Contando os dias
50ª semana de 2011
0“O ser humano é um animal acreditador. Talvez esse seja um bom modo de definir nossa espécie. ‘Humanos são primatas com autoconsciência e a habilidade de acreditar.’ Já que ” acreditar” sempre pede um ‘em quê?’, refiro-me aqui a acreditar em poderes que transcendem a percepção do real, algo além da dimensão da vida ordinária, além do que podemos perceber apenas com nossos sentidos. […] Parece que somos incapazes de viver nossas vidas sem acreditar na existência de algo maior do que nós, algo além do ‘meramente’ humano. Bem, nem todos nós, mas a maioria. Isso desde muito tempo.”
Marcelo Gleiser – Folha de S.Paulo, 11/12/2011
“‘Ensinar é uma experiência humana’, disse ao Times Paul Thomas, professor associado de educação na Universidade Furman, na Carolina do Sul. ‘A tecnologia é uma distração quando precisamos de alfabetização, raciocínio matemático e pensamento crítico’.”
Kevin Delaney – Folha de S.Paulo, 12/12/2011
“A melhor forma de manter a dignidade na era do Facebook (se você não resistir a ter um) é não contar para ninguém que você tem um Facebook. Quase tudo é bobagem nas redes sociais porque o ser humano é banal e vive uma vida quase sempre monótona e previsível. E a monotonia é o traje cotidiano do vazio. E a rotina é o modo civilizado de enfrentar o caos, outra face do vazio. […] Sempre se soube que não basta à mulher de Cesar ser honesta, ela tem que parecer honesta, portanto, a imagem de honesta é mais importante do que a honestidade em si. Mas aqui, o foco é diferente: aqui a questão é a hipocrisia como substância da moral pública. Todo mundo sabe que a mentira é a mola essencial do convívio civilizado. […] Resistir ao desejo talvez seja uma das formas mais discretas de amar a vida.”
Luiz Felipe Pondé – Folha de S.Paulo, 12/12/2011
“Se a ideia, como defendeu o ministro da Saúde, é utilizar o instrumento apenas em situações nas quais há risco de vida imediato para o dependente, a figura jurídica da internação involuntária, prevista na lei n° 10.216/01, é desnecessária. Basta encaminhar o paciente em emergência relacionada a drogas -que, em geral, está inconsciente- para o hospital e, dois ou três dias depois, quando estiver estabilizado e já não houver perigo iminente, oferecer-lhe a oportunidade de tratamento psiquiátrico. Se ele quiser, submete-se a uma internação voluntária e, se não quiser, volta para casa ou para as ruas, como é mais comum. É claro que essa não é uma solução perfeita, pois uma das características da compulsão por drogas é não querer afastar-se delas. É até verossímil que exista um grupo de dependentes que, do ponto de vista sanitário, poderia beneficiar-se de tratamento a contragosto. O problema é que há mais coisas envolvidas aqui do que a saúde deste ou daquele paciente. Em termos institucionais, incentivar o uso de internações involuntárias é perigoso. Trata-se, afinal, do equivalente jurídico de um artefato nuclear, uma ferramenta que permite a um médico qualquer decidir que alguém precisa de tratamento e assim privá-lo de sua liberdade indefinidamente e sem direito a contraditório. Os controles externos são poucos e fracos e, se o sujeito não tem família, não haverá quem represente seus interesses contra o médico.”
Hélio Schwartsman – Folha de S.Paulo, 13/12/2011
“Um estudo demográfico, elaborado pelo Conselho Federal de Medicina e a regional de São Paulo, acaba de ser publicado e expõe a desigualdade na oferta de médicos pelo País. Não existem surpresas, mas há muito para se refletir. O levantamento coordenado pelo pesquisador Mario Scheffer aponta a existência de 371.788 médicos na ativa no Brasil, número que quintuplicou nos últimos 40 anos, enquanto a população brasileira apenas dobrou. A relação médico/habitante dobrou, chegando este ano a 1,95 médico para cada 100 mil habitantes. Nas escolas médicas, as mulheres são maioria. Ainda ssim, por mais 20 anos a profissão continuará sendo exercida por uma maioria de homens, que hoje ocupam 60% do mercado. Os médicos são jovens, em sua maioria, 50% deles têm menos de 40 anos. A média de idade é de 46 anos. Entre os jovens, predominam as mulheres. A idade média é de 42 anos, e quase 70% delas estão na faixa entre 30 e 55 anos. Esses números mostram que o Brasil continua carente de médicos. Além disso, a distribuição desses médicos provoca diferenças alarmantes. Em todo o País, as capitais detêm a maioria deles. Nos estados mais pobres essa diferença é ainda maior. […] Os estados do Norte têm poucos cursos médicos e são os que têm a maior demanda. O problema lá também é a oferta de postos na área de saúde, que está entre as piores da federação. O governo tem a meta de fazer o Brasil ter a mesma proporção de médicos que os países europeus e os Estados Unidos, perto de 2,5 médicos por 100 mil habitantes. O Sudeste já possui 2,6; o Norte tem apenas 0,96. Nas cidades do interior, a carência é ainda maior.”
Rogério Tuma, Revista Carta Capital, 14/12/2011
“Conheço pessoas que souberam lidar bem com as dificuldades naturais de suas existências e conheço outras que se transformaram em vítimas tristes nas mesmas condições. É claro que há situações de extrema dificuldade, e negar a tristeza que vem junto é negar a própria condição humana. […] Encontrei pessoas de bem com a vida nas grandes cidades, trabalhando em imensas corporações. Encontrei-as também em pequenas vilas do interior ou do litoral. Em lugares pobres e em ligares ricos. Em tempos de tranquilidade e em temos de crise. Ou seja, em todos os lugares. E também encontrei pessoas de mal com a vida. Onde? Exatamente nos mesmos lugares. Esse talvez seja um dos grandes mistérios da psicologia humana. O que faz a diferença entre esses dois tipos de indivíduos? Será sua genética ou terá sido sua educação?”
Eugenio Mussak, Revista Vida Simples – dezembro de 2011
49ª semana de 2011
0“A literatura brasileira demonstra que 70% da performance escolar é determinada pelo “background” familiar, pelo tipo de educação do pai e especialmente da mãe, pela renda da família etc.”
