Posts tagged depressão
38ª semana de 2013
“A depressão cresce entre as crianças em parte pelas razões pelas quais está aumentando em toda a sociedade, mas também porque as crianças estão sob mais pressão, são mais superestimuladas, mais levadas a se movimentar de um lugar para o outro e de escola para escola. Isso acontece porque os pais estão ambos trabalhando fora, e as crianças têm ficado com uma variedade de cuidadores que as amam menos que os pais. Isso acontece por causa do colapso da família.”
Andrew Solomon, O Estado de S.Paulo – 15/09/2013
“Alguns trabalhos recentes mostram que, em tempos em que tudo acontece nas redes sociais, declarações e publicações em páginas pessoais poderiam dar pistas para amigos e parentes das intenções de alguém que enfrenta sérias dificuldades. Estar atento a esses sinais poderia ajudar a evitar suicídios.”
Jairo Bouer, O Estado de S.Paulo – 15/09/2013
“Se você deixar, tudo gira em torno do dinheiro. Depende de como você encara a profissão. (…) Os temas mais perturbadores são os que nos levam a um maior entendimento sobre a vida.”
Jake Gyllenhaal, ator, O Estado de S.Paulo – 15/09/2013
“Estar pobre torna as pessoas menos capazes de fazer as coisas direito e afeta a habilidade de pensar.”
Eldar Shafir, Folha de S.Paulo – 15/09/2013
“‘Câncer’ são centenas de doenças diferentes. Não há uma cura, mas muitas. A genética nos dá uma nova visão da doença. A batalha é longa e, quanto mais vivermos, maior será a probabilidade de que algo dê errado. No meio tempo, 50% dos cânceres são evitados com medidas como não fumar e evitar muito sol.”
Marcelo Gleiser, Folha de S.Paulo – 15/09/2013
“Hoje existe essa coisa de ‘escolha’, profissão, filhos depois da pós, direitos iguais, ar-condicionado, reposição hormonal, bolsa Prada. Esquecemos que direitos e escolhas são produtos mais caros do que bolsa Prada. Pensamos que brotam em árvores.”
Luiz Felipe Pondé, Folha de S.Paulo – 16/09/2013
“Não a afetividade melosa de incontáveis declarações de amor ao filho, e sim a amorosidade de introduzi-lo na vida como ela é, de dar banhos de realidade no filho de acordo com a idade que ele tem.”
Rosely Sayão, Folha de S.Paulo – 17/09/2013
“A primeira lição a tirar de junho é a seguinte: a política brasileira transformou-se em algo profundamente instável. Nada nos garante que não estamos vendo apenas um momento de calmaria antes de uma nova tempestade. Note-se como, desde junho, este país viveu, de maneira praticamente ininterrupta, em um estado contínuo de manifestações de toda ordem. (…) Por um momento, parecia que certas instituições brasileiras tinham sentido o golpe. Tudo isso durou um instante. Logo em seguida, tais instituições demonstraram seu caráter radicalmente irredutível em relação a reformas e voltaram a operar como sempre operaram. (…) Nada mais equivocado do que confiar em uma calmaria aparente. Quando uma sociedade acorda, ela não volta a dormir completamente. Na verdade, sua elaboração passa a um estado de latência. Em latência, ela vai aos poucos se desacostumando de suas antigas formas, até que chega o momento em que provocar mudanças equivale a chutar uma porta podre. Muitas das transformações fundamentais ocorrem assim, ou seja, o trabalho mais importante foi feito em silêncio aparente.”
Vladimir Safatle, Folha de S.Paulo – 17/09/2013
“Não educar bem uma criança, deixá-la crescer no shopping center, consumindo loucamente sem ter desafios e sonhos que transcendam um abdômen de tanquinho e o próximo modelo de iPhone é falta de amor com ela e falta de responsabilidade com o país.”
