Contando os dias

10ª semana de 2013

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“Será que os pais estão atentos às mudanças de comportamento dos filhos? […] Por que demora tanto para cair a ficha dos pais? Perceber logo que algo vai mal pode ser determinante no sucesso de uma eventual intervenção. […] Por mais tolerantes que os pais sejam, mudanças bruscas merecem atenção e cuidado.”

Jairo Bouer, “Revista Época” – 04/03/2013

 

“Não quero entrar nos 50 anos na zona de conforto. Quero interagir com gente que tenha algo a dizer e me leve a testar meus limites. […] Como pessoa, como ator, chega o momento em que você se olha no espelho, como eu, agora. O que vai ser de mim, se não tiver coragem de mudar? […] Essa coisa de maturidade é muito relativa, esquisita mesmo. Tem gente que pode chegar aos 80 imatura, mas tive e continuo tendo encontros importantes em minha vida, gente que tem estimulado minha reflexão. […] O preconceito é uma coisa que empobrece.”

Nicolas Cage, “O Estado de S.Paulo” – 05/03/2013

 

“No fundo, a Igreja tem apenas um desafio no que se refere a ela mesmo: garantir que sua mensagem volte a chegar à sociedade. O mundo mudou, a sociedade mudou e há uma constatação de que a Igreja vem perdendo fiéis. Essencialmente, o próximo papa terá a missão de restabelecer essa comunicação que, em algumas partes do mundo, foi perdida ou está enfraquecida.”

Thomas Reese, “O Estado de S.Paulo” – 06/03/2013

 

“Liberdade não se negocia e cada um sabe de si. Não é religião que vai organizar o movimento, porque não organiza. E se a gente começar a fuçar vai ver que é tudo meio hipócrita, né? É uma falsa moral que querem impor.”

Ney Matogrosso, “O Estado de S.Paulo” – 07/03/2013

 

“O uso de drogas ilícitas no mundo vem crescendo, apesar dos esforços mundiais de controle. O aumento do consumo das drogas sintéticas é considerado pelo Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (Unodc) como “o inimigo público número um”. Ao contrário das drogas tradicionais, feitas com base em plantas, as drogas sintéticas são produzidas a partir de produtos químicos facilmente obtidos em laboratórios improvisados. O combate é, por isso, muito mais difícil. O consumo das drogas sintéticas hoje é uma questão de moda. Assim como vimos, nos 1960, o crescimento do uso de LSD e heroína ligado ao movimento hippie, nos dias atuais há a cultura da música tecno, que incentiva o uso de drogas como o ecstasy. Essa situação preocupa, porque vai mudar o paradigma do combate às drogas. E a prevenção vai ganhar uma importância muito maior do que a repressão. Nesta década, o maior problema que nós vamos vivenciar é a droga sintética. Principalmente o ecstasy.[…] O ecstasy desencadeia transtornos psiquiátricos como síndrome do pânico e depressão, que costumam vir acompanhados de taquicardia e aumento da temperatura do corpo. E tem sido a causa de inúmeras mortes. “O grande problema do ecstasy é o dano cerebral que a droga produz, principalmente nos neurônios responsáveis pelo prazer”, adverte o professor Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).”

Carlos Alberto Di Franco, “O Estado de S.Paulo” – 08/03/2013

 

“Nos últimos anos, o mercado de trabalho no Brasil evoluiu para uma situação próxima do pleno emprego, ao mesmo tempo em que o rendimento dos ocupados deu um salto. Mas uma desigualdade a economia brasileira ainda não conseguiu derrubar: a disparidade de salários entre trabalhadores do sexo masculino e feminino. Homens chegam a ganhar, na média, até 66% mais que mulheres com o mesmo grau de escolaridade – no caso, superior completo.”

Marcelo Rehder, “O Estado de S.Paulo” – 08/03/2013

 

“Começa pela consciência de que quanto mais longe da política o cidadão estiver, quanto mais rejeição ele manifestar por esse ambiente, acreditando que a exibição de repúdio o exime de responsabilidades, pior ficará. Se as pessoas ficarem no conforto do nojinho inconsequente e sem compromisso com coisa alguma a não ser com a conversa que se joga fora, vale pouco ou quase nada gritar que o pastor apontado como homofóbico não pode presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara. […] O jeito que se pode dar é antes. Votando bem? Fundamental, mas não suficiente. O interesse pelo que se passa no País é o primeiro passo. O hábito de usar de discernimento para avaliar o que se vê e ouve é outro. Informar-se, essencial. Chamar o parente, o amigo, o colega de trabalho a perceber que da junção de forças individuais é que se movimenta o coletivo, providencial. Compreender o básico sobre a importância e o funcionamento das instituições, indispensável.”

