52ª semana de 2011
“Nesta época é comum ver, além das retrospectivas, os apelos piegas ao tal espírito natalino, abusos de expressões como “renovar esperanças”, previsões furadas de astrólogos, tarólogos e outros loucos, textos que lamentam onde estão os natais d’antanho, mensagens de boas festas com listas de virtudes. Meu impulso é perguntar por que as pessoas não procuram ser assim o ano todo, e não apenas no solstício que foi apropriado pela religião e pelo folclore para se tornar uma data paradoxal em que se discursa sobre bons sentimentos enquanto se consome em ritmo febril. E então me ponho a pensar em como generosidade e respeito, para ficar só nesses dois itens, andam em falta nos tempos atuais, especialmente nas grandes cidades, e em como a tecnologia que deveria nos aproximar nos tem dispersado. Mas lembro os Natais de infância, comparo com o dos meus filhos e as diferenças se tornam irrelevantes, porque os prazeres e as questões são muito parecidos. E os dias deliciosamente desocupados, desacelerados, convidam ao balanço do ano, ainda que tenha tido tantas tristezas em meu caso, e sem balanço não há avanço.
Somos carne e pensamento, um não se dissocia do outro, e do mesmo modo o Natal é ficar feliz em dar e receber presentes, é ver as crianças alegres com o que ganham e pronto, sem místicas nem melancolias.”
Daniel Piza, O Estado de S. Paulo, 25/12/2011
“Natal é festa polissêmica. De certo modo, desconfortável. Para os cristãos, comemoração do nascimento de Jesus. Para o comércio, ocasião de promissoras vendas. Para uns tantos, miniférias de fim de ano. Para o Peru, dia de finados. O desconforto resulta da obrigatoriedade de dar presentes a quem não amamos, mal conhecemos ou fingimos amizade. Transferido o presépio de Belém para o balcão das lojas, a festa perde progressivamente caráter religioso. O Menino da manjedoura, que evoca o sentido da existência, cede lugar ao velho barbudo e barrigudo, que simboliza o fetiche da mercadoria. Proliferam-se novas modalidades de aspirar ao Transcendente, da aeróbica litúrgica às meditações orientais. Nunca houve, na expressão de Rimbaud, tanta ‘gula de Deus’. I Ching, astrologia, búzios, tarô etc., são vias pelas quais se tenta encontrar-se segurança diante do futuro imprevisível. […] Isso é Natal. Uma festa rara no mais profundo de si mesmo, na qual as pessoas se fazem presentes umas às outras e entre as quais o amor refulge como uma estrela. Essa festa não tem data e é celebrada cada vez que há encontro em clima de afeto e sabor de comunhão.”
Frei Betto – Revista Caros Amigos, dezembro de 2011
“Muita gente vive sem crise sem acreditar em coisa nenhuma ‘do outro mundo’. Isso não significa que ela seja sempre feliz (tampouco os religiosos o são), a (in)felicidade depende de inúmeros fatores.”
Luiz Felipe Pondé – Folha de S.Paulo, 26/12/2011
“Queria ficar sozinho para pensar que o mundo está cheio de mortos que ainda não sabem que morreram.”
Carlos Heitor Cony – Folha de S.Paulo, 27/12/2011
“O parlamentar (Jean Wyllys) reconhece que não se pode proibir religiosos de pregar de seus púlpitos contra o homossexualismo e que seria ridículo até mesmo tentar vetar impropérios como “veado” numa partida de futebol. […]Por alguma razão, porém, militantes preferem alocar suas energias na criação de novas leis, em vez de empenhar-se em exigir o cumprimento das normas já existentes. Eles parecem esquecer-se da sábia lição do marquês de Beccaria, que já no século 18 ensinava que multiplicar leis penais significa apenas multiplicar violações à lei, não evitar crimes.”
