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32ª semana de 2013
0“Apesar de lamentar terrivelmente não ter qualquer esperança no além, acredito que o ateísmo – quando amparado por boa poesia, pelo menos – é uma concepção mais elegante, mais profunda e que encerra mais respeito à vida do que a fé em Deus. Que eu exista, que você exista, que haja árvores que dão frutos e frutos que dão sementes, que esses frutos sejam doces justamente para que eu e você os comamos e espalhemos as sementes… Não é infinitamente mais belo se nada disso fizer parte de roteiro algum? Veja o universo, que coisa fantástica. Pra que serve? Pra nada: eis o grande milagre.”
Antonio Prata, Folha de S.Paulo – 04/08/2013
“Na propalada sociedade do conhecimento, o conhecimento se renova rapidamente. Assim, a capacidade de aprender permanentemente passou a ser condição para o exercício da cidadania e das profissões. É crucial, portanto, que o sistema educacional de um país desenvolva em todos essa capacidade.”
Marisa Eboli, O Estado de S.Paulo – 04/08/2013
“Mais da metade dos brasileiros de 18 a 24 anos não tem o ensino médio. Vale repetir: estamos no ano 2013, e quase 60% de nossos 22,5 milhões de jovens adultos, no auge de sua capacidade, só terminaram o ensino fundamental. Isso significa que 13,2 milhões de jovens (um número bem superior à população inteira da Bélgica) têm apenas noções básicas de português, matemática, história, geografia e ciência, além de uma imensa dificuldade para entender o mundo e se integrar ao mercado de trabalho.”
Ruth de Aquino, Época – 05/08/2013
“Nos Estados Unidos, o crescimento dos livros digitais começa a desacelerar. O faturamento dos e-books cresceu 41% em 2012. Nos anos anteriores, o número fora superior a 100%. Analistas preveem que a participação dos livros digitais se estabilize em 30% do mercado. Uma pesquisa revela que 97% dos compradores de e-books continuam a ler livros de papel. O apocalipse digital, antes visto como uma questão de tempo, deverá ficar apenas na imaginação a coexistir.”
Época – 05/08/2013
“Se o mundo é uma elegante explicação matemática ou, como acreditam oito em cada dez americanos, efeito da vontade divina, são questões que inevitavelmente rimam com outra: por que existo?”
Jim Holt, Veja – 07/08/2013
“Aos que se julgam com o monopólio da representação e que só deixam os gabinetes para reproduzi-la com propaganda enganosa de tempos em tempos vale o recado de Francisco para a igreja: ‘Saiam à rua a armar confusão. Abandonem a mundanidade, a comodidade e o clericalismo. Deixemos de estar encerrados em nós mesmos!’.”
Chico Alencar, Folha de S.Paulo – 09/08/2013
“Contra um mal que pervaga todos os estratos da sociedade precisamos de remédios potentes, ou melhor, de vacinas. Quando não há vacinas, como contra o mal da corrupção, que tem impacto direto no desenvolvimento socioeconômico dos países, o caminho da prevenção reside em simplicidade, transparência, esclarecimento e punição, além de instituições fortes em ambiente democrático, poderemos quebrar as engrenagens de funcionamento da corrupção e criar a sociedade que almejamos. O combate à corrupção deve ser um dos sustentáculos na construção dos valores que podem conduzir o Brasil ao lugar de merecido destaque no panorama mundial.”
Roberto Abdenur, O Estado de S.Paulo – 09/08/2013
“No egoísmo e no individualismo, que permeiam e regulam, com frequência, as relações sociais, cada um, cada grupo ou país é levado a reivindicar e afirmar seus próprios direitos, sem ter em conta a sua contribuição para o bem comum. Na atitude solidária há sempre a preocupação com o bem comum. A solidariedade é um dos princípios éticos basilares da concepção cristã de organização social, política e econômica. Não se trata de vaga compaixão, distante e descomprometida, diante dos males de outras pessoas próximas ou distantes; ao contrário, é o empenho firme e perseverante pelo bem de todos e de cada um; uma vez que todos dependem uns dos outros, todos também são responsáveis uns pelos outros. […] Negar o princípio da solidariedade levaria também a negar uma das principais forças propulsoras da civilização, para adotar novamente a lei da selva, onde os mais fortes sobrevivem e os mais fracos são abandonados à própria sorte. Os mecanismos perversos que destroem o convívio social só podem ser vencidos mediante a prática da verdadeira solidariedade.”
Dom Odilo Scherer, O Estado de S.Paulo – 10/08/2013
“O silêncio é o meu hábitat mental natural. Não me sinto um excêntrico. No mundo cada vez mais barulhento, cacofônico e compulsivamente loquaz em que vivemos, a preferência pelo resguardo acústico não caracteriza uma anomalia, justo o contrário, é anseio de muita gente. Nunca se falou tanto no mundo. Somos a civilização dos falastrões, da tagarelice dos celulares, da conversa fiada online, do Twitter, do Facebook. Só nos Estados Unidos registrou-se um aumento de quase 7 trilhões de palavras faladas depois da invenção da internet. ‘Nunca se falou tanto, nunca se pensou tão pouco’, observa Adauto Novaes.”
Sérgio Augusto, O Estado de S.Paulo – 10/08/2013
“O número de jovens levados ao pronto-socorro após usarem estimulantes como a Ritalina, droga usada no tratamento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, tem crescido, segundo pesquisa feita nos EUA. As visitas emergenciais a hospitais ligadas ao uso desses remédios entre jovens de 18 a 34 anos cresceu de 5.600 em 2005 para 23 mil em 2011, segundo os dados do Departamento de Saúde do governo americano. O aumento foi mais notável na faixa dos 18 aos 25 anos. Metade das pessoas que fizeram mau uso dos remédios havia obtido as drogas por meio de um amigo ou parente em vez de por indicação de um médico.”
