“Você sabia? Que a Tunísia, berço da Primavera Árabe, juntou-se a uma coalizão de 20 países em defesa de uma internet livre e aberta? Que há dois anos o país era uma ditadura, onde a rede era censurada, e que hoje é uma jovem democracia onde qualquer pessoa fala o que quiser on-line? Como dizem por lá, ‘falta emprego e educação, mas ao menos eu posso dizer quem é o culpado’. […] A primavera é contagiosa. A energia que primeiro manifestou-se em Túnis mudou o país e a região. O processo de avanços e retrocessos continua e não é fácil. Estamos agora vivendo a adrenalina de que tudo pode acontecer.”

Ronaldo Lemos, Folha de S.Paulo – 24/06/2013

 

“Nos últimos dez anos, houve muitos avanços no Brasil. Quarenta milhões ascenderam à classe média. Mas a vida nas grandes metrópoles está um inferno. Os serviços são muito ruins. Saúde hoje é um ‘problemaço’. Aquele jovem de 17 ou 18 anos, que está entrando em uma universidade, está irritado com as instituições, com os governos, com as prioridades tomadas. Quando vê uma Copa das Confederações, essa grande desta, esse ‘Brasil do cartão postal’, ele chama para o Brasil real. Esse movimento está com base popular. Tem uma coisa diferente da minha época, da juventude do movimento do impeachment, era mais de juventude de classe média. […] A pauta que esses caras podem ajudar é colocar a vida do povo no centro do debate político.”

Lindbergh Farias, Folha de S.Paulo – 24/06/2013

 

“Não é com as Diretas Já ou o Fora Collor que se parecem as manifestações atuais. Aquelas iniciativas foram enquadradas e dirigidas por líderes políticos. Possuíam objetivo único e bem definido: o fim da ditadura, o fim de um presidente. Visavam, no fundo, substituir os que detinham o poder. Os manifestantes brasileiros restabeleceram o exercício direto da cidadania, demonstraram que o mar de corrupção não afogou a consciência moral dos jovens, revelaram senso de hierarquia de valores e prioridades superior ao de um governo empenhado em anestesiar os cidadãos com o desperdício circense da Copa. […] A euforia das passeatas, a intoxicação de se sentir ator e sujeito do próprio destino, traz de volta o que ensinavam os gregos: a mais nobre expressão da vida humana é participar do governo da cidade. Para isso, é preciso ter, como dizia Celso Furtado, uma ‘fantasia organizada’.”

Rubens Ricupero, Folha de S.Paulo – 24/06/2013

 

“Cultura é algo que você passa a precisar depois que tem um contato com ela. […] O teatro lida com coisas que são novas, que são caóticas. O teatro desorganiza. […] Uma linha muito forte: a de que o ser humano precisa ouvir histórias. Quando essa história é bem contada ao vivo, ninguém esquece. É muito difícil esquecermos uma peça de teatro boa. A gente esquece filme, mas peça nunca.”

Lígia Cortez, O Estado de S.Paulo – 24/06/2013

 

“O poder do teatro é pequeno, mas profundo. As experiências teatrais radicais – no sentido de vivas – são decisivas, formadoras. […] O teatro exige conexões.”

Sérgio de Carvalho, O Estado de S.Paulo – 24/06/2013

 

“Existe uma correlação entre participação cívica e o nível de felicidade de uma população. No Brasil, esse engajamento é pequeno. Espero que esses protestos sejam o início de uma mudança, não apenas um desabafo. Por trás desses manifestos, está a insatisfação com os serviços públicos oferecidos num país em que a carga tributária é altíssima: 36%. O aumento da passagem de ônibus é somente a parte visível dessa insatisfação. A inflação incomoda. A sensação de bem-estar advinda do aumento da renda ficou para trás, em 2011 e 2012.”

Eduardo Giannetti, “Revista Época” – 24/06/2013

 

“Não devemos confundir todos esses levantes entre si nem suas causas nem suas estratégias e efeitos. Mas elas têm um ponto em comum. Todas dizem aos dirigentes: ‘Não bebam o nosso sangue, não se comportem como ladrões, não entreguem as chaves da casa aos arrombadores. As pessoas estão cansadas; é verdade, elas parecem passivas e resignadas, mas um dia despertarão e o poder estará ameaçado. Governantes, tenham medo!’.”

Gilles Lapouge, O Estado de S.Paulo – 25/06/2013

 

“[Quanto aos protestos] É um fenômeno inédito, que bota a gente para pensar muito. Os problemas da corrupção, da educação, da saúde e do transporte não são os problemas objetivos, e sim a indiferença dos políticos de um modo geral. Está todo mundo perplexo, mas isso tudo vai ser um bem para o Brasil. […] A crise de ética brasileira é enorme. É claro que não se pode gastar milhões e milhões em estádios para os Jogos Olímpicos se o entorno está em estado de miserabilidade. O combustível é o ódio interno que as pessoas têm contra a injustiça social. […] Agora se pede a mudança de uma moral. Ninguém sabe o que quer, só sabe o que não quer, e vai pedir mesmo assim. Isso é novo, revolucionário, moderno.”

