Linguagens da alma e a experiência com os Salmos (139)
No melhor dos meus sonhos está uma relação com alguém que conheça tudo a meu respeito, inteiramente.
Alguém que sabe quando estou trabalhando, e me olha ali. Mas também sabe e me vê enquanto descanso. Não só me respeita nesse tempo, como se alegra por mim. Zela por meu sono, pois assim, descanso até melhor.
Alguém que me conheça tanto que saiba até meu pensamento. Portanto, antes mesmo da palavra escapar por minha boca, esse alguém já a conheceria completamente. De longe e de perto a precisão é a mesma. Absolutamente.
Alguém que esteja comigo sempre, mesmo não se fazendo notar. Alguém que saiba comigo silenciar, saiba me calar e saiba falar ao meu coração, onde a razão é livre e o sentimento bem-vindo.
Alguém que seja poderoso para me proteger. Alguém que não me deixa fugir. Alguém que me guia enquanto perdida. Alguém que me dê a mão quando no sufoco me encontro. Alguém que me deixa voar sem me perder de vista, sem me deixar. Alguém que conheça meus mergulhos e me socorra quando já falta o ar. Enfim, alguém para quem não exista distância, embora haja espaço digno.
Alguém que me achasse mesmo quando considero que esteja na maior escuridão do mundo. Quando a alma, na noite escura, assustada e perto do esgotamento, simplesmente bloqueia, sem caber nenhum suspiro mais, esse alguém me alcançaria, me enxergando claramente, como o sol ao meio dia.
Que sonho é esse? Que desejo insaciável me acompanha! Impossível? É, esse alguém teria de ser onipotente, onisciente, onipresente.
Deus, assim se apresentas, e oferece tua relação. “Eu não consigo entender como tu me conheces tão bem; o teu conhecimento é profundo demais para mim” (v.6). Você que plasmou o meu interior, e me teceste no seio de minha mãe, conheces a sério a minha alma. Nada da minha substância escapava quando era formada no silêncio, tecida nas entranhas da vida humana. Mas ali estava tua mão artista. E assim tudo que fizeste foi maravilhoso, embora muitas vezes eu não reconheça bem e tenha dúvidas.
Minha vida não acabou, mas tu já conheces o fim dela. E do começo ao fim, nada lhe escapa, teu amor me cerca por todos os lados.
“Ó Deus, como é difícil entender os teus pensamentos! E eles são tantos! Se eu os contasse, seriam mais do que os grãos de areia. Quando acordo, ainda estou contigo” (vv.17-18).
Nessa vida, apesar disso tudo que me deste, que por mim fizeste, ainda vejo os maus. Falam mal de mim e de ti. Críticas, ódios, violências, inimizades. Enxergo isso neles, mas só vejo neles porque há isso tudo também em mim.
Ó Deus, examina-me, e tu que conheces o meu coração, mostra-o melhor a mim, dando-me provas de quem sou. Tu que vês tudo que há em mim, que conheces tão bem meus pensamentos, dirigi-me pelo caminho que leva a um viver pleno, mais consciente, mais grato, mais humilde, sobretudo, mais perto de ti.
[…] Tais Machado, na Ultimato […]