Dora Kramer, “O Estado de S.Paulo” – 08/03/2013

 

“A Rede Fale – que representa 39 grupos religiosos – lança empreitada contra a nomeação: abaixo-assinado e carta aberta na internet, além de pedido de audiência pública. ‘Ele não representa e não fala em nome de todos os evangélicos. Não pode usar isso como carta na manga’, disse à coluna Caio César Marçal, representante da organização. ‘Está luta terá outros rounds’.”

Sonia Racy, “O Estado de S.Paulo” – 08/03/2013

 

“Não custa citar mais uma vez os números que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) tem reiterado: os países industrializados, com menos de 20% da população mundial, consomem quase 80% dos recursos totais; as três pessoas mais ricas do mundo, juntas, têm tanto quanto o produto interno bruto (PIB) conjunto dos 48 países mais pobres, onde vivem 600 milhões de pessoas; as 257 pessoas mais ricas, com mais de US$ 1 bilhão cada, juntas têm mais que a renda anual de 40% da humanidade. E os 500 milhões de pessoas mais ricas (7,14% da população total) emitem 50% dos poluentes que causam mudanças climáticas. Um indiano consome 4 toneladas anuais de materiais, um canadense, 25 toneladas. Se se quiser chegar mais perto, o padrão médio de consumo de recursos dos paulistanos está 2,5 vezes acima da média global. E assim vamos, aumentando as emissões de poluentes, elevando a temperatura do planeta, gerando cada vez mais “desastres naturais”. Como se vai fazer, se mesmo com tantos programas em toda parte não conseguimos reverter as tendências globais – ao contrário, enfrentamos cada vez mais dificuldades, com as crises econômico-financeiras na Europa e suas repercussões no mundo? “Nosso modelo econômico e social está esgotado”, tem repetido o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. […] Com as crianças à espera de respostas sobre um futuro inquietante. E quanto mais demorarem as respostas, mais difícil será.”

Washigton Novaes, “O Estado de S.Paulo” – 08/03/2013

09ª semana de 2013

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“Cibercrime é um braço em expansão do crime organizado e precisa ser combatido para garantir a qualidade de vida on-line.”

Luli Radfahrer, “Folha de S.Paulo” – 25/02/2013

 

“Parece que as coisas não são verdadeiramente importantes até que se percam. Uma vez perdidas, passam a ser recordadas, mitificadas, idealizadas. Ou o contrário, odiadas. Enfim, quando algo se perde, começa a ser possível. Isso é tortuoso, complicado, obscuro. É difícil se relacionar com as coisas perdidas. Mais complicado ainda estabelecer uma relação justa com elas. Que não seja nem de nostalgia e nem de ódio. Tentei ver se era possível ter uma outra relação com o passado – que não fosse de idealização nem de rancor. E veja: uma relação justa não é, necessariamente, equilibrada. Pode ser passional, descontrolada. Podemos ter conexões fortes com o passado, mas não de escravidão.”

Alan Pauls, “O Estado de S.Paulo” – 25/02/2013

 

“Os reclames da igreja no nosso tempo exigem resposta às lições dramáticas do terrorismo, à coexistência das diferenças, à humildade da conversão e à afirmação não-retórica do comunitarismo. A renúncia serve para superar as rotinas da continuidade da igreja-instituição e implementar uma nova face, de igreja-serviço, próxima aos fiéis.”

Candido Mendes, “Folha de S.Paulo” – 26/02/2013

 

“Pretenciosa e inútil ingenuidade? Não, se consideramos a alternativa: não fazer nada, deixar como está, evitar abrir esse canal de participação política novo para os que anseiam por algo diferente. […] Partido: concentração. Rede: dispersão. Nossos instrumentos para virar pelo avesso o avesso que vivemos.”

Alfredo Sirkis, “Folha de S.Paulo” – 27/02/2013

 

“Estou ciente dessa preferência, mas receio que ela não tenha o fundamento alegado. Ao contrário do que dizem alguns militantes, simplesmente não é verdade que “-ismo” seja um sufixo que denota patologia. […] Compreendo que os gays procurem levantar bandeiras, inclusive linguísticas, para mobilizar as pessoas. Em nome da cortesia pública, eu me disporia a adotar a forma “homossexualidade”, desde que ela fosse defendida como uma simples predileção. Mas, enquanto tentarem justificar essa opção com base em delírios etimológicos, sinto-me no dever de continuar usando a variante em “-ismo”. Alguém, afinal, precisa zelar para que preconceitos não invadam e conspurquem o universo de sufixos, prefixos e infixos. A batalha pode ser inglória, mas a causa é justa.”