New York Times/Folha de S.Paulo – 10/08/2013
24ª semana de 2013
0“O cansaço é maior quando a gente faz aquilo que não gosta. Não tem sido muito pesado, não. Já fiz teatro, TV e filme ao mesmo tempo. Diante desse passado, minha vida está leve agora. A melhor coisa é fazer nada. Vou ao teatro, cinema, leio, ando na praia, viajo com meus filhos e netos e arrumo gavetas. É ótimo ficas bestando completamente, jiboiando como se diz.”
Fernanda Montenegro, 83, atriz, O Estado de S.Paulo – 09/06/2013
“O número de americanos que estão se matando atingiu um nível sem precedentes. No período de 1999 a 2010, o suicídio de americanos entre 35 e 64 anos de idade cresceu quase 30%. Mais pessoas nos Estados Unidos morrem hoje pelas próprias mãos do que em acidentes de carro. Entre homens na faixa dos 50 anos, a taxa de suicídio cresceu 50%.”
Lee Siegel, O Estado de S.Paulo – 09/06/2013
“A coisa é a seguinte: escrever ou não escrever poesia não é coisa que se decida. Na verdade, sempre que termino de escrever um livro de poemas, tenho a impressão de que não vou escrever mais, de que a fonte secou. […] Creio que isso se deve ao fato de que não planejo nada, muito menos meus livros de poemas. De repente, descubro um tema novo, um veio que passo a explorar até esgotá-lo. Isso demora anos, porque, também, ao concluir cada poema, tenho a impressão de que o veio se esgotou. […] Sempre digo que meus poemas nascem do espanto, ou seja, de algo que põe diante de mim um mundo sem explicação. É essa perplexidade que me faz escrever.”
Ferreira Gullar, Folha de S.Paulo – 09/06/2013
“Dos 260 mil inscritos até agora na Jornada Mundial da Juventude, a maioria são mulheres (55,32%). Peregrinos entre 19 e 24 anos respondem por 35% das inscrições. Os maiores de 65 anos não são nem 1%.”
O Globo – 09/06/2013
“O mundo de hoje está aterrorizado. E a economia não está florescente. Isto leva a um enclausuramento.”
Carla Bruni, O Globo – 09/06/2013
“A reportagem de qualidade é sempre substantiva. O adjetivo é o adorno da desinformação, o farrapo que tenta cobrir a nudez da falta da apuração. […] Uma imprensa ética sabe reconhecer os seus erros. As palavras podem informar corretamente, denunciar situações injustas, cobrar soluções. Mas podem também esquartejar reputações, destruir patrimônios, desinformar. Confessar um erro de português ou uma troca de legenda é fácil. Mas admitir a prática de prejulgamento, de engajamento ideológico ou de leviandade noticiosa exige pulso e coragem moral. Reconhecer o erro, limpa e abertamente, é condição da qualidade e, por isso, um dos alicerces da credibilidade.”
Carlos Alberto Di Franco, O Estado de S.Paulo – 10/06/2013
“A lição assustadora da psicologia social é a de que o ser humano pode passar por cima de suas convicções e de várias barreiras morais se for devidamente compelido por seus pares. E nem precisa ser uma pressão muito intensa.”
Hélio Schwartsman, Folha de S.Paulo – 11/06/2013
“Nunca nos livraremos de jovens desajustados que montam bombas caseiras ou fanáticos empunhando machadinha. Não há absolutamente nada que possamos fazer para evitar isso. Podemos minorar a letalidade dessas pessoas controlando a circulação de armas, e só. O verdadeiro problema é termos chegado à situação de todo um país entrar em pânico quando se associa um crime comum à palavra ‘terrorismo’. […] A insegurança da submissão voluntária ao controle contínuo de alguém que reforça sua autoridade alimentando-se de nossos medos. A insegurança do fim da vida privada.”
Vladimir Safatle, Folha de S.Paulo – 11/06/2013
“Aqui, a tradição é entrar na iniciação científica em um laboratório e continuar nele durante o mestrado, o doutorado e o pós-doutorado. E a tendência é a pessoa se aprofundar cada vez mais em um único assunto. Com isso, formamos jovens cientistas bitolados, tudo o que eles sabem é pensar em detalhes daquele único assunto que vêm desenvolvendo desde a iniciação científica. Além disso, a política de contratação nas universidades privilegia os ex-alunos. Criam-se colônias sem diversidade.”
Suzana Herculano-Houzel, Folha de S.Paulo – 11/06/2013
“A criança costuma dar sinais claros de que ela quer aprender a usar o banheiro. Os pais não precisam se preocupar tanto. O que não podemos é antecipar o processo. […] Quando ela pergunta do uso do banheiro, pede para ir, quer ficar por lá mais tempo, por exemplo. Quanto mais natural for o processo, melhor para a criança. Os pais não devem atrapalhar. Para isso, precisam munir-se de calma e paciência. A criança nem sempre vai acertar, e, mesmo depois de os pais acharem que ela já aprendeu, ela vai querer usar o banheiro quando tiver vontade, não quando os pais quiserem. E mais: ganhar prêmios por fazer a coisa que os pais julgam certa confunde a criança.”
Rosely Sayão, Folha de S.Paulo – 11/06/2013
“Como as bandas de jazz, as empresas precisam de regras básicas para operar, de forma que cada profissional possa, no momento correto, improvisar e criar.”
Thomaz Wood Jr., Carta Capital, 12/06/2013
“Somos anjos e demônios. Viver na internet tem um perigo: nós mesmos.”
Manuel Castells, Folha de S.Paulo – 13/06/2013
Rumos
2Inquietações não nos faltam, desejos também não.
O mundo gira e é cada vez mais rápido.
Há tanta coisa acontecendo, e numa pausa consciente, retomo os versos da música “Os Possíveis” (1991), da Banda Titãs: “tudo ao mesmo tempo agora, tudo para ontem, sem demora”. O que pensar? Como assimilar? Viver de adaptações? Seguir o fluxo sem mais? Para onde a maré nos leva? Remar contra chega aonde?
Perguntava Thomas Merton: “Qual é o meu lugar no meio deste mundo caótico e barulhento?”