Nizan Guanaes, Folha de S.Paulo – 17/09/2013
22ª semana de 2012
0“A sabedoria das decisões enfrenta para ser eficaz um desafio adicional: a de que os destinatários mostrem igual sabedoria e comedimento, que se disponham a sacrificar algo da perspectiva particular em favor do predomínio do interesse coletivo maior. […] Se isso ocorrer, poderemos dizer que o Brasil se move na direção certa, dando realidade às quatro ideias-força que resumem o progresso da consciência humana no século 21: os direitos humanos, o meio ambiente, a igualdade entre mulheres e homens, a realização do desenvolvimento pleno definido como a promoção de todos os homens e do homem como um todo.”
Rubens Ricupero – Folha de S.Paulo, 28/05/2012
“Quando as universidades deixam de ser lugares de excelência e viram laboratórios de fanatismo ideológico, o céu é o limite.”
João Pereira Coutinho – Folha de S.Paulo, 29/05/2012
“Somos levados a acreditar que a violência só acontece no coração dos criminosos, dos terroristas, mas a maldade está em cada ser humano, dentro de casa, na estupidez ou no desrespeito com o companheiro, com os filhos.”
Prem Baba – Folha de S.Paulo, 29/05/2012
“O preço da liberdade é a vigilância constante.”
Desmond Tutu – O Estado de S.Paulo, 29/05/2012
“A saúde é o espelho da nossa consciência, do que pensamos. Atualmente, estudos comprovam que pensamentos geram respostas fisiológicas correspondentes, que podem ser positivas ou negativas. Cada estado de humor fica impresso em nossas células. Mas temos a capacidade de controlar algumas reações do organismo por meio do domínio dos pensamentos.”
Deepak Chopra, Revista IstoÉ – 30/05/2012
“Ao dar ênfase à economia verde como um novo caminho para o desenvolvimento sustentável, deixamos de evidenciar que nenhuma pauta valeria sem a confirmação da aceleração nas mudanças climáticas pela atividade humana, verdadeiro vetor que modifica a capacidade humana de sobreviver no planeta. […] Quem sabe as lutas ecológicas, que correm pelas moléculas sociais desde os anos 1960, possam impulsionar a ampulheta burocrática, empurrando os interesses individuais para a urgência que pedem os interesses coletivos. É o futuro que queremos.”
Isabel Gnaccarini – Folha de S.Paulo, 31/05/2012
“Estou em tratamento. Sou a paciente e minha própria médica. Tomei consciência de quanto viciada e intoxicada estou de tecnologia. Demorei a perceber. Achava que sempre era eu quem estava no comando da situação. É assim com qualquer dependência. Achei que sabia tirar o melhor proveito dos eletrônicos, dos sistemas, dos sites, das redes sociais. Mas agora reconheço que não. Agora reconheço que quem mandava no meu tempo não era eu: era o fluxo dos aparelhos e sistemas eletrônicos que uso. Era qualquer um, menos eu. Comecei a desconfiar de que havia algo errado quando meu tempo desapareceu. Sim: desapareceu, escafedeu-se, sumiu. Por mais horas que ficasse à frente do computador todos os dias, tentando sofregamente trabalhar, minha produtividade caiu a um nível insuportável. […] Acho que essa hiperconectividade é no fundo um desejo infantil e irrealizável de ter tudo ao mesmo tempo agora. Sinto culpa e angústia por estar off-line, demorando para reagir a uma mensagem que talvez tenha chegado, embora eu ainda não saiba.”