Hélio Schwartsman, “Folha de S.Paulo” – 27/02/2013

 

“A França é um estado laico e, portanto, o único casamento válido perante a lei é o civil. Mas existem mulheres que vivem com outras mulheres e homens que vivem com outros homens, e alguns até adotam crianças e formam uma família. Mas, se um deles morre, o outro não tem direito a nada. É como se o estado estivesse punindo essas pessoas por fazerem aquilo que é condenado pela religião. Logo, não posso concordar com isso.”

Karl Lagerfeld, “Revista Veja”, 27/02/2013

 

“O poeta libanês Khalil Gibran, em um de seus melhores momentos, escreveu: ‘Teus filhos não são teus filhos. São filhos e filhas da vida. Não vieram para ti, vieram através de ti…’ Vieram através de ti… através. De acordo com o poeta, cada pai e mãe compõe a travessia do filho para a aventura do viver.”

Eugenio Mussak, “Revista Vida Simples” – fevereiro de 2013

 

“Só a indignação evita a depressão, impede que se pegue a chapéu e se deixar de sonhar.”

Miguel Reale Júnior, “O Estado de S.Paulo” – 02/03/2013

 

“A transmissão de bens materiais e valores imateriais entre a geração mais velha e a mais nova não acontece automaticamente e pode sofrer entraves. Para que a herança chegue a bom termo, é necessário que os mais velhos, imbuídos da consciência da finitude, cedam o centro do palco para os mais novos. Não é uma decisão fácil e alguns não conseguem concretizá-la. Outros, tomados pela ambivalência, o fazem pela metade ou de forma inadequada, criando inúmeras complicações.”

Sérgio Telles, “O Estado de S.Paulo” – 02/03/2013

“Encontrei uma mulher que amo, e as crianças expandiram meu mundo para muito além do que imaginava. Isso é muito gratificante, ainda que eu não consiga mais dormir. Ser pai de uma grande família amorosa é o ponto alto da minha vida.”

Brad Pitt, “Revista Alfa” – fevereiro de 2013

08ª semana de 2013

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“Segundo o Conselho de Medicina Veterinária de São Paulo, o Estado já conta com 50 creches para cachorro. Elas recebem animais cujos donos passam boa parte do dia fora de casa e lhes oferecem recreação, que pode incluir atividades como natação e musicoterapia. Os cães levam até suas lancheirinhas, o que dá uma nova dimensão ao termo antropomorfização, a tendência de atribuir características humanas ao que não o é.”

Hélio Schwartsman, “Folha de S.Paulo” – 17/02/2013

 

“A sensação de que tudo pode dar errado é mais presente quando se dirige um filme. Atuando, você se preocupa com a realização do seu trabalho. E é apenas isso. Dirigindo, é preciso descobrir o que fazer quando o clima atrapalha um dia de filmagem. Você fica comprometido com aquele projeto o dia inteiro.”

Dustin Hoffman, “O Estado de S.Paulo” – 17/02/2013

 

“Já há um elenco diversificado de explicações para a renúncia de Bento XVI ao trono de São Pedro. A melhor foi a dada por ele mesmo: ‘Para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor esse que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado’. O papa não fez nenhuma referência mais explícita ao mar proceloso em que se move a barca e, sobretudo, referência a quem agita as águas que perturbam os rumos da nau sagrada. Manteve in pectore os fatores institucionais de seu gesto. Foi desprendido ao tomar sobre os próprios ombros o peso imenso dos fatores da renúncia como debilidade pessoal. […] No quadro dos paradoxos de Bento VXI, uma decisão republicana numa estrutura monárquica, mais um indício de um papa moderno até na ação inovadora em nome dos valores da tradição conservadora.”

José de Souza Martins, “O Estado de S.Paulo” – 17/02/2013

 

“São momentos de grave introspecção em que o Homem faz um inventário de si mesmo – seus sonhos, suas desilusões, suas possibilidades – e se faz perguntas. Valeu a pena? Devo continuar? Aproveito o promontório e me atiro? Quem sou eu, e por que estou aqui falando sozinho?

Luis Fernando Verissimo, “O Estado de S.Paulo” – 17/02/2013

 

“A sociedade caminha mais rapidamente que a Igreja. Não acho que haja uma queda na fé. Os homens querem simplesmente uma igreja que os acolha. E não é assim Cristo, que abriu os braços para acolher a humanidade? […] Sou católico. Sempre me emociono com a mensagem de amor e acolhimento de Jesus Cristo. Mas faz falta um novo São Francisco de Assis, capaz de abandonar as estruturas rígidas do clero para se aproximar profundamente das dores do homem comum.”

