47ª semana de 2012
“A América Latina ‘é a região mais desigual do mundo’, como fez questão de ressaltar Alícia Bárcena, a secretária-executiva da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina, braço da ONU). O que mais dói, para quem acompanha cúpulas internacionais há uns 30 anos, é ouvir uma frase como essa ano após ano, cúpula após cúpula. Dói mais ainda quando se somam duas informações: 1 – O Brasil, apesar de ser o país mais rico do subcontinente, é um dos mais desiguais. 2 – A queda da desigualdade, no Brasil, diminuiu nos últimos 10 anos apenas entre salários, não entre o rendimento do capital e do trabalho, que é a mais obscena. Desigualdade não é o único capítulo em que a América Latina, conjunturalmente feliz, precisa progredir -e muito. A tributação, por exemplo, “é baixa para proporcionar serviços públicos de qualidade, que atendam à demanda social”, como diz Ángel Gurría, secretário-geral da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). Os impostos, na região, pularam de 14% para 19% do Produto Interno Bruto, entre 1990 e 2010, em grande medida pelo que ocorreu no Brasil. Ainda assim, é uma porcentagem baixa, se comparada aos 34% da média da OCDE. Mas, atenção, aqui o Brasil não entra na foto geral: tanto ele como a Argentina arrecadam basicamente os 34% dos países ricos. Pena que não ofereçam serviços públicos do nível dos países desenvolvidos. Só cabe uma conclusão: dinheiro existe, falta empregá-lo de maneira correta. Pulemos para educação: 50% dos estudantes latino-americanos não alcançam os níveis mínimos de compreensão de leitura, nos testes internacionais, quando, no mundo rico, a porcentagem de fracassados é de 20%. Passemos ao investimento em inovação e tecnologia: não supera nunca de 0,7% do PIB, quando na Coreia, por exemplo, é de 3%. “Se não corrigirmos o rumo, seremos todos empregados dos coreanos”, fulmina Gurría. Poderia ter acrescentado “ou dos chineses”, que investem nessa área vital tanto quanto os coreanos. Mais um dado: a América Latina está investindo 2% de seu PIB em infraestrutura, quando precisaria de 5%, ano a ano, até 2020, pelas contas de Gurría.”
Clóvis Rossi – “Folha de S.Paulo”, 18/11/2012
“Sou ateu, mas convivo bem com diferenças. Se a religião torna um sujeito feliz, minha recomendação para ele é que se entregue de corpo e alma. O mesmo vale para quem curte esportes, meditação e literatura. Cada qual deve procurar aquilo que o satisfaz, seja no plano físico ou espiritual. Desde que a busca não cause mal a terceiros, tudo é permitido.”
Hélio Schwartsman – “Folha de S.Paulo”, 18/11/2012
“Quando Sartre disse que o inferno é o outro, ele quis dizer que o outro, com sua diversidade, a sua mundividência, seu peculiar modo de conceber e praticar a vida, afeta o nosso ego. Então, podemos traduzir as palavras dele como “o inferno é outro” ou como “o inferno é o ego”. Tenho dito para mim mesmo que, sem o eclipse do ego, ninguém se ilumina. […] Entusiasmo é Deus dentro da gente. Os gregos dizem isso. Eu ponho alegria e amor no que faço. […] Chega uma época em que você, em tudo o que você faz, já não precisa ser reconhecido, precisa se reconhecer.”
Carlos Ayres Brito, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal – “Folha de S.Paulo”, 18/11/2012
“De bem com a própria vida, Carlos Ayres Britto melhorou a dos outros.”
Elio Gaspari – “Folha de S.Paulo”, 18/11/2012
“Ao disponibilizar instantaneamente dados até há pouco inacessíveis, a rede mundial de informação deveria ter como finalidades únicas o estímulo à reflexão e o aumento do intelecto, não a propagação de boatos e a superficialidade generalizada.[…] Ao contrário do que sugere nossa bandeira, ordem não leva necessariamente ao progresso. A ideia de velocidade e volume para redução de erros é característica dos avanços tecnológicos do século 20, em que o vagar de processos e o limite na oferta eram grandes problemas. Com a abundância de conteúdo, passamos a viver um paradoxo de eficiência: há respostas demais para que se possa fazer bom uso delas. Por mais que um passeio nas paisagens informativas digitais dê a impressão de que a cultura se enriquece, o que acontece muitas vezes é o contrário: nos tornamos depósitos de dados e citações impensadas.”
Luli Radfahrer – “Folha de S.Paulo”, 19/11/2012
“As redes sociais são mesmo a maior vitrine da humanidade, nelas vemos sua rara inteligência e sua quase hegemônica banalidade. […] Adultos condenados a infância moral seguramente viram pessoas de mau-caráter com o tempo. Recentemente, numa conversa profissional, surgiu a questão do porquê o mundo hoje tenderia à banalidade e ao ridículo. A resposta me parece simples: porque a banalidade e o ridículo foram dados a nós seres humanos em grandes quantidades e, por isso, quando muitos de nós se juntam, a banalidade e o ridículo se impõem como paisagem da alma. O ridículo é uma das caras da democracia. O poeta russo Joseph Brodsky no seu ensaio “Discurso Inaugural”, parte da coletânea “Menos que Um” (Cia. das Letras; esgotado), diz que os maus sentimentos são os mais comuns na humanidade; por isso, quando a humanidade se reúne em bandos, a tendência é a de que os maus sentimentos nos sufoquem. Eu digo a mesma coisa da banalidade e do ridículo. A mediocridade só anda em bando. Por isso, apesar de as redes sociais servirem para muita coisa, entre elas coisas boas, na maior parte do tempo elas são o espelho social do ridículo na sua forma mais obscena.”
