50ª semana de 2011
“O ser humano é um animal acreditador. Talvez esse seja um bom modo de definir nossa espécie. ‘Humanos são primatas com autoconsciência e a habilidade de acreditar.’ Já que ” acreditar” sempre pede um ‘em quê?’, refiro-me aqui a acreditar em poderes que transcendem a percepção do real, algo além da dimensão da vida ordinária, além do que podemos perceber apenas com nossos sentidos. […] Parece que somos incapazes de viver nossas vidas sem acreditar na existência de algo maior do que nós, algo além do ‘meramente’ humano. Bem, nem todos nós, mas a maioria. Isso desde muito tempo.”
Marcelo Gleiser – Folha de S.Paulo, 11/12/2011
“‘Ensinar é uma experiência humana’, disse ao Times Paul Thomas, professor associado de educação na Universidade Furman, na Carolina do Sul. ‘A tecnologia é uma distração quando precisamos de alfabetização, raciocínio matemático e pensamento crítico’.”
Kevin Delaney – Folha de S.Paulo, 12/12/2011
“A melhor forma de manter a dignidade na era do Facebook (se você não resistir a ter um) é não contar para ninguém que você tem um Facebook. Quase tudo é bobagem nas redes sociais porque o ser humano é banal e vive uma vida quase sempre monótona e previsível. E a monotonia é o traje cotidiano do vazio. E a rotina é o modo civilizado de enfrentar o caos, outra face do vazio. […] Sempre se soube que não basta à mulher de Cesar ser honesta, ela tem que parecer honesta, portanto, a imagem de honesta é mais importante do que a honestidade em si. Mas aqui, o foco é diferente: aqui a questão é a hipocrisia como substância da moral pública. Todo mundo sabe que a mentira é a mola essencial do convívio civilizado. […] Resistir ao desejo talvez seja uma das formas mais discretas de amar a vida.”
Luiz Felipe Pondé – Folha de S.Paulo, 12/12/2011
“Se a ideia, como defendeu o ministro da Saúde, é utilizar o instrumento apenas em situações nas quais há risco de vida imediato para o dependente, a figura jurídica da internação involuntária, prevista na lei n° 10.216/01, é desnecessária. Basta encaminhar o paciente em emergência relacionada a drogas -que, em geral, está inconsciente- para o hospital e, dois ou três dias depois, quando estiver estabilizado e já não houver perigo iminente, oferecer-lhe a oportunidade de tratamento psiquiátrico. Se ele quiser, submete-se a uma internação voluntária e, se não quiser, volta para casa ou para as ruas, como é mais comum. É claro que essa não é uma solução perfeita, pois uma das características da compulsão por drogas é não querer afastar-se delas. É até verossímil que exista um grupo de dependentes que, do ponto de vista sanitário, poderia beneficiar-se de tratamento a contragosto. O problema é que há mais coisas envolvidas aqui do que a saúde deste ou daquele paciente. Em termos institucionais, incentivar o uso de internações involuntárias é perigoso. Trata-se, afinal, do equivalente jurídico de um artefato nuclear, uma ferramenta que permite a um médico qualquer decidir que alguém precisa de tratamento e assim privá-lo de sua liberdade indefinidamente e sem direito a contraditório. Os controles externos são poucos e fracos e, se o sujeito não tem família, não haverá quem represente seus interesses contra o médico.”
Hélio Schwartsman – Folha de S.Paulo, 13/12/2011
“Um estudo demográfico, elaborado pelo Conselho Federal de Medicina e a regional de São Paulo, acaba de ser publicado e expõe a desigualdade na oferta de médicos pelo País. Não existem surpresas, mas há muito para se refletir. O levantamento coordenado pelo pesquisador Mario Scheffer aponta a existência de 371.788 médicos na ativa no Brasil, número que quintuplicou nos últimos 40 anos, enquanto a população brasileira apenas dobrou. A relação médico/habitante dobrou, chegando este ano a 1,95 médico para cada 100 mil habitantes. Nas escolas médicas, as mulheres são maioria. Ainda ssim, por mais 20 anos a profissão continuará sendo exercida por uma maioria de homens, que hoje ocupam 60% do mercado. Os médicos são jovens, em sua maioria, 50% deles têm menos de 40 anos. A média de idade é de 46 anos. Entre os jovens, predominam as mulheres. A idade média é de 42 anos, e quase 70% delas estão na faixa entre 30 e 55 anos. Esses números mostram que o Brasil continua carente de médicos. Além disso, a distribuição desses médicos provoca diferenças alarmantes. Em todo o País, as capitais detêm a maioria deles. Nos estados mais pobres essa diferença é ainda maior. […] Os estados do Norte têm poucos cursos médicos e são os que têm a maior demanda. O problema lá também é a oferta de postos na área de saúde, que está entre as piores da federação. O governo tem a meta de fazer o Brasil ter a mesma proporção de médicos que os países europeus e os Estados Unidos, perto de 2,5 médicos por 100 mil habitantes. O Sudeste já possui 2,6; o Norte tem apenas 0,96. Nas cidades do interior, a carência é ainda maior.”
Rogério Tuma, Revista Carta Capital, 14/12/2011
“Conheço pessoas que souberam lidar bem com as dificuldades naturais de suas existências e conheço outras que se transformaram em vítimas tristes nas mesmas condições. É claro que há situações de extrema dificuldade, e negar a tristeza que vem junto é negar a própria condição humana. […] Encontrei pessoas de bem com a vida nas grandes cidades, trabalhando em imensas corporações. Encontrei-as também em pequenas vilas do interior ou do litoral. Em lugares pobres e em ligares ricos. Em tempos de tranquilidade e em temos de crise. Ou seja, em todos os lugares. E também encontrei pessoas de mal com a vida. Onde? Exatamente nos mesmos lugares. Esse talvez seja um dos grandes mistérios da psicologia humana. O que faz a diferença entre esses dois tipos de indivíduos? Será sua genética ou terá sido sua educação?”
Eugenio Mussak, Revista Vida Simples – dezembro de 2011
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