O ônibus vai cortando as curvas de asfalto enquanto meu olhar de passageiro enxerga casas simples à beira da estrada. Muitas delas bem antigas que nos fazem lembrar tempos longínquos em que as janelas e as varandas tinham mais valor.

Estas casas são acompanhadas quase sempre por terrenos prontos para receber sementes. Solos riscados paralelamente pela enxada ou pelo trator dão a impressão de que a natureza está em ordem. É possível ver também ferramentas e sacos cheios de grãos ou adubos. Parece que é tempo mesmo de semear.

Também não são raras chácaras mais ricas e que sugerem donos abastados, mas que não moram por ali. Carros caros estão nas garagens e contrastam com veículos velhos em casas igualmente velhas ao lado das novas.

Sigo em direção à minha casa. Já são onze horas de viagem. Ainda faltam umas duas. Olho para o lado oposto ao da janela e vejo rostos em profundo sono. O meu colega de poltrona não para de dormir. Mais a frente, no entanto, duas senhoras não deixam de conversar.

Já li bastante e agora prefiro escrever. Escrevo como quem quer encontrar lições no que vejo. Encontro-as. Descubro que é tempo de lançar as sementes. Para o agricultor que vejo pela janela isso talvez seja algo totalmente previsível. Para outros, como eu, no entanto, é um ato difícil de discernimento sobre os tempos da vida.

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