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09ª semana de 2013
0“Cibercrime é um braço em expansão do crime organizado e precisa ser combatido para garantir a qualidade de vida on-line.”
Luli Radfahrer, “Folha de S.Paulo” – 25/02/2013
“Parece que as coisas não são verdadeiramente importantes até que se percam. Uma vez perdidas, passam a ser recordadas, mitificadas, idealizadas. Ou o contrário, odiadas. Enfim, quando algo se perde, começa a ser possível. Isso é tortuoso, complicado, obscuro. É difícil se relacionar com as coisas perdidas. Mais complicado ainda estabelecer uma relação justa com elas. Que não seja nem de nostalgia e nem de ódio. Tentei ver se era possível ter uma outra relação com o passado – que não fosse de idealização nem de rancor. E veja: uma relação justa não é, necessariamente, equilibrada. Pode ser passional, descontrolada. Podemos ter conexões fortes com o passado, mas não de escravidão.”
Alan Pauls, “O Estado de S.Paulo” – 25/02/2013
“Os reclames da igreja no nosso tempo exigem resposta às lições dramáticas do terrorismo, à coexistência das diferenças, à humildade da conversão e à afirmação não-retórica do comunitarismo. A renúncia serve para superar as rotinas da continuidade da igreja-instituição e implementar uma nova face, de igreja-serviço, próxima aos fiéis.”
Candido Mendes, “Folha de S.Paulo” – 26/02/2013
“Pretenciosa e inútil ingenuidade? Não, se consideramos a alternativa: não fazer nada, deixar como está, evitar abrir esse canal de participação política novo para os que anseiam por algo diferente. […] Partido: concentração. Rede: dispersão. Nossos instrumentos para virar pelo avesso o avesso que vivemos.”
Alfredo Sirkis, “Folha de S.Paulo” – 27/02/2013
“Estou ciente dessa preferência, mas receio que ela não tenha o fundamento alegado. Ao contrário do que dizem alguns militantes, simplesmente não é verdade que “-ismo” seja um sufixo que denota patologia. […] Compreendo que os gays procurem levantar bandeiras, inclusive linguísticas, para mobilizar as pessoas. Em nome da cortesia pública, eu me disporia a adotar a forma “homossexualidade”, desde que ela fosse defendida como uma simples predileção. Mas, enquanto tentarem justificar essa opção com base em delírios etimológicos, sinto-me no dever de continuar usando a variante em “-ismo”. Alguém, afinal, precisa zelar para que preconceitos não invadam e conspurquem o universo de sufixos, prefixos e infixos. A batalha pode ser inglória, mas a causa é justa.”
Hélio Schwartsman, “Folha de S.Paulo” – 27/02/2013
“A França é um estado laico e, portanto, o único casamento válido perante a lei é o civil. Mas existem mulheres que vivem com outras mulheres e homens que vivem com outros homens, e alguns até adotam crianças e formam uma família. Mas, se um deles morre, o outro não tem direito a nada. É como se o estado estivesse punindo essas pessoas por fazerem aquilo que é condenado pela religião. Logo, não posso concordar com isso.”
Karl Lagerfeld, “Revista Veja”, 27/02/2013
“O poeta libanês Khalil Gibran, em um de seus melhores momentos, escreveu: ‘Teus filhos não são teus filhos. São filhos e filhas da vida. Não vieram para ti, vieram através de ti…’ Vieram através de ti… através. De acordo com o poeta, cada pai e mãe compõe a travessia do filho para a aventura do viver.”
Eugenio Mussak, “Revista Vida Simples” – fevereiro de 2013
“Só a indignação evita a depressão, impede que se pegue a chapéu e se deixar de sonhar.”
Miguel Reale Júnior, “O Estado de S.Paulo” – 02/03/2013
“A transmissão de bens materiais e valores imateriais entre a geração mais velha e a mais nova não acontece automaticamente e pode sofrer entraves. Para que a herança chegue a bom termo, é necessário que os mais velhos, imbuídos da consciência da finitude, cedam o centro do palco para os mais novos. Não é uma decisão fácil e alguns não conseguem concretizá-la. Outros, tomados pela ambivalência, o fazem pela metade ou de forma inadequada, criando inúmeras complicações.”
Sérgio Telles, “O Estado de S.Paulo” – 02/03/2013
“Encontrei uma mulher que amo, e as crianças expandiram meu mundo para muito além do que imaginava. Isso é muito gratificante, ainda que eu não consiga mais dormir. Ser pai de uma grande família amorosa é o ponto alto da minha vida.”
Brad Pitt, “Revista Alfa” – fevereiro de 2013
07ª semana de 2013
0“Eu me defino hoje como agnóstico militante. Não sou ateu, porque ser ateu e negar a existência de Deus é algo que também exige fé, de que você pode provar a inexistência de algo. Dito isso, vou deixar claro que não sou religioso de maneira nenhuma. Sou ambivalente: eu não sei se Deus existe e não estou preocupado com isso, porque acho que é impossível saber.”
Brian Schmidt, Prêmio Nobel de Física de 2011, “O Estado de S.Paulo” – 10/02/2013
“Escrever um poema, pintar um quadro, fazer um filme, uma peça de teatro, uma composição musical, enfim, fazer o que se conhece como obra de arte, sempre requer do autor o domínio de um ‘métier’, de uma linguagem própria a cada um desses gêneros artísticos, além, é claro, do talento, sem o qual aquelas outras condições não adiantam de nada. Pode ser que me engane, mas estou convencido de que a pessoa nasce poeta, ou pintor ou cozinheiro. Sem o domínio do ofício, ninguém vai adiante, mas o que torna aquele saber fazer uma obra de arte é o talento, que não se aprende no colégio. Mas o talento não está por sua vez desligado dos recursos técnicos que tornam possível a realização da obra.”
