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Romance, vida e a gente
1No dia 18 de Junho de 2010, aos 87 anos de idade, o escritor português e Prêmio Nobel, José Saramago faleceu. Admirado por muitos, e criticado por não poucos, ele provoca-nos interessantes reflexões.
Oito meses antes de sua morte ele concedeu uma entrevista ao jornalista José Rodrigues dos Santos. E agora foi publicada com o título “A Última Entrevista de José Saramago” (pela Usina das Letras).
Em dado momento José Saramago comenta a respeito do romance com as seguintes palavras: “O romance – de acordo com as transformações por que passou recentemente e continua a passar – deixou de ser um gênero para se transformar num espaço literário. Deixou de ser um gênero classificado e dando a ideia de que fica definido para todo o resto do tempo. Não: modificou-se, alterou-se, encontrou, por instinto ou fosse porque fosse, portas de entrada. No fundo, para lhe dar uma imagem, é como se o romance fosse o mar e recebesse água dos seus afluentes, e que esses afluentes fossem, como eu digo, a poesia, o drama, o ensaio, a filosofia, tudo isso. O romance tornou-se outra coisa”.
Nesse momento faço uma pausa. Mais do que pensar a respeito das classificações, se o romance está em vias de extinção ou se e como tem se modificado, penso na vida como romance. Não necessariamente sobre uma vida romântica, tema que também atrai minhas fantasias e carências. Mas, sou levada a pensar na vida com seus afluentes, suas influências, suas portas e trancas, acolhidas e rejeições, filosofias e teorias, os dramas, poesias e ensaios que fazemos, achamos ou criamos em nossas próprias vidas.
Olho para trás e considero as minhas transformações pessoais, mas também as transformações da humanidade. Embora pouco saiba diante da vastidão das mudanças recentes e o turbilhão veloz de tantos acontecimentos a que somos expostos diariamente, o que torna bastante pretensiosa tais considerações, ainda assim, ouso pensar sobre o que tem se passado. Também procuro olhar para frente, onde nada está tão claro, contudo, os sinais e alguns apontamentos assustam.
Qual a imagem atual que o ser humano faz de si? Temos nos tornado outra coisa? É, talvez o mais assustador, é que o ser humano provavelmente esteja cada vez mais para coisa do que para gente. É o que queremos? Estamos conscientes? O que temos escolhido, permitido? Adaptamo-nos para sobreviver ou ignoramos o que deveríamos ser?
As velhas e permanentes questões aí estão. Nascemos de onde, para quê? Há identidade original? Um propósito inicial?
Saramago se foi. Nós estamos indo. Para onde mesmo?
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