Já são doze dias de férias. Pouco tempo na frente do computador. Muito tempo em conversas e refeições com parentes. Risos e pensamentos dos mais diversos deixados, livres, no ar. Eles vão e vem, sem precisar pagar ingresso.

Em minha pouca preocupação com o tempo, vejo-me diferente, sem vínculo histórico. Por um lado é bom: relaxo minha mente, estou menos sério e mais disponível. Por outro, é ruim: enquanto minhas horas seguem mais lentas, a vida continua acelerada e tortuosa.

Dois fatos me despertaram para isso nesta quarta (12/01). O primeiro foi a tragédia natural na região serrana do Rio, com mais de 250 mortos (até agora). Me sentei à tarde para ver o jornal, e então soube do fato. O segundo foi a conversa com minha mãe sobre um problema familiar, que me irritou muito. Ambos os fatos me pegaram de surpresa e me chacoalharam emocionalmente.

Enquanto meu corpo está de férias, meu coração não. Até concordo com as teorias de descanso físico. Não somos super-homens. Mas não entendo que isso signifique dar férias à alma. Seria mesquinez. Não que devemos entrar em desespero, mas também não temos o direito de fechar os olhos do coração pára a vida que continua.

Tudo isso seriam apenas reflexões de um despretensioso jornalista de folga. No entanto, a escrita seguinte de Paulo na carta aos filipenses me saltou aos olhos, com certo incômodo:

“Esta é a minha oração: Que o amor de vocês aumente cada vez mais em conhecimento e em toda a percepção, para discernirem o que é melhor” (Fp 1.9,10a).

Paulo não está falando de um amor burocrático, que define prioridades a partir da nossa própria conveniência. Ele fala de um amor crescente que gera conhecimento, percepção e discernimento. Amor que nos ensina a ver e entender melhor a vida. Amor que une nosso corpo e alma em harmonia com o trabalho de Deus no mundo.

Não que eu tenha interrompido minhas férias; ainda tenho 18 dias. Pretendo descansar mais e comemorar tranquilamente meus 32 anos de idade no próximo sábado (dia 15/01). Mas não posso esquecer que o amor que me alcançou poderosamente nunca será exilado de meu espírito. Sua marca é eterna. Não posso me livrar dele. Sou o que ele é. Conheço o que ele conhece. Percebo o que ele percebe. Discirno o que ele discerne.

É esse amor que motiva Paulo a orar pelos irmãos de Filipos. Ele sabia que somente tal caminho levaria a igreja adiante. Com este amor, é impossível encarar a vida do mesmo jeito.

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