Ferreira Gullar, “Folha de S.Paulo” – 10/02/2013
“Joseph Ratzinger é um dos maiores teólogos vivos do cristianismo. Como papa Bento 16 fracassou. […] Bento 16 foi um duro crítico da ideia de que a igreja deva aceitar soluções modernas para problemas modernos. Nesse sentido, apesar de ter resistido bravamente, com a idade e a fraqueza que esta implica, acabou por ser um papa acuado pelas demandas modernas feitas à igreja e por uma incapacidade de pôr em marcha sua “infantaria”, que nunca aceitou plenamente seu perfil de intelectual alemão eurocêntrico. Sua ideia de igreja é a de um pequeno grupo coeso de crentes, fiéis ao magistério da igreja (conjunto de normas para condução moral da vida), distante das ‘modas moderninhas’.”
Luiz Felipe Pondé, “Folha de S.Paulo” – 12/02/2013
“Como intelectual, este papa sempre soube melhor se dirigir ao cérebro do que ao coração das pessoas. Várias vezes topei com frases de Bento 16 que eu mesmo, ateu de carteirinha, poderia subscrever. A primeira surpresa foi quando ele visitou o local de um antigo campo de concentração nazista. Em seu discurso, deixou no ar a pergunta memorável. Ficamos pensando, disse o papa, onde estava Deus quando tudo isso aconteceu. Era uma pergunta que nada tinha a ver com as habituais consolações, tão vazias, que a rotina religiosa costuma invocar nesse tipo de situação.”
Marcelo Coelho, “Folha de S.Paulo” – 13/02/2013
“Podemos levar a história a sério? Até que ponto devemos acreditar que os relatos históricos que lemos nos livros descrevem as coisas como se passaram? Em que grau podemos confiar nas explicações que nos são oferecidas? A história não é uma ciência no mesmo sentido em que o é a física ou até a economia. Ela não apenas é incapaz de nos dar um modelo por meio do qual possamos fazer previsões como ainda traz a incrível propriedade de tornar o próprio passado incerto.”
Hélio Schwartsman, “Folha de S.Paulo” – 13/02/2013
“Quem autoridades controlam nosso país, que deputados e senadores, que ministros? Serão todos altamente corretos, altamente experientes, competentes, conhecedores das atribuições e do alcance do seu cargo? Ou muitos são medíocres, sem noção do que fazem, amedrontados e de cabeça abaixada, sem saber direito o que fazem ali? Que fim levaram ética, responsabilidade, seriedade aqui entre nós? […] Nunca fomos perfeitos, mas já estivemos em melhor situação. Os males eram menos escrachados, nós, menos tolerantes, não esquecíamos tão depressa. Hoje temos de correr, comprar, consumir, nos endividar até o limite da loucura. E temos que nos divertir, ora essa!”
Lya Luft, “Revista Veja” – 13/02/2013
“Nesta vida todo mundo, querendo ou não, é pautado. Todos somos levados, obrigados, arrolados ou dirigidos a fazer muita coisa. Algumas, impossíveis, como não mentir ou ser pusilânime. Os planos para nossas vidas existem antes do nosso aparecimento no mundo. Antes do nosso nascimento, pai e mãe tinham expectativas fulminantes em relação às nossas vidas. Nossas pautas existenciais são os projetos e esquemas que figuram na nossa sociedade e cultura: instruções do tipo como comer, vestir-se, limpar-se e dormir – caminhos simbólicos e reais a serem necessária e precisamente percorridos como a escolha de certas profissões e valores religiosos e políticos; rituais de crise de vida ou de passagem celebrados em nossa honra ou para os outros, os quais temos de – querendo ou não – acompanhar. Do nascimento até a morte, seguimos esquemas precisos e implacáveis.”
Roberto DaMatta, “O Estado de S.Paulo” – 13/02/2013
06ª semana de 2013
0“O capitalismo, por sua vez, é o regime da exploração e da desigualdade, precisamente porque se funda no egoísmo e na busca do lucro máximo. Se deixarmos, ele suga a carótida da mãe. O grande problema é este: como estimular a iniciativa criadora de riqueza e, ao mesmo tempo, valer-se da riqueza criada para reduzir a desigualdade.”
Ferreira Gullar, “Folha de S.Paulo” – 03/02/2013
“Há indivíduos mais sujeitos a compulsão do que outros. Ambos podem estar expostos aos mesmos fatores. Mas a reação de uns vai ser diferente de outros.”
Marion Strecker, “Folha de S.Paulo” – 04/02/2013
“A ciência vive pressionando a ética: trata-se aqui da ampliação do poder de escolha informada. Aumentando os recursos técnicos da medicina pré-natal, aumenta-se proporcionalmente a possibilidade de se evitar determinados tipos de gravidez. O nome disso, segundo o filósofo americano Francis Fukuyama, é “design babies” (bebês de prancheta, na tradução brasileira): bebês ao portador, com grau máximo de saúde. […] O processo de ampliação de escolha informada implica, num prazo de tempo não muito preciso, a crescente artificialização da atividade reprodutiva humana. Isso é tão inevitável como a ampliação dos direitos civis, tais como voto das mulheres, casamentos gays, direitos da mulher sobre seu corpo, e afins.”
Luiz Felipe Pondé, “Folha de S.Paulo” – 04/02/2013
“As leis existem. Mas, por corrupção, ganância, descaso, ignorância e, principalmente, por falta de fiscalização e punição, crianças caem de rodas-gigantes defeituosas, grupos afundam em barcos superlotados, moradores de prédios antigos são soterrados, bujões, fogos de artifício e bueiros explodem. Ninguém vai preso, a culpa se dilui e a mídia esquece. Até a próxima ‘fatalidade anunciada’.”