Walcyr Carrasco, “Revista Época”, 18/02/13

 

“A cada minuto, são milhares de estímulos disputando atenção: dezenas de e-mails, comentários no Facebook, fotos legais no Instagram. […] O telefone sempre toca no exato momento em que a gente está, finalmente, se concentrando. […] Estamos perdidos em um mar de informações e estímulos, e muitas vezes acabamos dispersando nossa energia em coisa pouco importantes. […] De certa maneira, fomos programados para isso: parte do nosso cérebro prefere a gratificação imediata, que é o que os comentários na internet fornecem, por exemplo – a cada ‘curtir’, uma descarga de dopamina, hormônio ligado ao prazer, inunda nosso sistema nervoso. […] É possível vencer a batalha contra as distrações e aprender a focar. Para isso, são necessárias, basicamente, duas coisas: 1) definir o que é essencial; 2) eliminar todo o resto.”

Jeanne Callegari, “Revista Vida Simples” – fevereiro de 2013

 

“Na leitura de um adulto para uma criança é preciso haver cumplicidade. Se você não gostar da história lida, não adianta nada. As pessoas generosas são capazes de fazer uma espécie de regressão: permitem que o bebê que foram um dia no passado fale com o outro que está ali diante delas. Isso torna o contato mais profundo entre eles. […] O livro é um objeto que necessita do contato com o ser humano para se transformar em um objeto de cultura. Ao mesmo tempo, uma das funções da leitura na primeira infância é permitir que o bebê ultrapasse o sujeito físico e alcance o cultural.”

Evelio Cabrejo Parra, “Revista Nova Escola”, fevereiro de 2013

 

“O número de jovens que viraram chefes de si mesmos cresceu. De 2006 a 2012 houve um aumento mensal médio de 7,2% ao ano no número de startups, segundo uma pesquisa da rede de consultoria e auditoria UHY, com salto de 467 mil para 617 mil novos negócios.”

“Revista Época Negócios” – fevereiro de 2013

07ª semana de 2013

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“Eu me defino hoje como agnóstico militante. Não sou ateu, porque ser ateu e negar a existência de Deus é algo que também exige fé, de que você pode provar a inexistência de algo. Dito isso, vou deixar claro que não sou religioso de maneira nenhuma. Sou ambivalente: eu não sei se Deus existe e não estou preocupado com isso, porque acho que é impossível saber.”
Brian Schmidt, Prêmio Nobel de Física de 2011, “O Estado de S.Paulo” – 10/02/2013

“Escrever um poema, pintar um quadro, fazer um filme, uma peça de teatro, uma composição musical, enfim, fazer o que se conhece como obra de arte, sempre requer do autor o domínio de um ‘métier’, de uma linguagem própria a cada um desses gêneros artísticos, além, é claro, do talento, sem o qual aquelas outras condições não adiantam de nada. Pode ser que me engane, mas estou convencido de que a pessoa nasce poeta, ou pintor ou cozinheiro. Sem o domínio do ofício, ninguém vai adiante, mas o que torna aquele saber fazer uma obra de arte é o talento, que não se aprende no colégio. Mas o talento não está por sua vez desligado dos recursos técnicos que tornam possível a realização da obra.”
Ferreira Gullar, “Folha de S.Paulo” – 10/02/2013

“Joseph Ratzinger é um dos maiores teólogos vivos do cristianismo. Como papa Bento 16 fracassou. […] Bento 16 foi um duro crítico da ideia de que a igreja deva aceitar soluções modernas para problemas modernos. Nesse sentido, apesar de ter resistido bravamente, com a idade e a fraqueza que esta implica, acabou por ser um papa acuado pelas demandas modernas feitas à igreja e por uma incapacidade de pôr em marcha sua “infantaria”, que nunca aceitou plenamente seu perfil de intelectual alemão eurocêntrico. Sua ideia de igreja é a de um pequeno grupo coeso de crentes, fiéis ao magistério da igreja (conjunto de normas para condução moral da vida), distante das ‘modas moderninhas’.”
Luiz Felipe Pondé, “Folha de S.Paulo” – 12/02/2013

“Como intelectual, este papa sempre soube melhor se dirigir ao cérebro do que ao coração das pessoas. Várias vezes topei com frases de Bento 16 que eu mesmo, ateu de carteirinha, poderia subscrever. A primeira surpresa foi quando ele visitou o local de um antigo campo de concentração nazista. Em seu discurso, deixou no ar a pergunta memorável. Ficamos pensando, disse o papa, onde estava Deus quando tudo isso aconteceu. Era uma pergunta que nada tinha a ver com as habituais consolações, tão vazias, que a rotina religiosa costuma invocar nesse tipo de situação.”
Marcelo Coelho, “Folha de S.Paulo” – 13/02/2013