Marion Strecker – Folha de S.Paulo, 31/05/2012
“Travessias são sempre difíceis e revestidas de peculiaridades. Por isso há os ritos de passagem. Seja para celebrar com um bom choro a saída do útero materno para a vida, para tolerar os primeiros dias de um luto com cerimônias religiosas e presença da família e amigos, as festas de saída da adolescência para a vida adulta, a celebração do casamento, o trote na universidade…”
Marta Suplicy – Folha de S.Paulo, 02/06/2012
“Mulheres apresentam risco aumentado para o transtorno depressivo maior ao longo da vida reprodutiva em uma proporção de 1,7 a 2,7 em relação aos homens. Esta diferença ocorre principalmente nos períodos pré-menstrual, puerperal e na perimenopausa. A prevalência de episódio depressivo ao longo da vida seria de 21,3% nas mulheres e 12,7% nos homens, nas idades entre 15 e 54 anos. Existem algumas diferenças no que se refere à sintomatologia do transtorno depressivo: mulheres apresenta, maior comorbidade com ansiedade e transtornos alimentares. Também apresentam maior número de queixas somáticas. Tentam o suicídio três vezes mais, mas os homens efetivam o ato em maior proporção. Fatores ambientais e estressores externos parecem exercer maior influência no humor das mulheres. Além disto, o episódio depressivo costuma aparecer em idade mais precoce nesta população. O gênero também influenciaria a resposta aos antidepressivos. Estudos demonstram que mulheres mais jovens ou abaixo dos 50 anos teriam melhor resposta a antidepressivos como os inibidores seletivos da recaptura da serotonina (ISRS). Os homens teriam melhor resposta aos antidepressivos tricíclicos (ADTs) e esta diferença na pós-menopausa, ou seja, após este período, homens e mulheres apresentariam respostas semelhantes em relação às classes dos antidepressivos.”
Joel Rennó Júnior, Revista Psique – maio de 2012
20ª semana de 2011
1“As psicólogas holandesas Elianne van Steenbergen e Naomi Ellermers, da Universidade de Leiden, entrevistaram mulheres que tinham grande sucesso profissional e eram engajadas em várias causas e projetos pessoais. Segundo as entrevistas, ‘as supertrabalhadoras’ se sentiam ainda mais ativas quando se dedicavam à vida afetiva, aos parceiros, filhos e amigos. Já as que se dedicavam apenas à profissão, em detrimento de relações pessoais, mostravam-se mais cansadas e insatisfeitas. O resultado indica que não há, necessariamente, contradição entre trabalho e família – o maior desafio parece ser encontrar tempo para diversificar os interesses e investimentos afetivos e, assim, ter a possibilidade de viver experiências mais satisfatórias em diversas áreas.”
Nikolas Westerhoff, Revista Mente e Cérebro, maio de 2011
“Se alguém perguntar se sua vida foi, até agora, um sucesso ou um fracasso, o que você vai responder? O que é ter tido uma vida de sucesso? Bem, depende de cada um. […] Temos todos -quase todos- excelentes razões para achar que nossa vida foi gloriosa ou um vale de lágrimas. Você, por exemplo, já deve ter passado por ótimos e por péssimos momentos; quais ficaram na sua cabeça, ou melhor, no seu coração? Os melhores ou os piores?”
Danuza Leão, Folha de S.Paulo, 15/05/2011
“Pesquisa da faculdade de saúde pública de Harvard revela que sim: tanto a tristeza como a felicidade ‘pegam’. Usando recursos da epidemiologia, os pesquisadores mediram como pessoas que demonstram alegria propagam uma atitude mais positiva entre familiares e amigos, gerando um contágio. Viram também que a tristeza passa por fenômeno semelhante, mas (felizmente) sem a mesma intensidade da felicidade. A informação é baseada no acompanhamento de 5.000 pessoas durante 20 anos.
Os cientistas da felicidade, usando equipamentos de ressonância magnética e grupos de controle, estão dando caráter científico a práticas milenares, como a meditação. Esse conhecimento já vem sendo experimentado nos hospitais para ajudar na recuperação de pacientes.
Também nos hospitais são feitos testes que revelam como pessoas alto-astrais têm menos propensão a problemas do coração, hipertensão, diabetes ou infecções respiratórias. Vemos, assim, como determinadas sensações provocam reações bioquímicas no corpo.”
Gilberto Dimenstein, Folha de S.Paulo, 15/05/2011
“Hoje, não queremos apenas ser felizes. Sentimos a obrigação esmagadora de o ser: de acumular os objetos, as experiências e as aparências de uma utopia pessoal tão devastadora como as utopias coletivas do passado. […] Quem vive para um único fim perfeito não pode tolerar uma multidão de momentos imperfeitos.”