Ruth Aquino, “Revista Época” – 04/02/2013
“Há semanas descobrimos, graças ao Censo Escolar de 2011, que 72,5% das escolas públicas brasileiras simplesmente não têm bibliotecas. Isto equivale a 113.269 escolas. Um descaso que não mudou com o tempo, já que, das 7.284 escolas construídas a partir de 2008, apenas 19,4% têm algo parecido com uma biblioteca. Mesmo São Paulo, o Estado mais rico da Federação, conseguiu ter 85% de suas escolas públicas nessa situação. Ou seja, um número pior do que a média nacional. Diante de resultados dessa magnitude, não é difícil entender a matriz dos graves problemas educacionais que atravessamos. Difícil é entender por que demoramos tanto para ter uma imagem dessa realidade. Ninguém precisa de mais um discurso óbvio sobre a importância da leitura e do contato efetivo com livros para a boa formação educacional.”
Vladimir Safatle, “Folha de S.Paulo” – 05/02/2013
“A ética não é a lei. A lei está escrita no bronze ou no papel, mas a ética está inscrita na consciência ou no coração – quando há coração… Por isso, ela não precisa de denúncias de jornais, nem de sermões, nem de demagogia, nem da polícia! A lei precisa da polícia, o moralismo religioso carece dos santarrões e as normas, de fiscais. A ética, porém, requer o senso de limites que obriga à mais dura das coragens: a de dizer não a si mesmo. […] Justiça social, honestidade, retidão de propósito são valores que formam parte da minha ideologia; são desígnios que acredito e quero para o Brasil. […] O ético tem dentro de si o sentido da suficiência moral. Ela ou ele sabem que em certas situações somente o sujeito pode dizer sim (ou não!) a si mesmo. Isso eu não faço, isso eu não aceito, nisso eu não entro. É simples assim”.
Roberto DaMatta, “O Estado de S.Paulo” – 06/02/2013
05ª semana de 2013
0“Ler foi a coisa mais importante que aprendi. Nada gera conformismo como o entretenimento barato. Podem dizer que a cultura se democratizou, que deixou de ser elitista, mas é um processo que gera conformismo.”
Vargas Llosa, “Folha de S.Paulo” – 28/01/2013
“As tragédias acontecem sempre: aviões caem, ‘titanics’ afundam, mas sempre há uma tragédia não percebida entre nós, melhor, uma série de erros não anunciados que acabam desembocando na catástrofe de Santa Maria. Uma das piores do mundo. Mais um horror talvez evitável. Mas o defeito principal do País talvez seja a displicência, irmã da eterna incompetência que nos aflige desde a colônia. São as tragédias em gestação. Os problemas só surgem quando não há mais solução. Vejam os jornais, onde as notícias são sobre coisas que não deram certo, erros de cálculo, obras inacabadas, preços superfaturados, uma lista diária de fracassos, do que poderia ter sido e não foi. Ou então a inocência eterna: ninguém sabe de nada, ninguém pecou, ninguém roubou nunca. […] O dia a dia é assolado pela mediocridade e falta de amor pelos empreendimentos realizados. Interessa sempre o lucro pelo menor gasto possível. […] Aos poucos, nos esqueceremos dessa desgraça a mais. Outras virão. Só nos resta dizer mais uma vez: “Que horror!” e continuar a vida, hoje em dia feita de pressa, medo e suspense, num país onde o óbvio nunca é feito: só as desnecessidades”
Arnaldo Jabor, “O Estado de S.Paulo” – 29/01/2013
“Após uma tragédia como a de Santa Maria, a vontade de agir é irrefreável. Nas próximas semanas, Estados e municípios atualizarão suas normas de segurança anti-incêndio e apertarão a fiscalização sobre todo tipo de estabelecimento. Trata-se, é claro, de um efeito transitório. Com o tempo, o ímpeto vigilante arrefece e as coisas voltam mais ou menos ao que eram antes. E não adianta muito maldizer a leniência das autoridades brasileiras. Ainda que em diferentes graus, o fenômeno é universal e tem origem nos mecanismos pelos quais percebemos o perigo. A pergunta é se devemos aceitar essa abordagem intuitiva ou se seria preferível buscar uma visão mais racional, recorrendo à análise de risco e a especialistas antes de agir.”
Hélio Schwartsman, “Folha de S.Paulo” – 29/01/2013
“O desvio de recursos, a pura irresponsabilidade, a garantia da impunidade. Somos ineptos para minimizar danos das cheias, impedir desabamentos, prevenir incêndios. Mas numa coisa ninguém nos supera: em solidariedade. Instaurada a tragédia, acorremos ao local em batalhões, confortamos os parentes, acolhemos em nossa casa, doamos sangue e enchemos caminhões com donativos, embora não possamos garantir que cheguem ao destino. Nossa humanidade não está em questão – nossa eficiência, sim. E, quando a tragédia se repete, não será por que não avisamos – apenas ninguém tomou providências.”
Ruy Castro, “Folha de S.Paulo” – 30/01/2013
“Esperar sem esperança é a pior maldição que pode cair sobre um povo. A esperança não se inventa, constrói-se com alternativas à situação presente.”
Boaventura de Sousa Santos, “Folha de S.Paulo” – 30/01/2013
“Silas Malafaia não exige doações. À GQ, o pastor alerta: se alguém hesitar em colaborar, ‘Deus fará outro se levantar… e sua benção irá para este outro’. Logo depois, contemporiza: ‘Se R$ 100,00 é tudo o que você precisa, é seu sonho, não dê! Se não for, é sua semente’.”
“O Estado de S.Paulo” – 30/01/2013
“Não estou aqui para ensinar a fazer filmes hollywoodianos. É preciso originalidade. Se existisse apenas o ponto de vista americano, o mundo seria brutal e individualista. Se você possui talento, nada vale mais que se expressar “.