Observar o mundo, atentar para os movimentos, ouvir os gritos e entender do que se trata. Refletir tendo como referência o compromisso com o Evangelho, ou melhor, com o que se consegue ouvir, apreender e ver do evangelho; eis desafios que parecem pertinentes aos discípulos de Jesus Cristo.
O que Merton fazia era comentar os acontecimentos do dia-a-dia, a partir do silêncio contemplativo. E corajosamente ele confessava: “Não tenho resposta clara para as perguntas atuais. Tenho perguntas e, de fato, acredito que melhor se conhece uma pessoa pelas perguntas que faz do que pelas respostas”.
Em seu exercício honesto de olhar para as Escrituras e olhar para os acontecimentos de seu tempo, e então, contemplar, ele aprofundava em si e para os outros a compreensão da pessoa de Deus, da força do evangelho, do significado de Cristo.
Com o passar do tempo ia clareando como ele viveria sua vocação naquele trecho da história. E então, comentava: “Que eu tenha nascido em 1915 e tenha sido contemporâneo de Auschwitz, Hiroshima, Vietnã são coisas sobre as quais não fui consultado previamente. Entretanto, são acontecimentos nos quais estou pessoal e profundamente envolvido, quer queira quer não”. Ou, nas palavras de Frei Betto: “Todos fazemos política. Por participação ou por omissão.”
Quais são as questões sérias do nosso tempo? Até onde temos consciência de nosso envolvimento? Nos ocupamos do quê?
A ciência e a tecnologia estão revolucionando nossa existência num ritmo jamais visto; nosso consumismo tem inviabilizado e comprometido a vida de muitos, e futuras gerações podem pagar um preço ainda maior; as novas configurações de família tem causado estranhamento, escândalo e confusão em muitos; aliás, os papéis tradicionais de homem e mulher num contexto machista estão caindo, e o que resta? Como será agora? Crises sobram.
É tempo de repensar valores, posturas, conversar mais sobre ética, aprofundar a fé, rever a esperança, conhecer mais do amor.
Além de pensarmos sobre qual o nosso lugar nesse mundo, talvez, seria bom perguntarmo-nos se ainda há espaço para nós nesse mundo, e analisar um pouco mais do que realmente se trata. Como diz Alvin e Heidi Toffler: “Em todos os lugares, jogadores on-line pagam milhares de dólares em dinheiro real por espadas virtuais que não existem, para que seus ‘eus’ virtuais possam usá-las e conquistar castelos e donzelas – também virtuais, é claro. A irrealidade alastra-se rapidamente entre nós”. Sim, talvez a pergunta contemporânea seja: “O que é real hoje em dia?”.
Qual a realidade brasileira? A fome e a desigualdade são reais, para quem? A saúde pública é um problema? E a maioridade penal é algo simples e satisfatório? A questão de segurança, educação, moradia, creches, como tratar disso tudo? Direitos e deveres, quais? Muitos simplesmente respondem: “já tenho problemas suficientes, não quero saber de mais nada”. Será que alguém eu identifica com Cristo pode assim viver?
Frequentemente se encontra aqueles que já não querem mais perguntas, nem se importam com respostas, apenas vivem para seu sustento, para se protegerem com suas conquistas, tentando acumular e oferecer mais conforto aos seus. Mas, como diz Eclesiastes: “O trabalho do tolo o deixa tão exausto que ele nem consegue achar o caminho de casa” (Ec 10.15). Sim, perdidos que se acham seguros; esgotados que se acham satisfeitos pelo simples fato de se esforçarem. Quanta ilusão!
Não há muito conforto na reflexão, e o pensar também pode ser nada além de vaidade. Mas, o viver alienado trata-se de uma vida sem rumo.
O que é real? Se há hoje uma realidade virtual, diria que também cresce a “virtualidade do real”, aquilo que parece, mas não é, contudo, engana nossos sentidos e ilude bem nossa mente, oferece sensações convincentes, anjos de luz do século XXI, e deixamo-nos levar, afinal é tudo sem sentido…
O rumo do evangelho, no entanto, é a comunidade. Somos arrancados de nossos isolamentos, do ensimesmamento tão natural de nossa época, para viver considerando aquele que nos chamou, que se entregou por nós. Sua oração por nós é: “para que todos sejam um, Pai. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia…” (Jo 17.21), e o apóstolo Paulo, seguidor de Cristo, salienta: “Nenhum de nós vive apenas para si, e nenhum de nós morre apenas para si. (…) Pertencemos ao Senhor” (Rm 14.8). Em sendo assim, a reflexão e o viver comunitário pode ensinar e transformar nosso coração, pode sinalizar novo rumo, alternativas nesse mundo agitado, de imediatismos, e buscas incessantes. A vida comunitária pode proclamar mais verdades do que meros eventos.
Deus está fazendo novas todas as coisas e nos convida a participar (II Co 5.17-19), ele nos confiou uma mensagem de reconciliação a ser entregue a essa geração. Vamos?
Há um lugar, em Cristo, que pode ser nosso, e o apaziguamento pode ser real. Ele dá as boas-vindas aos interessados.
07ª semana de 2013
0“Eu me defino hoje como agnóstico militante. Não sou ateu, porque ser ateu e negar a existência de Deus é algo que também exige fé, de que você pode provar a inexistência de algo. Dito isso, vou deixar claro que não sou religioso de maneira nenhuma. Sou ambivalente: eu não sei se Deus existe e não estou preocupado com isso, porque acho que é impossível saber.”
Brian Schmidt, Prêmio Nobel de Física de 2011, “O Estado de S.Paulo” – 10/02/2013
“Escrever um poema, pintar um quadro, fazer um filme, uma peça de teatro, uma composição musical, enfim, fazer o que se conhece como obra de arte, sempre requer do autor o domínio de um ‘métier’, de uma linguagem própria a cada um desses gêneros artísticos, além, é claro, do talento, sem o qual aquelas outras condições não adiantam de nada. Pode ser que me engane, mas estou convencido de que a pessoa nasce poeta, ou pintor ou cozinheiro. Sem o domínio do ofício, ninguém vai adiante, mas o que torna aquele saber fazer uma obra de arte é o talento, que não se aprende no colégio. Mas o talento não está por sua vez desligado dos recursos técnicos que tornam possível a realização da obra.”
