26 de setembro de 2010

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“Como toda descoberta científica, uma vez que a caixa é aberta, não pode ser mais fechada. O jeito é termos cuidado com nossas criações e não deixar que a sede de lucro das corporações tomem as decisões por nós.”

Marcelo Gleiser, professor de física teórica, Folha de S.Paulo – 26/09/2010

 

“A civilização ocidental é a deterioração da solidariedade. O que é mais perigoso é o paradoxo de que o curso da globalização combina catástrofes nucleares, ecológicas, políticas, mas a desesperança também pode levar à consciência. Porque onde cresce o perigo, cresce a luta pela salvação. […] O pensamento reformado pode ser aplicar a todos os campos de aprendizagem, inclusive à política. A política unidimensional, reduzida à economia, não vê a complexidade humana. É uma política abstrata, mutilada, mutiladora.”

Edgar Morin, 89 anos, filósofo e sociólogo francês, Estado de S.Paulo – 26/09/2010

 

“Diferença entre o funcionamento psíquico próprio das massas em oposição à forma de pensar do sujeito fora das massas. A psicologia das massas se caracteriza por sua identificação com um líder que ocupa o lugar de figuras paternas idealizadas. Isso faz com que as massas adotem uma postura infantilizada frente ao líder, que é visto como um pai ou mãe que as protege e conduz, fantasia inconsciente muitas vezes deliberadamente manipulada pelo poder. Já o sujeito fora das massas – e ninguém mais que o artista para representar esta condição – mantém o espírito crítico frente ao líder e, apesar de não estar isento de nele também fazer projeções, pode vê-lo com mais objetividade. Para ele, tais ‘pais’ ou ‘mães’ são vistos como inimigos a serem eliminados. Ou seja, para o artista, a sociedade não deve ser regida por ‘pais e ‘mães’ onipotentes e sim por cidadãos como ele, a quem delega temporariamente o poder e de quem exigirá uma prestação de contas no seu devido tempo.”

Sérgio Telles, psicanalista, Estado de S.Paulo – 26/09/2010

25 de setembro de 2010

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“Ao preferir a indisciplina de Neymar à disciplina de Dorival Júnior, o Santos comportou-se como os colégios que, ao ver um aluno desrespeitar um professor, demitem o professor. Como Neymar é uma figura pública, o ato do Santos sinaliza para milhões de jovens brasileiros que eles podem tudo e não devem nada a ninguém.”

Ruy Castro, Folha de S.Paulo – 25/09/2010

 

“Mais importantes que os fatos em si são suas repercussões. Qual o sentido dessa encrenca toda? Qual o seu impacto no imaginário dos torcedores? […] De repente, Neymar virou, no imaginário nacional, o todo-poderoso soberano do futebol brasileiro, um déspota caprichoso cujo poder desconheceria limites. […] Há muita gente que não suporta Neymar porque ele é petulante, abusado, desrespeitoso com adversários e companheiros, insubordinado com seus ‘superiores’. Mas há também gente que não o engole simplesmente porque ele é craque, é diferente imprevisível.

A regra, o padrão, é sempre mais confortável, menos perturbador que a exceção. Tarefa difícil, num caso desses, é separar o que é de Neymar do que é de nós mesmos que estamos brigando ou com uma parte de nós mesmos.”

José Geraldo Couto, Folha de S.Paulo – 25/09/2010

 

“Sete em cada dez mulheres que sobreviveram ao câncer de mama sofrem disfunções sexuais, segundo um estudo publicado ontem no site especializado Health. A pesquisa aponta como causa principal os efeitos psicológicos da cirurgia mamária.”

Estado de S.Paulo – 25/09/2010

 

“Arte política não pode ser imediatista. O trabalho tem que estar inserido na história da arte. Não adianta fazer denúncia de pernas curtas, que não sobrevive às circunstâncias.”

Cildo Meireles, artista plástico – Folha de S.Paulo – 25/09/2010

 

“A arte é importante demais para ser só o míssil de um discurso.”