Hélio Schwartsman – Folha de S.Paulo, 27/12/2011
“Uma pesquisa feita com mil pessoas entre setembro e outubro pela consultoria OThink, de gestão de negócios, apontou que 18% dos entrevistados acreditam que os filhos, netos e bisnetos terão a mesma religião que eles em 2050. Para 27%, os descendentes terão uma religião diferente. E 55% responderam não saber se seus herdeiros seguirão a mesma fé. As mulheres são mais confiantes que os homens de que seus filhos e netos seguirão a religião que elas adotaram: 22%, contra 16% dos homens. A chamada ‘classe A’ é a que menos acredita que a religião de seus descendentes continuará a mesma da deles: 16%, contra 21% da faixa de população definida como ‘classe C’.”
Mônica Bergamo – Folha de S.Paulo, 27/12/2011
“A capacidade de comunicar é a base de nossa existência coletiva. Quando ela evolui, tudo evolui. Pela primeira vez na história da humanidade todos temos a capacidade de nos comunicar com todos o tempo todo, de qualquer lugar. O poder dessa comunicação total é total. Vai mudar tudo, está mudando. Olhe para si e veja como sua vida mudou de uns anos para cá. Então sonhe, prepare-se, isso é só o começo. […] O Brasil nunca nos deu tantas oportunidades. O mundo nunca nos deu tantas oportunidades. A tecnologia nunca nos deu tantas oportunidades. A revolução continua.”
Nizan Guanaes – Folha de S.Paulo, 27/12/2011
“A crise das relações modernas está, como o título indica, nas “expectativas extravagantes” que os americanos -e, desconfio, os ocidentais em geral- transportam para o matrimônio. Na conjugalidade, o casal não conhece limites em seus desejos contraditórios. Reclama doses homéricas de paixão e de razão; de aventura permanente mas também de segurança permanente; de estabilidade emocional e de excitação emocional; de beleza física e de intelecto apurado. Haverá relação que aguente o peso dessas expectativas? […]Hoje, os ocidentais desejam que as relações íntimas possam suprir todas as exigências que anteriormente estavam repartidas por várias esferas da sociedade. O casamento não comporta essas exigências múltiplas e contraditórias. A pessoa com quem casamos não consegue reunir as qualidades perfeitas de amante, amigo, confessor, professor, guia turístico, estátua grega e terapeuta. No Ocidente pós-moderno, a taxa de divórcio não para de subir. Brasil incluso. Um cínico diria que o fenômeno tem explicação simples: as pessoas divorciam-se porque podem. Mas é possível oferecer uma explicação alternativa: as pessoas divorciam-se porque casam. E não há casamento que resista quando se exige dele tudo e o seu contrário.”
João Pereira Coutinho – Folha de S.Paulo, 27/12/2011
“Acreditar faz parte da aventura humana na qual nenhum de nós entra por querer.”
Roberto Damatta, O Estado de S. Paulo, 28/12/2011
“ ‘Para o inglês, tudo é permitido, exceto o proibido. Para o alemão, tudo é proibido, exceto o permitido. E, para o italiano, tudo o que é proibido é permitido.’ Ao comentário do matemático John von Neumann (1903-57), poderíamos acrescentar que, para os franceses, o bom talvez seja o proibido e que, para os gregos, permitido e proibido são só palavras que dependem de muitas coisas.”
Fernando Canzian – Folha de S.Paulo, 28/12/2011
“Apesar dos avanços registrados na década passada, mais de 1 milhão de crianças de 10 a 14 anos, ou 6% do total, ainda trabalhavam no Brasil em 2010. Tabulações feitas pela Folha no Censo do IBGE mostram que o problema é mais grave no Norte, onde praticamente uma em cada dez crianças exerce atividade econômica remunerada ou não.
Especialistas afirmam que, para cumprir a meta assumida internacionalmente de erradicar o trabalho infantil do país até 2020, será necessário um esforço adicional. […] A pesquisa revela também que as ocupações mais comuns de crianças estão na agricultura e na pecuária.”
Antônio Gois, Luiza Abndeira e Matheus Magenta – Folha de S.Paulo, 28/12/2011
“Segundo o economista André Gamerman, da Opus Investimentos, é o crescimento menor da renda do que das dívidas. Neste ano, a dívida das famílias cresceu 17%. A renda, 6%. O economista Wermeson França, da LCA Consultores, observa que o crédito também ficou mais caro.”
Folha de S.Paulo, 28/12/2011
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