João Pereira Coutinho, Folha de S.Paulo, 17/05/2011
“Em muitas dessas vezes, a origem da depressão não é uma perda, nem propriamente uma frustração, mas a aparição de um desejo novo que não foi reconhecido. E os novos desejos, sobretudo quando são silenciados, desvalorizam a vida que estamos vivendo.”
Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo, 19/05/2011
“Acho que as corporações são abatedouros da alma humana. Ainda temos um longo caminho pela frente até encontrar o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. A natureza das empresas é fazer o profissional trabalhar o máximo possível. Elas querem fazer dinheiro”.
Nigel Marsh, 48, presidente de uma empresa do grupo Young & Rubicam, Você S/A, maio de 2011
“Há muitas oportunidades no Brasil, em todos os setores da economia – agricultura, petróleo, gás, etanol, energia elétrica, aviação. O setor privado brasileiro é um dos mais fortes do mundo.”
William Rhodes, banqueiro americano, Revista Época, 16/05/2011
Considerações sobre a saúde
0Muitos se questionam se a razão de tantos hoje em dia se dizerem depressivos não é meramente uma questão de moda. E a facilidade com que são receitados os remédios de “tarja preta” para essa razão precisam mesmo ser reavaliados. Sem dúvida, cada vez mais sabemos menos lidar com a tristeza, com perdas, etc. A negligência da reflexão sobre nosso contexto, a meu ver, contribui para muitos mal entendidos nessa área. O crescimento dos transtornos mentais e o agravamento de alguns sintomas torna cada vez mais urgente a necessidade tratarmos desse tema com maior seriedade.
No dia 09 de maio deste ano, o periódico médico ‘Lancet’, publicou dados de uma série de estudos sobre o Brasil. O estudo mostrava que as doenças mentais são as responsáveis pela maior parte de anos com qualidade de vida perdidos no país devido a doenças crônicas. E mais, 18% a 30% dos brasileiros já apresentaram sintomas de depressão.
A jornalista Angela Pinho iniciou sua reportagem dizendo: “Com mudanças no estilo de vida dos brasileiros, os transtornos psiquiátricos passaram a ocupar lugar de destaque entre os problemas de saúde pública do país”(1). E conversou com a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Maria Inês Schmidt, uma das autoras do estudo, que afirmou que são necessários mais estudos para saber de que forma o modo de vida nas cidades pode influenciar o aparecimento da depressão, além das causas bioquímicas”.
O articulista do jornal Folha de São Paulo, Hélio Schwartsman, comentou a notícia acrescentando: “Um bom jeito de conhecer um país é olhar para a forma como morrem seus cidadãos”.
Isso me remete ao último livro de Tony Judt(2), professor e escritor inglês, falecido no ano passado. O livro foi publicado recentemente por aqui e vale a pena sua leitura. Quero destacar, contudo, o que ele diz a respeito desse assunto de saúde, num contexto de abundâncias privadas e misérias públicas.
Alertando-nos para o fato que geralmente desprezamos os sintomas do empobrecimento coletivo que nos rodeiam, ele nos chama a atenção para as consequências da desigualdade social desmedida. Lembra-nos que em 2005, 21,2% da renda nacional americana concentrava-se nas mãos de 1% dos cidadãos. Tais desproporções imensas faz injustiças se multiplicarem. Diz também que a Grã-Bretanha atual é mais injusta – em renda, riqueza, saúde, educação e chances na vida – do que em qualquer outra época desde 1920. E salienta a questão das oportunidades de emprego que se concentram nas extremidades mais alta e mais baixa da escala salarial. Relata, então, sobre o “colapso na mobilidade intergeracional: em contraste com seus pais e avós, os jovens na Grã-Bretanha e nos EUA têm muito poucas chances de melhorar as condições em que nasceram. A desvantagem econômica para a imensa maioria se traduz em saúde debilitada, falta de oportunidades educacionais e – cada vez mais – os conhecidos sintomas da depressão: alcoolismo, obesidade, jogatina e contravenções penais”. E falando dos desempregados e subempregados completa: “com frequência passam a sofrer de estresse e ansiedade, além de doenças e morte prematura”.
