“Desde cedo, os pais devem aproveitar qualquer oportunidade, como uma briga entre irmãos, para conversar sobre sentimentos. Isso ajuda a criar crianças, especialmente meninos, mais sensíveis.”

Amanda Polato, Revista Época – 17/06/2013

 

“A criança se desespera com a ideia de que vai morrer – só que ela ainda não sabe quando. E, na atualidade, em que o mundo adulto foi devassado para as crianças, elas sabem que não são apenas os velhos que morrem: criança também morre. Não é a idade, a saúde ou qualquer outra coisa que possibilita a morte. É o fato de estar vivo. Mas é a partir desse momento que a criança cresce e passa a pensar. Por isso, as crianças não devem ser poupadas do fato, mas acolhidas em seu sofrimento, acompanhadas em sua angústia, apoiadas em seu crescimento. É: testemunhar o processo de humanização dos filhos não é simples. Exige força e coragem.”

Rosely Sayão, Folha de S.Paulo – 18/06/2013

 

“O Brasil não é um país de sair à rua, salvo em Mundiais. Que saia agora, em massa, ainda por cima para protestar também contra as obras da Copa, é de atordoar qualquer um.”

Clóvis Rossi, Folha de S.Paulo – 18/06/2013

 

“Em uma cidade onde o metrô é alvo de acusações de corrupção que pararam até em tribunais suíços e onde a passagem de ônibus é uma das mais caras do mundo, manifestantes eram, até a semana passada, tratados ou como jovens com ideias delirantes ou como simples vândalos que mereciam uma Polícia Militar que age como manada enfurecida de porcos. Vários deleitaram-se em ridicularizar a proposta de tarifa zero. No entanto, a ideia original não nasceu da cabeça de ‘grupelhos protorrevolucionários’. Ela foi resultado de grupos de trabalho da própria Prefeitura de São Paulo, quando comandada pelo mesmo partido que agora está no poder. […] Apenas nos EUA, ao menos 35 cidades, todas com mais de 200 mil habitantes, adotaram o transporte totalmente subsidiado. Da mesma forma, Hasselt, na Bélgica, e Tallinn, na Estônia. Mas, em vez de discussão concreta sobre o tema, a população de São Paulo só ouviu, até agora, ironias contra os manifestantes.”

Vladimir Safatle, Folha de S.Paulo – 18/06/2013

 

“Precisamos, antes de mais nada, desfazer alguns equívocos sobre a democracia. Ela até que funciona, mas não pelas virtudes que normalmente lhe atribuímos. Para começar, é preciso esquecer o mito do eleitor racional que compara propostas, as analisa e toma a melhor decisão. Se há um momento em que o cidadão tende a ser especialmente emocional, é o instante do voto. A coisa só dá certo porque, em condições ordinárias, as posições mais extremadas tendem a anular-se, empurrando a escolha para grupos menos radicais. A democracia também não tem o dom de eliminar os conflitos presentes na sociedade. O que ela procura fazer é institucionalizá-los e discipliná-los, para que se resolvam da forma menos violenta possível. Daí que é impossível e indesejável eliminar completamente o caráter meio baderneiro de protestos e atos públicos. Eu não diria que o fato de as ações de movimentos como ‘Occupy’ e ‘Indignados’ não terem se materializado em propostas concretas signifique uma derrota. Ao contrário, mesmo com sua pauta imprecisa e vagamente metafísica, eles contribuíram para modificar as percepções de governantes e da própria sociedade.”

Hélio Schwartsman, Folha de S.Paulo – 18/06/2013

 

“É óbvio que R$ 0,20 a mais nas passagens em São Paulo não seria suficiente para botar o povo nas ruas do país, em multidões cada vez maiores, com imagens impressionantes. Esse foi apenas o detonador, o gatilho de manifestações de grupos distintos e de motivações difusas. […] A fantasia de que o país está um paraíso, uma maravilha, acabou. A verdade dói, mas ajuda a melhorar.”