Robert McKee, um dos professores de roteiro mais conhecidos de Hollywood, “Valor” – 01/02/2013
“Henri Matisse confessou sua necessidade de solidão em 1939. ‘Eu gostaria de viver como um monge numa cela, desde que pudesse pintar sem preocupações nem incômodos’. Preocupações e incômodos houve aos montes durante a carreira atormentada do pintor francês.[…] ‘A pintura foi para ele um trabalho desenvolvido em toda a vida. Ele se esforçou por décadas para retratar diretamente o que via. Clichês, preconceitos e suposições, barreiras visuais consideradas seus piores inimigos, foram suprimidos em horas intermináveis de treinamento. A sua disciplina se parecia com a de um pianista’, diz Hilary Spurling, autora de ‘Matisse, Uma Vida’. […] ‘Matisse: In Search of True Painting’ fala do sofrimento do pintor, também relatado por Hilary Spurling, em relação às suas escolhas artísticas. ‘Ele não tinha certeza do seu caminho’. Ou nas palavras do próprio artista: ‘Trabalho sem teoria. Eu sou determinado por uma ideia que só começo a entrever à medida que a pintura se desenvolve’. Incompreendido, Matisse contemporizava.”
Francisco Quinteiro Pires ,“Valor” – 01/02/2013
“A memória é um mistério, às vezes as lembranças aparecem com nitidez, outras vezes ficam guardadas, teimosamente escondidas, ou em estado de latência. […] Só me resta o silêncio, nossa voz essencial, talvez a mais verdadeira.”
Milton Hatoum, “O Estado de S.Paulo” – 01/02/2013
“Meu gospel é bem brasileiro. Não saí copiando, sou a Baby, tenho meu lado rock, meu lado pop. O gospel que toca no rádio e na televisão aqui é muito cru, não dá pra comparar com a nossa música. Nunca fiz isso pra vender CD, mas por paixão”.
Baby do Brasil, “O Estado de S.Paulo” – 02/02/2013
04ª semana de 2013
0“Ser pai ou mãe, mais que uma possibilidade biológica, é um aprendizado. ‘Podemos encarar a família como uma prisão ou um lugar de abrigo. Um espaço de trocas ou de isolamento coletivo. Um agente de mudanças ou um dispositivo de alienação. De qual família estamos falando?, diz Junia de Vilhena, psicanalista e terapeuta familiar.”
Ruth Aquino, “Revista Época” – 21/01/2013
“O ex-ciclista americano Lance Armstrong, usuário confesso de doping para se tornar o maior campeão da história de seu esporte, é também um recordista da mentira. Depois de enganar milhões de torcedores ao ganhar sete vezes a Volta da França sob o efeito de substâncias proibidas –e de se submeter a transfusões de sangue para esconder o rastro delas no organismo–, mentiu repetidamente ao se dizer inocente das acusações ainda tímidas que lhe começavam a fazer. Depois mentiu para as federações de ciclismo e para o Comitê Olímpico Internacional. Mentiu para seus colegas ciclistas e para os praticantes de todos os esportes. Mentiu para as crianças que o tinham como ídolo e queriam imitá-lo. Mentiu para os dirigentes da Livestrong, a fundação contra o câncer criada por ele – ele próprio uma vítima da doença. E, por fim, mentiu para seus biógrafos. […] Armstrong os tapeou, contando-lhes a história bonita que queria ver publicada. E obrigou a que seus colaboradores – envolvidos na sua extensa rede de doping, inclusive médicos – também mentissem. Agora, sim, Lance Armstrong pode render uma grande biografia. Vivo ou morto.”
Ruy Castro, “Folha de S.Paulo” – 21/01/2013
“Uma estatística envergonha os sul-coreanos: o índice de suicídios no país -medido para cada 100 mil pessoas- é o mais alto entre os membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico. Ele aumentou de 13,6, em 2001, para 31,2, em 2010. Mas ainda mais perturbador é o índice de suicídios entre os sul-coreanos maiores de 65 anos. No mesmo período, ele inchou de 35,5 para 81,9. ’Os velhos sentem-se traídos ou pensam que são um peso para seus filhos, principalmente os que têm doenças crônicas cujas contas médicas os filhos lutam para pagar’, disse Park. ‘Sua crença na família como uma entidade com um destino comum os leva a afastar-se dela, removendo o peso’. Kim Sungwhan, diretor do distrito de Nowon, em Seul, foi um dos primeiros administradores a abordar a crise dos suicídios. Ele treinou cerca de mil voluntários para reconhecer sinais de advertência e conectar idosos com tendências suicidas aos serviços sociais. Kim Man-jeom, 73, foi uma dessas pessoas. Depois da morte de seu marido, no ano passado, ela caiu em depressão. Ficou decepcionada porque seus filhos não a convidaram para morar com eles, mas também temia tornar-se um fardo para a família. ‘Quando vi uma gravata, pensei em me enforcar’, disse. A população da Coreia do Sul está envelhecendo mais depressa do que a de outros países desenvolvidos. Sociólogos dizem que o baixo índice de nascimentos deriva da relutância dos jovens casais a imitar seus pais e gastar suas economias na educação dos filhos, deixando pouco para sua velhice. ‘Nossa sociedade deu ênfase à eficiência econômica ao custo da condição humana’, diz Kim.
Choe Sang-Hun, “The New York Tinmes/Folha de S.Paulo” – 21/01/2013
“Muito mais produtivo do que tentar prever o future é construí-lo a partir do que sabemos hoje, e não consultar oráculos como o de Delfos, cartomantes, gurus e profetas.”