Ferreira Gullar, “Folha de S.Paulo” – 10/02/2013
“Joseph Ratzinger é um dos maiores teólogos vivos do cristianismo. Como papa Bento 16 fracassou. […] Bento 16 foi um duro crítico da ideia de que a igreja deva aceitar soluções modernas para problemas modernos. Nesse sentido, apesar de ter resistido bravamente, com a idade e a fraqueza que esta implica, acabou por ser um papa acuado pelas demandas modernas feitas à igreja e por uma incapacidade de pôr em marcha sua “infantaria”, que nunca aceitou plenamente seu perfil de intelectual alemão eurocêntrico. Sua ideia de igreja é a de um pequeno grupo coeso de crentes, fiéis ao magistério da igreja (conjunto de normas para condução moral da vida), distante das ‘modas moderninhas’.”
Luiz Felipe Pondé, “Folha de S.Paulo” – 12/02/2013
“Como intelectual, este papa sempre soube melhor se dirigir ao cérebro do que ao coração das pessoas. Várias vezes topei com frases de Bento 16 que eu mesmo, ateu de carteirinha, poderia subscrever. A primeira surpresa foi quando ele visitou o local de um antigo campo de concentração nazista. Em seu discurso, deixou no ar a pergunta memorável. Ficamos pensando, disse o papa, onde estava Deus quando tudo isso aconteceu. Era uma pergunta que nada tinha a ver com as habituais consolações, tão vazias, que a rotina religiosa costuma invocar nesse tipo de situação.”
Marcelo Coelho, “Folha de S.Paulo” – 13/02/2013
“Podemos levar a história a sério? Até que ponto devemos acreditar que os relatos históricos que lemos nos livros descrevem as coisas como se passaram? Em que grau podemos confiar nas explicações que nos são oferecidas? A história não é uma ciência no mesmo sentido em que o é a física ou até a economia. Ela não apenas é incapaz de nos dar um modelo por meio do qual possamos fazer previsões como ainda traz a incrível propriedade de tornar o próprio passado incerto.”
Hélio Schwartsman, “Folha de S.Paulo” – 13/02/2013
“Quem autoridades controlam nosso país, que deputados e senadores, que ministros? Serão todos altamente corretos, altamente experientes, competentes, conhecedores das atribuições e do alcance do seu cargo? Ou muitos são medíocres, sem noção do que fazem, amedrontados e de cabeça abaixada, sem saber direito o que fazem ali? Que fim levaram ética, responsabilidade, seriedade aqui entre nós? […] Nunca fomos perfeitos, mas já estivemos em melhor situação. Os males eram menos escrachados, nós, menos tolerantes, não esquecíamos tão depressa. Hoje temos de correr, comprar, consumir, nos endividar até o limite da loucura. E temos que nos divertir, ora essa!”
Lya Luft, “Revista Veja” – 13/02/2013
“Nesta vida todo mundo, querendo ou não, é pautado. Todos somos levados, obrigados, arrolados ou dirigidos a fazer muita coisa. Algumas, impossíveis, como não mentir ou ser pusilânime. Os planos para nossas vidas existem antes do nosso aparecimento no mundo. Antes do nosso nascimento, pai e mãe tinham expectativas fulminantes em relação às nossas vidas. Nossas pautas existenciais são os projetos e esquemas que figuram na nossa sociedade e cultura: instruções do tipo como comer, vestir-se, limpar-se e dormir – caminhos simbólicos e reais a serem necessária e precisamente percorridos como a escolha de certas profissões e valores religiosos e políticos; rituais de crise de vida ou de passagem celebrados em nossa honra ou para os outros, os quais temos de – querendo ou não – acompanhar. Do nascimento até a morte, seguimos esquemas precisos e implacáveis.”
Roberto DaMatta, “O Estado de S.Paulo” – 13/02/2013
02ª semana de 2013
0“Falo somente de mim, para quem Deus está morto; apenas faço ruminações, pensamentos obsessivos sobre a necessidade de consolação que tenho em mim, em minhas inervações, assim como o garoto da bicicleta, meu ‘alter ego’. O que eu posso esperar é que esses pensamentos que me deixam obcecados sejam o sintoma de alguma coisa que ultrapassa a minha pessoa e movimente o pensamento dos outros. Nosso nascimento é indissociável de um pânico do que está de fora [do útero], um medo de morrer. Esse medo é abrandado quando entramos em contato com o amor infinito de um outro – uma mãe, um pai, biológico ou não – capaz de nos fazer sair de uma bolha imaginária e passar a amar o que está de fora. Necessitamos da existência de um ‘Deus’ que nos dê um amor mais forte que a morte, uma segurança absoluta. Tento pensar em como podemos conviver com essa necessidade, mas sem Deus – vivendo só com nosso elo com o outro humano que nos ama infinitamente e nos fez amar a vida.”
Luc Dardenne, “Folha de S.Paulo” – 06/01/2013
“Nós recebemos todos os sinais de que algo não está bem e, mesmo assim, continuamos porque tem mais uma novela para fazer, mais um programa para gravar, ou mais uma viagem imperdível. E a maioria das pessoas age dessa forma. Eu teria que ter retirado a vesícula há oito anos. Teria evitado tudo o que acontece comigo.”
Betty Lago, “O Estado de S.Paulo” – 06/01/2013
“Acho que o sucesso veio de encher minha caixinha de ferramentas com conhecimento vários, e não só buscar reconhecimento vertical.”