“Podemos levar a história a sério? Até que ponto devemos acreditar que os relatos históricos que lemos nos livros descrevem as coisas como se passaram? Em que grau podemos confiar nas explicações que nos são oferecidas? A história não é uma ciência no mesmo sentido em que o é a física ou até a economia. Ela não apenas é incapaz de nos dar um modelo por meio do qual possamos fazer previsões como ainda traz a incrível propriedade de tornar o próprio passado incerto.”
Hélio Schwartsman, “Folha de S.Paulo” – 13/02/2013

“Quem autoridades controlam nosso país, que deputados e senadores, que ministros? Serão todos altamente corretos, altamente experientes, competentes, conhecedores das atribuições e do alcance do seu cargo? Ou muitos são medíocres, sem noção do que fazem, amedrontados e de cabeça abaixada, sem saber direito o que fazem ali? Que fim levaram ética, responsabilidade, seriedade aqui entre nós? […] Nunca fomos perfeitos, mas já estivemos em melhor situação. Os males eram menos escrachados, nós, menos tolerantes, não esquecíamos tão depressa. Hoje temos de correr, comprar, consumir, nos endividar até o limite da loucura. E temos que nos divertir, ora essa!”
Lya Luft, “Revista Veja” – 13/02/2013

“Nesta vida todo mundo, querendo ou não, é pautado. Todos somos levados, obrigados, arrolados ou dirigidos a fazer muita coisa. Algumas, impossíveis, como não mentir ou ser pusilânime. Os planos para nossas vidas existem antes do nosso aparecimento no mundo. Antes do nosso nascimento, pai e mãe tinham expectativas fulminantes em relação às nossas vidas. Nossas pautas existenciais são os projetos e esquemas que figuram na nossa sociedade e cultura: instruções do tipo como comer, vestir-se, limpar-se e dormir – caminhos simbólicos e reais a serem necessária e precisamente percorridos como a escolha de certas profissões e valores religiosos e políticos; rituais de crise de vida ou de passagem celebrados em nossa honra ou para os outros, os quais temos de – querendo ou não – acompanhar. Do nascimento até a morte, seguimos esquemas precisos e implacáveis.”
Roberto DaMatta, “O Estado de S.Paulo” – 13/02/2013

06ª semana de 2013

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“O capitalismo, por sua vez, é o regime da exploração e da desigualdade, precisamente porque se funda no egoísmo e na busca do lucro máximo. Se deixarmos, ele suga a carótida da mãe. O grande problema é este: como estimular a iniciativa criadora de riqueza e, ao mesmo tempo, valer-se da riqueza criada para reduzir a desigualdade.”
Ferreira Gullar, “Folha de S.Paulo” – 03/02/2013

“Há indivíduos mais sujeitos a compulsão do que outros. Ambos podem estar expostos aos mesmos fatores. Mas a reação de uns vai ser diferente de outros.”
Marion Strecker, “Folha de S.Paulo” – 04/02/2013

“A ciência vive pressionando a ética: trata-se aqui da ampliação do poder de escolha informada. Aumentando os recursos técnicos da medicina pré-natal, aumenta-se proporcionalmente a possibilidade de se evitar determinados tipos de gravidez. O nome disso, segundo o filósofo americano Francis Fukuyama, é “design babies” (bebês de prancheta, na tradução brasileira): bebês ao portador, com grau máximo de saúde. […] O processo de ampliação de escolha informada implica, num prazo de tempo não muito preciso, a crescente artificialização da atividade reprodutiva humana. Isso é tão inevitável como a ampliação dos direitos civis, tais como voto das mulheres, casamentos gays, direitos da mulher sobre seu corpo, e afins.”
Luiz Felipe Pondé, “Folha de S.Paulo” – 04/02/2013

“As leis existem. Mas, por corrupção, ganância, descaso, ignorância e, principalmente, por falta de fiscalização e punição, crianças caem de rodas-gigantes defeituosas, grupos afundam em barcos superlotados, moradores de prédios antigos são soterrados, bujões, fogos de artifício e bueiros explodem. Ninguém vai preso, a culpa se dilui e a mídia esquece. Até a próxima ‘fatalidade anunciada’.”
Ruth Aquino, “Revista Época” – 04/02/2013