Marcelo Neri – Folha de S.Paulo, 04/12/2011
“Com a globalização, nossos maiores problemas passaram a operar em escala global. A mudança climática, o terrorismo, os desequilíbrios comerciais, nada disso afeta apenas um país. O problema é que estamos enfrentando a nova realidade com instituições anacrônicas, de 200 anos atrás.”
Ian Morris, 51, historiador e arqueólogo, Revista Veja – 07/12/2011
“O medo da lei é insuficiente para que ela seja respeitada. É preciso que ela seja acatada por conter no seu bojo o que é eticamente adequado como reflexo do querer social.”
Antônio Cláudio de Oliveira – O Estado de S.Paulo, 07/12/2011
“Os meninos que cresceram em torno do tráfico nas favelas cariocas interpretam papéis parecidos. Seja como usuários, ‘formiguinhas’ (passadores de pequenas quantidades) ou trabalhando na segurança das gangues, só conheceram a realidade da droga. Com a vitoriosa implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), seu modo de vida foi subitamente desarticulado. Eles podem ter abandonado o uso ou a venda de drogas, mas é importante que as UPPs Sociais, encarregadas de reencaminhar esses jovens, não custem a lhes oferecer oportunidades reais de aprendizado e trabalho -em departamentos que não tenham nada a ver com seu antigo universo. Não basta tirar a droga do sistema deles. Há que substituí-la por algo diferente e melhor.”
Ruy Castro – Folha de S.Paulo, 07/12/2011
“A expansão do ensino superior no Brasil saltou de 1,945 milhão de matrículas em 1998 para 6.379.299 em 2010. Desse volume de matrículas, 4.736.001, perto de 75%, pertencem às instituições privadas. A pós-graduação cresceu mais de 150% em menos de dez anos. São 173 mil matrículas, sendo 144.911 (95%) em instituições públicas. Titula 50 mil mestres e doutores por ano, com um padrão de qualidade internacional. Mas se o aumento dos pesquisadores no Brasil é comemorado como um bem nacional, o do número de graduados nem tanto. […] No Brasil, a universalidade do acesso ao ensino superior é, de fato, um problema. Temos menos de 16% da população de 18 a 24 anos matriculada em cursos superiores. Perdemos do Paraguai (18%) e da Argentina (48%), passamos longe de Portugal (50%) e não conseguimos divisar a Coreia (78%). […] A dimensão do sistema de ensino superior brasileiro não pode, na direção e na velocidade econômica que o país necessita, representar, apenas, milhões de matriculas.”
Luiz Roberto Liza Curi, sociólogo – Folha de S.Paulo, 09/12/2011
“Dogmas vão contra tudo o que sabemos sobre o mundo. Virgens não costumam dar à luz e pessoas não saem por aí ressuscitando. Em contextos normais, um homem que veste saias e proclama transformar vinho em sangue seria internado. Quando se trata de religião, porém, aceitamos violações à física e à lógica. Por quê? Ou Deus existe e espera de nós atitudes exóticas -e inconsistentes de uma fé para outra-, ou o problema está em nós, mais especificamente em nossos cérebros, que fazem coisas esquisitas no modo religioso. Ateus privilegiam a ciência e a lógica, ao passo que crentes dão mais ênfase a suas intuições, que estão sempre a buscar padrões e a criar agentes. Posta nesses termos, fé e ceticismo se tornam um amálgama de influências genéticas e culturais difícil de destrinchar – e de modificar. Como bom ateu liberal, aplaudo avanços no secularismo, já que contrabalançam o lado exclusivista das religiões, que não raro degenera em violência e obscurantismo. Mas, ao contrário de colegas mais veementes, acho que a religião, a exemplo do que se dá com filatelia, literatura e sexo, pode, se bem usada, ser fonte legítima de bem-estar e prazer.”
Hélio Schwartsman – Folha de S.Paulo, 10/12/2011
“Uma posição totalmente racionalista é irracional. Há um lado da experiência humana que é misterioso. Sou cartesiano com pitada de candomblé.”
Fernando Henrique Cardoso – Folha de S.Paulo, 10/12/2011
“Sua fragmentação gera imprevisibilidade. Uma Europa unida é um ator único com quem é fácil dialogar, onde radicalismos locais são atenuados pela média dos demais membros. Fragmentada, são 27 países com agendas em conflito e onde o protecionismo e nacionalismo de um único país pode forçar os demais a decisões extremas.”
Gustavo Romano – Folha de S.Paulo, 10/12/2011
“O que você deixa de fazer pode feri-lo. Oportunidades perdidas levam a arrependimento mais tarde. […] Não fazer nada é fácil. É, muitas vezes, um erro invisível – um pecado de omissão. Para agir, é preciso coragem. Para inovar, ainda mais coragem. E, hoje, coragem parece um recurso escasso. À espera de que estão nossos líderes? Sem ação ousada e inovação, de que maneira economias em apuros escaparão do declínio? A coragem torna a mudança possível. É preciso coragem intelectual para questionar velhas verdades e imaginar novas possibilidades. […] Faço um apelo para a coragem na liderança: não deixar problema sem solução. Não deixar oportunidade inexplorada. Não deixar ideia definhando.”
Rosabeth Moss Kanter, professora de administração da Harvard Business School, nos EUA – Harvard Business Review – dezembro de 2011
48ª semana de 2011
0“Deve-se admitir que a audácia por si só não é valor artístico. Nada me alegra mais do que me deparar com uma criação artística inovadora, mas, para isso, não basta fugir das normas, das soluções conhecidas e situar-se no polo oposto: é imprescindível que a obra inusitada efetivamente transcenda a banalidade e a sacação apenas cerebral ou extravagante. O que todos nós queremos é a maravilha, venha de onde vier, surja de onde surgir. […] Não é função da arte retratar a realidade, mas reinventá-la.”