Judt é explícito: “A disparidade de renda exacerba o problema. A incidência de doenças mentais, portanto, se relaciona diretamente com a renda”. E ainda complementa: “A desigualdade é corrosiva. Faz com que as sociedades apodreçam por dentro”.
Questões financeiras numa sociedade do espetáculo tem um peso enorme. Como você se apresentará e relacionará num mundo tão competitivo sentindo-se um perdedor, um fracasso em forma de gente, alguém que não pode oferecer um espetáculo aos que o rodeiam? O capitalismo selvagem favorece o adoecimento em vários aspectos. O jeito de nossa sociedade funcionar está cada vez mais adoecido.
É interessante que Jesus, em seu dito “Sermão do Monte”, antes de dizer que não é para a gente viver ansioso, cheios de preocupações quanto ao que vestir, comer ou beber, ele fala claramente: “Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro”(3). Quando tentamos viver como seres cindidos, achando possível ora agradar a um, ora agradar a outro, a saúde será afetada. Quando a sociedade sugere que o importante é o aplauso, sua performance, a impressão que você causa no outro, cada vez que não se sentir capaz de conquistar não só a aprovação, mas sobretudo a admiração do outro, um buraco se abrirá, e as tentativas de preenche-lo podem ser trágicas.
Um outro professor e escritor, esse moçambicano, Mia Couto, diz que “não há cultura humana que não se fundamente em profundas trocas de alma”. Estamos acostumados com trocas monetárias, trocas sociais, mas nem sempre estamos atentos sobre as “trocas de alma”. Por vezes achamos que uma coisa não tem nada, ou ao menos, pouco a ver com outra. Não é bem assim.
Muitos que creem em Deus e sofrem com problemas como a depressão suplicam por um milagre, mas ao mesmo tempo resistem a olhar mais profundamente para sua alma e seu contexto. Gosto de lembrar o que René Padilla coloca: “o reino de Deus se faz presente no milagre que supera toda ordem, e na ordem que provê o contexto para o milagre”(4). Há uma ordem a ser questionada e um contexto a ser mudado, qual será nossa postura?
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1 Folha de São Paulo, 10/05/2011 – C12.
2 JUDT, Tony. O Mal Ronda a Terra – um tratado sobre as insatisfações do presente. Rio de Janeiro, Objetiva, 2011.
3 Mateus 6.24.
4 PADILLA, René. O que é Missão Integral? Viçosa, MG. Ultimato, 2009.
4ª semana de 2011
2“Não há por que ter medo da laicidade. Reconhecer o direito de voz às lideranças religiosas na política não é o mesmo que conceder-lhes passe livre para a participação na deliberação política do Estado. A liberdade de expressão política é um direito inalienável para as pessoas religiosas ou não. A laicidade não silencia a participação política. A clássica separação entre Estado e igreja não é o afastamento das religiões da vida política, mas seu devido distanciamento das instituições básicas do Estado. […] Todos devem igualmente respeitar o princípio da neutralidade religiosa do Estado em suas atuações políticas oficiais. Não há, portanto, incompatibilidade moral entre a mulher de fé e a mulher de Estado. Só elegemos a mulher de Estado.”
Debora Diniz, professora da Unviersidade de Brasília e Pesquisadora da ANIS – Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero – O Estado de S.Paulo, 23/01/2011
“O estupro na guerra é tão antigo quanto a própria guerra. […] Para os soldados, há muito tem sido um espólio de guerra. Antony Beevor, historiador que escreveu sobre estupros durante a ocupação soviética da Alemanha, em 1945, diz que a violação pode ocorrer na guerra tanto por obra de soldados indisciplinados quanto como arma estratégica para humilhar e aterrorizar, como no caso das Forças Regulares de marroquinos que lutaram sob as ordens de Franco na Guerra Civil Espanhola. […] Teoricamente, as convenções de Genebra sobre tratamento dos civis durante a guerra são respeitadas por políticos e generais na maioria dos países civilizados. Mas no caos da guerra irregular, com exércitos privados ou milícias indisciplinadas, essas normas têm pouco peso.
