Queria eu escrever um texto revolucionário, que despertasse todos e todas do sono demasiado de nossa era. Queria eu mostrar que a vida é bem mais bela e profunda do que diz quem tem voz. Queria eu agir tão poderosamente que transformasse tudo o que é mal em bondade.

Mas o mundo não cabe em minhas mãos; muito menos em frases, parágrafos e artigos. O coração humano é mais cheio de sombras do que gostaríamos. Somos menos do que poderíamos. Nossos passos nem sempre nos levam para aonde nossas mentes decidem.

Queria eu caminhar com sensatez e alegria. Afinal, uma coisa leva à outra. Quanto mais sensato eu for, mas condições tenho de usufruir a satisfação das boas decisões. Quanto mais experimento a alegria que vem da fonte, com mais bondade e virtude vejo as circunstâncias difíceis.

Queria eu escrever uma canção que levasse homens, mulheres e crianças a dançarem na chuva, com gosto de paz e justiça. Eles estariam juntos, em um roda, e venceriam todo o egoísmo e autoengano da vida. Uma canção que exaltasse Aquele que é a fonte de todo bem, que dá ao ser humano uma dignidade incomparável e, ao mesmo tempo, um senso de honestidade que não esconde nossas mazelas e dá espaço para o arrependimento e o perdão.

Queria eu subir no alto de uma montanha e permitir que todo o meu ser se enchesse de compaixão e que o vento vido do Norte me lembrasse que a esperança é leve e que a dureza da existência vai passar.

Queria eu fazer tudo o que sonho para mim e para o mundo. Que cada sonho não ficasse trancado na memória e nas boas intenções. Mas que cada sonho fosse como que uma placa de trânsito que me ajudaria a seguir na direção certa. Sem parar.

Queria eu orar com o mesmo fervor e confiança de uma pequena criança à espera da ajuda do seu pai. Que minhas palavras fossem mais do que repetições religiosas. E que a oração me levasse até à Fonte, de verdade.

Queria eu passar por esta vida com o coração aberto para as pessoas. Não para a manipulação ou a opressão delas, mas para o que possuem de melhor, para o que podem se tornar. Assim também eu poderia me abrir para mim mesmo, para o que eu tenho de bom e para o que posso melhorar com a ajuda dos outros.

Queria eu tanta coisa! Mas o deserto pelo qual caminhamos, por vezes, mingua nossos sonhos ou os contamina de tal forma que já não vemos o horizonte. Então, por hora, só peço uma única: que a mediocridade e o cinismo não me impeçam de querer o que realmente importa.

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