Ainda desajeitado, seguro Miguel no colo. Contra minha tentativa está um forte argumento: não tenho leite para alimentá-lo. Além disso, tenho pouco tato para aconchegá-lo em meus braços.

Estas dificuldades pessoais tornam distintamente especial o momento em que ele se acalma em meus braços. Me faz sorrir. Eu o entendo, e ele – mesmo não sabendo – se envolve comigo. Somos pai e filho. O aconchego me faz lembrar disso.

Minha maior ansiedade do momento quanto ao Miguel é saber que ele ainda não pode interagir, de fato, comigo (os médicos dizem que só a partir do segundo mês de vida). Até seus sorrisos ainda são involuntários. No entanto, estou ansioso para que chegue logo a hora.

Isso tudo me fez pensar que não há amor sem envolvimento. Óbvio? Nem tanto para os que defendem um tipo de fé em Deus, sem relacionamento real com ele. Uma coisa é ser considerado “pai”, outra é “ter um filho”. A primeira pode ser apenas uma condição inevitável. A outra é uma decisão de envolvimento.

O verdadeiro amor mexe os recônditos do nosso ser e nos transforma. E não venha me dizer que isso é coisa de românticos. Comece a ler com atenção os discursos filosóficos, religiosos ou mesmo científicos. O que nos move a pensar seriamente é a dedicação amorosa que damos ao determinado objeto, pessoa ou conceito. Quem apenas olha a rua da janela de casa, pode até apreciar a paisagem, mas não a ama de verdade. O que nos faz acreditar que Deus exigiria menos que isso? (Jesus ilustra bem esta ideia no diálogo com Pedro após a ressurreição; leia lá João 21.15-23).

A propósito, agora mesmo descobrir que tanto eu quanto Miguel estamos com soluços. Uma alegre ironia do destino para quem está escrevendo este texto.

 

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