“Há semanas descobrimos, graças ao Censo Escolar de 2011, que 72,5% das escolas públicas brasileiras simplesmente não têm bibliotecas. Isto equivale a 113.269 escolas. Um descaso que não mudou com o tempo, já que, das 7.284 escolas construídas a partir de 2008, apenas 19,4% têm algo parecido com uma biblioteca. Mesmo São Paulo, o Estado mais rico da Federação, conseguiu ter 85% de suas escolas públicas nessa situação. Ou seja, um número pior do que a média nacional. Diante de resultados dessa magnitude, não é difícil entender a matriz dos graves problemas educacionais que atravessamos. Difícil é entender por que demoramos tanto para ter uma imagem dessa realidade. Ninguém precisa de mais um discurso óbvio sobre a importância da leitura e do contato efetivo com livros para a boa formação educacional.”
Vladimir Safatle, “Folha de S.Paulo” – 05/02/2013

“A ética não é a lei. A lei está escrita no bronze ou no papel, mas a ética está inscrita na consciência ou no coração – quando há coração… Por isso, ela não precisa de denúncias de jornais, nem de sermões, nem de demagogia, nem da polícia! A lei precisa da polícia, o moralismo religioso carece dos santarrões e as normas, de fiscais. A ética, porém, requer o senso de limites que obriga à mais dura das coragens: a de dizer não a si mesmo. […] Justiça social, honestidade, retidão de propósito são valores que formam parte da minha ideologia; são desígnios que acredito e quero para o Brasil. […] O ético tem dentro de si o sentido da suficiência moral. Ela ou ele sabem que em certas situações somente o sujeito pode dizer sim (ou não!) a si mesmo. Isso eu não faço, isso eu não aceito, nisso eu não entro. É simples assim”.
Roberto DaMatta, “O Estado de S.Paulo” – 06/02/2013

05ª semana de 2013

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“Ler foi a coisa mais importante que aprendi. Nada gera conformismo como o entretenimento barato. Podem dizer que a cultura se democratizou, que deixou de ser elitista, mas é um processo que gera conformismo.”
Vargas Llosa, “Folha de S.Paulo” – 28/01/2013

“As tragédias acontecem sempre: aviões caem, ‘titanics’ afundam, mas sempre há uma tragédia não percebida entre nós, melhor, uma série de erros não anunciados que acabam desembocando na catástrofe de Santa Maria. Uma das piores do mundo. Mais um horror talvez evitável. Mas o defeito principal do País talvez seja a displicência, irmã da eterna incompetência que nos aflige desde a colônia. São as tragédias em gestação. Os problemas só surgem quando não há mais solução. Vejam os jornais, onde as notícias são sobre coisas que não deram certo, erros de cálculo, obras inacabadas, preços superfaturados, uma lista diária de fracassos, do que poderia ter sido e não foi. Ou então a inocência eterna: ninguém sabe de nada, ninguém pecou, ninguém roubou nunca. […] O dia a dia é assolado pela mediocridade e falta de amor pelos empreendimentos realizados. Interessa sempre o lucro pelo menor gasto possível. […] Aos poucos, nos esqueceremos dessa desgraça a mais. Outras virão. Só nos resta dizer mais uma vez: “Que horror!” e continuar a vida, hoje em dia feita de pressa, medo e suspense, num país onde o óbvio nunca é feito: só as desnecessidades”
Arnaldo Jabor, “O Estado de S.Paulo” – 29/01/2013

“Após uma tragédia como a de Santa Maria, a vontade de agir é irrefreável. Nas próximas semanas, Estados e municípios atualizarão suas normas de segurança anti-incêndio e apertarão a fiscalização sobre todo tipo de estabelecimento. Trata-se, é claro, de um efeito transitório. Com o tempo, o ímpeto vigilante arrefece e as coisas voltam mais ou menos ao que eram antes. E não adianta muito maldizer a leniência das autoridades brasileiras. Ainda que em diferentes graus, o fenômeno é universal e tem origem nos mecanismos pelos quais percebemos o perigo. A pergunta é se devemos aceitar essa abordagem intuitiva ou se seria preferível buscar uma visão mais racional, recorrendo à análise de risco e a especialistas antes de agir.”
Hélio Schwartsman, “Folha de S.Paulo” – 29/01/2013

“O desvio de recursos, a pura irresponsabilidade, a garantia da impunidade. Somos ineptos para minimizar danos das cheias, impedir desabamentos, prevenir incêndios. Mas numa coisa ninguém nos supera: em solidariedade. Instaurada a tragédia, acorremos ao local em batalhões, confortamos os parentes, acolhemos em nossa casa, doamos sangue e enchemos caminhões com donativos, embora não possamos garantir que cheguem ao destino. Nossa humanidade não está em questão – nossa eficiência, sim. E, quando a tragédia se repete, não será por que não avisamos – apenas ninguém tomou providências.”
Ruy Castro, “Folha de S.Paulo” – 30/01/2013