José Goldemberg, “O Estado de S.Paulo” – 21/01/2013
“De algum tempo para cá, setores da mídia manifestam preocupante ambiguidade ética. O que é sensacionalismo barato numa publicação popular é informação de comportamento nas respeitáveis páginas de alguns veículos da chamada grande imprensa. Biografias não autorizadas (ou difamação politicamente correta) e síndrome do boato compõem um retrato de corpo inteiro da indigência editorial. Best-sellers de ocasião, apoiados no marketing da leviandade e sustentados pela repercussão da mídia, ganham status de seriedade. O que interessa não é a informação. O que importa é chocar. Ao tentar disputar espaço com o mundo do entretenimento, alguns setores da imprensa estão entrando num perigoso processo de autofagia. Esquecem que a frivolidade não é a melhor companheira para a viagem da qualidade. Pode até atrair num primeiro momento, mas depois, não duvidemos, termina sofrendo arranhões irreparáveis no seu prestígio. Não podemos sucumbir às regras ditadas pelo mundo do espetáculo. Existe espaço, e muito, para o jornalismo de qualidade. Basta cuidar do conteúdo.”
Carlos Alberto Di Franco, “O Estado de S.Paulo” – 21/01/2013
“Quando Hannah Arendt cunhou a expressão ‘banalidade do mal’, ela não imaginava como a morte se tornou um fato corriqueiro no mundo atual, sem os trágicos acordes do Holocausto. Talvez haja nas matanças banais um desejo de desvendar o mistério da morte, bem lá no fundo do inconsciente. Para além de vinganças, busca de poder ou dinheiro, ódio puro, prazer, há a vontade de ‘naturalizar’ a morte, de modo que ela deixe de ser a implacável ceifadora. Tenho certeza de que os assassinos que passam de moto e metralham inocentes não têm consciência da gravidade de seus feitos – apenas mais um dia divertido de violências. Os filmes americanos buscam o tempo todo essa banalidade: tiros súbitos sem piedade, jorros de sangue ornamentais, a beleza fálica das superarmas automáticas. Nos brutos filmes de ação, nos videogames, nas notícias bombásticas de tragédias há um claro desejo de esquecer a morte, mostrando-a sem parar. Um desejo de matar a morte. Um desejo de entendê-la pela repetição compulsiva. Mas, nunca conseguiremos exorcizá-la, porque quando ela chega não estamos mais aqui.”
Arnaldo Jabor, “O Estado de S.Paulo” – 22/01/2013
“Com quase 30 milhões de novos usuários ativos mensais, o Brasil foi o país que mais cresceu no Facebook em 2012, de acordo com dados divulgados pela empresa de estatísticas de mídias sociais Socialbakers. Desde março do ano passado, o Brasil é o país com o segundo maior número de usuários (65 milhões) na rede social, atrás apenas dos Estados Unidos (167 milhões), ainda segundo a Socialbakers”.
“Folha de S.Paulo” – 24/01/2013
03ª semana de 2013
0“O mundo das redes sociais, ao mostrar os melhores momentos de cada um de seus bilhões de integrantes, bombardeia-os com um ambiente superlativo, em que a cada instante surgem vídeos em que pessoas e bichos aparentemente comuns realizam feitos inacreditáveis. O extraordinário se banalizou. Quando se vive cercado por extremos, é cada vez mais difícil determinar os limites do que é possível, desejável ou conveniente. O cotidiano, banalizado pela onipresença do extraordinário, fica ainda mais monótono. Quem cresce rodeado pelo que há de melhor perde a paciência para se surpreender e pode ficar mimado, impotente ou deprimido. Na tentativa de gerar estímulos, vários multiplicam suas atividades e pulverizam sua atenção, sem levar em conta que a hiperatividade é inimiga da concentração. Nesse processo, gasta-se muita energia e realiza-se pouco, em um círculo vicioso que só aumenta a frustração.”
Luli Radfahrer, “Folha de S.Paulo” – 14/01/2013
“Somos uma cultura de frouxos viciados em conforto, que se lambem o tempo todo e culpam os outros por tudo.”
Luiz Felipe Pondé, “Folha de S.Paulo” – 14/01/2013
“As pessoas gostam de exibir a felicidade como um troféu. Demonstrar tristeza tornou-se uma espécie de derrota. O melhor exemplo é o comportamento diante de quem sofreu uma perda. Se está em lágrimas, costuma-se dizer:
– Não chore, vai passar…
A outra pessoa fica constrangida, como se viver a dor fosse defeito.
Minha atitude é oposta. […]
Compartilhar os problemas alheios às vezes não é fácil. Mas isso não faz parte da amizade? Não dá uma dimensão mais profunda ao relacionamento humano? Ser feliz é cada vez mais uma imposição. Só falta alguém botar um letreiro dizendo: “Estou muito bem!”. Com ponto de exclamação, para simular entusiasmo.
“O Itamaraty faz gol contra ao conceder passaporte diplomático para os criadores e líderes de uma tal Igreja Mundial do Poder de Deus, Valdomiro e Franciléia de Oliveira. Qual o sentido? Na era Lula, o Planalto definia os passaportes para o Itamaraty assinar. Com Dilma não é assim e ela não deve ter nada a ver com o mimo para Valdomiro, que anda na mira do Ministério Público por enriquecimento, digamos, mal explicado.”
Eliane Cantanhêde, “Folha de S.Paulo” – 15/01/2013
“No hoje remoto século 15, quando os tipos móveis de Gutenberg favoreceram (porque baratearam) uma difusão mais ampla do impresso, algumas universidades franziram o nariz: afinal, se os alunos todos tiverem livros, o que nós, professores, vamos fazer nas classes? Mas o surto de mau humor do corpo docente logo se dissipou e, hoje, livros e universidade são parceiros fiéis.”
Marisa Lajolo, “Folha de S.Paulo” – 15/01/2013
“A função das escolas é fazer com que cada um saia da sua zona de conforto e se aventure num mundo desconhecido, vivendo experiências pessoais, sociais e culturais que de outro modo não viveria.”