Fabio Abreu, 38, CEO Lider Telecom, “O Estado de S.Paulo” – 06/01/2013
“O novo, autenticamente novo, não é uma criação a partir de nada, mas, sim, uma manifestação inusitada que surge do trabalho do artista, do processo expressivo em que está mergulhado. Esse processo não tem a lógica comum ao trabalho habitual, já que o trabalho criador é, essencialmente, a busca do espanto. Falo das artes plásticas, uma vez que, na poesia, se dá o contrário, o espanto está no começo: é o novo inesperado que faz nascer o poema.”
Ferreira Gullar, “Folha de S.Paulo” – 06/01/2013
“Um site que oferece ‘desbatizar’ católicos que discordam de dogmas da Igreja está fazendo sucesso na Holanda. Recentes declarações do papa Bento XVI contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo garantiam à página número recorde de acessos.”
“O Estado de S.Paulo” – 07/01/2013
“Na recente Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +20), o presidente do Uruguai, José Mujica, [em seu pronunciamento colou que] a causa protagônica do cenário ecológico/ambiental sombrio que preocupa o mundo é o modelo de civilização que vivemos. Disse o que provavelmente a maioria dos presentes partilhava como ideário abstrato, sem observá-lo no cotidiano concreto porque satisfeita com a vida pautada na cultura consumista: vivemos um modelo de civilização marcado pelo hiperconsumo. […] Caracterizado pelo ‘use e jogue fora’, esse modelo nos obriga a trabalhar mais para consumir mais, a fazer coisas que não durem e a comprar sempre mais porque, se o consumo não cresce, paralisa a economia. […] E fechou essa cadeia de raciocínio com uma frase de efeito, coerente com sua vida pessoal modesta, de arguto significado emblemático: ‘Pobre não é quem tem pouco, mas sim quem deseja muito, sempre mais e mais’. Sintoma simbólico da esquizofrenia insinuada no pronunciamento: o Natal perdeu sua conotação de festa religiosa, passou a ser uma apoteose comercial; em vez da igreja, o shopping… Por vezes a compulsão ao ‘compre mais’ chega ao desatino.”
Mario Cesar Flores, “O Estado de S.Paulo” – 07/01/2013
“ ‘A ansiedade tem levado as pessoas a quererem se libertar, mas elas não conseguem’, diz Larry Rosen, autor de iDisorder (sem edição brasileira) e professor de psicologia na Unviersidade Estadual da Califórnia. ‘Alguns sabem que estão totalmente envolvidos, mas se abandonarem, mesmo que seja por uma hora, temem perder alguma coisa. […] Não é um vício, é uma obsessão. Vício é quando você faz alguma coisa para ter prazer, como fumar um cigarro ou jogar um jogo. Não estamos no Facebook por prazer. Estamos ali para reduzir nossa ansiedade. Se alguma coisa boa ocorrer ali, então há um prazer repentino.”
Katherine Boyle, “Washington Post/O Estado de S.Paulo” – 07/01/2013
“É um erro comum pensar que o inconsciente freudiano é inalcançável por conta da repressão. Não é. O tamanho de informação inconsciente que carregamos é infinitamente maior do que o reprimido, apesar de um contaminar o outro. Mas está inconsciente por quê? Pela mesma razão que as fundações do prédio onde você mora nunca mais serão vistas: elas são básicas, mas são passado enterrado. Tanto quanto nossa incapacidade de reconstruir nossa alfabetização (que, aliás, continua em processo: pense em excitação; hesitação; exceção; estender; extenso; tenho “uma dó” ou tenho um dó? Você não hesita antes de escrevê-las?). É passado e presente ao mesmo tempo, já que nosso inconsciente é atemporal. Quem não teve dor de barriga em janeiro, pensando no vestibular em dezembro?”
Francisco Daudt, “Folha de S.Paulo” – 08/01/2013
“Somos todos fanáticos. Exigimos que nosso sentimento seja eterno e incondicional e camuflamos sua natureza condicional e efêmera. É a mais nova tentativa humana de roubar um poder divino. […] O papel de nos aceitar por inteiro, com todos os nossos defeitos e limitações, cabia a Deus. Hoje buscamos alguém que possa cumprir essa função e ainda dormir conosco. É realmente pedir demais.”
Simon May, “Folha de S.Paulo” – 08/01/2013
“Dizem que quando morremos vemos um filme de nossas vidas. Um resumo preciso e inexorável de tudo o que fizemos de bom e de lastimoso surge numa tela, revelando as coisas inconfessáveis que escondemos dos outros e de nós mesmos. Se a vida é um filme, nenhuma vida pode se reduzir a uma verdade única, pois todas são dotadas de abundantes pontos de vista. A hipótese é interessante porque o cinema se abre a muitas verdades e eu estou seguro de que a nossa maior tarefa nesta vida é a responsabilidade de interpretar o que – nesta fantasia – continua depois da morte. A vida, como a fita, asseguram e reiteram que somos seres em busca de interpretações responsáveis.
[…] No filme final vemos tudo. Na vida terrena, esse mundo que inventa o cronista e a arte em geral, cada qual enxerga um pedaço. Sem a liberdade de todas as vozes, não se chega aos fatos, contados sempre de um só lado e por isso tidos como ficção. O problema, porém, é que os santos, os poetas e os filósofos descobrem contradições nos mandamentos.”
Roberto DaMatta, “O Estado de S.Paulo” – 09/01/2013
“50% dos pais de adolescentes nos Estados Unidos já configuraram algum tipo de bloqueio automático nas conexões de internet para evitar que os filhos acessem sites ‘indesejáveis’.”
“O Estado de S.Paulo” – 10/01/2013
“Só há uma vida: a que estamos vivendo. É óbvio. Mas por que mal conseguimos viver sem imaginar que ela possa ou deva ser ‘outra’? É uma aflição moderna, pós-romântica.”
Contardo Calligaris, “Folha de S.Paulo” – 10/01/2013
“A milionária chinesa Yu Youzhen decidiu trabalhar como gari para ser ‘um bom exemplo’ para seus dois filhos. A mulher, de 53 anos, é dona de 17 imóveis na cidade de Wuhan, mas acorda às 3horas, seis dias por semana, para trabalhar varrendo as ruas.”