A parte oriental do Congo tem sido caótica desde o genocídio em Ruanda, em 1994. Em 2008, o grupo humanitário Comitê de Resgate Internacional (IRC, em inglês) estimou que 5,4 milhões de pessoas já tinham morrido na ‘guerra mundial da África’. Apesar dos acordos de 2003 e 2008, a violência ainda não cessou. Há muitos números sobre quantas mulheres foram violadas, nenhum conclusivo. Em outubro de 2010, Roger Meece, chefe das Nações Unidas no Congo, disse ao Conselho de Segurança da ONU que 15 mil mulheres tinham sido estupradas em todo o país em 2009. O Fundo para a População da ONU estimou 17,5 mil vítimas no mesmo período. O IRC diz que tratou de 40 mil sobreviventes somente na província de Kivu Meridional, entre 2003 e 2008. Hillary Margolis, que dirige o programa de violência sexual do IRC, diz que esse dado representa um piso. Os verdadeiros números podem ser muito maiores. […] Um estudo recente da Iniciativa Humanitária de Harvard e da Oxfam examinou sobreviventes no Hospital Panzi, em Bukavu, cidade de Kivu Setentrional. Com idades de 3 a 80 anos, solteiras, casadas ou viúvas, de todas as etnias, foram estupradas em casas, campos e florestas, na frente dos maridos e dos filhos; quase 60% violadas por grupos. Filhos foram obrigados a violar as mães ou seriam mortos. […]
Mesmo quando as guerras terminam, o estupro continua. Agências humanitárias no Congo relatam altos níveis de violações em áreas hoje pacíficas, mas é difícil avaliar cifras. Não há números de antes de guerra e uma maior disposição para relatar violações pode explicar o aparente aumento.
Os esforços para integrar ex-combatentes na sociedade foram superficiais e malsucedidos, com pouca avaliação de resultados. Some-se o precário sistema judiciário e a previsão é sombria. É ainda mais inóspita quando se vê como os efeitos do estupro são duradouros. Rebeldes tomaram a aldeia de Angelique, em 1994. Degolaram seu marido, depois a amarraram entre duas árvores com os braços e as pernas afastados. Sete homens a estupraram antes que ela desmaiasse. Ela não sabe quantos outros a violaram em seguida. Depois eles enfiaram galhos em sua vagina. O tecido entre sua vagina e o reto foi rasgado e ela desenvolveu uma fístula. Durante 16 anos vazou urina e fezes. Agora recebe tratamento médico, mas a justiça é um sonho distante.”
The Economist/Carta Capital, 26/01/2011
“Foi com a Revolução Industrial que o trabalho atingiu o seu apogeu, sendo celebrado como motor da modernização e da transformação do mundo. Hoje, a nossa sociedade tem outros deuses: cultua mais o consumo do que a produção, valoriza mais a imagem do que o fato, celebra mais o cargo do que o batente.”
Thomaz Wood Jr., Carta Capital, 26/01/2011
“Quase 200 anos depois da Independência, ainda temos do Estado uma visão colonial. Trata-se de uma entidade arrecadatória, nascida de algum reino estrangeiro que inventa novas coisas para nos infernizar e que cumpre enganar do mesmo modo com que nos tapeia. A corrosão ética da coisa toda nasce, a rigor, da política, e não o contrário: por se tratar de uma cidadania imperfeita, de um autoritarismo latente, de uma democracia sem participação e de um Estado, afinal, sem dono, mas com muitos gerentes e coronéis, é que corromper ou obedecer são as saídas que conhecemos.”
Marcelo Coelho, Folha de S.Paulo – 26/01/2011
“No Brasil, onde uma mulher acaba de assumir a Presidência da República, apenas 5 das 100 maiores companhias em receita com vendas têm mulheres na presidência.
