“O descrédito nos políticos atinge os píncaros. As manifestações que se multiplicam pelo País expressam tal sentimento. O verbo indignado está nas ruas. A massa tende a associar signos, símbolos e perfis que representam o poder com os dissabores da vida cotidiana. Na moldura cabem Executivos, Congresso, representantes, juízes corruptos, empresários flagrados na maré de corrupção. Urge, porém, separar a expressão passional da locução racional. Fazer política sem as instituições é cair na escuridão das ditaduras.”

Gaudêncio Torquato, O Estado de S.Paulo – 07/07/2013

 

“O que há de comum com outros movimentos similares e o que há de específico? Uma das características surpreendentes é a força gravitacional de um movimento liderado por jovens de uma classe média diversificada, em que manifestantes das classes C e D marcharam junto aos das classes A e B. Em poucos dias, o que era uma reivindicação tópica adquiriu escala nacional, atraindo cidadãos urbanos não organizados em 360 cidades. Com isso a pauta de reivindicações ganhou em densidade, diversificou-se e converteu-se num alvo móvel. Um dos fatores de sucesso é seu caráter apartidário, graças ao uso intensivo dessa imagem como seu principal asset político.”

Lourdes Sola, O Estado de S.Paulo – 08/07/2013

 

“O desafio dos jovens é manter a força do movimento, num momento em que as manifestações naturalmente diminuem, o inverno e as férias chegam e promessas dos governos atendem parcialmente a algumas demandas. Os políticos deveriam perceber que o desafio é usar essa força para mudar o país naquilo que ele tem de pior. Têm de limpar as feridas para facilitar a cicatrização. Não adianta dourar indefinidamente a pílula, na espera de um Brasil que nunca chega!”

Jairo Bouer, Época – 08/07/2013

 

“O que o movimento de protestos chileno nos ensinou é que o crescimento não é uma panaceia para os problemas de um país. Embora o sucesso econômico de um Estado permita que seu governo enfrente desafios domésticos, esse mesmo sucesso intensifica as pressões para que líderes realizem bem seu trabalho. No Brasil, essa pressão se traduziu em demanda por serviços de boa qualidade para todos. Como no Chile, o sucesso econômico despertou expectativas quanto à capacidade do governo para servir os cidadãos. E porque o governo canalizou bilhões de dólares às instalações para a Copa do Mundo e a Olimpíada, a indignação pela lentidão do governo em usar esses recursos para melhorar as escolas e expandir seus programas sociais se multiplicou. Em certo sentido, portanto, o Brasil é vítima de seu sucesso.”

Carl Meacham, Folha de S.Paulo – 09/07/2013

 

“Os cidadãos cansaram de ouvir tanto horror perante os céus sem que nada mude. […] Não deve existir uma separação radical entre o mundo da política e a vida cotidiana, nem muito menos entre valores e interesses práticos. No mundo interconectado de hoje, movimentos protestatários irrompem sem uma ligação formal com a política tradicional. Na vida política, tudo depende da capacidade de politizar o apelo e de dirigi-lo a quem possa ouvi-lo. No mundo contemporâneo, essa agenda brota também da sociedade, de seus blogs, twitters, redes sociais, da mídia, das organizações da sociedade civil, enfim, é um processo coletivo.”

Fernando Henrique Cardoso, O Estado de S.Paulo – 09/07/2013

 

“A literatura reconstrói nosso lugar no mundo, nos desenha, é um espelho para que nos vejamos melhor. A leitura de um bom romance é uma viagem visceral, é uma experiência, é um jeito de ter novos olhos e ouvidos. Somos capazes de captar por meio da literatura, conviver com a arte nos faz crescer como seres humanos.”

Nina Horta, Folha de S.Paulo – 10/07/2013

 

“Empresas e outras organizações exigem cada vez mais de seus funcionários a capacidade de entender o mundo ao redor, de pensar criativamente, de criar e de agir com autonomia. É a nossa base cultural, a permear a literatura, a música, o cinema e o teatro, que contém os elementos para desenvolver essas capacidades. São nossas viagens intelectuais pelo mundo das artes a nos permitir escapar das convenções, olhar além dos lugares-comuns, fazer conexões, pensar fora do convencional e buscar novas ideias.”

Thomaz Wood Jr., Carta Capital – 10/07/2013

 

“Em uma época na qual se insiste tanto na importância da criatividade e da inovação, pouco ou quase nada se ouve sobre a renovação do discurso. Não há nenhum personal trainer para a palavra, não conheço receita, manual, regime ou educação dirigida que seja eficiente neste assunto (não confundir com oratória, sedução e coisas do gênero). A cura para isso anda escassa. É na poesia que aprendemos o trabalho de dizer com cuidado e escutar com precisão. Mas quem defenderá a utilidade da poesia como gênero de primeira necessidade da vida relacional?”

Christian Ingo Lens Dunker, Mente&Cérebro – julho de 2013

 

“Se o grito das ruas, ainda que implicitamente, era por ’novas formas de atuação dos poderes do Estado, em todos os níveis federativos’, como disse a presidente, então as ruas perderam. É quase impossível que instituições tão desprestigiadas quanto os partidos e os parlamentos encampem “’novas formas de atuação’.”

Clóvis Rossi, Folha de S.Paulo – 11/07/2013

 

“Pode ser que, aos poucos, as manifestações populares se acalmem. Mas talvez algo irreversível tenha acontecido: uma desconfiança, que existia há tempos (se não desde a origem do país), agora se tornou exasperação. E a exasperação é quase sempre um prelúdio. Ao quê? Seria sábio ter medo? Uma coisa é certa: a responsabilidade pela eventual ‘aventura’ de hoje não é das massas exasperadas, é de quem as encurralou até a exasperação.”

Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo – 11/07/2013

 

“Estudos da ciência comportamental apontam o ser humano como uma espécie de ‘máquina superconfiante’, que geralmente exagera as avaliações sobre as próprias qualidades. Ao responder a pesquisas sobre seu desempenho, por exemplo, a maioria se considera acima da média – uma conclusão que desafia a possibilidade estatística. Essa defasagem entre a autoilusão e a realidade pode gerar no ambiente de trabalho consequências até piores do que a incompetência das pessoas menos inteligentes, alertam cientistas e consultores.”

Época Negócios – julho de 2013