Eliane Cantanhêde, Folha de S.Paulo – 18/06/2013

 

“A cidade de São Paulo é vítima de uma concepção urbanística inapropriada às necessidades de sua população. Segue um modelo composto por um núcleo rodeado por áreas densamente povoadas. Essa concepção espacial induz à construção de custosas vias arteriais de integração que, contraditoriamente, se transformaram nos principais focos de congestionamento. É necessário rever o modelo viário para atenuar os impactos negativos dos congestionamentos, ao menos enquanto se aguarda a maturação dos investimentos de longo prazo em transporte coletivo de massa. É preciso abandonar a visão que privilegia os megaprojetos como construção de vistosas pontes, gigantescos viadutos, vias expressas e túneis que apenas movem os pontos de engarrafamentos para alguns metros adiante, quando não se transformam, eles mesmos, em novos focos de paralisação. É urgente revascularizar o trânsito por meio de intervenções, em geral pequenas, capazes de criar vias alternativas de circulação em áreas de congestionamento.”

Marcos Cintra, Folha de S.Paulo – 18/06/2013

 

 

“Ora, quem há de negar que a qualidade de vida nos centros urbanos tangencia o desespero? A imobilidade urbana, a vertiginosa e sufocante verticalização, a baixa qualidade da saúde, o descaso com a educação, as enchentes, o custo de vida… E, é claro, a insegurança: já esquecemos que o noticiário dos últimos meses veio recheado de casos os mais escabrosos, os quais o governador teima em transformar em mera questão de menoridade penal? […] Voltado quase que exclusivamente à manutenção mecânica de espaços de poder, o sistema político nacional deixou de olhar e sentir a pulsação social, o clima das ruas; a nova sociedade. E é hoje incapaz de compreender, canalizar demandas e representar os cidadãos. Sim, ainda que menos comuns e mais difusos que no passado, há cidades e cidadãos que reagem ao mal-estar que suas autoridades não percebem. Será sempre questão de tempo para que uma fagulha ilumine perigosamente o paiol. Coisa pouca, vinte centavos bastam!”

Carlo Melo, O Estado de S.Paulo – 18/06/2013

 

“Desqualificar os protestos dos jovens em São Paulo e outras capitais ‘como se fossem ação de baderneiros’ constitui, na avaliação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ‘um grave erro’. Para ele, ‘dizer que (essas manifestações) são violentas é parcial e não resolve’. Na análise FHC aconselhou: ‘Justificar a repressão é inútil: não encontra apoio no sentimento da sociedade. Por isso, ‘é melhor entendê-las’, perceber que essas manifestações ‘decorrem da carestia, da má qualidade dos serviços públicos, das injustiças, da corrupção’. Ele recorreu a um dos mais respeitados estudiosos dos problemas contemporâneos, o espanhol Manuel Castells. ‘Reações em cadeia, utilizando as atuais tecnologias de comunicação, constituem marca registrada das sociedades contemporâneas, como meu velho amigo e colega Manuel Castells mostrou há tantos anos.’ A saída é entender, não reprimir. ‘Quem tem responsabilidade política deve agir, entendendo o porquê desses acontecimentos.’ Esse entendimento pressupõe buscar a razão da insatisfação geral com os governos. As manifestações ‘decorrem de um sentimento difuso de descontentamento e do desejo de um tratamento digno para as pessoas’, concluiu.”

Gabriel Mazano, O Estado de S.Paulo – 18/06/2013

 

“Utilizando redes sociais, os jovens concentram suas insatisfações num objeto de protesto, saem às ruas e passam a se confrontar com as autoridades locais. E o movimento se repete e se espalha. Entre nós espanta a rapidez com que se tem multiplicado pelo País afora. […] Os jovens simplesmente estão dizendo que recebem um serviço inadequado e que não encontram canais políticos para exprimir suas insatisfações. Trata-se de uma crise de representação. Se eles estão subordinados ao ritual das eleições periódicas, estas pouco dizem a respeito de sua vida cotidiana. Os manifestantes são vozes sem voto efetivo. […] Os jovens foram para as ruas vociferando contra o beco no qual foram empurrados. Os jovens já têm demonstrado suas opções por outras formas de vida, o que demanda novas formas de politização. […] E os jovens se defrontam de imediato com a farsa em que se transformou a educação nacional, obviamente com raras e nobilíssimas exceções. Diante do problema mais urgente, pleiteiam mais verbas sem se dar conta da podridão do sistema. Mais do que verbas, é urgente uma completa revisão das instituições educativas vigentes. A começar pela reeducação dos educadores, que, na maioria das vezes, ignoram o que estão a ensinar.”