Ferreira Gullar – Folha de S.Paulo, 27/11/2011
“Não conheço nenhuma palavra mais bonita do que ‘serendipity’. […] Inventada por um inglês, em 1754, que se inspirou numa lenda persa, ‘serendipity’ é uma palavra impossível de ser traduzida para outros idiomas num único termo. Superficialmente, ela significa o prazer das descobertas ao acaso. Um velho amigo encontrado numa inóspita cidade estrangeira, os acordes de um violino tocado em um parque numa tarde de outono, uma súbita paisagem de uma praia que aparece quando caminhamos numa mata fechada. Um encontro amoroso no final da madrugada, quando já estávamos conformados de ficar sozinhos ou um prato feito com ingrediente exótico num improvável restaurante de beira de estrada. Mas o significado profundo de ‘serendipity’ vai além do imprevisto. É o encanto da transformação dos acasos em aprendizagem. O bacteriologista Alexander Fleming viajou de férias e se esqueceu de guardar os pratos em que fazia experiências para curar infecções. Um fungo caiu do teto em um desses pratos. Descobriu-se o antibiótico. Se o tal fungo não tivesse caído na frente de um bacteriologista atento, seria apenas um bolor inútil. Por trás da palavra, existe a ideia de que o melhor da vida é a aventura do aprender pela experiência – o que compensaria os riscos e a dor provocada pelos sucessivos erros. […] Aí está a dor e a delícia do ‘serendipity’: para viver experiências, sempre estamos nos despedindo de alguma coisa de que gostamos.”
Gilberto Dimenstein – Folha de S.Paulo, 27/11/2011
“Se prevalecer a ideia de que a mulher é um bibelô a ser preservado, prevalecerá também a interpretação mais obscurantista do Islã, segundo a qual a mulher é propriedade do homem, e não ator com vontade própria.
Essa desgraçada cultura impregna ainda o mundo todo, a ponto de exigir um Dia Internacional contra a Violência de Gênero. No mundo árabe, essa (in)cultura é mais forte, exatamente pelo ranço da interpretação radical do Corão.”
Clóvis Rossi – Folha de S.Paulo, 27/11/2011
“A crise que afeta a zona do euro não alterará esse rumo político nem os compromissos assumidos quanto ao financiamento de ações climáticas urgentes em cooperação com os países menos desenvolvidos. […] É essencial que, em 2020, o aumento global de emissões seja contido e que, em 2050, decresça em 50% relativamente aos níveis de 1990. Trata-se de desafio global cuja resposta só pode ser encontrada com a cooperação de todos.”
Ana Paula Zacarias – Folha de S.Paulo, 27/11/2011
“Os homens estão comprando itens de luxo exatamente como as mulheres. Estão até se apaixonando por sapatos. É o que sugere estudo da Bain & Company, que usa a expressão ‘feminilização da sociedade’ para descrever o atual padrão de consumo. […] ‘Todas as marcas de luxo estão agora se concentrando em desenvolver suas linhas masculinas. Os homens têm se tornado mais e mais ‘fashion’ e ido às compras assim como as mulheres’, diz a italiana Claudia D’Arpizio, parceira da consultoria.”
Verena Fornetti – Folha de S.Paulo, 27/11/2011
“Acidentes acontecem e é muito mais difícil, senão impossível, preveni-los sem rigorosa fiscalização e com métodos de exploração obsoletos e análises sísmicas incompetentes. Não temos um plano nacional de emergência para vazamentos e só pensamos em discutir a questão dos royalties, ‘com a excitação com que algumas famílias debatem o testamento de um tio bilionário’, como bem observou Fernando Gabeira.”
Sérgio Augusto – O Estado de S.Paulo – 27/11/2011
“Quando houve o surgimento da moda dos blogs, muitos articulistas, principalmente os mais jovens, saudaram a chegada de uma linguagem e tecnologia que iria combater a mídia ‘mainstream’, com estilo mais autoral, atitude mais independente, interação mais democrática. Rodo por alguns blogs, sobretudo de moda, e vejo exatamente o contrário: escrita primária, comprometimento publicitário, busca da audiência pela audiência. Já os twitters, já chamados imprecisamente de microblogs, parecem confirmar cada vez mais a impressão de José Saramago: são grunhidos virtuais. Alguns de música postam um vídeo e só acrescentam a expressão ‘uau’ ou ‘uhu’ ou ‘ooôôôoo’. Isso que é argumento. Abro então o Facebook, que pouco mais é do que uma caderneta de contatos com álbuns de família e mensagens breves, e volto a pensar no livro de Alain de Botton: a era do exibicionismo veio para ficar, e não há ritual comunitário que possa reverter a tendência.”
Daniel Piza – O Estado de S.Paulo – 27/11/2011
“Se o teatro não for o lugar para discutir os temas da humanidade, da política, da economia, para pensarmos como vivemos e quem somos, eu não sei para que ele serve. Para que seria? Para a beleza? Existem muitas outras coisas bonitas. A poesia é muito mais bonita. O teatro é onde as pessoas podem, juntas, se engajar em alguma coisa. […] Hoje, falamos ao telefone enquanto estamos em uma reunião. Assistimos à televisão enquanto estamos na internet. Onde mais você pode fazer unicamente uma coisa? Apenas no teatro. E as pessoas vão valorizar isso cada vez mais e mais. […] Há sempre política, economia e questões sociais no que escrevo. Porque não fazer isso seria se dedicar a uma arte para privilegiados. As únicas pessoas que não se preocupam com economia, política e a sociedade são as que têm dinheiro suficiente para não ter que pensar nisso.”
Mike Barlett, 30, dramaturgo e diretor – O Estado de S.Paulo – 27/11/2011
“A maior parte dos tumores tem mais de um fator de risco, mas, entre todos eles, o mais comum é o envelhecimento. Ele faz com que as células fiquem ais tempo expostas a fatores que podem transformá-las em cancerosas. Mas se abrem oportunidades. O câncer não é doença que se forma do dia para a noite. É um processo muito longo, de uma a duas décadas, com exceção dos tumores associados a síndromes familiares. Então temos a oportunidade de atuar na juventude, reduzindo os riscos. Você nunca vai conseguir eliminar todo o risco, mas pode reduzi-lo. O jovem sempre pensa que é invulnerável e tende a ser um pouco mais solto em relação a hábitos. Mas o que ele faz agora vai cobrar a conta daqui a algumas décadas. Queremos conscientizá-lo de que hábitos saudáveis agora podem evitar que ele enfrente esse problema daqui a 20 anos.”