Joseph Kosuth, artista plástico – Folha de S.Paulo – 25/09/2010

 

“Política está ligada ao poder humano de interferência nas estruturas. Uma grande obra de arte é política em si.”

José Celso Martinez Corrêa, diretor teatral, Folha de S.Paulo – 25/09/2010

24 de setembro de 2010

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“De 18 a 29 de outubro, em Nagoya, no Japão, nova reunião da Convenção da Diversidade Biológica (CDB) – que nasceu no Rio de Janeiro, em 1991 – discutirá caminhos para tentar reverter o atual quadro de perda da biodiversidade no mundo, que é, junto com as mudanças climáticas, a maior ‘ameaça à sobrevivência da espécie humana’, segundo o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan. Já estamos consumindo pelo menos mais de 30% de recursos naturais acima da capacidade de reposição do nosso planeta, diz o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. E isso contribui decisivamente para o desaparecimento progressivo das espécies em terra e no mar. […] O Brasil tem lugar destacado entre os detentores de biodiversidade – entre 15% e 20% do total mundial. São 103.870 espécies incluindo vegetais, fungos e algas; 9.101 espécies marinhas; e quase 2.600 espécies de peixes de água doce, das quais 800 ameaçadas de extinção (a bacia mais ameaçada é a do Paraná). O valor anual dessa biodiversidade brasileira é calculado em US$ 2 trilhões. […] ‘A exploração em excesso ameaça o mundo’, alerta o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. De fato, há estudos indicando ameaças à sobrevivência de 520 milhões de pessoas por causa do esgotamento próximo de estoques pesqueiros em 65% das águas marítimas. […]

É por essas coisas que passa o futuro humano. Por isso é bom prestar a atenção em Nagoya.”

Washington Novaes, Estado de S.Paulo – 24/09/2010

 

“José Saramago e Pilar se completavam em tudo. Quase todos os últimos romances dele foram dedicados a ela. Eles tinham uma história de amor muito bonita, muito tocante. Saramago não seria o mesmo sem ela”

Fernando Meirellescineasta e produtor de “José e Pilar”, Folha de S.Paulo – 24/09/2010

 

“Se eu aprendi alguma coisa na prisão, foi que dinheiro não é a coisa mais importante na vida… O tempo é!”

Michael Douglas, que interpreta Gordon Gekko no filme “Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme” Folha de S.Paulo – 24/09/2010

23 de setembro de 2010

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“Ocorreu-me que talvez uma das fontes da infelicidade seja a necessidade de parecermos felizes. Por que precisaríamos mostrar ao mundo uma cara (ou uma careta) de felicidade?

1)      A felicidade dá status, como a riqueza. Por isso, os sinais aparentes de felicidade podem ser mais relevantes do que a íntima sensação de bem-estar;

2)      Além disso, somos cronicamente dependentes do olhar dos outros. Consequência: para ter certeza de que sou feliz, preciso constatar que os outros enxergam minha felicidade.”

 Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo – 23/09/2010

 

“A realidade eu tenho todo dia. Vejo as coisas ruins, criticáveis, e escrevo sobre elas. Isso te envenena a alma. Fiz esse filme [“Suprema Felicidade”] em busca do prazer da obra de arte.”

Arnaldo Jabor, Folha de S.Paulo – 23/09/2010

 

“A indústria dos telefones celulares jogou no mercado uma quantidade e variedade tal de aparelhos que, a cada novo equipamento comprado, temos de passar por um – muitas vezes – penoso processo de adaptação para conseguir fazer uso da parte que julgamos essencial do produto. […] Fazer o que já sabemos fazer, mesmo que seja complicado, é muitas vezes mais fácil do que fazer o mesmo de uma maneira nova, ainda que mais simples.”

Márion Strecker, Folha de S.Paulo – 23/09/2010

22 de setembro de 2010

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“Estudo de 2009 feito pela divisão de saúde do trabalhador do Inca (Instituto Nacional do Câncer) mostrou que, dos 159 trabalhadores do hospital em licença, 32% tinham histórico de transtornos mentais ou de comportamentos, como depressão.”