Domingos Oliveira, O Estado de S.Paulo – 25/06/2013

 

“A escola e a saúde públicas são o destino resignado dos desfavorecidos. A insegurança se tornou uma condição existencial, tanto no espaço público quanto dentro da própria casa de cada um. O atraso da Justiça garante impunidades iníquas. Convenhamos, seria mais fácil aceitar essa triste realidade 1) se a corrupção não fosse endêmica e capilar, especialmente na administração pública, 2) se os governantes baixassem o tom ufanista de nossos supostos progressos e sucessos, 3) se a administração pública não fosse cronicamente abusiva e desrespeitosa dos cidadãos e de seus direito. Além disso, o dinheiro no Brasil compra uma cidadania VIP, na qual não só escola, saúde e segurança são serviços particulares, mas a própria relação com a administração pública é filtrada por um exército de facilitadores e despachantes. A sensação de injustiça é exacerbada pela constatação de que muitos representantes procuram ser eleitos para ganhar acesso à dita cidadania VIP.”

Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo – 27/06/2013

 

“Devemos nos alegrar por termos chegado a um ponto de virada, em que é possível fazer a história fora do museu, deixar a velha e estagnada repetição que nos condena a andar sem sair do lugar. Tenho dito e repetido: é hora de metabolizar, não de capitalizar. Para além das reações, podemos construir respostas, reelaborando, sobretudo, os improvisos que a surpresa do momento nos obriga a fazer e colocando em debate as soluções dadas no susto. De nada adianta o frenesi de anúncios com pompa de grandes soluções, sem a sincera disposição de ver e perceber, de escutar e compreender o que dizem as manifestações. Se formos capazes de ver mais que a superfície, o que fizermos terá maior altura e profundidade. […] Basta reconhecer que o poder – se não está com todos – é de todos.”

Marina Silva , Folha de S.Paulo – 28/06/2013

 

“É preciso mudar ‘tudo’, você sabe, e para ontem. A juvenilização da participação política é um fato, mas, desta vez, está produzindo resultados –as bandeiras dos manifestantes, cada vez mais definidas, começam a chacoalhar o Planalto e o Congresso. E, a indicar que essa juvenilização é sem volta.”

Ruy Castro, Folha de S.Paulo – 28/06/2013

 

“Políticos são como água, tomam a forma que os contêm –mas os nossos assombram pela flexibilidade de suas convicções. Neste momento, por exemplo, ao som das ruas, eles estão batendo todos os recordes de aceitação da pauta popular. Nos últimos dias, cancelaram os reajustes de passagens de ônibus e de pedágios nas estradas, reduziram tarifas de transporte, destinaram os royalties do petróleo para educação e saúde, derrubaram a PEC 37, consideram acabar com o voto secreto entre eles e, intrépidos, tornaram a corrupção crime hediondo, aumentando as penas e levando à prisão dos políticos condenados. ‘Pode o leopardo mudar suas pintas?’, perguntou o profeta Jeremias (13:23). Os de Brasília podem.”

Ruy Castro, Folha de S.Paulo – 29/06/2013

 

“As passeatas não são um fato novo. Mas ganharam em capacidade de organização e de divulgação com o avanço das tecnologias da comunicação. Estão-se tornando mais frequentes e consequentes. Numa era de afirmação da democracia em escala mundial, em que golpes e revoluções têm espaço cada vez mais reduzido, os movimentos sociais e suas manifestações se afirmam como instrumento crucial para a transformação da sociedade. Os gritos da rua são um sinal de alerta. Como bem assinala Manuel Castells, ‘o eco dos movimentos sociais é bem mais forte do que os próprios movimentos, assim como as suas consequências nas instituições e no mundo dos negócios’.”

Sergio Amaral, O Estado de S.Paulo – 29/06/2013

 

“Eu dizia que era só questão de tempo e que uma hora iria transbordar para o presencial. Acabou transbordando. E, ao transbordar, o centro não pode agora ter uma atitude de encapsular a borda. […] Era óbvio que a ideia de fazer um discurso orientado pelo marketing não iria funcionar. […] O que está aí tem a força de uma agenda, na qual a reforma política está dentro, mas também a reforma tributária, o problema da educação, da saúde, da segurança pública. Uma agenda que não é para se fazer para eles, mas sim com eles. Os jovens estão dizendo que querem mais. Mas não é mais do mesmo. Querem mais e melhores serviços públicos, qualidade da representação.”

Marina Silva, O Estado de S.Paulo – 29/06/2013

 

“Se renunciamos ao conhecimento que a arte – e somente a arte – pode nos proporcionar, mutilamos a nossa compreensão da realidade.”

Leandro Konder, Revista Cult – junho de 2013