“Esperar sem esperança é a pior maldição que pode cair sobre um povo. A esperança não se inventa, constrói-se com alternativas à situação presente.”
Boaventura de Sousa Santos, “Folha de S.Paulo” – 30/01/2013

“Silas Malafaia não exige doações. À GQ, o pastor alerta: se alguém hesitar em colaborar, ‘Deus fará outro se levantar… e sua benção irá para este outro’. Logo depois, contemporiza: ‘Se R$ 100,00 é tudo o que você precisa, é seu sonho, não dê! Se não for, é sua semente’.”
“O Estado de S.Paulo” – 30/01/2013

“Não estou aqui para ensinar a fazer filmes hollywoodianos. É preciso originalidade. Se existisse apenas o ponto de vista americano, o mundo seria brutal e individualista. Se você possui talento, nada vale mais que se expressar “.
Robert McKee, um dos professores de roteiro mais conhecidos de Hollywood, “Valor” – 01/02/2013

“Henri Matisse confessou sua necessidade de solidão em 1939. ‘Eu gostaria de viver como um monge numa cela, desde que pudesse pintar sem preocupações nem incômodos’. Preocupações e incômodos houve aos montes durante a carreira atormentada do pintor francês.[…] ‘A pintura foi para ele um trabalho desenvolvido em toda a vida. Ele se esforçou por décadas para retratar diretamente o que via. Clichês, preconceitos e suposições, barreiras visuais consideradas seus piores inimigos, foram suprimidos em horas intermináveis de treinamento. A sua disciplina se parecia com a de um pianista’, diz Hilary Spurling, autora de ‘Matisse, Uma Vida’. […] ‘Matisse: In Search of True Painting’ fala do sofrimento do pintor, também relatado por Hilary Spurling, em relação às suas escolhas artísticas. ‘Ele não tinha certeza do seu caminho’. Ou nas palavras do próprio artista: ‘Trabalho sem teoria. Eu sou determinado por uma ideia que só começo a entrever à medida que a pintura se desenvolve’. Incompreendido, Matisse contemporizava.”
Francisco Quinteiro Pires ,“Valor” – 01/02/2013

“A memória é um mistério, às vezes as lembranças aparecem com nitidez, outras vezes ficam guardadas, teimosamente escondidas, ou em estado de latência. […] Só me resta o silêncio, nossa voz essencial, talvez a mais verdadeira.”
Milton Hatoum, “O Estado de S.Paulo” – 01/02/2013

“Meu gospel é bem brasileiro. Não saí copiando, sou a Baby, tenho meu lado rock, meu lado pop. O gospel que toca no rádio e na televisão aqui é muito cru, não dá pra comparar com a nossa música. Nunca fiz isso pra vender CD, mas por paixão”.
Baby do Brasil, “O Estado de S.Paulo” – 02/02/2013

04ª semana de 2013

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“Ser pai ou mãe, mais que uma possibilidade biológica, é um aprendizado. ‘Podemos encarar a família como uma prisão ou um lugar de abrigo. Um espaço de trocas ou de isolamento coletivo. Um agente de mudanças ou um dispositivo de alienação. De qual família estamos falando?, diz Junia de Vilhena, psicanalista e terapeuta familiar.”
Ruth Aquino, “Revista Época” – 21/01/2013

“O ex-ciclista americano Lance Armstrong, usuário confesso de doping para se tornar o maior campeão da história de seu esporte, é também um recordista da mentira. Depois de enganar milhões de torcedores ao ganhar sete vezes a Volta da França sob o efeito de substâncias proibidas –e de se submeter a transfusões de sangue para esconder o rastro delas no organismo–, mentiu repetidamente ao se dizer inocente das acusações ainda tímidas que lhe começavam a fazer. Depois mentiu para as federações de ciclismo e para o Comitê Olímpico Internacional. Mentiu para seus colegas ciclistas e para os praticantes de todos os esportes. Mentiu para as crianças que o tinham como ídolo e queriam imitá-lo. Mentiu para os dirigentes da Livestrong, a fundação contra o câncer criada por ele – ele próprio uma vítima da doença. E, por fim, mentiu para seus biógrafos. […] Armstrong os tapeou, contando-lhes a história bonita que queria ver publicada. E obrigou a que seus colaboradores – envolvidos na sua extensa rede de doping, inclusive médicos – também mentissem. Agora, sim, Lance Armstrong pode render uma grande biografia. Vivo ou morto.”
Ruy Castro, “Folha de S.Paulo” – 21/01/2013