Denise Menchen, Folha de S.Paulo, 22/09/2010

 

“Pesquisadores da área médica estão exagerando na quantidade de testes publicados. Boa parte da produção é de baixa qualidade, já foi publicada em algum outro lugar ou, simplesmente, não tem relevância.

A afirmação é de cientistas da Europa e da Austrália, que fizeram um levantamento sobre os testes clínicos no mundo e constataram: com o atual volume de produção, é impossível catalogar e selecionar o que é relevante.

Por dia, são publicados 75 testes clínicos, além de 11 revisões sistemáticas – uma espécie de apanhado com os resultados mais relevantes de uma determinada questão, contendo análises aprofundadas de especialistas.

Com uma média de 80 participantes por trabalho, esses estudos envolveriam, ao todo, cerca de 2 milhões de pessoas por ano, o equivalente à população de Curitiba (PR).”

Giuliana Miranda, Folha de S.Paulo, 22/09/2010

Onde e quando vamos parar?

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Assim como na música a pausa faz parte e o silêncio contribui para e na a composição, nós também necessitamos de pausas cotidianas, de espaços meditativos, de tempo especial para o fôlego de nossa alma, de silêncio acolhedor e acolhido dentro de nós. Inclusive nosso cérebro precisa de pausas para guardar melhor as informações. Se ele fica ocupado o tempo todo, sobrecarrega-se, e impede nosso aprendizado.

Em tempos de excesso de dados digitais, informações nos chegando continuamente, a tendência é de esgotamento. Com os olhos em monitores em boa parte do dia (celular, televisão, computador, etc.), e por vezes, em mais de um quase ao mesmo tempo, dividindo nosso atenção e confundindo o armazenamento das informações, sofremos com muito estímulo e pouco tempo para assimilação.

Começa-se a estudar melhor as implicações desse contexto nas gerações mais novas. Antes especialmente as mulheres eram obrigadas a encararem a dinâmica multitarefas, agora, as crianças já estão se habituando a viverem assim. O estranho passa a ser quando se faz uma só coisa por vez. Facilmente esses podem ser rotulados de lentos, culpados por estarem perdendo muito, e, e o sentimento de inadequação cresce num contexto de aceleração e imposição de velocidades.

O processamento de muitas informações cansa, mas, o que afinal temos conseguido processar no dia-a-dia? Num mundo de novidades sempre recebemos ofertas de entretenimento e opções para “ganharmos tempo”, que muitas vezes, apenas sugam mais de nós, de nossa atenção quando deveríamos preservar e valorizar uma saudável pausa.

Um dos fundadores da empresa PlayFish, que cria jogos, diz orgulhoso que o avanço e grande descoberta é investir no desenvolvimento de jogos que preencham os micromomentos das pessoas. E o marketing passa por não “desperdiçar ou perder seu tempo”. Fuja do tédio agora é a arma de convencimento.

O que é desperdiçar e perder tempo atualmente? E da onde vem esse tédio do qual precisamos fugir espertamente?

Assim sendo, o silêncio é visto e vivido como tesouro ou como angústia?

Ao que parece, hoje em dia, o que vivemos é a falta de silêncio. Nosso contexto nos favorece a acostumarmos com os barulhos. Já nem sempre nos damos conta da poluição sonora que nos cerca, aliás, nós a promovemos muitas vezes.

No ouvido da maioria sempre tem algo, além de brincos e alargadores. Pode ser um celular ou um fone de ouvido qualquer. Além disso, é cada vez mais comum estar plugado o tempo todo. Você não está conectado? Está perdendo…

Claro que precisamos acompanhar os avanços, conhecer algumas novidades bem interessantes, saber aproveitar a tecnologia e usá-la a nosso favor. Mas, a questão é qual o limite? Sabemos nos impor limites?

Quem sente falta do silêncio? Se lembra dele? Chegou a desfrutá-lo, a conhece-lo bem?

