Coisas que eu nem sei
É impressionante nossa capacidade de achar que já entendemos o que tinha para ser entendido, e também, ignorar algumas coisas que estão tão perto de nós.
Num quarto de hospital a conversa se deu entre duas mulheres:
– Na igreja a gente fez a campanha da dracma perdida.
– O que é dracma?
– É tudo aquilo que a gente esquece de fazer.
O relato da parábola de Jesus que encontramos no registro do Evangelho de Lucas 15.8-10 é tão precioso, contando de algo valioso (especialmente para quem tem pouco) que foi perdido, mas também foi buscado, e ao ser achado a festa se dá. A dracma era uma moeda de prata equivalente a diária de um trabalhador braçal. E ela não precisa ser esquecida, tão pouco ser sinônimo de descuido. Lembrei-me da música de Danni Carlos (Coisas que eu sei) que diz: “Meu conhecimento é minha distração”.
Por esses dias a mídia noticiou o tesouro que um casal da Califórnia, já de meia-idade, passeando com o cachorro em sua propriedade rural, nas colinas de Gold Country, achou – US$ 10 milhões (R$23,5 milhões) em moedas de ouro raras. Eles já moravam há anos nesse lugar e não faziam ideia do tesouro bem debaixo de seus pés, ali o tempo todo. Que surpresa quando resolveram examinar o que parecia uma lata enferrujada que começava a sair da terra, em um caminho já conhecido de anos dentro da propriedade deles. Quantas vezes não caminharam por aquele trecho ignorando o tesouro?!
Jacó também foi surpreendido, ficou maravilhado e até teve medo diante da grandeza achada. No caminho entre Berseba e Harã parou para pernoitar, afinal, já estava escuro e seria difícil prosseguir. Pegou uma pedra, fez de travesseiro e pronto, foi o suficiente para pegar no sono e sonhar. O sonho era estranhamente bom, uma escada apoiada na terra, tinha o topo no céu, e nela anjos subiam e desciam. Ao lado estava Deus e este lhe dizia coisas maravilhosas, renovando a aliança que havia feito ao seu avô Abraão. Nesse sonho Jacó ouvia do Senhor: “Estou com você e cuidarei de você, onde quer que vá. Não o deixarei”. E então, quando Jacó acorda, simplesmente reconhece: “Sem dúvida, o Senhor está neste lugar, mas eu não sabia!” (Gn 28.16).
A vida é assim, ignorâncias e mal entendidos, que nos atrasam e confundem. Limitações e teimosias, medos e sustos, distrações e faltas nos fazem lembrar quem somos. Mas, a vida também é surpreendente, trazendo-nos alegrias, possibilitando achados e descobertas que são tesouros. Buscar, passear, viajar, rir, dormir, encontrar, são movimentos da vida, corriqueiros, porém, podem nos trazer maravilhas inesperadas, podem deixar nossa caminhada melhor, mais tranquila.
Brennan Manning se examinava: “Será que passei a levar a vida muito a sério? Será que na confusão do dia a dia permiti que se dissipasse o meu senso pueril de maravilhosamento? Será que parei de atentar para pôr-do-sol e o arco-íris? Será que me perdi tanto em ensinar, escrever, viajar que já não ouço o som da chuva no telhado? Será que levar a vida a sério passou a significar levar uma vida de tristeza? Será que viver é apenas outra palavra para resistir?”.
Leveza e reflexão, alegria, atenção e nova compreensão podem deixar a vida mais saborosa. E o que pode haver de mais maravilhoso do que encontrar Deus?
Jesus nos convida para irmos até ele, sem enganos, o fardo existe, mas trata-se de algo leve (Mt 11.28-29). O que é certo é que encontrarão descanso. Muitos se perguntam onde está a leveza porque vivem com pesos quase insuportáveis e as forças se esgotam, contudo, o convite é válido ainda hoje. Com Jesus nos surpreendemos e nos maravilhamos porque nele há uma vida que ignorávamos, há novidade no viver que não fazíamos ideia ser real. Há movimentos que podem nos levar a ele, depende de nós, pois, sua misericórdia, compaixão e graça já temos.
Não levar a vida muito a sério, pode nos dar mais tranquilidade, sem exagerar no comodismo e sempre ser responsável, mas o tema é muito bem – parabéns.
muito oportuno este artigo,parabens Tais machado.
[…] Fonte: Ultimato […]