Onde e quando vamos parar?
Assim como na música a pausa faz parte e o silêncio contribui para e na a composição, nós também necessitamos de pausas cotidianas, de espaços meditativos, de tempo especial para o fôlego de nossa alma, de silêncio acolhedor e acolhido dentro de nós. Inclusive nosso cérebro precisa de pausas para guardar melhor as informações. Se ele fica ocupado o tempo todo, sobrecarrega-se, e impede nosso aprendizado.
Em tempos de excesso de dados digitais, informações nos chegando continuamente, a tendência é de esgotamento. Com os olhos em monitores em boa parte do dia (celular, televisão, computador, etc.), e por vezes, em mais de um quase ao mesmo tempo, dividindo nosso atenção e confundindo o armazenamento das informações, sofremos com muito estímulo e pouco tempo para assimilação.
Começa-se a estudar melhor as implicações desse contexto nas gerações mais novas. Antes especialmente as mulheres eram obrigadas a encararem a dinâmica multitarefas, agora, as crianças já estão se habituando a viverem assim. O estranho passa a ser quando se faz uma só coisa por vez. Facilmente esses podem ser rotulados de lentos, culpados por estarem perdendo muito, e, e o sentimento de inadequação cresce num contexto de aceleração e imposição de velocidades.
O processamento de muitas informações cansa, mas, o que afinal temos conseguido processar no dia-a-dia? Num mundo de novidades sempre recebemos ofertas de entretenimento e opções para “ganharmos tempo”, que muitas vezes, apenas sugam mais de nós, de nossa atenção quando deveríamos preservar e valorizar uma saudável pausa.
Um dos fundadores da empresa PlayFish, que cria jogos, diz orgulhoso que o avanço e grande descoberta é investir no desenvolvimento de jogos que preencham os micromomentos das pessoas. E o marketing passa por não “desperdiçar ou perder seu tempo”. Fuja do tédio agora é a arma de convencimento.
O que é desperdiçar e perder tempo atualmente? E da onde vem esse tédio do qual precisamos fugir espertamente?
Assim sendo, o silêncio é visto e vivido como tesouro ou como angústia?
Ao que parece, hoje em dia, o que vivemos é a falta de silêncio. Nosso contexto nos favorece a acostumarmos com os barulhos. Já nem sempre nos damos conta da poluição sonora que nos cerca, aliás, nós a promovemos muitas vezes.
No ouvido da maioria sempre tem algo, além de brincos e alargadores. Pode ser um celular ou um fone de ouvido qualquer. Além disso, é cada vez mais comum estar plugado o tempo todo. Você não está conectado? Está perdendo…
Claro que precisamos acompanhar os avanços, conhecer algumas novidades bem interessantes, saber aproveitar a tecnologia e usá-la a nosso favor. Mas, a questão é qual o limite? Sabemos nos impor limites?
Quem sente falta do silêncio? Se lembra dele? Chegou a desfrutá-lo, a conhece-lo bem?
A Yoga e outras alternativas escolas de meditação tem se proposto a auxiliar as pessoas na melhora da concentração, numa respiração mais adequada e consciente, e a aprender a silenciar-se.
Quando lemos na Bíblia os relatos a respeito de Jesus Cristo vemos o quanto ele optava pelo silêncio, valorizava a solitude e priorizava momentos a sós, em oração.
Ser um discípulo de Jesus, ao que me parece, tem a ver com aprender a viver assim. Mas, quanto há ao nosso redor para nos distrair! Leonardo Boff, diz que “A vida interior representa, atualmente, a dimensão esquecida da humanidade. Importa resgatá-la, pois nela se encontra o segredo da felicidade, da responsabilidade diante de toda a vida, do cuidado para com todas as coisas. Ela significa o sagrado em nós, que nos propicia o sentimento de dignidade, de respeito e de reverência”.
As palavras de Jesus são tão provocativas e convidativas a refletirmos mais profundamente sobre nosso estilo de vida, e mais, a atentarmos para nossa agenda oculta. Se realmente queremos compreender melhor o significado de seu ensino, necessariamente teremos que diminuir o ritmo, desacelerar e cultivar momentos a sós, aprender ou reaprender a orar, valorizarmos o silêncio.
Henri Nouwen, por sua vez, comenta que “Assim como as palavras perdem a força quando não nascem do silêncio, a abertura perde seu significado quando não existe a capacidade de se fechar. […] Muitas vezes, as ilusões são mais passíveis de serem vividas que as realidades. […] Para viver uma vida espiritual, primeiro devemos ter coragem de entrar no deserto de nosso isolamento e transformá-lo por meio de esforços sutis e persistentes em um jardim de solidão”. Que venham novos espaços! Coragem!
No Evangelho de Marcos lemos: “De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou-se, saiu de casa e foi para um lugar deserto, onde ficou orando” (Mc 1.35).
Boas saídas para se encontrar.
Oi Tais, boa noite! Permita – me reagir…
O silêncio é confrontador!