Marcelo Gehm Hoff, 43, médico, diretor do hospital Sírio-Libanês e do Instituto Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) – O Estado de S.Paulo – 27/11/2011
“O consumo sustentável abrange tudo. É preciso pensar nisso desde a hora em que se acorda, economizando água, luz, telefone. Comprando menos detergentes e levando a sacola para o supermercado. Não comprar o que pode não usar para não ter desperdício. Tem que começar em casa e fazer sempre. Não se muda da noite para o dia, é preciso ir incorporando, ampliando as ações e dando exemplos para outros grupos, como trabalho, vizinhança.”
Lisa Gunn, coordenadora-executiva do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) – O Globo – 27/11/2011
“Muitas pessoas diriam que ‘crescer numericamente’ é o ideal de todos, posto que sempre podemos COMPRAR mais, ser DONOS de mais coisas! Mas será este o único ideal de vida, de ambição e de felicidade para todo mundo, mesmo? Ou é parte do pacote de infelicidade eterno do que não somos ou não temos, em comparação com os ideais de beleza, sucesso e riqueza vendidos nas revistas, na televisão, no cinema comercial etc.”
Mônica Salmaso, cantora, Revista O Globo – 27/11/2011
“No dia em que todo ser humano for dotado de bom-senso, não precisaremos legislar sobre a quantidade de álcool tolerada ao volante ou sobre o que é razoável na fundamental tarefa de impor limites aos pequenos.”
Antônio Góis – Folha de S.Paulo, 28/11/2011
“As escolas, sobretudo as públicas, operam sucateadas, sem estrutura condizente, e conduzidas por professores justamente desmotivados, em virtude da tibieza dos seus salários. No Brasil há solução para quase tudo, menos para encontrar uma resposta condigna para essa questão que vem desde meados do século passado. É certo que o perfil do aluno está mudando. […] Como pretender alunos críticos, reflexivos e investigadores se lhes falta o essencial, que é o adequado domínio da língua portuguesa?”
Arnaldo Niskier, 75, doutor em educação – Folha de S.Paulo, 28/11/2011
“O medo é um sentimento expresso com frequência hoje em dia pelos cristãos árabes, uma triste ladainha para uma comunidade antiga, que durante muito tempo foi uma força política e cultural no mundo árabe. Milhões de cristãos -distribuídos principalmente por Egito, Líbano, Síria, Jordânia, Iraque e territórios palestinos- viraram pouco mais do que meros espectadores de fatos que estão remodelando um lugar que essa comunidade ajudou a criar, e às vezes são vítimas da violência desencadeada por tais fatos. Em meio a tantas narrativas que as revoltas árabes representam -de dignidade, democracia, direitos e justiça social-, muitos cristãos se limitam a uma versão mais sombria: a de que seu tempo pode estar se esgotando. ‘Não sou um cristão fanático’, me disse um amigo. ‘Não vou à igreja. Respeito todas as religiões. Mas, pelo que vejo agora, em 30 anos não restarão mais cristãos aqui.’ Os temores quanto ao destino dos cristãos do Oriente Médio costumam entrar de forma desconfortável no conflito entre o Ocidente e o mundo islâmico. Mas focar nesse conflito e nos fanatismos que o cercam é ignorar as nuances daquilo que os cristãos representam para esta região, e as lições que a sua história em outras épocas de tumulto podem oferecer. ‘Há uma parte do islã em cada árabe cristão’, me disse certa vez em Beirute o jornalista, diplomata e intelectual Ghassan Tueni. […] Os cristãos, me disse um amigo, foram marginalizados no mundo árabe por não terem líderes capazes de articular uma identidade que fosse além da religião e criasse uma comunidade mais ampla. […]As sociedades podem simplesmente ter mudado demais para que se imagine uma reconciliação entre fé e secularismo. Há muito poucas vozes dentro das minorias oferecendo tal visão, e muito poucos líderes para articulá-la.
Mas, há tantos anos, Al Bustani teve uma ideia que era tão simples quanto elegante: cidadania.”
Anthony Shadid – New York Times/Folha de S.Paulo, 28/11/2011
“A palavra ‘sustentável’ hoje em dia é como ‘ética’, ‘Cabala’, não quer dizer nada. É como escrever na porta de uma padaria ‘sob nova direção’ só para atrair clientes. Propaganda provinciana.”
Luiz Felipe Pondé – Folha de S.Paulo, 28/11/2011
“Dizem os psicanalistas que, quando pequenos, temos prazer em cada centímetro do corpo. Com o passar do tempo, contudo, também a pele vai sendo adestrada, e a libido acaba restrita às “red light zones” de nossas íntimas moradas. Eis a nossa sina, buscar em vão o Éden perdido: na mulher amada, nas religiões, nas drogas.”
Antonio Prata – Folha de S.Paulo, 30/11/2011
“Viver está muito além das mesquinharias da realidade política, em que se ganha ou se perde, e da realidade individual também, em que só se pode ganhar ou perder na vida! Isso importa pouco em relação a esse outro mundo que te aguarda, esse outro mundo possível, que está na barriga deste. Vivemos num mundo infame, eu diria. Não nos incentiva muito, é um mundo malnascido. Mas existe outro mundo na barriga deste, esperando, que é mundo diferente e de parto complicado. Não é fácil o nascimento, mas com certeza pulsa no mundo que estamos.”
Eduardo Galeano, Revista Trip – novembro de 2011
“É banal que o amor nos leve a querer transformar parceiros e parceiras de forma que eles correspondam a nossas expectativas. O projeto de moldar o outro transforma qualquer convívio numa violência.”
Contardo Calligaris – Folha de S.Paulo, 01/12/2011
“O fim da exigência, no ano passado, de um prazo mínimo de separação antes da formalização do divórcio resultou num aumento recorde de 37% dessa prática em relação a 2009, e numa queda de 32% no número de separações.
