Nessas últimas semanas nosso país respirou Copa do Mundo, e desde nossa derrota para a Alemanha, que nos tirou da final, vimos uma enxurrada de comentários, críticas, muita piada, gente frustrada, lamentos por todo o canto, lágrimas, enfim, um tanto de brasilidade diante da derrota, nosso jeito de encarar beleza e tragédia.

A jornalista Eliane Brum escreveu (no jornal Folha de São Paulo – 11/07/2014) o seguinte: “Essa foi a seleção do pensamento mágico. Age-se como se houvesse uma predestinação. Se você acreditar muito, você consegue. Se você rezar muito, acontece. A arrogância enorme de achar que ‘deus’ é torcedor do seu time porque você é o mais merecedor expressa nas cenas de joelhos dentro do campo, os dedos apontando para o céu, a oração em transe nos momentos-limite. Só que acreditar não foi o suficiente para fazer acontecer. A realidade deu de goleada.”

Chamou-me a atenção o quanto esse pensamento mágico está por toda parte hoje em dia. Essa espécie de pensamento ilusório do tipo onipotente, infantilizado, crente de que apenas a força do pensamento seria capaz de reverter uma narrativa ou mudar um desfecho. E mesmo, o quanto hoje a oração, para muitos, não passa de um exercício supersticioso, um pensamento mágico, onde fé e pensamento positivo se misturam ou são praticamente a mesma coisa.

Parece que vivemos tempos confusos, onde as definições que ainda sobrevivem são pouco consistentes, fechadas ao diálogo, a agressividade na crítica tornou-se comum, e tudo é rápido e ralo. Lembro-me de Enrique Rojas, décadas atrás, dizendo: “Assim como nos últimos anos entraram em moda certos produtos light – o cigarro, algumas bebidas ou certos alimentos -, também foi sendo gerado um tipo de homem que poderia ser qualificado de homem light. Qual é o seu perfil psicológico? Como poderia ser definido? Trata-se de um homem relativamente bem-informado, mas de escassa educação humanista. Tudo lhe interessa, mas de forma superficial; não é capaz de fazer uma síntese daquilo que percebe e, como consequência, se converte numa pessoa trivial, superficial, frívola, que aceita tudo, mas que carece de critérios sólidos em sua conduta. Tudo nele se torna etéreo, leve, volátil, banal, permissivo”.

Nem tudo precisa ser denso, sério, perfeitamente elaborado, prolongado, mas, acentua-se o fato de que temos opinião pra tudo, mas nada sólido. Apenas um tanto de amargura que solta-se facilmente pela língua, e em tempos digitais – dedos, afiados. E no mundo religioso, dito cristão, parece que não é tão diferente. Uma espécie de “cristão light”, onde oração e fé, num país já bastante místico, têm um pouco de tudo e quase nada.

É interessante retomar a Thomas Merton que dizia que “como o homem é, assim ele ora. É pelo modo de falarmos a Deus que nós nos fazemos aquilo que somos. O homem que não ora jamais, é alguém que tentou fugir de si mesmo, porque fugiu de Deus”.

Desconfio que por não sabermos e não desejarmos orar, descobrimos conveniente fuga, vivendo como sujeitos light. Acrescido de pouco conhecimento bíblico, a vivência é ainda mais pobre, confusa e então, o vale tudo aparece, a superficialidade cresce, e o pensamento mágico domina.

Quero tempo para entender, calma para refletir, disciplina para estudar, empatia para ouvir, reverência para dialogar, silêncio para concluir.