Ariana Cosme, “Folha de S.Paulo” – 15/01/2013
“Hoje, neste tempo digital e veloz, ou temos o derrame de besteiras nas redes sociais ou porcarias de autoajuda nas listas de best-sellers.”
Arnaldo Jabor, “O Estado de S.Paulo” – 15/01/2013
“Se soubesse como seria minha vida quando tinha 20 e poucos anos não teria vivido, diz-me um velho companheiro das trincheiras magras. Viver é muito perigoso, afirmava Guimarães Rosa. É a inocência do não saber que permite viver a vida, digo eu. A negação faz parte da vida humana. Um leão não dorme se pressente uma ameaça, mas um homem dorme feliz mesmo sabendo que cada noite bem dormida o aproxima da morte. A consciência foca em alguma coisa com intensidade e, com a mesma força, reduz tudo o mais a um resíduo a ser esquecido. O foco tem como contrapartida a alienação.”
Roberto DaMatta, “O Estado de S.Paulo” – 16/01/2013
“A comissária de bordo Nadia Eweida conquistou na Justiça o direito de usar um pingente de crucifixo durante o trabalho em uma companhia aérea britânica. A empresa havia proibido o uso de qualquer símbolo religioso por seus funcionários em voos.”
“O Estado de S.Paulo” – 16/01/2013
“A fórmula para identificar talentos é a seguinte: ter a coragem de apostar em ideias. Muitos executivos acham perigoso arriscar. Perigoso é não arriscar. Eliminar a criatividade e a inovação levas as empresas ao declínio e, por consequência, prejudica toda a sociedade.”
Nolan Bushnell, “Revista Veja” – 16/01/2013
“É fato que, depois dos inegáveis resultados econômicos da última década, o Brasil entrou em uma fase cultural de acentuado otimismo, provavelmente excessivo, à prova dos fatos. O crescimento econômico deu-se, é certo, e com algumas redistribuição de renda, melhorando condições de vida, estatísticas e imagem internacional. Mas a inclusão dos pobres limitou-se a pouco mais do que acesso a consumos básicos. Educação, saúde, meio ambiente e participação social são os grandes excluídos do modelo brasileiro, baseado fundamentalmente no crescimento quantitativo. A superação dos atrasos qualitativos do sistema-país frustra as expectativas por sua lentidão e incipiência. E as desgraças não faltam: gente demais morre pela disputa de poucos reais, por enchentes ou balas perdidas. Mais: estatísticas aterrorizantes indicam que o número anual de assassinatos no Brasil é superior aos mortos em todas as guerras no mundo. Problema mais grave ainda, a política está em crise profunda: ética, identitária e organizativa, sem capacidade de dar respostas convincentes aos problemas que se acumulam no horizonte.”
Claudio Bernabucci, “Revista Carta Capital” – 16/01/2013
“Somos cada vez mais considerados como ‘doentes’ (e convidados a procurar tratamento) por uma psicologia e uma psiquiatria que não param de definir nossa ‘normalidade’ – com as melhores intenções.”
Contardo Calligaris, “Folha de S.Paulo” – 17/01/2013
“Quando pesquisava para seu livro ‘O Poder do Hábito’, o escritor americano Charles Durhigg deparou com uma prática a princípio inexplicável das empresas de cartões de crédito dos Estados Unidos. Sempre que descobrem, comparando dados pessoais, prática permitida no mercado americano, que um de seus clientes se divorciou, as empresas cortam seu limite de crédito. A redução é ainda mais radical caso o cliente seja do sexo masculino, diminuindo o limite pela metade. A explicação: analisando o histórico de crédito de recém-separados, matemáticos a serviço dessas empresas cruzaram os dados e notaram que não muito tempo depois de mudar seu status de relacionamento para ‘solteiro’ no Facebook os homens, principalmente, começam a ter problemas para pagar suas dívidas. À primeira vista, pode parecer um exagero – além de uma intromissão indevida na vida dos clientes -, mas um estudo recente conduzido pelos departamentos de psicologia das Universidades de Harvard e Columbia, nos Estados Unidos, mostrou que há uma lógica emocional por trás dessa situação: estar triste pode ter um custo financeiro. ‘Uma pessoa triste não é necessariamente uma pessoa sábia quando se tratam das escolhas financeiras’, afirma Ye Li, professor da Universidade Riverside, na Califórnia, que participou do estudo como pós-doutorando do Centro de Ciências da Decisão de Columbia. ‘Descobrimos que as pessoas tristes são mais impacientes e frequentemente irracionais’.”
Alexandre Rodrigues, “Valor” – 18/01/2013
“Nossa vida cotidiana tornou-se quase inteiramente regida por princípios utilitários, pragmáticos, instrumentais, lamenta o poeta e filósofo carioca Antonio Cicero, de 67 anos. ‘Sempre foi assim, porém hoje as novas tecnologias eletrônicas potencializaram essa subordinação da vida ao princípio do desempenho.’ Ele reconhece que elas mudaram a vida de todos nós, que houve um avanço e uma transformação. Mas isso será apenas bom? ‘Ao invés de economizarem nosso tempo, as novas tecnologias o consomem.’ A tecnologia do século XXI devora o tempo. Devora o próprio século XXI. Resta-nos pouco tempo para meditar e contemplar. Para viver.”
José Castello, “Valor” – 18/01/2013
“A obesidade é a nova epidemia. É uma condição cara de tratar, está associada com muitas doenças. E tem efeitos ruins sobre as pessoas que sofrem dela, porque não podem trabalhar tanto etc. Nos países emergentes, sobretudo na China, é onde está crescendo mais rapidamente a obesidade. Quando o nível de vida sobe e as pessoas têm mais dinheiro para gastar, a primeira coisa que fazem é mudar sua dieta. Cada vez mais, comem coisas processadas ou ricas em gordura.”
