Os mosquitos sobrevoavam os rostos das pessoas, como se eles estivessem em um parque de diversões. O frio do fim da madrugada nos fazia apertar o próprio corpo com os braços. Algumas crianças dormiam nos colos de suas mães como se ainda estivessem em suas casas.

Mas a verdade é que o lugar escolhido revelava bem mais do que paisagens conhecidas ou incômodos circunstanciais. O gramado, o momento, o horizonte acidentado e colorido, as árvores ao fundo em tons verdes e, sobretudo, o sol pujante nascendo… tudo ecoava uma realidade transcendente que nos visitava exatamente naquele instante. Ecos tão fortes que mais pareciam vozes, de fato.

Cantamos, oramos, sorrimos, choramos e aguardamos o novo dia. A Palavra lida nos convocava para experimentar o gosto da ressurreição a cada dia: “todo dia é domingo!”. A Páscoa era o assunto, e dentro de nós crescia uma alegre expectativa de que tudo aquilo nos fizesse ter sentido.

Assim como a água jorrando da fonte entre as rochas lava a roupa suja, fazendo resplandecer o brilho do branco, queríamos que a celebração da Páscoa naquela hora, naquele lugar, daquela forma, com aquelas pessoas lavasse nossa turva compreensão da vida – por vezes, bagunçada pelas dores do mundo e pelos pecados de nosso coração.

Sim, era domingo. O sol estava chegando. Nossos olhos então se recolheram por conta da abundante luz. Era a hora de renovar os sentidos e de assumir, mais uma vez, o compromisso de enfrentar o mundo com olhos voltados para o Senhor, batizados pelo poder do Espírito que ressuscita mortos.

A cerimônia não foi demorada e, logo em seguida, mesas postas e repletas de comida trazida por inúmeras famílias, nos convidavam a saborear as conexões simples, mas felizes. Era a segunda parte da liturgia – essa mais espontânea e diversa. Comíamos e conversávamos sobre o que acabara de acontecer, sobre Deus e sobre nós mesmos. Não era necessário pronunciar a palavra “esperança”, mas ela estava lá o tempo todo, entre nós e dentro de nós.

O impacto da Páscoa está exatamente na sincronia entre a presença divina e a nossa; entre os planos de Deus e a entrega dos nossos a ele; entre a percepção individual e a coletiva de que a luz que hoje nos aquece é sinal de um futuro repleto de alegria, assim como a sensação de um “dever cumprido” (ou “está consumado”, como diria Cristo).

É que o “Está Consumado” não fala apenas de um passado vitorioso de Jesus, mas de um presente que é fruto desse passado, renovando continuamente os efeitos de tão grande vitória.

Ao final, já nas despedidas, surgiu um pensamento profundo e transformador: “sim, o melhor ainda está por vir!”. E o sol nos é testemunha.

Aleluia!

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