O número é baixo, mas o cenário era ainda menos favorável às mulheres em 2009, quando não havia nenhuma presidente nas cem maiores companhias. […] Só 3% das cadeiras de presidentes, em média, ficam com as mulheres, segundo a DMRH, consultoria em recursos humanos, que atende mais de 450 empresas. […] De acordo com a consultoria, 9% dos diretores e vice-presidentes das companhias são mulheres; elas são cerca de 35% dos gerentes e 50% dos trainees e analistas. […]
Em empresas que possuem conselho de administração -órgão que aprova decisões estratégicas da companhia, como a nomeação do presidente-executivo (CEO, na sigla em inglês)-, mulheres têm menos chances de chegar ao topo. […] Na Noruega, é obrigatório, desde 2008, que 40% dos conselhos de administração sejam compostos por mulheres. Na Espanha, foi aprovada uma lei semelhante, com a mesma cota, mas só entra em vigor em 2015.”
Carolina Matos, Folha de S.Paulo – 28/01/2011
“Um estudo publicado neste mês no periódico ‘Archives of General Psychiatry’, reacende o debate em torno do caráter genético da depressão. A pesquisa, das universidades de Michigan, EUA, e Würzburg, Alemanha, conclui que pessoas com uma variação mais curta do que a normal do gene 5-HTTLPR são mais propensas a ter depressão depois de situações estressantes. […] Segundo Srijan Sen, professor de psiquiatria da Universidade de Michigan e um dos autores novo trabalho, esses resultados já mudam a forma de encarar a depressão. ‘Ainda há muito estigma associado a ela. Ao identificarmos um fator genético, podemos compreender que é uma doença biológica’, diz. O psiquiatra André Brunoni concorda: ‘Ainda há pais que não compreendem a depressão dos filhos e acham que eles podem superar isso sozinhos’. E completa: ‘Pensar na depressão como uma doença com causa biológica, que não é preguiça ou mera insatisfação com a vida, ajuda’.”
Guilherme Genestreti, Folha de S.Paulo – 28/01/2011
“Em 2010, o número de doadores de órgãos foi 11% maior do que em 2009, segundo a ABTO (Associação de Brasileira de Transplante de Órgãos). Foram 1.842 doadores com órgãos transplantados. É a maior média da história. O número total de transplantes feitos no Brasil teve um aumento de 6,5%. Os tipos que mais tiveram aumento foram os transplantes de rim e de fígado. Segundo a ABTO, São Paulo é o Estado com maior proporção de doadores. A região Norte é a que tem menos doações.”
Folha de S.Paulo – 28/01/2011
“País mais populoso do mundo árabe, o Egito ostenta a segunda maior economia da região, atrás somente da Arábia Saudita. Comparado aos vizinhos, no entanto, seus índices socioeconômicos estão entre os piores. Dos 80 milhões de habitantes, dois terços são jovens abaixo de 30 anos, dos quais 90% estão desempregados.”
Folha de S.Paulo – 29/01/2011
“Somos incorrigivelmente vorazes. Queremos o máximo de informações no mínimo de tempo. Desafiamos, a cada momento, as barreiras do espaço. Reduzimos as distâncias com telefones celulares e operações digitais. Ainda que no trânsito ou no aeroporto, no trabalho ou no clube, a ‘coleira eletrônica’ impede que nos percam de vista. Entre uma marcha e outra, uma flexão abdominal e outra, uma opinião e outra no trabalho, controlamos os filhos, as aplicações financeiras, os negócios geograficamente distantes. Como Prometeu, queremos arrebatar o fogo dos deuses, fazendo de conta que não somos frágeis e mortais.”
Frei Betto, Caros Amigos – janeiro/2011
14 de dezembro de 2010
0“Neste início de século e milênio, a mulher pode fazer um balanço de suas conquistas. Escrava submissa do lar, objeto indefeso diante dos apetites machistas, cidadã de segunda classe e serviçal de primeira necessidade, tudo isso ainda não acabou, mas está acabando cada vez mais depressa. A mulher lutou e conseguiu o direito ao voto, ao mercado de trabalho, ao divórcio, à pílula. Ganhou todas. Não funciona mais como a favorita do sultão – o homem.”
