“O que você está fazendo aqui, Elias?”, Deus perguntou por duas vezes. Em sua resposta, o profeta tentou explicar como o cenário estava totalmente desfavorável. Todos haviam rejeitado a aliança – exceto ele. Mas seu zelo a Deus o havia deixado sozinho.

Após pedir a morte (“Já tive o bastante, Senhor”), perambulou no deserto por 40 dias e 40 noites. Foi então que chegou ao Horebe – o monte de Deus. Tão perto assim do Divino, ele decidiu se esconder em uma caverna.

O que fez Elias preferir um esconderijo que a presença de Deus? Aquele outrora corajoso profeta, agora estava trancafiado na escuridão do medo.

Diante das ameaças de Jesabel, Elias concluiu que tudo o que ele havia vivido não era forte o suficiente para ajudá-lo a enfrentar o mal. Olhando apenas para si mesmo, foi tentado a se esconder – de tudo e de todos. Até de Deus.

Deus não estava na caverna, mas sua voz ecoou no interior escuro e frio para falar com Elias. O velho profeta estava chegando à fase final de sua vida vocacional, mas o Eterno o mostrou que sua missão não havia terminado. Elias ainda precisava liderar algumas transições de liderança: ungir Hazael (como rei da Síria), Jeú (como rei de Israel) e Eliseu (como seu sucessor).

Apesar de tantas experiências incríveis em nome do Senhor, ele estava confuso e não conseguia discernir direito aquela Presença. Ele foi zeloso a vida toda, mas, por um momento, perdeu o discernimento.

Deus, por sua vez, olhou para as vulnerabilidades daquele homem e reagiu. Primeiro, ele alimentou Elias no deserto, quando este só queria morrer; depois, Deus se revelou a Elias quando aquele homem só tinha olhos para si mesmo. E, por fim, renovou a missão de Elias quando o profeta pensara que o final havia chegado. “Volte pelo caminho de onde veio”, disse Ele.

Deus não estava na caverna, mas foi até lá para retirar Elias daquele fúnebre lugar. Sua voz levou o profeta de volta à vida e o fez ver um horizonte amplo e desafiador.

Sou o profeta que foge. Sou o homem das cavernas.

Eu sou Elias. Sou o profeta que foge. Sou o homem das cavernas. Sou aquele que quer desistir antes da hora, que se fecha no universo escuro da alma. Sou aquele que duvida de sua própria vocação. Sou o que deixa o medo dominar meus sentidos.

O deserto não me leva ao oásis, mas a um lugar solitário e perdido em meio às rochas. Minha caverna só eu sei qual é. Ela é bem escondida, e minha fuga é sutil. Por vezes, o dia termina e ninguém descobre que, na verdade, estou na caverna. Por outras, de lá eu saio, mas o esconderijo não sai de mim.

A fragilidade do profeta, no entanto, é uma porta aberta para eu também abandonar a caverna. A voz de Deus em meio ao escuro é uma vívida lembrança de que minha jornada não foi em vão. “Até aqui nos ajudou o Senhor” (1 Sm 7.12). Há vida lá fora. Há Deus no outro lado. Há uma missão a ser cumprida, e eu devo prosseguir.

A fuga de Elias é uma amostra realista do que somos feitos, afinal de contas: de pó. Ao mesmo tempo, a sua libertação é uma prova cabal de quem nos conduz: o Eterno, que se faz brisa para nos levar até o fim da jornada.

(Baseado em 1 Reis 19.1-15)

 

Imagem: https://obitel-minsk.org/de/predigt-am-gedenktag-des-propheten-gottes-elias

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