José Arthur Giannotti, O Estado de S.Paulo – 19/06/2013

 

“Sei que a ideia de complexidade é vista como ‘frescura’ e que macho mesmo é simplista, radical e totalizante. Mas, no mundo atual, a inovação está no parcial, no pensamento indutivo, em descobrir o Mal entranhado em aparências de Bem.”

Arnaldo Jabor, O Estado de S.Paulo – 19/06/2013

 

“Seria possível mudar o mundo, mudando por pouco que seja os princípios e valores de cada um de nós? Ou é um velho ideal ultrapassado, e juvenil? Talvez haja um modo de transformar nossa louca futilidade e desvairada busca de poder. […] A gente podia mudar: se cada um mudasse um pouquinho, exigisse muito mais dos líderes em todos os setores, e aspirasse a algo muito melhor. […] Amadurecer não precisa ser renunciar a todas as nossas crenças.”

Lya Luft, Revista Veja – 19/06/2013

 

“Mesmo quem tem emprego e renda é torturado no cotidiano por um país em que o trânsito é infernal, a violência é aterradora, há eternas carências graves na educação e na saúde, os serviços públicos são precários, para não usar uma palavra feia. Na verdade, deveria haver espanto não com os protestos de agora mas com o fato de que nunca tenha havido manifestações de massa contra esse massacre cotidiano (as que ocorreram foram por motivos institucionais).”

Clóvis Rossi, Folha de S.Paulo – 20/06/2013

 

“Os R$ 0,20 de aumento do transporte público foi o gatilho nesse processo de deterioração nas relações entre representantes e representados. Mais uma dentre tantas outras demandas sociais feridas pelo poder público ao longo de anos. Até aí, nenhuma novidade. Mas foi o suficiente para fertilizar um campo minado. Ao deixar o virtual para protestar no mundo real, da universidade às ruas, provocou a identificação imediata dos mais diferentes estratos sociais. A imagem da repressão policial contra os jovens escolarizados despertou o apoio tanto de setores conservadores da classe média, que sofrem de insegurança crônica quanto, ainda que timidamente, quanto dos moradores da periferia, já familiarizados com a violência da instituição. Nesse momento o apoio aos protestos atinge patamar semelhante ao do início da campanha das Diretas, acima de 70%, conferindo-lhe legitimidade. […] Esses episódios alertam o poder público para a urgência da criação de canais de participação adequados aos contrastes da cidade. É preciso ouvir a população, antes que ela grite.”

Mauro Paulino, Folha de S.Paulo – 20/06/2013

 

“Na principal capital do país, incendeiam-se dentistas, mata-se à toa. Na cidade maravilhosa, os estupros são uma rotina macabra. Enquanto isso, os juros voltam a subir, impostos, tarifas e preços de alimentos estão de amargar. E os serviços continuam péssimos. É por essas e outras que a irritação popular explode sem líderes, partidos, organicidade. Graças à internet e à exaustão pelo que está aí.”

Eliane Cantanhêde, Folha de S.Paulo – 20/06/2013

 

“Não haverá mais política como conhecemos até agora. Daqui para a frente ela irá em direção aos extremos. Uma sociedade, quando passa por mobilizações populares como as que vimos nas últimas semanas, fica para sempre marcada. Nesse sentido, devemos nos preparar para um embate de outra natureza. Quando a política popular ganha as ruas em uma reação em cadeia, todo o espectro de demandas sobe à cena. Uma contradição de exigências que pode dar a impressão de estarmos em um buraco negro da política. No entanto, não há que temê-la, pois tal contradição é a primeira manifestação de um novo conflito de ideias que servirá de eixo de combate. Por isso, a política brasileira não se dará mais no interior de partidos que há muito perderam sua função de caixa de ressonância dos embates sociais. Ela será decidida nas ruas. […] Agora é hora de compreender que o verdadeiro embate começou e será longo. Agora não é hora de medo. Agora é hora de luta.”

Vladimir Safatle, Folha de S.Paulo – 22/06/2013

 

“É uma espécie de grito da sociedade, rebelada contra as condições de vida nas cidades. Não se trata apenas de transporte, mas, também, de violência, educação, saúde, dívidas a pagar… E uma juventude que não consegue se empregar e não enxerga um futuro.”

Silvio Caccia Bava, O Estado de S.Paulo – 22/06/2013