A Yoga e outras alternativas escolas de meditação tem se proposto a auxiliar as pessoas na melhora da concentração, numa respiração mais adequada e consciente, e a aprender a silenciar-se.

Quando lemos na Bíblia os relatos a respeito de Jesus Cristo vemos o quanto ele optava pelo silêncio, valorizava a solitude e priorizava momentos a sós, em oração.

Ser um discípulo de Jesus, ao que me parece, tem a ver com aprender a viver assim. Mas, quanto há ao nosso redor para nos distrair! Leonardo Boff, diz que “A vida interior representa, atualmente, a dimensão esquecida da humanidade. Importa resgatá-la, pois nela se encontra o segredo da felicidade, da responsabilidade diante de toda a vida, do cuidado para com todas as coisas. Ela significa o sagrado em nós, que nos propicia o sentimento de dignidade, de respeito e de reverência”.

As palavras de Jesus são tão provocativas e convidativas a refletirmos mais profundamente sobre nosso estilo de vida, e mais, a atentarmos para nossa agenda oculta. Se realmente queremos compreender melhor o significado de seu ensino, necessariamente teremos que diminuir o ritmo, desacelerar e cultivar momentos a sós, aprender ou reaprender a orar, valorizarmos o silêncio.

Henri Nouwen, por sua vez, comenta que “Assim como as palavras perdem a força quando não nascem do silêncio, a abertura perde seu significado quando não existe a capacidade de se fechar. […] Muitas vezes, as ilusões são mais passíveis de serem vividas que as realidades. […] Para viver uma vida espiritual, primeiro devemos ter coragem de entrar no deserto de nosso isolamento e transformá-lo por meio de esforços sutis e persistentes em um jardim de solidão”. Que venham novos espaços! Coragem!

No Evangelho de Marcos lemos: “De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou-se, saiu de casa e foi para um lugar deserto, onde ficou orando” (Mc 1.35).

Boas saídas para se encontrar.

21 de setembro de 2010

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“O poder sempre esteve baseado no controle e, às vezes, na manipulação da informação. O grau de autonomia das pessoas para se comunicar, informar e organizar suas próprias redes de sociabilidade é muito mais potente com a internet. Ela é a construção da autonomia da sociedade civil. Os governos sempre tiveram horror a isso. […]

A única maneira de controlar a internet é desconectá-la totalmente. E isso hoje em dia é um preço que nenhum país pode pagar porque, além de livre expressão, a rede é educação, economia, negócios… é a eletricidade de nossa sociedade. […]

Os poderosos vigiavam os demais porque tinham os meios e a capacidade de fazê-lo. Mas agora as pessoas também podem vigiar os poderosos. Qualquer jovem com um celular, se vê uma personalidade política fazendo algo inconveniente, pode imediatamente difundir a cena. Hoje os poderosos têm que se esconder, sua vida é mais transparente, mas não há um controle, apenas vigilância. […]

O Brasil segue uma dinâmica assistencialista em que da política se esperam subsídios e favores, mais do que políticas. […] A renovação do sistema político exige que as pessoas queiram uma mudança, e isso normalmente ocorre quando existem crises. A internet serve para amplificar e articular movimentos autônomos da sociedade. Ora, se essa sociedade não quer mudar, a internet servirá para que não mude.”

Manuel Castells, 68 anos, sociólogo espanhol, Folha de S.Paulo – 21/09/2010

“A maioria dos usuários de internet da classe C pesquisados pela consultoria TNS Research utiliza a web diariamente e fica até quatro horas conectado. Segundo o levantamento que foi realizado com 500 pessoas – sendo metade da classe C – 71% dos entrevistados utilizam a internet diariamente, percentual equivalente ao das classes A e B (74%). A maioria dos internautas (65%) fica conectada de uma a quatro horas por dia, enquanto 21% navegam por mais de seus horas. Na divisão por idade, a maioria (68%) dos usuários tem entre 18 a 24 anos. Mais da metade (52%) é mulher, perfil semlehante ao das classes A e B.”

Camila Fusco, Folha de S.Paulo – 21/09/2010

 

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