Os casamentos que terminaram em divórcio duraram, em média, 16 anos, sendo que 41% deles não passaram dos dez anos, proporção que era de 33% em 2000, segundo as Estatísticas do Registro Civil, divulgadas ontem pelo IBGE. […] As únicas faixas etárias em que houve diminuição na proporção de casamentos foi entre homens e mulheres com menos de 24 anos, o que indica que brasileiros têm adiado a formalização do casamento.”
Antônio Góis – Folha de S.Paulo, 01/12/2011
47ª semana de 2011
0“Dados do Censo 2010 divulgados na última semana revelam que a fecundidade no Brasil caiu para 1,86 filho por mulher. Chama a atenção, em primeiro lugar, a grande velocidade com que o índice despencou. Meio século atrás, em 1960, ele era de 6,2. Isso significa que o Brasil fez em cinco décadas o que a Europa levou mais de cem anos para conseguir. Como reduzir a fertilidade e, por extensão, a população não constitui um fim em si mesmo, é preciso analisar as implicações do fenômeno. […] Decisões antipáticas, como alterar (e para pior) o regime da aposentadoria, precisam ser tomadas. No limite, é preciso pensar em abrir o país à imigração, outra medida impopular. Os obstáculos são tantos que a tendência é empurrar a encrenca para nossos filhos e netos. É pena, pois o atraso torna o problema mais difícil de administrar.”
Hélio Schwartsman – Folha de S.Paulo, 20/11/2011
“A ciência avança por meio de seus fracassos. Novas ideias são necessárias quando as velhas não podem explicar as observações. Portanto, não há explicações finais, apenas explicações melhores. […] É difícil combinar objetividade e subjetividade. […] Talvez devamos ouvir as sábias palavras de Sócrates, que há mais de 24 séculos já dizia que o essencial é conhecer a si mesmo.”
Marcelo Gleiser – Folha de S.Paulo, 20/11/2011
“Ter um dom é uma coisa preciosa, seja ele escrever, fazer publicidade ou cozinhar.”
Danuza Leão – Folha de S.Paulo, 20/11/2011
“Temos de aprender a conviver com a nossa insignificância, por melhores que nos consideremos.”
Gilberto Dimenstein – Folha de S.Paulo, 20/11/2011
“Cantor tem que ser bonito porque imagem vende. Se não for, pelo menos tem que estar bem cuidado. Minhas cantoras fazem dieta quando engordam, porque dou ataque. Nunca achei que isso pudesse entrar em choque com minha igreja. Se são filhos de Deus, [artistas] têm que ser pessoas que mostram que são felizes.”
Yvelise de Oliveira, 60, presidente da maior gravadora gospel do país, a MK Music – Folha de S.Paulo, 20/11/2011
“Jung dizia que muitas terapias estagnam porque acende-se uma lanterna no escuro mas ilumina-se o lugar errado do bosque. Na educação tem sido assim. Coloca-se o facho por sobre a reciclagem do professor, a tecnologia na sala de aula, o aumento de horas na escola ou melhor gestão do sistema. Apesar de tudo isto ser obviamente relevante, passa ao largo do cerne. Estamos em transição, e tempos efêmeros causam perplexidade institucional. Viemos das caixinhas de currículo, disciplinas e mestres exigentes, e estamos rumando para o ensino autopropulsionado, a diluição da importância da estrutura escolar, e o fim das barreiras artificiais que métodos e cartilhas impõem.
Ricardo Semler – Folha de S.Paulo, 21/11/2011
“A religião vem sendo tratada como uma espécie de bem de consumo individual, de forma que valores essenciais, como o senso de comunidade, de lealdade e de transcendência, têm se perdido.”
Rodrigo F. de Sousa, teólogo – Revista Claudia – novembro de 2011
“Franqueza e transparência são fundamentais para as relações de amizade. Sem tais características, o relacionamento amoroso que caracteriza a amizade não sobrevive. Aliás, nem sequer vive. Outra característica básica de pessoas que querem ser amigas de outras é a maturidade para controlar os próprios impulsos em favor da amizade. Saber renunciar a prazeres imediatos para preservar o amigo é condição fundamental. […] Devemos nos perguntar se, num mundo que dá extremo valor ao individualismo, à realização de nossos caprichos e ao prazer imediato, há lugar para a amizade. Deve haver. Afinal, são os amigos que dão sabor à nossa vida, que a iluminam, que fazem com que valha a pena viver, mesmo enfrentando as mazelas inevitáveis com as quais nos deparamos. Podemos fazer algo para que os mais novos conheçam essa alegria?”
Rosely Sayão – Folha de S.Paulo, 22/11/2011
“Desejo não é igual a vontade, é trama mais complexa. Começa com nossos instintos animais e vai se enriquecendo com aquilo que o atrai. A admiração é uma dessas coisas. Mas tudo começa com a imitação. Como no aprendizado da língua. Imitamos o português que ouvimos: sotaque; sofisticação ou falta dela; riqueza ou pobreza vocabular.”
Francisco Daudt – Folha de S.Paulo, 22/11/2011
“O Brasil moderno, se quiser governar na Rocinha, deverá merecer a autoridade que ele pretende exercer, ou seja, deverá fazer o que ele, durante muito tempo, não fez: cuidar de seus sujeitos.”
Contardo Calligaris – Folha de S.Paulo, 24/11/2011
“Sendo verdade que passamos a viver de modo mais rápido, individualizado e fora de controle, inseridos em redes e estruturas cortadas por riscos e crises permanentes, então ficou mais difícil controlar o que quer que seja. A corrupção adquiriu ‘vida própria’, atingindo áreas e pessoas antes tidas como inatingíveis. Também cresceu a percepção social dela, o que a torna ainda mais intolerável. Isso não significa que sejamos impotentes perante esse problema, que se alimenta de hábitos seculares, bebe em muitas fontes e afeta tanto o setor público quanto o privado. Não poderemos, porém, eliminá-lo pela raiz se o reduzimos à responsabilidade pessoal ou acharmos que a solução virá de mera (e difícil) mobilização da sociedade civil. Avanços consistentes dependerão de múltiplas ações combinadas e só alçarão voo sustentável se estiverem articulados com uma perspectiva reformadora e democrática do Estado e da política.”