Felipe Corazza,“O Estado de S.Paulo” – 12/01/2013
“Que lugar resta para a razão numa comunicação política regida cada vez mais pela lógica do desejo, ou, pior ainda, pelo desejo de consumo? Alain Touraine viu esse impasse há cerca de 20 anos: ‘As sociedades complexas e de mudanças rápidas pouco a pouco deixam de ser sociedades de intercâmbio, da comunicação e da argumentação, para serem cada vez mais sociedades da expressão. (…). Cada vez menos tratamos com comunicadores e cada vez mais com atores’.”
Eugênio Bucci, “O Estado de S.Paulo” – 10/01/2013
“Andamos com vidros fechados, portas travadas, vivemos atrás de grades, protegidos por jaulas, câmeras, alarmes, cães, seguranças. E mesmo assim somos todos inseguros, Inquietos, neuróticos, assustados. O rico tem medo mesmo no carro blindado, o classe média tem medo, o emergente tem medo, temos medo do bandido, da polícia, de todos.
O medo é nossa segunda pele.”
Ignácio de Loyola Brandão, “O Estado de S.Paulo” – 11/01/2013
“No início de mais um ano, as esperanças se renovam e também a coragem para alcançar as metas que nos propomos. É bom que seja assim: de esperança em esperança, vamos avançando e deixando marcas no caminho… A paz é um direito das pessoas, aliás, pouco respeitado. Ela é ferida pelas guerras e pelo rastro de sofrimento, destruição e morte; também é ferida pelos mais variados atos de violência e injustiça contra o próximo, no desprezo e desrespeito à dignidade das pessoas, no estilo de vida egoísta e individualista, que se fecha diante das necessidades do próximo, no descuido ou na exploração insensata da natureza, sem levar em conta o bem comum. […] A fé cristã traz elementos fundamentais para a edificação da paz: cremos no Deus do amor, do perdão, da misericórdia e da paz; cremos em Jesus Cristo, Filho de Deus. […] No entanto, a paz não está pronta, como um produto de consumo que se possa conseguir por meio de passes mágicos, ou pela imposição da força sobre os outros. A paz é um dom do Alto, enquanto Deus é para o homem o fundamento e a garantia última da justiça, da esperança e da prática do bem. Mas ela é também tarefa do homem, fruto de idealismo e de uma busca tenaz, pessoal e coletiva. Ela se expressa na harmonia interior de cada pessoa, na sua relação com o próximo e com o mundo. A desordem na vida pessoal é causa de falta de paz, ou da sua perda. A falta de retidão na conduta pessoal não é apenas ‘questão pessoal’, que interessa à vida privada, mas tem repercussão sobre os outros e sobre o convívio social. Com frequência isto fica esquecidos: ser bons, justos e honestos é um bem para si e para os outros. Por isso, o cultivo de paz requer dignidade na conduta pessoal e honestidade em seguir os ditames da consciência moral, que aponta para a prática do bem e para a busca da verdade, da retidão e da justiça. Sem isso não há paz consigo mesmo. Nem com os outros. […] Edificadores e educadores da paz serão reconhecidos como filhos de Deus.”
Dom Odilo P. Scherer, “O Estado de S.Paulo” – 12/01/2013
50ª semana de 2012
0“A atitude de reavaliar a carreira deve ser contínua, deve ser considerada meta durante todo ano: ponderar nossas emoções, imprimir cordialidade no nosso âmbito social e profissional, avaliar nossa imagem, investir na qualidade de vida, utilizar a flexibilidade e resiliência em situações adversas, atentar para o desenvolvimento de novas competências, conferir sustentabilidade na carreira e, sobretudo, buscar sempre o autoconhecimento. […] Torna-se cada vez mais indispensável, romper as amarras da acomodação em nossa vida pessoal e profissional e, assim, aproveitar a entrada de um novo ano para desenvolver a maior de todas as competências: a competência para a vida.”
Ruth Duarte, “O Estado de S.Paulo” – 09/12/2012
“Eu me sinto um intruso na vida. É como se eu não devesse estar aqui, uma espécie de outsider tentando comparar culturas, observando os defeitos e as qualidades e os costumes, os barulhos e essa paranoia toda, desde o berço até o túmulo. Então, vejo tudo de uma forma vesga (mesmo usando óculos).”
Gerald Thomas, “O Estado de S.Paulo” – 09/12/2012
“A felicidade e o bem-estar são as chaves da vida contemporânea. Vale tudo para ser feliz. Uma época dominada pela felicidade é uma época boba. […] Toda liberdade pressupõe riscos, e toda sociedade pautada pela felicidade social não suporta a liberdade.”
Luiz Felipe Pondé , “Folha de S.Paulo” – 10/12/2012
“A beleza da catedral de Brasília, cujas linhas arrojadas lembram mãos abertas ao transcendente, botão de flor se abrindo ao infinito, feixe de ramos de trigo evocando o pão da vida, o coração de boca aberta à fome de Deus.”
Frei Betto, “Folha de S.Paulo” – 10/12/2012
“DJ Qbert, americano de origem filipina, coloca-se: ‘acredito que nós artistas, assim como todas as pessoas, estamos aqui para fazer do mundo um lugar melhor. Fazer as pessoas felizes com nosso talento traz a mais profunda alegria. todos os dias eu sonho em ajudar as pessoas ao máximo. […] A maior felicidade é doar, e o maior demônio é o egoísmo. A ideia é mostrar as coisas que temos aprendido, mas também aprender com os alunos. Pensei em criar uma comunidade online que estimulasse todo mundo a melhorar com os segredos que expomos. Ali, eu também me considero um estudante, já que aprendo com as ideias dos outros DJs todos os dias’, diz o modesto virtuose.