“Uma estatística envergonha os sul-coreanos: o índice de suicídios no país -medido para cada 100 mil pessoas- é o mais alto entre os membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico. Ele aumentou de 13,6, em 2001, para 31,2, em 2010. Mas ainda mais perturbador é o índice de suicídios entre os sul-coreanos maiores de 65 anos. No mesmo período, ele inchou de 35,5 para 81,9. ’Os velhos sentem-se traídos ou pensam que são um peso para seus filhos, principalmente os que têm doenças crônicas cujas contas médicas os filhos lutam para pagar’, disse Park. ‘Sua crença na família como uma entidade com um destino comum os leva a afastar-se dela, removendo o peso’. Kim Sungwhan, diretor do distrito de Nowon, em Seul, foi um dos primeiros administradores a abordar a crise dos suicídios. Ele treinou cerca de mil voluntários para reconhecer sinais de advertência e conectar idosos com tendências suicidas aos serviços sociais. Kim Man-jeom, 73, foi uma dessas pessoas. Depois da morte de seu marido, no ano passado, ela caiu em depressão. Ficou decepcionada porque seus filhos não a convidaram para morar com eles, mas também temia tornar-se um fardo para a família. ‘Quando vi uma gravata, pensei em me enforcar’, disse. A população da Coreia do Sul está envelhecendo mais depressa do que a de outros países desenvolvidos. Sociólogos dizem que o baixo índice de nascimentos deriva da relutância dos jovens casais a imitar seus pais e gastar suas economias na educação dos filhos, deixando pouco para sua velhice. ‘Nossa sociedade deu ênfase à eficiência econômica ao custo da condição humana’, diz Kim.
Choe Sang-Hun, “The New York Tinmes/Folha de S.Paulo” – 21/01/2013

“Muito mais produtivo do que tentar prever o future é construí-lo a partir do que sabemos hoje, e não consultar oráculos como o de Delfos, cartomantes, gurus e profetas.”
José Goldemberg, “O Estado de S.Paulo” – 21/01/2013

“De algum tempo para cá, setores da mídia manifestam preocupante ambiguidade ética. O que é sensacionalismo barato numa publicação popular é informação de comportamento nas respeitáveis páginas de alguns veículos da chamada grande imprensa. Biografias não autorizadas (ou difamação politicamente correta) e síndrome do boato compõem um retrato de corpo inteiro da indigência editorial. Best-sellers de ocasião, apoiados no marketing da leviandade e sustentados pela repercussão da mídia, ganham status de seriedade. O que interessa não é a informação. O que importa é chocar. Ao tentar disputar espaço com o mundo do entretenimento, alguns setores da imprensa estão entrando num perigoso processo de autofagia. Esquecem que a frivolidade não é a melhor companheira para a viagem da qualidade. Pode até atrair num primeiro momento, mas depois, não duvidemos, termina sofrendo arranhões irreparáveis no seu prestígio. Não podemos sucumbir às regras ditadas pelo mundo do espetáculo. Existe espaço, e muito, para o jornalismo de qualidade. Basta cuidar do conteúdo.”
Carlos Alberto Di Franco, “O Estado de S.Paulo” – 21/01/2013

“Quando Hannah Arendt cunhou a expressão ‘banalidade do mal’, ela não imaginava como a morte se tornou um fato corriqueiro no mundo atual, sem os trágicos acordes do Holocausto. Talvez haja nas matanças banais um desejo de desvendar o mistério da morte, bem lá no fundo do inconsciente. Para além de vinganças, busca de poder ou dinheiro, ódio puro, prazer, há a vontade de ‘naturalizar’ a morte, de modo que ela deixe de ser a implacável ceifadora. Tenho certeza de que os assassinos que passam de moto e metralham inocentes não têm consciência da gravidade de seus feitos – apenas mais um dia divertido de violências. Os filmes americanos buscam o tempo todo essa banalidade: tiros súbitos sem piedade, jorros de sangue ornamentais, a beleza fálica das superarmas automáticas. Nos brutos filmes de ação, nos videogames, nas notícias bombásticas de tragédias há um claro desejo de esquecer a morte, mostrando-a sem parar. Um desejo de matar a morte. Um desejo de entendê-la pela repetição compulsiva. Mas, nunca conseguiremos exorcizá-la, porque quando ela chega não estamos mais aqui.”
Arnaldo Jabor, “O Estado de S.Paulo” – 22/01/2013

“Com quase 30 milhões de novos usuários ativos mensais, o Brasil foi o país que mais cresceu no Facebook em 2012, de acordo com dados divulgados pela empresa de estatísticas de mídias sociais Socialbakers. Desde março do ano passado, o Brasil é o país com o segundo maior número de usuários (65 milhões) na rede social, atrás apenas dos Estados Unidos (167 milhões), ainda segundo a Socialbakers”.
“Folha de S.Paulo” – 24/01/2013

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