Luiz Felipe Pondé – “Folha de S.Paulo”, 19/11/2012
“Tudo o que escrevo é centrado na mesma pergunta: o que aconteceria se, em meio a nossa vida cotidiana, deparássemos com as ações de um Deus que trabalha a nosso favor, que nos ama e quer que sejamos pessoas melhores? […] Atravessamos a vida sem pensar, mas momentos traumáticos como doenças e grandes perdas nos fazem parar e pensar em como nossas escolhas afetam quem está a nosso redor. […] A polêmica é um convite ao crescimento espiritual. Minhas crenças de hoje são muito diferentes das que eu tinha há dez anos. E há dez anos achava que estava certo sobre tudo.”
William P. Young, autor do best-seller A Cabana – “Revista Época”, 19/11/2012
“Não temos ouvido os pedidos de ajuda que nos são lançados ou ouvimos, mas acreditamos que, mesmo em dificuldade, eles conseguirão se virar sozinhos e superar o obstáculo que enfrentam. Alguns irão mesmo, não duvido disso. Mas poderiam sofrer bem menos e chegar ao mesmo resultado se sentissem que não estão sozinhos no final de sua jornada. Outros, entretanto, poderão ficar rodando em círculos justamente por não encontrarem um incentivo, uma ajuda, uma companhia no momento difícil pelo qual passam. E, depois de um tempo, até podem achar um caminho, mas não precisariam passar por esse sofrimento inútil.”
Rosely Sayão – “Folha de S.Paulo”, 20/11/2012
“Na verdade, por trás da defesa de tal modalidade de “livre expressão” há o desejo mal escondido de continuar repetindo os mesmos velhos preconceitos e a mesma violência contra os grupos vulneráveis de sempre. Por trás da atitude do adolescente que parece se deleitar com a descoberta de que é capaz de enunciar, à mesa do jantar, comentários “chocantes” que fazem seus pais liberais revirarem-se, há a tentativa de travestir desprezo social com a maquiagem da revolta do homem comum contra a ditadura dos intelectuais. No entanto, é bom lembrar que uma democracia sabe separar a opinião do preconceito. Uma opinião é aquilo que é, por definição, indiferente. Ela abre um espaço de indiferença a respeito de enunciados e discursos. Mas há enunciações que não podem ser recebidas em indiferença, já que trazem, atrás de si, as marcas da violência que produziram ao serem enunciados. Uma sociedade tem a obrigação moral de defender-se deles. Colocar uma advertência em um livro por ter conteúdo que pode ser sentido por minorias raciais como violência, impedir que pessoas escarneçam de grupos socialmente vulneráveis é condição para um vínculo social mínimo. Claro, tais pessoas que julgam normal fazer piadas com negros nunca mudarão de ideia. Mas elas devem saber que há certas coisas que não se diz impunemente. A falsa revolta é apenas mais uma arma daqueles que querem continuar com as exclusões de sempre.”
Vladimir Safatle – “Folha de S.Paulo”, 21/11/2012
“Os brasileiro demonstram dificuldade para se desligar do trabalho: 60% dos entrevistados (estudo do site de viagens Expedia) responderam checar seus e-mails profissionais regularmente durante as férias. Somente 7% nunca olham suas caixas de entrada.”
“Folha de S.Paulo”, 21/11/2012
“Quem tem filho na escola percebe logo: o que mais se espera da família é participação e mais participação. […] Mas, mesmo quando não tem brechas na agenda para tanto pode contribuir com a aprendizagem. ‘Existe uma ideia de que família presente é só aquela que fica, diariamente, ao lado do filho para ajudar a fazer a lição, informando, corrigindo, ensinando. Mas há outras formas efetivas de participação’, avisa a pedagoga Débora Vaz, diretora da Escola Castanheiras, em Tamboré, na Grande São Paulo. Na prática, o papel da família inclui garantir um espaço adequado para a realização das tarefas, dar acesso a fontes de pesquisa, fornecer os materiais necessários, estabelecer com a criança ou o adolescente uma rotina de estudos, cobrar pontualidade, concentração e capricho – até solicitar que o trabalho seja refeito quando, visivelmente, foi produzido só para se livrar da obrigação. Sua principal missão é estimular o comprometimento e uma noção de responsabilidade. ‘Não se trata de estar do lado no momento da lição para exigir a resposta correta, mas de incentivar desde cedo atitudes coerentes em relação aos estudos’, ressalta Débora. E isso não requer saber os conteúdos ensinados em classe nem ter de reservar muito tempo. […] A educadora Luciana Fevorin enfatiza que, nas chances de falar sobre a escola ou de estar nela, a família deve observar o tipo de vínculo estabelecido pela criança ou pelo adolescente com o ato de aprender. ‘Os pais precisam ver se o filho aceita desafios ou se intimida diante deles, se lida bem com correções, se é muito exigente consigo mesmo ou, pelo contrário, faz qualquer coisa para se livrar das tarefas e o que diz sobre professores e amigos’, explica.”
Paulo de Camargo, “Revista Claudia” – novembro de 2012
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