Claudia Assef, “O Estado de S.Paulo” – 10/12/2012
“Aos 104 anos, faleceu Oscar Niemeyer. Nenhum artista brasileiro foi reconhecido, de maneira praticamente unânime por seus pares em todo o mundo, como referência absoluta e incontornável. Nenhum, a não ser Niemeyer. Isso não é acaso nem algo desprovido de relevância. Por unir clareza e organicidade, suas obras conseguem o feito de ser monumentais e humanas. Mas “humanas” não no sentido daquilo que perpetua as ilusões burguesas do acolhimento da intimidade da home. Acolhimento que parece nos alienar definitivamente na crença de que nosso lugar natural é o espaço privado cheio de memorabilias. “Humanas” no sentido deste desejo humano, demasiadamente humano de retornar aos gestos primordiais e encontrar, neles, uma força construtiva inaudita. Na verdade, se uma ideia pudesse sintetizar a obra de Niemeyer, talvez fosse a ausência de medo. Nossas cidades parecem ter medo do vazio, dos espaços infinitamente abertos, da visão desimpedida, das formas improváveis que têm a força de dobrar o concreto armado, ou seja, da inventividade que parece se comprazer em negar toda a forma que se põe como necessária. Niemeyer não tinha medo de nada. Quantas vezes ele deve ter exasperado engenheiros que viam suas formas e pensavam: ‘Mas isso não pode ficar suspenso dessa forma. Mas não é possível deixar isso em pé’. Como se não bastasse a inventividade de sua obra e a coragem de suas escolhas, quis o destino que Niemeyer fosse a expressão artística mais bem-acabada do desejo brasileiro de modernidade.”
Vladimir Safatle, Revista Carta Capital – 10/12/2012
“Para que escrever? Nada adianta, nada. E como meu trabalho é ver o mal do mundo, um dia a depressão bate. A náusea – não a do Sartre, mas a minha. Não tolero mais a falta de imaginação ideológica dos homens de bem, comparada com a imaginação dos canalhas, o que nos leva à retórica de impossibilidades como nosso destino fatal e vejo que a única coisa que acontece é que não acontece nada, deprimo quando vejo a militância dos ignorantes, a burrice com fome de sentido, balas perdidas sempre acertando em crianças, imagens do Rio São Francisco com obras paradas e secas sem fim, o trem-bala de bilhões atropelando escolas e hospitais falidos, filas de doentes no SUS, caixas de banco abertas à dinamite, declarações de pobres conformados com sua desgraça na TV; odeio sucesso sem trabalho, a troca do mérito pela fama; repugnam-me os sorrisos luminosos de celebridades bregas, passos de ganso de manequim, horroriza-me sermos um bando de patetas de consumo, não aguento mais ver que a pior violência é nosso convívio cético com a violência, o mal banalizado e o bem como um charme burguês, não quero mais ouvir falar de ‘globalização’, enquanto meninos miseráveis fazem malabarismo nos sinais de trânsito, não aguento chuvas em São Paulo e desabamentos no Rio, enquanto a Igreja Universal constrói templos de mármore com dinheiro arrancado dos ignorantes sem pagar Imposto de Renda, festas de celebridades com cascata de camarão, matéria paga com casais em bodas de prata, políticos se defendendo de roubalheira falando em ‘honra ilibada’, conselhos de ética formado por ladrões, não suporto Cúpulas do G20 lamentando a miséria para nada, tenho medo de tudo, inclusive da minha renitente depressão, estou de saco cheio de mim mesmo, desta minha esperançazinha démodé e iluminista de articulista do “bem”, impotente diante do cinismo vencedor de criminosos políticos.”
Arnaldo Jabor, “O Estado de S.Paulo” – 11/12/2012
“Quando não temos a flexibilidade necessária para nos rirmos da vida, é a morte que acaba por se rir de nós.”
João Pereira Coutinho, “Folha de S.Paulo” – 11/12/2012
“Em tempos de consumo desenfreado e lançamentos mil nesta época do ano, é claro que as crianças competem entre si sobre quem irá ganhar isso ou aquilo que se torna, não mais que de repente, um objeto de desejo de um grupo enorme.”
Rosely Sayão, “Folha de S.Paulo” – 11/12/2012
“O devaneio excessivo é o hábito de Dom Quixote, Madame Bovary, dois terços dos adolescentes, quase todos os autores de novelas e romances etc. Transformar esse hábito, tão humano, em “transtorno”, é uma tentativa de regular nossas vidas com a desculpa higienista: tudo nos é imposto para nossa “saúde” e nosso bem. Pararemos de sonhar porque é mais “saudável” prestar atenção só no que está na agenda de hoje? No fundo, nada disso me estranha. Desde o século 19, as regras para uma vida saudável (física e psíquica) são nossa nova moral. E esse ataque contra o devaneio era previsível: qualquer forma de poder prefere limitar os sonhos de seus sujeitos.”
Contardo Calligaris, “Folha de S.Paulo” – 13/12/2012
“A pressão que vem da base hoje é muito grande. Aprendi que nesse cenário tem de haver transparência. É preciso criar espaço para o diálogo. Formar líderes requer investimento, tempo e paciência para aceitar que nem todos estarão aptos.”
Leonardo Freitas, 45, executivo, “Revista VocêS/A” – dezembro de 2012
“Os evangélicos são fundamentalistas às vezes. E fundamentalismo é uma coisa que a gente quer afastar de qualquer forma do Brasil. Deus continua em alta, Deus continua sagrado. O que está sendo contestado é a postura das igrejas.”
Seu Jorge, músico, “Revista Billboard” – dezembro de 2012
“Ando mais por dentro de mim do que na estrada. […] Mexer com gratuidades me enriquecem. […] Inventei desver o que via para ver novas coisas.”
