Para ouvir bem, é preciso tempo. Para ouvir com qualidade é preciso silêncio. Mas, tempo e silêncio são dois tesouros que se tornaram relíquias em nossos dias.

O que nossa incapacidade contemporânea de silenciar diz a nosso respeito? Será que já fomos contaminados por uma certa epidemia, quase discreta, que alastra uma infecção social em nossos ouvidos? Será que eles encontram-se tão deformados que já não cumprem sua função?

Quando conversamos ou lemos (em tese, um potencial diálogo com o autor), em geral, o fazemos com pressa, e então, perdemos. Perdemos tempo porque não apreendemos, perdemos o respeito, porque não oferecemos uma escuta de qualidade. Como já disse Rubem Alves: “É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se falo logo a seguir são duas as possibilidades. Primeira: ‘Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava eu pensava nas coisas que eu iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado.’ Segunda: ‘Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou’. Em ambos os casos estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: ‘Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou.’”

Desconfio que nossa inabilidade em ouvir seja apenas sintoma, afinal, não nos faltam modelos de egocentrismo, onde não se dá a mínima para que o outro pode dizer e sentir e só aspira a seu próprio bem-estar. Vamos, desavergonhadamente, assumindo cada vez mais nossa fala compulsiva, viva a verborragia! E assim, o barulho aumenta. Doentes vaidosos, só queremos ouvir nossa voz, poderosa, ecoando aos quatro ventos, inclusive os virtuais. Ledo engano, ninguém mais quer ouvir ninguém. Fingidores da audição, porém, verdadeiros falastrões.

Pouco atentamos a experiência do salmista: “Acalmei e tranquilizei a minha alma. Sou como uma criança recém-amamentada por sua mãe; a minha alma é como essa criança” (Sl 131.2). Cultivar um coração tranquilo, estar interiormente como uma criança segura no aconchego da mãe, pode ter bastante a ver com diminuir o ritmo e silenciar mais. Atentar para a agitação externa que contamina e recusar aderir ao frenesi da nossa época.

O respeito ao próximo passa por aprender a ouvir, e quando esse respeito se manifesta na qualidade com que se ouve pode nascer uma amizade. Menos palavras podem ajudar a ter uma melhor relação. Ouvir mais pode contribuir para aprofundar os relacionamentos. O silêncio reverente pode aproximar mais e melhor, e trazer um pouco da calmaria tão desejada – tranquilidade para a alma, que encontra sossego e satisfação no exercício do bem ouvir, filtro importante para o espírito apressado/agitado de nosso tempo.