O lugar preferido da mentira é ao lado da verdade. O seu poder reside exatamente em parecer real. Não são poucos os salmos que denunciam os “lábios bajuladores” (Sl 12.2) e “pessoas traiçoeiras” (Sl 43.1). Mas esta é só a ponta do iceberg da questão.

A mentira sustenta culturas, religiões, ciências e ideologias. Ela cria um sistema lógico e nos convence de que somos inteligentes quando o defendemos. Se engana quem pensa que é fácil discerni-la.

A mentira também cria mundos ocultos e paralelos. Ela nos coloca em lugares falsos e nos faz acreditar que somos “donos do mundo”. Foi o que Satanás tentou fazer com Jesus: dar a ele impérios que não existiam (Mt 4.9).

É perfeitamente possível esperarmos
por algo que nunca vai acontecer.

A mentira também ataca a esperança. É perfeitamente possível esperarmos por algo que nunca vai acontecer. Seja uma ideia de mundo perfeito em que a evolução do conhecimento levará o ser humano ao ápice do progresso, do bem-estar e da justiça social. Seja a esperança de uma sociedade igualitária, livre de todos os preconceitos e plena em liberdade. Seja a fé de que há um mundo fora deste onde eu, de fato, serei feliz como recompensa pelo meu bom comportamento. Seja acreditar que os astros definem meu destino ou que o papai Noel existe. Seja confiar na tecnologia como salvação para meu vazio mais profundo ou simplesmente esperar ser amado por conta da minha beleza física, meu poder financeiro, meu status social ou minha capacidade intelectual.

Para tudo isso a mentira tem uma resposta convincente. Ela faz uso tanto do pessimismo quanto do otimismo. Das fragilidades ou das forças. Como um camaleão, ela tem as vestimentas certas para as ocasiões adequadas. Imperceptível, ela é querida, amada e celebrada.

Diariamente sou confrontado por minhas mentiras. Elas estão sempre tentando me convencer a ser quem não sou. São muitas as oportunidades para isso. Minhas virtudes – que são genuínas – podem se tornar ferramentas eficazes nas mãos da mentira, moldando assim minha identidade em torno de projeções e desejos.

Quando Cristo declara que ele é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.6), está dando um norte aos seus discípulos. Em meio a um mundo turbulento e inseguro, Jesus os convida a descansar na sua verdade, no seu rumo, na sua proposta de vida.

Aqui então está uma escolha fundamental a ser feita: ou eu confio na Palavra ou eu confio nas múltiplas faces da mentira. Confiar na Palavra é entregar-se ao Verbo. É deixar-se levar pelos ecos da graça soprados pelo doce Vento do Espírito e esvaziar-se das camadas de mentira que foram sendo colocadas em nosso coração e em nossa mente.

Este esforço é muito grande, só possível por causa da Graça. Podemos crer que a Verdade é forte o suficiente para nos libertar (Jo 8.32). Todos os dias e para sempre.


Imagem: Pixabay.

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