Manoel de Barros, 96, poeta, “Revista Cult” – dezembro de 2012
48ª semana de 2012
0“A obesidade é uma doença definida como aumento de gordura corpórea. Mas não é verdade: ela é uma doença muito complexa. Trata-se do acúmulo de gordura corpórea, aumento da ansiedade, da compulsividade, imediatismo, certo grau de depressão. Há alterações culturais e emocionais. Gosto de dar o exemplo do gordo e do magro que saem para comprar um carro. O gordo volta de tarde com o carro, sem placa, sem documento e não tem problemas com isso. O magro foi a dez concessionárias e volta para casa com uma planilha para escolher o carro na semana seguinte. Quando pergunto ao obeso quando vamos operar, ele responde: ontem. A doença não está no estômago. Ela está no metabolismo, na cultura, na cabeça, no comportamento. Preciso tratar esse paciente observando essa abrangência. […] Tive vários casos de pessoas que passam a apresentar comportamentos exagerados. Dizem que quem opera (cirurgia bariátrica) vira alcoólatra, mas há pesquisas mostrando que isso não é verdade. A pessoa não vira alcoólatra. Ela já bebia, mas ninguém percebia. Agora que come pouco, chama a atenção a bebida. Pode ocorrer [de transferir a fonte de prazer para outras coisas], mas não é a regra. Porém, muita coisa que estava sublimada aparece. Tive uma paciente que operou e o marido me disse que não consegue mais pagar as contas dela, virou uma compradora compulsiva. Mas ela já era assim, só que não saía de casa porque não conseguia andar. Agora pode e vai às compras. Houve também uma jovem que operei que depois competia com a amiga para ver quem ficava com mais rapazes. Seguiu fazendo terapia e hoje está equilibrada.”
Thomas Szegö, “Revista IstoÉ” – 28/11/2012
“A Bíblia ensina: salvação da alma para os que não aceitam e praticam essa fé e condenação para os que não aceitam. Isso está escrito de maneira simples e objetiva. Acredita quem quer. O destino após a morte é definido pelas escolhas que o ser humano faz em vida. O céu e o inferno não são folclore. Aceitar o Senhor Jesus como seu Salvador é o único caminho da salvação eterna da alma. E essa é a maior riqueza de qualquer pessoa. Não existe bem maior do que a salvação da nossa alma. […] Não me considero um empresário. Não tenho riqueza maior na vida do que minha fé. Não tenho nada a perder.”
Edir Macedo, “Revista IstoÉ” – 28/11/2012
“Hoje em dia, várias pessoas, sobretudo as mais jovens, olham para sua igreja e acham que ela não se importa com o sofrimento real que temos no mundo hoje, aqui e agora. No entanto, é disso que Jesus mais falou. Esses jovens têm amigos, inclusive amigos ateus, que parecem ter mais compaixão pelos outros, pelos pobres e marginalizados, do que a própria igreja à qual pertencem. […] Precisamos entender que temos verdadeiros infernos na Terra neste exato momento. Há gente faminta, gente sem acesso a água potável. A Terra está cheia de sofrimento humano. […] Acredito em céu e inferno como dimensões da nossa existência aqui e agora.”
Rob Bell, “Revista Veja” – 28/11/2012
“O Senado acaba de incluir disciplinas de ética no currículo do ensino fundamental e médio. Espero que se evite a monumental estupidez de ensinar ética normativa, ou seja, de querer enfiar valores em nossas crianças – goela abaixo, como se fossem partículas consagradas. Para crianças como para adultos, “aprender” ética significa aprimorar a disposição a pensar moralmente, ou seja, a capacidade de debater, em nosso foro íntimo, os enigmas complexos (e, muitas vezes, insolúveis) que a realidade nos apresenta.”
Contardo Calligaris – “Folha de S.Paulo”, 29/11/2012
“A corrupção no Brasil ‘pinga do teto e escorre pelas paredes’. Só assim Rosemary Noronha, simples secretária de certo órgão, poderia nomear pessoas para cargos tão acima de sua posição na hierarquia. O único a não se espantar com isso talvez fosse Nelson Rodrigues. Para ele, não havia pessoa insignificante: ‘O mais humilde mata-mosquito pode se julgar um Napoleão, um César, e agir de acordo’. Como tinha costas quentes, Rosemary convenceu-se de que era a Cleópatra de si mesma.”
Ruy Castro – “Folha de S.Paulo”, 30/11/2012
“Pesquisa determinou que idosos religiosos sofrem menos com transtornos mentais. Ao todo 1.980 idosos moradores de uma região de baixa renda de São Paulo responderam a diversas questões, que fizeram parte do Investigando o papel do suporte social na associação entre religiosidade e saúde mental em idosos de baixa renda: resultados do São Paulo Ageing & Health Study (SPAH). Os autores contam que o objetivo do trabalho foi analisar a associação entre dimensões de religiosidade e a prevalência de transtornos mentais comuns entre idosos. Eles testaram ainda o suporte social como mecanismo de mediação dessa suposta associação. Segundo os pesquisadores, 90,7% dos idosos consideram-se religiosos, sendo que 66,6% eram católicos e 41,2% frequentavam uma ou mais vezes alguma atividade religiosa semanalmente. O artigo mostra que ‘a prevalência de transtorno mental comum para os que frequentam serviço religioso foi aproximadamente a metade daqueles que nunca frequentam’. Essa relação pode ser positiva quando se pensa em suportes para tratamentos diversos na terceira idade.”
“Revista Psique” – novembro de 2012
“Por várias vezes senti completo controle da situação até perceber que não havia previsto tudo – mesmo porque isso é impossível -, e o excesso de autoconfiança acabou sendo meu algoz.”
Eugenio Mussak, “Revista Vida Simples” – novembro de 2012
“Quer ser feliz agora? Comece esquecendo essa história de ter filhos – eles não irão trazer a epifania que você tanto espera. Não perca seu tempo jogando na loteria – se você agarrar a lei das probabilidades pelos chifres e ganhar, depois de um ou dois anos não estará nem um grama mais contente do que hoje. Talvez esteja até pior. E, para alcançar a bem-aventurança no trabalho, não se importe tanto com o salário. É um pormenor, uma bobaginha. […] Variáveis de estudos evidenciam que tentar fechar essa tal felicidade em estatísticas e aprisiona-la num modelo de regras a seguir pode levar a um atoleiro difícil de escapar”.
Fabiana Corrêa, “Revista Lola” – novembro de 2012
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