Marco Aurélio Nogueira – O Estado de S.Paulo – 26/11/2011
“Posso dizer que o dia mais importante de minha infância foi quando descobri que sabia ler. Eu tinha de 4 para 5 anos. Foi como assistir ao próprio parto.”
Ruy Castro – Revista Claudia – novembro de 2011
46ª semana de 2011
0“Artistas, músicos e celebridades: nós os amamos, adoramos, somos obcecados por vocês e os compramos. Mas nossos sentimentos mudaram. Vocês estão distantes demais e queremos sair deste relacionamento. Queremos sentir que fazemos parte de uma coisa mais significativa. Não, não é sua culpa. É nossa.”
Anita Patil – Folha de S.Paulo, 14/11/2011
“A vida pode ser miserável e pequena. Triste constatação. Mas miserável pode ser apenas a constatação de que anatomia é destino, como dizia Freud. O corpo, essa massa mortal que perde a forma com o tempo, é nosso lar, uma casa em que habitamos e que nos abandona, deixando-nos a herança do pó.”
Luiz Felipe Pondé – Folha de S.Paulo, 14/11/2011
“A literatura acadêmica mostra que investir na educação infantil pode gerar vários benefícios. Pesquisas em neurociência mostram que o aprendizado acontece com mais facilidade na primeira infância do que em estágios posteriores da vida da criança.
Além disso, como a aprendizagem em cada nível de ensino depende do conhecimento acumulado em estágios anteriores, a atenção dada à primeira infância aumenta a efetividade das escolas. A educação dada a crianças de 0 a 5 anos também pode contribuir para o estímulo de determinadas características de comportamento e traços de personalidade, como sociabilidade, autoestima, persistência e motivação. Vários estudos mostram que, além de melhorar o desempenho escolar, essas características comportamentais reduzem a probabilidade, no futuro, de envolvimento dessas crianças com drogas e de participação em atividades criminosas.”
Fernando Veloso – Folha de S.Paulo, 14/11/2011
“O corrupto não se admite como tal. Esperto, age movido pela ambição de dinheiro. Não é propriamente um ladrão. Antes, trata-se de um requintado chantagista, desses de conversa frouxa, sorriso amável, salamaleques gentis. Anzol sem isca, peixe não belisca. […] O corrupto não sorri, agrada; não cumprimenta, estende a mão; não elogia, incensa; não possui valores, apenas saldo bancário. De tal modo se corrompe que nem mais percebe que é um corrupto. Julga-se um negocista bem-sucedido.
Melífluo, o corrupto é cheio de dedos, encosta-se nos honestos para se lhe aproveitar a sombra, trata os subalternos com uma dureza que o faz parecer o mais íntegro dos seres humanos. Enquanto os corruptos brasileiros não vão para a cadeia, ao menos nós, eleitores, ano que vem podemos impedi-los de serem eleitos para funções públicas.”
Frei Betto – Folha de S.Paulo, 15/11/2011
“Sofremos com um sentimento de iniquidade, uma vontade de mudança, uma tensão do espírito crítico.”
Contardo Calligaris – Folha de S.Paulo, 17/11/2011
“Os diagnósticos da ONU já nos mostram consumindo mais de 30% além da capacidade de reposição da biosfera terrestre; se tivermos de aumentar a produção de alimentos em 70% nas próximas décadas para atender à população crescente e à redução da pobreza, agravaremos a situação, pois a ‘pegada ecológica’ (área necessária para atender às necessidades de um ser humano) também já está mais de 30% além da disponibilidade – e seu crescimento significará mais degradação do solo, mais desertificação, mais crise da água, mais perda da biodiversidade, etc., etc. Sem falar em agravamento das mudanças climáticas. Mas como se fará se 1,44 bilhão de pessoas no mundo ainda não dispõem de energia elétrica e em sua maior parte terão de ser abastecidas com mais queima de carvão e petróleo, principalmente na China e na Índia, como adverte a Agência Internacional de Energia? E como tirar do âmbito da fome crônica quase 1 bilhão de pessoas? Outros padrões de consumo terão de ser observados. Nossos modos de viver terão de ser repensados.”
Washington Novaes – O Estado de S. Paulo, 18/11/2011
“A dissonância cognitiva, segundo o qual a mente procura sempre harmonizar suas cognições, isto é, pensamentos, sensações e memórias. Quando elas estão em conflito e percebemos isso, diz-se que estão em dissonância. E o problema é que essas tais dissonâncias cognitivas são uma verdadeira tortura neuronal. Para evitar a dor da contradição, o cérebro simplesmente trapaceia. A fim de reconciliar as cognições, ele se utiliza do que estiver à mão. Valem truques bobos, como simplesmente fingir que não viu. Não é um acaso que um dos mais arraigados hábitos de políticos seja responder só o que lhes interessa, ignorando as perguntas difíceis. Quando isso não é suficiente, linhas de defesa mais complexas são acionadas. Memórias podem ser suprimidas e alteradas. Cognições harmonizadoras podem ser criadas. O detalhe é que a pessoa quer tanto acreditar na versão que lhe é mais favorável que, muitas vezes, não distingue suas próprias fabulações da mais dura realidade. Perde até mesmo a noção de quão esfarrapadas parecem suas desculpas a observadores que não estão em dissonância.”
Hélio Schwartsman – Folha de S.Paulo, 18/11/2011
“A liberdade de expressão incomoda, e sempre houve tentativas de cercear sua atividade. […] Todas as vezes em que a sociedade optou pela repressão, escreveu páginas trágicas. […] A questão da liberdade do humor é séria. Não se pode levar a sério o que é mero humor, produzido num contexto de humor, com a intenção apenas de fazer rir.”
Eduardo Muylaert – Folha de S.Paulo, 18/11/2011
“A dificuldade que temos é a mesma de sempre: grupos religiosos que fazem da homofobia sua plataforma eleitoral, pessoas que confundem o combate aos atos de violência contra homossexuais com o apoio à união estável ou ao casamento e senadores nada interessados em se expor por um assunto cada vez mais radicalizado e mal compreendido por uma parte do eleitorado. A consequência desse apequenamento e conservadorismo dos parlamentares tem sido o aumento de crimes homofóbicos no Brasil e a judicialização de uma responsabilidade que é do Congresso.”
