Aquela manhã de domingo seria mais do que um domingo. Seria o primeiro dia do resto de nossas vidas. Toda a história de todos os tempos – desde o “haja luz” até ao “está consumado” – convergiu para aquele exato dia. Toda a alteração climática, o tempo, a temperatura, os aromas, os cheiros… tudo.

Os movimentos das pessoas, seus planos cotidianos, suas resoluções diárias, seus sentimentos, suas decisões pequenas no primeiro dia da semana. Tudo, de alguma maneira, se encaixou naquela hora, naquele momento.

Nada foi aleatório, mesmo que, aparentemente, tudo fora igual. Após o sábado, os judeus se preparavam para mais um dia de trabalho. Mas no oculto acontecia a execução de um plano, o maior de todos, que levaria os homens a uma porta nunca antes aberta; uma entrada em direção à luz, à alvorada de um novo tempo, de um sonho longínquo que tornara-se real.

A mensagem prestes a ser anunciada superava infinitamente qualquer ritual religioso, qualquer interpretação erudita do Talmude, qualquer costume, qualquer dogma ou qualquer teólogo famoso e renomado. A Verdade, que outrora vestira-se de lamento, agora trajava a brilhante e alegre túnica da ressurreição.

Certo é que nenhuma ferida impediu a cura. Nenhuma lembrança de dor ou cicatriz venceu a esperança de libertação.

Era domingo. Manhã. As amigas de Jesus foram vê-lo, cuidar para que seu corpo estivesse devidamente preparado. A morte era absoluta até então em suas mentes e corações. Mas o anjo veio como relâmpago. Sua força era demonstrada para além do pesar. A voz do Salmo 29 foi traduzida para além da poesia judaica. “Não temam” foi a palavra, o conselho, a instrução. Não há algemas em que o medo possa nos prender. As circunstâncias são condições, mas não destinos. O destino está posto naquele que saiu do sepulcro. Ele guia os passos dos discípulos para além do lamento, da culpa ou do vitimismo. “Me encontrem na Galileia”, ele diz. O senso de missão não morreu. A Galileia é um lugar da missão; lá o Evangelho foi anunciado e vivido. Após a morte, vem a ressurreição. E a ressurreição faz renascer a vocação. Vamos nos encontrar novamente para realinharmos nosso chamado no mundo.

Hoje é domingo de Páscoa. É o começo de uma nova vida, de uma nova esperança. Se o mundo, com suas engenhosas teorias e ilusões, não é capaz de nos dar isso, então por que insistir em construir o futuro com nossas próprias mãos?

Na verdade, tudo começa no túmulo vazio. Lá, iniciamos a jornada em direção ao futuro. Lá, nossos olhos são abertos para o plano de Deus. Lá, enfrentamos o medo e caminhamos em direção ao (re)encontro com o Senhor. O caminho é longo, árduo e exigirá de nós mais do que boas intenções. Mas se há algo ao nosso favor, é a garantia de que Jesus Cristo caminha conosco e nos encontrará no destino final.

Tenha esperança. É só o início. Este é o primeiro dia do resto de nossas vidas.

 

 

  1. Eu sou completamente apaixonada por esse texto, só o título é impactante demais. Toda vez que leio sinto algo muito especial, bela autoria, suas inspirações para escrever vem somente da bíblia ou algum outro escritor também te influencia?

    • Olá, Larissa! Tudo bem? Que bom que você leu e gostou do texto! Fico feliz.
      Meus escritos são movidos pela necessidade de colocar para fora sentimentos, convicções e esperanças. Minha fé não é exemplar, mas sei que o Evangelho tem essa capacidade de oferecer sempre algo novo, mesmo em meio ao “vale de ossos secos”. O Evangelho é a materialização da redenção. Deus nos deu o Evangelho para que nossos sonhos não fossem meras ilusões humanas. Quando batizados pelo Evangelho, nossos sonhos tornam-se sinais de algo muito mais nobre e santo do que nossos desejos. E isso se chama eternidade.
      Um abraço!

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