de dois séculos atrás pensaria que os idosos são a perda irreparável: afinal, uma criança, ninguém sabe no que ela vai dar, enquanto um idoso é patrimônio consolidado. Num incêndio, você prefere que queime um caderno quase virgem ou o outro, no qual você anota seu diário há décadas?”
Contardo Calligaris, “Folha de S.Paulo” – 08/12/2012

“O futuro desse universo cada vez mais digital é cheio de riscos. Imagine: colapso na nuvem. ‘Crashes’ de servidores, fibras ópticas rompidas, blecautes em série nos principais polos hi-tech da Terra. Nos primórdios da web, uma situação assim teria uma consequência grave: internet fora do ar. Grave, porém única. Músicas, filmes e demais arquivos baixados pela rede estariam a salvo, guardados nos computadores das casas das pessoas. Mas, hoje, tudo mudou. Um crash gigantesco seria muito mais devastador. Porque cada vez menos gente armazena em casa seus arquivos digitais. Está tudo em servidores poderosos, espalhados pelo mundo. Nessa nuvem, digital e amorfa.”
Álvaro Pereira Júnior, “Folha de S.Paulo” – 08/12/2012

“Seria ótimo se houvesse soluções fáceis e imediatas para os problemas que nos acometem. Mas as coisas não são simples. É por esse motivo que, ao invés de oferecer soluções mágicas ao paciente, o psicoterapeuta se dispõe a ajudá-lo a entender a complexidade de seu próprio psiquismo, sua dimensão inconsciente que abriga fantasias infantis ainda vigentes na atualidade, cujos padrões anacrônicos de funcionamento continuam a influenciar seu comportamento, seus relacionamentos pessoais e decisões sem que ele mesmo disso se aperceba.”
Sérgio Telles, “O Estado de S.Paulo” – 08/12/2012

“O fim do ano se aproxima e, com ele, chegam também aquelas reflexões que costumeiramente fazemos – o balanço de sucessos e objetivos que conseguimos alcançar no ano que termina. Se seu balanço, por acaso, acabar se mostrando pobrezinho ou muito pequeno, é tempo de repensar coisas. […] Você se engajou da maneira como deveria em trabalhos em equipe? Você exercitou seu autocontrole? Tomou medidas que o ajudaram a controlar seu gênio mais explosivo ou seu frequente mau humor? Você conseguiu desenvolver sua habilidade social e conviver melhor? […] Meu ano foi muito bom, apesar de algumas situações mais tristes e de algumas mudanças necessárias e doloridas. Nunca acho que algo é totalmente ruim. Acho que situações difíceis sempre aparecem para testar minha capacidade de lidar com elas ou para me ensinar alguma coisa. Por essas e por outras, já decidi: em 2013, que venham as novidades e tudo aquilo que me fizer questionar minhas certezas. Desejo-lhe o mesmo. Feliz 2013!”
Célia Leão, “Revista VocêS/A” – dezembro de 2012

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