Marta Suplicy – Folha de S.Paulo, 19/11/2011
“Construir esse equilíbrio indispensável para o futuro da vida em todos os níveis é a grande tarefa que se apresenta à inteligência humana. Nossa ação hoje é o plantio que nossos netos e bisnetos colherão. Novas formas de organização social, empresarial e política precisam ser analisadas e criadas, numa corrida contra o tempo para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. O desafio é mudar e reconfigurar os modelos de produção e consumo.”
Roberto Rodrigues – Folha de S.Paulo, 19/11/2011
“Nós temos o dever de impedir o crime continuado que a indústria do fumo pratica impunemente contra as crianças brasileiras. Fumar não pode ser encarado como um simples hábito adquirido na puberdade. Hábito é escovar os dentes antes de dormir ou colocar a carteira no mesmo bolso. O cigarro deve ser tratado como o que de fato é: um dispositivo para administrar nicotina, a droga que provoca a mais torturante das dependências químicas conhecidas pelo homem.”
Drauzio Varella – Folha de S.Paulo, 19/11/2011
45ª semana de 2011
0“De vez em quando é bom parar e refletir sobre coisas que pensamos ser triviais. Com frequência, descobrimos que o que tomamos como simples é bem mais complicado do que parece.”
Marcelo Gleiser – Folha de S.Paulo, 06/11/2011
“Aumentamos o número de crianças e adolescentes na escola, sim. Os anos de escolaridade também. Falta muito. Mas já descobrimos que sete anos de escola no Brasil não ensinam o mesmo que na Argentina ou no Chile. Não garantem que a criança aprenda a ler e a escrever direito ou a fazer contas simples de matemática.”
Ruth de Aquino – Revista Época, 07/11/2011
“Antigamente, oito anos de escolaridade bastavam. Mas, na sociedade do conhecimento, você precisa de 11 anos para ter alguma chance. Até 2006, a exigência de ensino fundamental e médio no mercado de trabalho empatava. Depois, a exigência de empresas pelo ensino médio triplicou. O país coloca 97% das crianças no ensino fundamental, mas só 50% dos que têm de 15 a 17 anos estão no ensino médio. E não têm bom desempenho. Só metade deles termina. Vai ser uma geração perdida – e o apagão de mão de obra vai piorar.”
Wanda Engel, educadora – Revista Época, 07/11/2011
“O cérebro dos pequenos se adapta às técnicas e às tecnologias disponíveis. Nada tem a ver com aumento de capacidade intelectual. Certamente o ser humano é tão esperto ou modorrento quanto o foi no ano 1000 e não tem lógica achar os alunos de hoje mais capazes. […] Alunos têm aprendido a linguagem escrita em dois mundos paralelamente. Começam a brincar com o teclado, que segue um raciocínio de QWERT (do teclado) e não de ABCDE. Aprendem a linguagem com o dedinho estendido, em vez de curvá-lo em torno de um lápis. Mas o que aconteceria se uma criança de quatro anos aprendesse a ler e escrever apenas digitalmente, para, depois, reforçar esse conhecimento com caligrafia manual? Não há estudo algum no mundo sobre isso, o que é curioso.
Há experiências de aprendizado paralelo digital-manual, mas ninguém sabe que sinapses se formariam, durante essa fase indelével dos circuitos mentais, em termos de cognição. Será que a forma de perceber o mundo seria alterada se a alfabetização inicial fosse feita apenas com estímulos digitais? É possível que esse processo desemboque em uma maneira diferente de apreender sequências. O digital estimula mais cedo e se veste de moderno, mas isso é progresso? Ou apenas atraso no lúdico?”
Ricardo Semler – Folha de S.Paulo, 07/11/2011
“Todos sabemos que a educação brasileira tem problemas sérios de qualidade e acesso. Sabemos também que têm havido melhoras importantes desde a década de 90.
A dúvida é se essas melhoras caracterizam um avanço contínuo que, em poucos anos, nos colocará no mesmo nível dos países mais desenvolvidos ou se estamos diante de um impasse. Se há um ‘teto de vidro’ que temos dificuldade em enxergar, mas que nos impede de avançar com a velocidade e a qualidade que precisamos, fazendo uso adequado dos recursos disponíveis. […] O país precisa começar a aprender, em vez de continuar tentando fazer sempre mais do mesmo de sempre, que é o que tem sido a prática dominante até agora.”
Simon Schwartzman – Folha de S.Paulo, 07/11/2011
“- O que leva alguém a vazar informações do exame fundamental para milhões de jovens? -Por que espancar o diferente faz alguém se sentir melhor ou mais aliviado?
-Por que dinheiro ou status social fazem as pessoas se sentirem inatingíveis? -Até que ponto penso no outro quando assumo riscos? -Por que tão pouca gente “paga” por seus erros? De um lado, muita gente sai por aí achando que pode fazer o que der na telha.
Bater no outro, guiar sob efeito de bebida, se considerar acima de tudo e de todos, não enxergar os riscos e olhar apenas para o próprio umbigo são alguns dos sentimentos que existem por trás de uma sociedade que anda pra lá de individualista, mas segue imatura, incapaz de pesar seus atos. […] Danem-se os outros! Eu faço o que quero e não estou nem aí para quem paga essa conta. E aí? Seguimos de braços cruzados?”
Jairo Bouer – Folha de S.Paulo, 07/11/2011
“Um fenômeno que ocorre na internet: vídeos que exibem crianças em situações diversas, feitos e postados por seus pais, se transformam em fenômenos de audiência.
Um dos últimos mostra a reação de uma garotinha quando seus pais dão a ela uma surpresa de aniversário: uma viagem à Disney. O que deveria ser um acontecimento íntimo entre pais e filha, olho no olho, com afeto e vínculo, ganhou a intermediação de uma câmera, já com o intuito de exibir ao mundo a reação da criança. Um espetáculo.”
Rosely Sayão – Folha de S.Paulo, 08/11/2011
“Uma crise psicológica significa aumento insuportável do sofrimento psíquico devido à desestruturação de nossas categorias de ação e de orientação do desejo.