Carlos Heitor Cony, Folha de S.Paulo – 14/12/2010
“A ‘obrigação’ de estar bem, aliada às mensagens onipresentes de felicidade geram ansiedade, diz Ana Maria Rossi, presidente no Brasil da International Stress Management Association. Segundo pesquisa da associação, feita em 2009 com 678 pessoas de 25 a 50 anos, o estresse individual aumenta 75% e atinge 80% da população no período que vai da última semana de novembro até o fim de dezembro. Por isso, nos prontos-socorros, há aumento dos casos relacionados a ansiedade e depressão, segundo Daniel Magnoni, diretor de nutrição do Hospital do Coração. No CVV (Centro de Valorização da Vida), o número de ligações sobe 20% na época. As fontes de estresse e de piora do quadro de depressão envolvem expectativas não atingidas em relação aos presentes e às festas, sobrecarga de funções e atividades, solidão, frustração e culpa ao fazer um balanço negativo do ano que termina. As emoções e as recordações do reencontro familiar, positivas ou negativas, também podem ser um gatilho.”
Mariana Versolato, Folha de S.Paulo – 14/12/2010
“Deus é como Fernando Pessoa. Tem um monte de nomes diferentes. Viajo o mundo inteiro e sempre encontro um heterônimo dele. Mas sempre o reconheço, independentemente do nome. Nos dias de hoje, em que as pessoas estão tão descrentes, acreditar é um ato de rebeldia e vanguarda.”
Nizan Guanaes, Folha de S.Paulo – 14/12/2010
“Sempre que acontece uma tragédia nas nossas vidas -um fracasso amoroso, uma doença súbita, a perda de alguém que amamos- a velha pergunta regressa para nos assombrar: ‘Por que eu?’ ‘Por que a mim?’. A pergunta certa não é essa, naturalmente. A pergunta certa seria: ‘E por que não eu?’, ‘E por que não a mim?’. […] Só somos verdadeiramente destruídos por aquilo que não controlamos quando alimentamos em nós a ilusão de que tudo controlamos.”
João Pereira Coutinho, Folha de S.Paulo – 14/12/2010
“Há tantas canções inúteis, fracas para entortar o cano das armas, para ressuscitar os mortos, para engravidar as virgens, mas não tem importância, elas continuam a ser cantadas somente pela alegria que contêm…”
Rubem Alves, Folha de S.Paulo – 14/12/2010
04 de novembro de 2010
1“Metade dos adolescentes que se recuperam de depressão tem uma recaída até cincos anos depois, não importando qual tenha sido o tratamento recebido. O dado é de um estudo publicado na revista ‘Archives of General Psychiatry’. A pesquisa mostra também que as meninas têm mais risco do que os meninos de sofrer um segundo caso de depressão. Isso surpreendeu os pesquisadores porque, na idade adulta, as mulheres não têm uma taxa de recaída maior do que a dos homens.
A nova pesquisa foi feita com 200 adolescentes de 12 a 17 anos que receberam antidepressivo (fluoxetina), terapia cognitivo-comportamental, ambos ou uma pílula placebo, por 12 semanas.
Os pesquisadores já sabiam que os adolescentes que tomassem antidepressivo e fizessem terapia ao mesmo tempo se recuperariam mais rápido de sua primeira depressão. Por isso, esperava-se que eles teriam menos risco de sofrer uma recaída.
Não foi o que aconteceu. […]
David Brent, professor de psiquiatria na Universidade de Pittsburgh, afirma que o estudo mostra a necessidade de um cuidado após o tratamento, para prevenir a volta do problema.”
Pam Belluck, do “The New York Times”, Folha de S.Paulo, 04/11/2010
“O Brasil é um Estado laico, sim, mas é (ou pretende ser) acima de tudo um Estado democrático, que abriga e protege todos os cultos e formas de pensamento.”
Carlos Heitor Cony, Folha de S.Paulo, 04/11/2010
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