Mauro Guillén, “Folha de S.Paulo” – 19/01/2013
“A eterna vacilação do sujeito diante de si: ‘Diga-me quem sou?’ é uma pergunta que a gente endereça frequentemente ao outro. Esse desconhecimento de si, que gera o sentimento de incompletude e consequentemente também o desejo de reencontrar uma completude imaginariamente perdida, impele às buscas amorosas como tentativa de preenchimento do vazio constitutivo do ser.”
Silvia Raimundi Ferreira, “Le Monde Diplomatique” – janeiro de 2013
02ª semana de 2013
0“Falo somente de mim, para quem Deus está morto; apenas faço ruminações, pensamentos obsessivos sobre a necessidade de consolação que tenho em mim, em minhas inervações, assim como o garoto da bicicleta, meu ‘alter ego’. O que eu posso esperar é que esses pensamentos que me deixam obcecados sejam o sintoma de alguma coisa que ultrapassa a minha pessoa e movimente o pensamento dos outros. Nosso nascimento é indissociável de um pânico do que está de fora [do útero], um medo de morrer. Esse medo é abrandado quando entramos em contato com o amor infinito de um outro – uma mãe, um pai, biológico ou não – capaz de nos fazer sair de uma bolha imaginária e passar a amar o que está de fora. Necessitamos da existência de um ‘Deus’ que nos dê um amor mais forte que a morte, uma segurança absoluta. Tento pensar em como podemos conviver com essa necessidade, mas sem Deus – vivendo só com nosso elo com o outro humano que nos ama infinitamente e nos fez amar a vida.”
Luc Dardenne, “Folha de S.Paulo” – 06/01/2013
“Nós recebemos todos os sinais de que algo não está bem e, mesmo assim, continuamos porque tem mais uma novela para fazer, mais um programa para gravar, ou mais uma viagem imperdível. E a maioria das pessoas age dessa forma. Eu teria que ter retirado a vesícula há oito anos. Teria evitado tudo o que acontece comigo.”
Betty Lago, “O Estado de S.Paulo” – 06/01/2013
“Acho que o sucesso veio de encher minha caixinha de ferramentas com conhecimento vários, e não só buscar reconhecimento vertical.”
Fabio Abreu, 38, CEO Lider Telecom, “O Estado de S.Paulo” – 06/01/2013
“O novo, autenticamente novo, não é uma criação a partir de nada, mas, sim, uma manifestação inusitada que surge do trabalho do artista, do processo expressivo em que está mergulhado. Esse processo não tem a lógica comum ao trabalho habitual, já que o trabalho criador é, essencialmente, a busca do espanto. Falo das artes plásticas, uma vez que, na poesia, se dá o contrário, o espanto está no começo: é o novo inesperado que faz nascer o poema.”
Ferreira Gullar, “Folha de S.Paulo” – 06/01/2013
“Um site que oferece ‘desbatizar’ católicos que discordam de dogmas da Igreja está fazendo sucesso na Holanda. Recentes declarações do papa Bento XVI contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo garantiam à página número recorde de acessos.”
“O Estado de S.Paulo” – 07/01/2013
“Na recente Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +20), o presidente do Uruguai, José Mujica, [em seu pronunciamento colou que] a causa protagônica do cenário ecológico/ambiental sombrio que preocupa o mundo é o modelo de civilização que vivemos. Disse o que provavelmente a maioria dos presentes partilhava como ideário abstrato, sem observá-lo no cotidiano concreto porque satisfeita com a vida pautada na cultura consumista: vivemos um modelo de civilização marcado pelo hiperconsumo. […] Caracterizado pelo ‘use e jogue fora’, esse modelo nos obriga a trabalhar mais para consumir mais, a fazer coisas que não durem e a comprar sempre mais porque, se o consumo não cresce, paralisa a economia. […] E fechou essa cadeia de raciocínio com uma frase de efeito, coerente com sua vida pessoal modesta, de arguto significado emblemático: ‘Pobre não é quem tem pouco, mas sim quem deseja muito, sempre mais e mais’. Sintoma simbólico da esquizofrenia insinuada no pronunciamento: o Natal perdeu sua conotação de festa religiosa, passou a ser uma apoteose comercial; em vez da igreja, o shopping… Por vezes a compulsão ao ‘compre mais’ chega ao desatino.”
Mario Cesar Flores, “O Estado de S.Paulo” – 07/01/2013
“ ‘A ansiedade tem levado as pessoas a quererem se libertar, mas elas não conseguem’, diz Larry Rosen, autor de iDisorder (sem edição brasileira) e professor de psicologia na Unviersidade Estadual da Califórnia. ‘Alguns sabem que estão totalmente envolvidos, mas se abandonarem, mesmo que seja por uma hora, temem perder alguma coisa. […] Não é um vício, é uma obsessão. Vício é quando você faz alguma coisa para ter prazer, como fumar um cigarro ou jogar um jogo. Não estamos no Facebook por prazer. Estamos ali para reduzir nossa ansiedade. Se alguma coisa boa ocorrer ali, então há um prazer repentino.”
Katherine Boyle, “Washington Post/O Estado de S.Paulo” – 07/01/2013
“É um erro comum pensar que o inconsciente freudiano é inalcançável por conta da repressão. Não é. O tamanho de informação inconsciente que carregamos é infinitamente maior do que o reprimido, apesar de um contaminar o outro. Mas está inconsciente por quê? Pela mesma razão que as fundações do prédio onde você mora nunca mais serão vistas: elas são básicas, mas são passado enterrado. Tanto quanto nossa incapacidade de reconstruir nossa alfabetização (que, aliás, continua em processo: pense em excitação; hesitação; exceção; estender; extenso; tenho “uma dó” ou tenho um dó? Você não hesita antes de escrevê-las?). É passado e presente ao mesmo tempo, já que nosso inconsciente é atemporal. Quem não teve dor de barriga em janeiro, pensando no vestibular em dezembro?”