O sociólogo Alain Ehrenberg havia cunhado uma articulação consistente entre a atual epidemia de depressão e um certo ‘cansaço de ser si mesmo’. Por sua vez, boa parte dos transtornos psíquicos mais comuns (como os transtornos de personalidade narcísica e de personalidade borderline) são, na verdade, as marcas da impossibilidade dos limites da personalidade individual darem conta de nossas expectativas de experiência. É possível que, longe de serem meros desvios patológicos, estes sejam alguns exemplos de uma crise em nossos modelos de conduta que crescerá cada vez mais.”
Vladimir Safatle – Folha de S.Paulo, 08/11/2011
“O mundo está dividido entre os milhões abaixo da linha da miséria, que não têm nada, e os que têm. Mas todos sonham com abundância. Falo dos que têm, mas isso inclui os que sonham em ter o mínimo e, depois, bastante. […] O vício da acumulação pode ser visto também entre pessoas de estilo e recursos mais modestos. […] Vivendo neste mundo em que os bens mais caros são o silêncio e o espaço, não é fácil arrumar lugar para tudo. E aí caímos num terrível círculo vicioso.”
Anna Veronica Mautner – Folha de S.Paulo, 08/11/2011
“A maturação das estruturas ocorre de trás para a frente, de modo que a última região a “ficar pronta” é o córtex pré-frontal, área responsável por planejar o futuro, tomar decisões complexas e controlar a impulsividade, entre outras funções essenciais para a vida em sociedade. O pré-frontal não amadurece antes da terceira década de vida, lá pelos 25 anos. Isso significa que jovens podem se parecer e até falar como adultos, mas não agem como eles. […] Será que, quanto mais aprendemos sobre o cérebro, menos espaço sobra para a responsabilidade individual? Há neurocientistas, como David Eagleman, que afirmam que avanços nessa área exigirão uma revolução no Direito.”
Hélio Schwartsman – Folha de S.Paulo, 09/11/2011
“A insensatez e o corporativismo jogaram a imagem do Judiciário no balcão da defesa de causas perdidas. Não se pode criar um critério para decidir o que engrandece ou apequena a magistratura. Pode-se, contudo, seguir a recomendação subjetiva do juiz Potter Stewart, da Corte Suprema americana, tratando de outra agenda: “Eu não sei definir pornografia, mas reconheço-a quando a vejo”
Elio Gaspari – Folha de S.Paulo, 09/11/2011
“Israel não é um país. É uma discussão calorosa de 8 milhões de primeiros-ministros.”
Amós Oz – Folha de S.Paulo, 10/11/2011
“Os dez anos mais quentes da história da Terra foram de 1998 para cá. O aumento médio da temperatura tem sido de 0,2 grau por década. No extremo norte do planeta, a elevação é maior (3 graus) por causa do derretimento de gelos polares. O nível das águas oceânicas tem aumentado 2,5 milímetros por ano (1992-2011). A concentração de CO tem deixado a água mais ácida – o que pode afetar biodiversidade, a pesca, o turismo. Outra questão séria está na redução de geleiras nas montanhas, já que um sexto da população mundial depende da água que delas escorre. E que se vai fazer, lembrando que 1,44 bilhão de pessoas ainda não contam com energia elétrica e o suprimento dependerá (principalmente na Índia e na China) da queima de petróleo e carvão? As energias renováveis ainda são apenas 13% do total, apesar do investimento de US$ 211 bilhões no ano passado.”
Washington Novaes – O Estado de S. Paulo, 11/11/2011
44ª semana de 2011
0“A desconfiança em relação à inovações é uma constante humana. Sempre recebemos as novas tecnologias com um misto de esperança e receio. Há 2.400 anos, o pensador grego Sócrates temia que a escrita acabasse coma memória das pessoas. Ele previu que a possibilidade de registrar pensamentos por meio de símbolos sobre uma tábua de cera levaria a um enfraquecimento da mente e raciocínio. O surgimento da imprensa de Gutemberg, na Europa da Idade Moderna, provocou uma reação parecida em alguns elitistas. Eles achavam que a difusão maciça de livros provocaria a banalização da cultura. Aconteceu o oposto. Em retrospecto, pode-se dizer que a difusão de conhecimento é invariavelmente um fenômeno positivo. Com a internet, é evidente que a humanidade ganhou nesse quesito. A dúvida diz respeito àquilo que perdemos. Algo que um dia poderá parecer tão ridículo quanto as palavras de Sócrates sobre a escrita – ou tão essencial quanto o resto de suas ideias.”
Alberto Cairo, Peter Moon e Letícia Sorg – Revista Época, 31/10/2011
“Agora que a população mundial ultrapassa 7 bilhões de pessoas, os alarmes estão começando a disparar. Crescentes protestos cidadãos são a expressão popular de um fato evidente: a incerteza econômica cada vez maior, a volatilidade dos mercados e excessivas desigualdades chegaram a um ponto crítico. […] Com sabedoria e visão, podemos aproveitar este momento para lançar os alicerces de uma prosperidade econômica saudável, inclusiva e responsável com o meio ambiente, e que chegue a todos. Se agirmos todos juntos -agora- podemos nos afastar do precipício e melhorar a situação para as gerações futuras. Não nos enganemos: essas são decisões difíceis e não podem ser adiadas. O tempo está passando.”
Ban Ki-Moon, secretário-geral da ONU – Folha de S.Paulo, 02/11/2011
“Para o psicanalista, o caminho da verdade é o que permite decifrar o inconsciente, ou seja, o da escuta.”
Betty Milan, psicanalista – Revista Veja, 02/11/2011
“Nunca tive muita tolerância com processos e burocracia. Meu desejo natural de seguir em frente, depressa, é o que alimenta meu espírito empreendedor. A liberdade de agir com presteza e de pôr em prática uma ideia baseada nos instintos teve um efeito fantástico sobre a companhia, sobretudo em seus primeiros anos de vida. Contudo, a impaciência tem também um lado sombrio e, no decorrer dos anos, minha intolerância com os processos por vezes se tornou um ônus, especialmente quando o ímpeto de seguir adiante passava por cima da necessidade de uma preparação cautelosa.”
Howard Schultz, fundador e presidente da Starbucks, Época Negócios – novembro de 2011
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