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Pai Nosso

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Pai nosso, ensina-nos a ser família.

Por ser Pai e ser nosso

não posso

requerer exclusividade

assumir-me como única

antes, aprendendo com o Pai e sua bondade

preciso aprender a repartir minha túnica

A diferença deve ser celebrada

A família maior festeja a diversidade

que o Pai previu e criou

com liberdade, e amou

O Pai é nosso

então, melhor será não me fechar

sair ao encontro e ouvir

perceber a riqueza disfarçada na diferença

e cultivar, em Cristo, a crença.

Mineiros, minérios, minas

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            “Os 33”, assim passou a ser conhecido o grupo de homens que trabalhavam na mina San José, em Copiapó, norte do Chile (região do deserto de Atacama), onde ficaram soterrados por 70 dias.

            O resgate foi bem-sucedido, se tornou um espetáculo midiático, o alpinismo político tirou proveito, e documentários, filmes e livros estão sendo preparados.

            Uma frase, dentre as muitas, me chamou mais a atenção. Veio por parte do mineiro Mario Sepulveda, logo que saiu, ele testemunhou: “Estive com Deus e com o diabo. Os dois brigaram por mim e Deus venceu”.

            Biblicamente, talvez, possa nos remeter à história registrada no livro de Jó. De certa forma, também ali havia uma disputa, uma “grande aposta” como preferem chamar alguns teólogos, também entre Deus e o diabo. Mas, por agora, não vou me reter a esse episódio tão rico da Bíblia.

            Ao ouvir essa frase de Sepulveda me pus a pensar na vitória lá debaixo da terra. Também emocionada e agradecida a Deus por esse milagre, me juntei em festa. Apreciar a perseverança, os esforços, os recursos tecnológicos, a ajuda e esperança de tantos, faz considerar melhor a história carregada de expectativas e lições.

            Lá embaixo a guerra já foi vencida, mas outra aqui se apresenta. Uma outra guerra que é cotidiana, que também exige perseverança, disciplina, paciência, esperança, atenção e fé.

Aqui em cima, todo dia, há uma disputa. O problema é que nem sempre estamos conscientes dela.

             Não é toda hora que estamos atentos e dedicamos tempo considerando com maior cuidado o que cada decisão pode acarretar. Nem sempre as avaliações são bem feitas, as reflexões, no geral, tendem a ser mais superficiais.

             Nossa atenção se volta, na maior parte do tempo, para o que é visível, e ainda assim, dispomos de uma atenção temporária. Pressa e pressão nos empurram para o próximo item, para o próximo estímulo, a continuidade pede passagem, preferencialmente com velocidade.

             Os detalhes nos escapam, mas podem ser cruciais. Contudo, quem tem tempo para observar isso?

              Lá embaixo, conheceu-se uma outra realidade. Embora a escuridão os cercasse, foram iluminados em vários aspectos, refletiram sobre alguns valores, tiveram tempo para acariciar lembranças, ponderar posturas, conhecer mais dos instintos e da natureza humana. Apesar de tantos limites e escassez sobrava tempo, e assim, puderem, quem sabe, ponderar mais sobre outros limites até então disfarçados. Talvez, tenham tido momentos de gritos desesperados, uma agonia que se expressou em barulhos e movimentos diversos, entretanto, é possível que tenham encontrado longos períodos de silêncio, momentos onde puderem ouvir e perceber que uma outra guerra acontecia. Portanto, quase num paradoxo metafísico, em meio à escuridão viram melhor a vida; entre a escassez, abundou reflexões; entre dores, descobriram e valorizam mais sabores; entre um tempo quase “perdido”, encontraram memórias esquecidas, talvez até alguns, enquanto morriam para algumas coisas, nasciam para outras, enfim, precisaram de um silêncio profundo, corroborado pelas circunstâncias forçadas, a fim de ouviram melhor.

               Agora, de volta à superfície, a superficialidade ganhará? Esquecerão com o tempo a riqueza maior que o ouro, aquela que ladrões não podem cavar e levar, que puderam ou poderiam ali adquirir?

               A boa notícia de que eles poderiam ser resgatados, já se concretizou. Mas se perderão agora? E a má notícia é que a guerra que Sepulveda viu não terminou lá embaixo. Continua aqui em cima.

               Todos nós precisamos ser lembrados que a guerra continua, companheiro! Vamos nos distrair, tentar silenciá-la, ou, ignorá-la? Para o que ou quem dizemos “sim” e “não”?

Que dias são esses?

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O que dizer desses dias que vivemos? Por que optamos pelas buscas que fazemos? Por que o investimento de nosso tempo se perde tanto em coisas não perenes, nem sempre sublimes, e em boa parte, de valor questionável e favorável a arrependimentos futuros?

Será que não poderíamos pensar numa ética do tempo? “Tempo é dinheiro” tornou-se um slogan que norteia a vida de muitos. E o tempo que se gasta atrás de dinheiro é escandaloso!

A ética do reformador Martinho Lutero dizia: “Se nossos bens não estão disponíveis à comunidade, são bens roubados”. Mas, hoje, já pouco se fala em ética e em reforma além do discurso.

Nosso tempo nos mostra que é comum cada um viver para si, e essa vida para si é uma luta para ter, acumular e convencer.

A maioria parte do pressuposto que “mais é bom”. Então, primeiro você busca ter, e uma vez que isso não satisfaz, passada a euforia da conquista, procura-se acumular. E muito do que leva as pessoas a tanto desejarem ter cada vez mais e acumular sempre é a esperança de convencer o outro que você vale por isso que você tem, acumulou, ou ao menos, aparenta ser a partir do que conquistou.

O sociólogo francês, Gilles Lipovetsky, afirma que “todas as esferas de vida estão subjugadas à lógica do mercado”. E ainda comenta que o acesso ao conforto não aproximou a sociedade da felicidade. Venceu o estresse, a angústia e o medo, que são tão abundantes em nós que a sensação do vazio se faz maior. E nem sempre percebemos com o que temos tentado inutilmente preencher tais espaços.

O tédio e o vício pela novidade, a apatia e a adrenalina esticada são dois pesos de uma mesma balança. E a rotina tenta alguma estabilidade em vão.

O que fiz do meu dia? O que faço com o que tenho? O que faço com a vida que temporariamente me habita?

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