Francisco Daudt, “Folha de S.Paulo” – 08/01/2013
“Somos todos fanáticos. Exigimos que nosso sentimento seja eterno e incondicional e camuflamos sua natureza condicional e efêmera. É a mais nova tentativa humana de roubar um poder divino. […] O papel de nos aceitar por inteiro, com todos os nossos defeitos e limitações, cabia a Deus. Hoje buscamos alguém que possa cumprir essa função e ainda dormir conosco. É realmente pedir demais.”
Simon May, “Folha de S.Paulo” – 08/01/2013
“Dizem que quando morremos vemos um filme de nossas vidas. Um resumo preciso e inexorável de tudo o que fizemos de bom e de lastimoso surge numa tela, revelando as coisas inconfessáveis que escondemos dos outros e de nós mesmos. Se a vida é um filme, nenhuma vida pode se reduzir a uma verdade única, pois todas são dotadas de abundantes pontos de vista. A hipótese é interessante porque o cinema se abre a muitas verdades e eu estou seguro de que a nossa maior tarefa nesta vida é a responsabilidade de interpretar o que – nesta fantasia – continua depois da morte. A vida, como a fita, asseguram e reiteram que somos seres em busca de interpretações responsáveis.
[…] No filme final vemos tudo. Na vida terrena, esse mundo que inventa o cronista e a arte em geral, cada qual enxerga um pedaço. Sem a liberdade de todas as vozes, não se chega aos fatos, contados sempre de um só lado e por isso tidos como ficção. O problema, porém, é que os santos, os poetas e os filósofos descobrem contradições nos mandamentos.”
Roberto DaMatta, “O Estado de S.Paulo” – 09/01/2013
“50% dos pais de adolescentes nos Estados Unidos já configuraram algum tipo de bloqueio automático nas conexões de internet para evitar que os filhos acessem sites ‘indesejáveis’.”
“O Estado de S.Paulo” – 10/01/2013
“Só há uma vida: a que estamos vivendo. É óbvio. Mas por que mal conseguimos viver sem imaginar que ela possa ou deva ser ‘outra’? É uma aflição moderna, pós-romântica.”
Contardo Calligaris, “Folha de S.Paulo” – 10/01/2013
“A milionária chinesa Yu Youzhen decidiu trabalhar como gari para ser ‘um bom exemplo’ para seus dois filhos. A mulher, de 53 anos, é dona de 17 imóveis na cidade de Wuhan, mas acorda às 3horas, seis dias por semana, para trabalhar varrendo as ruas.”
Felipe Corazza,“O Estado de S.Paulo” – 12/01/2013
“Que lugar resta para a razão numa comunicação política regida cada vez mais pela lógica do desejo, ou, pior ainda, pelo desejo de consumo? Alain Touraine viu esse impasse há cerca de 20 anos: ‘As sociedades complexas e de mudanças rápidas pouco a pouco deixam de ser sociedades de intercâmbio, da comunicação e da argumentação, para serem cada vez mais sociedades da expressão. (…). Cada vez menos tratamos com comunicadores e cada vez mais com atores’.”
Eugênio Bucci, “O Estado de S.Paulo” – 10/01/2013
“Andamos com vidros fechados, portas travadas, vivemos atrás de grades, protegidos por jaulas, câmeras, alarmes, cães, seguranças. E mesmo assim somos todos inseguros, Inquietos, neuróticos, assustados. O rico tem medo mesmo no carro blindado, o classe média tem medo, o emergente tem medo, temos medo do bandido, da polícia, de todos.
O medo é nossa segunda pele.”
Ignácio de Loyola Brandão, “O Estado de S.Paulo” – 11/01/2013
“No início de mais um ano, as esperanças se renovam e também a coragem para alcançar as metas que nos propomos. É bom que seja assim: de esperança em esperança, vamos avançando e deixando marcas no caminho… A paz é um direito das pessoas, aliás, pouco respeitado. Ela é ferida pelas guerras e pelo rastro de sofrimento, destruição e morte; também é ferida pelos mais variados atos de violência e injustiça contra o próximo, no desprezo e desrespeito à dignidade das pessoas, no estilo de vida egoísta e individualista, que se fecha diante das necessidades do próximo, no descuido ou na exploração insensata da natureza, sem levar em conta o bem comum. […] A fé cristã traz elementos fundamentais para a edificação da paz: cremos no Deus do amor, do perdão, da misericórdia e da paz; cremos em Jesus Cristo, Filho de Deus. […] No entanto, a paz não está pronta, como um produto de consumo que se possa conseguir por meio de passes mágicos, ou pela imposição da força sobre os outros. A paz é um dom do Alto, enquanto Deus é para o homem o fundamento e a garantia última da justiça, da esperança e da prática do bem. Mas ela é também tarefa do homem, fruto de idealismo e de uma busca tenaz, pessoal e coletiva. Ela se expressa na harmonia interior de cada pessoa, na sua relação com o próximo e com o mundo. A desordem na vida pessoal é causa de falta de paz, ou da sua perda. A falta de retidão na conduta pessoal não é apenas ‘questão pessoal’, que interessa à vida privada, mas tem repercussão sobre os outros e sobre o convívio social. Com frequência isto fica esquecidos: ser bons, justos e honestos é um bem para si e para os outros. Por isso, o cultivo de paz requer dignidade na conduta pessoal e honestidade em seguir os ditames da consciência moral, que aponta para a prática do bem e para a busca da verdade, da retidão e da justiça. Sem isso não há paz consigo mesmo. Nem com os outros. […] Edificadores e educadores da paz serão reconhecidos como filhos de Deus.”
Dom Odilo P. Scherer, “O Estado de S.Paulo” – 12/01/2013
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